sexta-feira, 12 de maio de 2017

LIBERTAÇÃO



LIBERTAÇÃO – A libertação, assim como a salvação, é um assunto muito amplo na Escritura, com muitas aplicações. A necessidade de libertação pode ser causada por problemas resultantes do pecado externo nos homens que se opõem à verdade (Mt 6:13; 2 Co 1:10; 2 Tm 3:11, 4:17-18 etc.), ou pode ser o resultado do pecado operando dentro do coração do crente (Rm 7:24, 8:2). No entanto, quando se trata do assunto da libertação geralmente se tem em vista um problema resultante do pecado operando dentro do crente. Isso diz respeito à experiência da alma de ser libertada da ação interior da natureza pecaminosa (“a carne” – Rm 7:5 etc.), por meio da qual ela é capaz de viver uma vida santa para a glória de Deus.
Os Cristãos, com as melhores intenções, têm procurado controlar sua natureza pecaminosa de muitas maneiras – mas isso só lhes tem trazido frustração e decepção. Todos esses esforços humanos são inúteis. Alguns homens aplicaram o ascetismo[1] (flagelando o corpo para manter a carne subjugada), o monasticismo (tentando fugir das tentações da vida isolando-se da sociedade), a introspecção (que só leva à introspecção doentia), a psicologia (estudando o comportamento humano), cultura etc., mas, como já mencionado, essas coisas sempre resultam em fracasso. Como o endemoninhado de Marcos 5, que não podia ser amansado, a carne no homem não pode ser controlada com recursos humanos.
O que muitos Cristãos não percebem é que a bênção prometida no evangelho não apenas tem a ver com a libertação da pena eterna pelos seus pecados (Rm 3:21-5:11), mas também inclui a libertação do poder do pecado agindo na vida deles (Rm 5:12-8:17). Não é a intenção de Deus deixar aqueles que Ele perdoou, justificou, reconciliou e salvou, neste mundo sob o domínio da natureza caída pecaminosa que possuem, e sem o poder de andar em retidão. Portanto, não precisamos procurar por dispositivos e métodos humanos para controlar a carne (os quais não funcionam), mas devemos ir a Deus – Ele tem a solução. Tudo é parte do dom de Sua graça no evangelho.
O assunto da libertação de nossa alma é o que Romanos 5:12-8:17 se ocupa em detalhes. Em primeiro lugar, no capítulo 5:12-21, somos ensinados que os crentes no Senhor Jesus Cristo não estão mais sob a liderança de Adão nem são parte daquela raça antiga, no que diz respeito à sua posição diante de Deus. Sendo “feitos justos”, os crentes são agora parte de uma nova raça de homens sob a liderança de Cristo, onde a graça reina pela justiça para a vida eterna.
Então, em Romanos 6:1-10, nos é dito como aconteceu a transferência do crente da esfera encabeçada por Adão, para a encabeçada por Cristo. Atuando como nosso Cabeça federal (o que significa que Ele age em prol de todos sob o Seu domínio), Cristo, ao morrer, Se separou de todo o sistema de pecado encabeçado por Adão. Ao fazer isso, Ele nos separou desse sistema também. Pela nossa identificação com a morte de Cristo, Deus nos vê como “mortos” e, portanto, desconectados da raça de Adão e do princípio do pecado que a domina (v. 7). Além disso, ao ser “ressuscitado dentre os mortos” (TB), Cristo entrou em uma nova esfera de vida onde Ele “vive para Deus”, e essa esfera está agora aberta a todos os que pertencem à Sua nova raça (vs. 8-10). Então, nos versículos 11-12, somos exortados a “considerar” (“crer que seja assim”) diante de Deus que essas coisas que são verdadeiras em relação a Cristo também são verdadeiras em relação a nós. Assim, por causa de nossa identificação com a morte de Cristo, temos o direito de nos considerar “mortos para o pecado”, mas “vivos para Deus” naquela nova esfera em que Cristo vive para Deus. No capítulo 6:13-14, somos exortados a nos submeter a Ele e a começar a praticar a justiça nessa nova esfera de vida – um ato de cada vez. E, pela repetição de bons hábitos, nos tornamos servos da justiça, porque o pecado já não tem domínio sobre o crente.
No capítulo 6:15-23, somos advertidos de que se escolhermos viver na esfera de vida que pertence à carne, estaremos sob escravidão dos pecados que permitirmos. É, portanto, imperativo que vivamos de forma prática na esfera correta de vida em que há uma nova gama de objetos para ocupar nosso coração. Essas coisas são chamadas “as coisas do Espírito” (Rm 8:5) e têm a ver com os interesses de Cristo. São coisas como: ler a Escritura, orar, assistir às reuniões Cristãs para adoração e ministério, cantar hinos e canções espirituais, ler literatura Cristã, ouvir o ministério gravado, ensinar a verdade, compartilhar o evangelho, a comunhão, meditar em coisas espirituais enquanto vamos cumprindo nossas responsabilidades diárias, servindo ao Senhor com boas obras, fazendo visitas etc. Quando o crente vive de forma prática nessa nova esfera de vida, e está assim ocupado com Cristo e com os Seus interesses, o poder do Espírito de Deus será sentido em sua vida, mantendo a carne em seu lugar (Rm 8:13). Assim, sobre este princípio de mudança, não será dada oportunidade à carne de agir na vida do crente.
Em um parêntese, no capítulo 7:7-25, Paulo mostra que essa libertação não é realizada por meio do esforço humano, mas olhando para Cristo e estando ocupado com as coisas que pertencem a Ele. Quando fazemos isso, o Espírito de Deus nos ajudará a viver a vida Cristã normal, a qual está acima dos impulsos da carne. Isso é ilustrado no capítulo 8:1-16.
       A grande questão é: em qual esfera vivemos nossa vida? Ao dizer, “se” em Romanos 8:13, Paulo mostra que a responsabilidade recai sobre o crente. Deus quer que sejamos responsavelmente exercitados a respeito de termos vitória sobre a carne. Temos de tomar uma decisão consciente de viver na correta esfera de vida. Isso se resume a uma simples questão de nossa vontade. Nosso problema é que queremos nos cercar de coisas terrenas, naturais e mundanas, e persegui-las, e ao mesmo tempo esperar ter o benefício da libertação prática do poder do pecado que o Espírito nos dá. Mas não podemos viver na sombra e desfrutar do Sol ao mesmo tempo. Se mimarmos a carne, atrapalharemos o Espírito! (ditado inglês: If we pamper the flesh, we hamper the Spirit!) Não é que precisamos mais do Espírito, pois Deus não dá o Espírito por medida (Jo 3:34). Na verdade, é o contrário – o Espírito precisa ter mais de nós! Se submetermos nossa vida à Sua liderança, que será sempre seguir a Cristo e Seus interesses, não faltará o poder do Espírito em nossa vida para manter a carne subjugada e, assim, experimentarmos a libertação.




[1] N. do T.: Conjunto de rígidas normas disciplinares de conduta, pautadas pela austeridade e pela renúncia aos prazeres corporais e desejos mundanos, como forma de atingir a iluminação espiritual e a perfeição moral e religiosa.

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