quarta-feira, 3 de maio de 2017

NOVO NASCIMENTO


NOVO NASCIMENTO – O novo nascimento (nascer de novo) é um ato soberano de Deus ao transmitir a vida divina aos homens (Jo 1:13; Tg 1:18; 1 Pe 1:23; Jo 2:29). É essencialmente a mesma coisa que vivificação (Ef 2:1, 5; Cl 2:13), pois ambos os termos se referem à ação inicial de Deus ao comunicar a vida divina à alma. O novo nascimento não é uma bênção exclusivamente Cristã, pois todos os da família de Deus, em todas as épocas, foram e serão nascidos de Deus.
Como resultado de terem nascido de novo, os homens têm suas faculdades espirituais despertadas e, portanto, são conscientes de que são responsáveis diante de Deus. Tendo recebido vida e fé por meio dessa ação de Deus, eles têm a capacidade de entender o evangelho e crer no Senhor Jesus Cristo, e quando assim o fazem, são salvos. Sem essa obra inicial de Deus nos homens, ninguém jamais se arrependeria e viria a Cristo para a salvação. (Veja: Livre-arbítrio)

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Há quatro equívocos comuns entre os Cristãos em relação ao novo nascimento (nascer de novo):
O primeiro tem a ver com como e quando uma pessoa nasce de novo. A maioria dos Cristãos dirá que uma pessoa nasce de novo quando crê no Senhor Jesus Cristo. No entanto, não é isso o que a Escritura ensina. Isso é colocar “o carro na frente dos bois”, por assim dizer. Uma pessoa não crê no Senhor Jesus para nascer de novo, mas sim, ele crê porque nasceu de novo (Jo 1:12-13; 1 Jo 5:1). Quanto à ordem destas coisas, Deus age primeiro e soberanamente concede a vida por meio de um novo nascimento, mediante o qual a fé é dada à pessoa e, portanto, é capacitada a crer e ser salva, quando o evangelho lhe é apresentado. Portanto, o novo nascimento não é o resultado de uma pessoa se voltar para Deus e crer no Senhor Jesus Cristo, mas o resultado de Deus comunicar a vida divina à sua alma, permitindo a ela voltar-se a Deus em arrependimento e crer no Senhor Jesus Cristo para a salvação.
A. J. Pollock disse: “João 1:12-13 nos diz que os que receberam Cristo eram aqueles que ‘não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus’. Uma coisa é experimentar o novo nascimento, outra coisa é receber a Cristo, e João 1:12-13 torna isso muito claro. Se eu, como um homem não regenerado, fosse capaz de exercer a fé para provocar o novo nascimento, então seria da ‘vontade da carne’ e da ‘vontade do varão’, mas nos é dito claramente que não é assim. É ‘de Deus’ (Jo 1:13), ‘segundo a Sua vontade’ (Tg 1:18), ‘pela Palavra de Deus’ (1 Pe 1:23) e devemos deixar dessa forma... Como pode o homem na carne por um ato de sua própria vontade produzir vida divina? Ela deve vir de Deus” (Scripture Truth, vol. 30, pág. 48).
Comentando João 1:12-13, W. Scott disse: “Só os nascidos de Deus são capazes de recebê-Lo” (Bible Handbook, New Testament, pág. 191). C. Stanley explicou da mesma forma: “O novo nascimento explica quantos O receberam” (Election, pág. 17). F. G. Patterson também disse: “Certamente que é o incrédulo que é vivificado, senão ele seria um crente por seu próprio ato. Onde então estaria a verdade de João 1:10-13 e Tiago 1:18? Se Deus não nos vivificasse pela Palavra, nunca seríamos salvos” (Notes and Queries, pág. 122).
Em segundo lugar, alguns Cristãos confundem novo nascimento com salvação, mas esses termos não são sinônimos na Escritura. Fazer com que essas duas coisas signifiquem a mesma coisa leva à confusão. W. Potter enfatizou isso: “‘Não sabes donde vem, nem para onde vai’, refere-se ao Espírito de Deus e não à salvação, refere-se ao nascer de novo, ‘assim é todo aquele que é nascido do Espírito’. Devemos manter as verdades da Escritura em suas próprias conexões com a Escritura. Quando ela fala sobre novo nascimento, não está falando sobre salvação, e é aí onde encontramos tal confusão” (Gathering Up The Fragments, pág. 226).
J. N. Darby disse: “Não devemos confundir a salvação manifestada e ser nascido de Deus” (Letters, vol. 3, pág. 118). Ele também disse: “A Igreja perdeu a ideia do que é ser salvo. As pessoas pensam que é suficiente nascer de novo” (Collected Writings, vol.28, pág. 368).
W. Kelly disse: “Não devemos confundir, como os pregadores e instrutores populares fazem, a recepção da vida e a salvação... É um grande erro, portanto, falar de ‘salvação num momento’, ‘libertação no ato’ ou qualquer outra dessas frases de efeito comuns do reavivamento superficial que ignoram a Palavra de Deus e brotam da confusão entre vida e salvação” (An Exposition of the Acts, págs. 131-132).
A distinção entre estas duas operações de Deus foi perdida por séculos. W. Kelly relatou: “O fato é que a teologia, em todas as suas vertentes papistas ou protestantes, calvinistas ou arminianas, de alguma forma perdeu e ignora essa verdade tão importante que é o fato de o Espírito separar antes para Deus uma alma renovada e com a finalidade de justificação” (Epistles of Peter, pág. 12).
A verdade é que Deus começa a obra em uma alma pelo novo nascimento, e então quando a pessoa descansa por fé naquilo que Cristo realizou na cruz, ela é salva e selada com o Espírito Santo (Ef 1:13). Estas são duas ações distintas do Espírito: uma no princípio da obra de Deus na alma e outra na sua conclusão. Haverá um intervalo de tempo entre essas duas ações – pode ser de alguns minutos, ou em alguns casos, pode ser de anos. Quando uma pessoa nasce de novo está a salvo (segura) do juízo, mas quando recebe a Cristo, ela é salva e selada com o Espírito Santo. As passagens seguintes mostram que o novo nascimento precede a crença de uma pessoa em Cristo para a salvação:
  • João 1:12-13 – Aqueles que “creem no Seu nome” são aqueles que “nasceram” de Deus.
  • João 3:3-8, 14-17 – Sobre a ordem da obra de Deus nas almas, o Senhor falou de ser “nascido de novo” pela Palavra de Deus e pelo Espírito de Deus antes de falar de ser “salvo” por crer no Filho de Deus.
  • João 5:21, 24 – Novamente, o Senhor falou da obra de Deus de vivificar as almas antes de continuar a falar de sua crença n’Ele para a vida eterna.
  • João 6:44-47 – O Senhor falou da obra de Seu Pai de atrair pessoas, que é o efeito de nascer de novo, antes de falar daqueles que foram atraídos por crerem n’Ele.
  • Efésios 2:1-5, 8 – Ao delinear a atividade do amor e da misericórdia de Deus para conosco, o apóstolo Paulo se referiu à Sua obra de vivificar as almas primeiro, e depois falou daqueles a quem Deus tinha vivificado como salvos pela graça, por meio de fé.
  • 2 Tessalonicenses 2:13-14 – Paulo fala da “santificação do Espírito” que é o resultado do novo nascimento, antes da crença de uma pessoa na verdade do evangelho.
  • 1 Pedro 1:2 – Pedro fala da “santificação do Espírito” (o resultado do novo nascimento) como aquilo que precede a “obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (que é apropriar-se por fé da obra de Cristo na cruz para a salvação).
  • 1 Pedro 1:22-23 – Pedro fala da purificação da alma pela obediência à verdade do evangelho, e isso é o resultado de “termos sido gerados de novo” (Tradução de W. Kelly).
  • Levítico 8:1-35 – Uma figura do novo nascimento, salvação e selo do Espírito. Os filhos de Arão foram primeiro “lavados com água” (novo nascimento), então foram trazidos ao altar para testemunhar e ser identificados com a morte de um animal que foi sacrificado. O sangue da vítima foi colocado na orelha direita, no polegar direito e no dedo grande do pé direito (simbolizando a apropriação por fé da obra de Cristo em expiação para a salvação da alma). E então eles foram ungidos com óleo, que é uma figura do selo do Espírito. 

J. N. Darby disse: “A habitação do Espírito Santo é uma coisa muito diferente da força vivificante do Espírito... Os exemplos dados em Atos, onde há um intervalo de tempo, fazem-nos sensíveis à distinção dos dois” (Collected Writings, vol.26, pág. 89).
Da mesma forma, A. P. Cecil disse: “Eu creio que a Escritura claramente ensina não apenas uma distinção entre o novo nascimento e o selo com o Espírito, mas também um intervalo entre as duas coisas. Pode ser longo ou curto, mas o intervalo de tempo está lá, da mesma maneira como quando um homem primeiro constrói uma casa e depois habita nela” (Helps By the Way, vol. 3, NS, pág. 175).
Em terceiro lugar, os Cristãos, quase universalmente, confundem o novo nascimento com a regeneração – mas essas coisas também não são as mesmas. Ambas se referem a um novo começo, mas são novos começos diferentes. Novo nascimento é um novo começo interior numa pessoa que recebe vida divina. Regeneração, por outro lado, é um novo começo exterior na vida de um crente, pela purificação da sua vida de uma forma prática. Os homens não podem ver a nova vida transmitida no novo nascimento, mas devem ser capazes de ver a mudança exterior na vida daquele que é salvo. Haverá uma notável ruptura com as coisas profanas e mundanas que ele uma vez buscava. (Veja: Regeneração)
Em quarto lugar, os Cristãos muitas vezes confundem o novo nascimento com a vida eterna, mas também não são sinônimos. Ambos têm a ver com a posse da vida divina, mas de uma maneira diferente. Nascer de novo é ter a vida divina em embrião, por assim dizer. Considerando que a vida eterna tem a ver com a posse da vida divina na consciência do nosso relacionamento com o Pai e o Filho (Jo 17:3), no terreno da redenção (Jo 3:14-15) e no poder da habitação do Espírito (Jo 4:14). A possessão desse caráter de vida é chamada de “vida eterna”. Isso exigiu a vinda do Filho de Deus para o mundo (Jo 10:10).
Os crentes que viveram antes da vinda de Cristo não poderiam ter tido esse caráter de vida divina, embora eles tenham certamente nascido de novo. J. N. Darby disse: “Quanto aos santos do Velho Testamento, vida eterna não fazia parte da revelação daquela época, mesmo supondo que os santos do Velho Testamento a tivessem” (Notes e Jottings, pág. 351). Não dizemos que há dois tipos de vida divina – há apenas um tipo de vida divina – a vida de Cristo (Jo 1:4). Os santos do Velho Testamento tinham a mesma vida divina que os Cristãos, mas não tinham a revelação da verdade concernente ao Pai e ao Filho e à obra da redenção e ao selo do Espírito. Portanto, a Escritura não chama a vida divina que eles tiveram como sendo vida eterna.
Esta vida mais abundante, que é a vida eterna (Jo 10:10), não é chamada assim porque descreve a sua duração, mas porque descreve o seu caráter. É o próprio caráter da vida a qual o Pai e o Filho desfrutavam em comunhão Um com o Outro na eternidade, antes da fundação do mundo. Os Cristãos nascem de novo (Tg 1:18; 1 Pe 1:23), como também os santos do Velho Testamento, mas ao receberem a Cristo como seu Salvador, eles têm algo mais – eles têm “vida eterna” (Jo 3:15-16).
Outra distinção entre o novo nascimento e a vida eterna é que a vida divina transmitida aos pecadores pelo novo nascimento é feita sem nenhuma ação consciente da parte deles (Jo 3:8), enquanto a vida eterna é dada a uma pessoa quando conscientemente crê no Senhor Jesus Cristo e O recebe como seu Salvador (Jo 3:16, 36, 5:40, 6:47). (Veja: Vida Eterna)

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