terça-feira, 2 de maio de 2017

ADOÇÃO



ADOÇÃO – Um termo usado na Escritura em conexão com Israel (Rm 9:4) e a Igreja (Rm 8:14-15, 23; Gl 4:5-7; Ef 1:5), mas de maneiras amplamente diferentes. Em conexão com Israel, “adoção” se refere a eles sendo estabelecidos em um lugar privilegiado em relação a Deus entre as nações da Terra (Êx 4:22). Mas no sentido Cristão, “adoção” tem a ver com uma criança[1] de Deus, na família de Deus, sendo estabelecida no lugar de favor do próprio Filho, por ser habitado pelo Espírito Santo. Isso vai além da aceitação e leva o crente a compartilhar dos privilégios e da liberdade que apenas um filho pode ter na presença de Deus.
A palavra “adoção” no grego significa literalmente “lugar de filho” (A nota de rodapé na Tradução de J. N. Darby de Romanos 8:15 afirma, “Adoção é a mesma palavra usada como ‘filiação’ em Gálatas 4:5”)[2]. “Filiação” é uma bênção característica do Cristão. Isto é, ela é uma bênção especial que Deus tem reservado apenas para os Cristãos. Outros em Sua família – os santos do Velho Testamento, o remanescente judeu que surgirá, os israelitas redimidos das dez tribos, os gentios convertidos no Milênio etc. – não estão nessa posição de favor diante de Deus. Todos esses são crianças na família de Deus, mas, na dispensação da graça, apenas os Cristãos têm a posição de filhos.[3]
Filiação é a posição mais alta de bênção que uma criatura pode ter em relação a Deus. Os anjos foram chamados de “filhos de Deus” no Velho Testamento (Gn 6:2; Jó 1:6), mas uma vez que Cristo ressuscitou dos mortos e ascendeu ao alto, levando Humanidade ao lugar em que Ele mesmo está diante de Deus, os anjos não têm mais essa designação. Os “filhos de Deus” (Rm 8:14) é um termo reservado agora exclusivamente para os Cristãos, pois eles têm um lugar superior de bênção e privilégio diante de Deus, acima de todas as outras criaturas abençoadas. Deus poderia ter nos colocado no lugar dos anjos eleitos, ou mesmo ter nos elevado à posição de destaque de um arcanjo – e teríamos sido gratos por isso. Mas Ele fez algo muito mais elevado e mais abençoado do que isso – Ele nos colocou na posição que é do Seu próprio Filho, com todo o favor e privilégios que decorrem por possuirmos essa posição!
A coisa mais maravilhosa com relação a isso é que Deus planejou essa grande bênção para os Cristãos “antes da fundação do mundo”, e é “segundo o beneplácito [o bom prazer – JND] de Sua vontade” fazer isso acontecer (Ef 1:3-6). Ter um grupo de filhos diante d’Ele, trazidos à mesma posição que Seu próprio Filho tem, traz verdadeiro gozo e satisfação ao Seu coração! Como “filhos de Deus” nós compartilhamos:
  • A posição do Filho – aceitação (Ef 1:6).
  • A vida do Filho – a vida eterna (Jo 17:2).
  • A liberdade do Filho diante do Pai (Rm 8:14-16).
  • A herança do Filho (Rm 8:17).
  • A glória do Filho (Rm 8:18; Jo 17:22). 

Geralmente se pensa que a “adoção” é uma ação de Deus que traz uma pessoa para dentro de Sua família. No entanto, não é isso o que a Escritura ensina. Há apenas um caminho que leva alguém à família de Deus – é pelo novo nascimento (ser nascido de novo). A geração de “filiação” tem a ver com aquele que nasceu de novo (portanto, é uma criança de Deus, na família de Deus) e que está sendo elevado ou promovido a uma posição especial de privilégio e distinção dentro da família. Como mencionamos, é ser colocado na mesma posição que o próprio Filho de Deus tem diante de Deus! Isso ocorre quando uma pessoa crê no evangelho da sua salvação e é selado com o Espírito Santo (Ef 1:13). Assim, quando uma pessoa é nascida de novo, ela é tornada uma criança de Deus na Sua família, mas quando ela recebe o Espírito por crer no evangelho, ela é posicionada como um filho (a geração de “filiação”) na família.
As pessoas com um passado judaico provavelmente entenderiam mais facilmente a maneira na qual a adoção é usada na Escritura do que aqueles com antecedentes gentios. Em uma família judaica, quando um menino chega à idade de 13 anos, seus pais celebram o “Bar Mitzvá” para ele, e assim ele formalmente é promovido de uma criança na família para se tornar um filho. E então passa a gozar de maiores liberdades e privilégios na casa. O “Bar Mitzvá” não traz o menino à família, mas eleva-o a um lugar privilegiado na mesma. É o mesmo com o espírito de adoção na família de Deus.
O apóstolo Paulo ensina isso em Gálatas 4:1-7. Ele diferencia entre “crianças” e “filhos” na família de Deus, usando uma família judaica para ilustrá-la. As crianças, no sentido em que ele usa o termo nessa passagem, são vistas como tendo uma posição diminuta na família. Ele as correlaciona com o lugar que os crentes tinham nos tempos do Velho Testamento. Mas com a vinda de Cristo para cumprir a redenção e enviar o Espírito Santo, os crentes daquele velho sistema, que O receberam como Salvador, também receberam “a adoção de filhos” e, portanto, foram elevados ou promovidos à posição Cristã de “filiação”. Eles deixaram a posição inferior e vieram para a posição privilegiada de “filhos” na família de Deus. (O apóstolo João, no entanto, não usa a palavra “crianças” no mesmo sentido diminuto como Paulo faz em Gálatas. Nos escritos de João, “crianças”[4] (como ele chama os filhos) são vistos como tendo o Espírito Santo e, portanto, na completa posição Cristã – 1 Jo 2:20, 3:24, 4:13. Mesmo aqueles a quem João designa como “criancinhas” (“filhinhos” nas versões em português), que são os novos convertidos, são vistos como estando nessa posição – 1 Jo 2:18. João os chama de “crianças”, porque a ênfase em suas epístolas está ligada à vida eterna e ao relacionamento que temos com o Pai em afeição, que são retratados pelas “crianças” – 1 Jo 3:1. Às vezes a versão King James traduz erroneamente “crianças” (“children” em inglês) como “filhos” (“sons” em inglês) nos escritos de João, e isso pode causar confusão. Por exemplo, Jo 1:12; 1 Jo 3:1).
Enquanto Deus abençoa todos os que estão em Sua família, Ele é soberano e pode conceder favor especial a alguns em Sua família acima dos outros, se Ele quiser. Isto é o que Ele tem feito escolhendo os crentes desta atual dispensação (Cristãos) para a filiação. Há quatro passagens na Escritura onde a filiação é mencionada; cada referência destaca um aspecto diferente dessa grande bênção Cristã:
  • Gálatas 4:1-7 enfatiza a posição privilegiada que temos acima das outras pessoas abençoadas na família de Deus.
  • Romanos 8:14-15 enfatiza a liberdade especial que temos diante de Deus, tendo acesso à Sua presença em qualquer momento e sendo capazes de nos dirigir a Ele como nosso Pai, com uma intimidade que nenhuma outra criatura abençoada jamais conhecera, ao clamar, “Abba, Pai”.
  • Efésios 1:3-10 enfatiza as bênçãos superiores e inteligência que temos no propósito de Deus, o qual até o dia de hoje tinha sido mantido em segredo, em “o Mistério”.
  • Hebreus 2:10-13 enfatiza a dignidade que temos por sermos identificados com Cristo como Seus “irmãos” na raça da nova criação – sendo Cristo a Cabeça da raça como o “Primogênito” (Ap 3:14; Rm 8:29; Cl 1:18).





[1] N. do T.: Provém da palavra latina “creāntia” que é uma inflexão de “creāns” cujo particípio é criando, gerando, preparando, escolhendo.

[2] N. do T.: tanto em Romanos 8:15, 23 quanto em Gálatas 4:5 encontramos a mesma palavra o grego “uihothesia” que está como “adoção de filhos” na versão King James e como “filiação” na de J. N. Darby)

[3] N. do T.: É de vital importância perceber a grande diferença entre os termos “nascido de Deus” (“uihos” em grego) e “filho de Deus” (“teknon”), como revelados no Novo Testamento, pois nos capacita a desfrutar de que não apenas somos nascidos na família de Deus pelo Seu ato soberano ao nos conceder vida divina – a qual todos em Sua família têm – mas quão distinguidos Deus nos quis tornar em Sua família ao nos trazer à posição de “filhos de Deus”, na própria aceitação que Cristo mesmo tem diante de Deus. Nessa posição temos relacionamento, entendimento e comunhão que nenhum outro “nascido de Deus” desfruta. A expressão “Abba Pai” foi apenas revelada no Novo Testamento e somente pronunciada pelos “filhos de Deus”, pois receberam o “espírito de adoção” (Rm 8:15; Gl 4:6).

[4] N. do T.: A palavra grega “teknion”(diminutivo de “teknon”), traduzida na KJV com “criancinhas” e na JND como “crianças”, é empregada em 1 Jo 2:1, 12, 28, 3:7, 18, 4:4, 5:21; Jo 13:33; Gl 4:19 e, conforme nota de rodapé da versão JND em 1 Jo 2:1, “é um termo de afeto paterno que se aplica aos Cristãos, independentemente do crescimento”; a palavra grega “paidion”, traduzida na KJV e JND como “criancinhas”, é empregada nos cap. 2:13 e 18 de 1 João e significa os que são imaturos na fé, como em 1 Coríntios 14:20. Em todas as versões em português todos esses versículos são traduzidos como “filhinhos” indistintamente.

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