segunda-feira, 12 de junho de 2017

DOM


DOM – No Novo Testamento, “dom” é um assunto que é tratado de algumas maneiras diferentes. Em primeiro lugar, há “o dom do Espírito Santo”, que é dado a toda pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo (Jo 4:10; At 2:38, 10:45; 1 Ts 4:8; 1 Jo 3:24). Ao receber o Espírito Santo, a pessoa se torna parte da Igreja de Deus, que é o corpo de Cristo.
Há o dom da “graça” que é dado a cada membro do corpo de Cristo, pelo qual cada um é capaz de preencher o lugar no corpo que lhe foi atribuído (Ef 4:7).
Há também dádivas espirituais que são dadas aos crentes, chamadas “dons espirituais”, ou “manifestações espirituais”, como traduzido por J. N. Darby (1 Co 12:1, 14:1, 12). Essa dádiva espiritual é dada a uma pessoa no momento em que ela crê no Senhor Jesus e recebe o Espírito Santo. Quando ela é conduzida pelo Espírito para exercer seu dom, contribuirá de alguma forma para a edificação do corpo (1 Co 12:7; Ef 4:15). A Bíblia ensina que a todos os crentes foi dado pelo menos um dom (1 Co 12:7; 1 Pe 4:10). O ministério é simplesmente o exercício do dom de alguém; como todos os Cristãos têm algum dom, todos os Cristãos estão “no ministério”. A extensão completa desses dons é muito mais ampla do que ensinar, exortar, profetizar, pregar etc. Inclui dons de sinais tais como: cura, línguas, e dom de milagres (1 Co 12:9-10), e dons de caráter mais privado, como ajudar as pessoas individualmente – como pastorear, ajudar, dar, mostrar misericórdia etc. (Rm 12:8; 1 Co 12:28).
Há também “dons” especiais que são dados à Igreja por Cristo, a Cabeça do corpo (Ef 4:10-11). Esses são homens que em si mesmos possuem certos dons espirituais para ministrar a Palavra. Eles são: “apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores [mestres – ARA]. O Senhor dá esses homens com o propósito de preparar os santos e, assim, torná-los capazes de contribuir na obra do ministério (Ef 4:12). Os apóstolos já não existem (Ef 2:20), mas os outros dons certamente sim. Os profetas que estão conosco hoje não são aqueles que recebem revelações e predizem eventos futuros (At 11:28, 21:10-11), mas aqueles que ministram a Palavra para edificação, exortação e consolação (1 Co 14:3).
Os dons de sinais e de testemunho acima mencionados cessaram porque o propósito para o qual foram dados já foi cumprido. Isso aconteceu de duas maneiras:
Em primeiro lugar, esses dons foram usados para dar “testemunho” à nação judaica que Deus era capaz e estava disposto a trazer o reino em todo o seu poder e glória (como apresentado nos profetas do Velho Testamento), se eles recebessem o Senhor Jesus como seu legítimo Messias. Deus confirmou essa graça para com eles no ministério dos apóstolos (At 2:43), pelo qual a nação provou “os poderes do mundo vindouro” (Hb 6:4-5 – TB) e viu “sinais e milagres” e “várias maravilhas” com “dons do Espírito Santo, distribuídos por Sua vontade” (Hb 2:3-4), e eles também tiveram homens falando-lhes em “línguas” (At 2:1-13; 1 Co 14:21-22). Mas quando os judeus rejeitaram formalmente esse testemunho (At 7:54-60), a não ser o remanescente que creu (Rm 11:5), Deus colocou a nação de lado no ano 70 d.C., com a destruição de Jerusalém e do templo e com a morte de uma grande porção do povo (Mt 21:33-44, 22:7, 24:2). Então, o uso desses dons de sinais não era mais necessário (1 Co 13:8). A história testemunha o fato de que, após o primeiro século, esses dons de milagres não eram mais usados.
Em segundo lugar, Deus usou os dons de sinais para dar testemunho aos gentios de que Ele havia efetuado um novo início em Seus caminhos dispensacionais ao enviar o Espírito Santo no Pentecostes para formar a Igreja (Mc 16:15-20; Rm 15:18-19). Aos gentios foi dada a oportunidade de fazer parte da Igreja, se recebessem o Senhor Jesus. Depois que a Igreja foi estabelecida naqueles primeiros tempos, os dons de sinais que foram manifestados em associação com a pregação do evangelho, não tiveram continuidade. Novamente, a história da Igreja testemunha esse fato.
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A esfera na qual os dons operam na casa de Deus é uma das três esferas distintas de privilégio e responsabilidade – sacerdócio, dom e ofício. A Cristandade tem entendido mal as distinções que marcam estas três esferas de atividade espiritual e as fundiu em uma só, e disso veio a invenção de um clérigo (um assim-chamado ministro ou pastor), que não tem o apoio da Escritura. É, portanto, importante notar a diferença entre eles. Uma diferença é que o sacerdócio tem a ver com o que vai do homem para Deus, pois está relacionado ao louvor e à oração, enquanto o dom tem a ver com coisas espirituais sendo ministradas de Deus para o homem. (Veja: OSacerdócio dos Crentes e Ofício)
Quando a esfera do dom na casa de Deus está sendo considerada, geralmente se refere aos dons que pertencem ao ministério público da Palavra – pregar, ensinar, exortar etc. No entanto, o exercício do dom espiritual de alguém é algo que não se limita às reuniões da assembleia; os dons devem ser exercitados sempre e onde quer que uma pessoa, dirigida pelo Espírito, é conduzida a fazê-lo.
Uma coisa importante de se notar em conexão com o assunto de dom é que a Escritura não ensina que uma pessoa precisa ser treinada em um seminário e ordenada antes que possa usar seu dom espiritual. A Escritura também não ensina que esses dons devam ser exercitados sob o patrocínio da assembleia, ou sob a direção de uma organização para-eclesiástica ou um conselho missionário. Cada dom é dado pelo Senhor e deve ser usado sob Sua direção. A posse de um dom espiritual é a autorização de Deus para usá-lo. O apóstolo Pedro indica isto, dizendo: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu” (1 Pe 4:10). Ele também disse: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus: se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá”. Note que Pedro não diz que depois de receber um dom para ministrar a Palavra alguém precise ir à escola antes que possa usá-lo. A simples ordem na Escritura é: “Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação” (1 Co 14:26). A Igreja foi assim ensinada e edificada no seu princípio e é o modelo para o ministério Cristão de hoje.
J. N. Darby disse: “Se Cristo pensou em me dar um dom, eu devo negociar com meu talento como Seu servo, e a assembleia nada tem a ver com isso: Definitivamente eu não sou servo dela... Eu me recuso terminantemente a ser seu servo. Se eu, fazendo ou dizendo algo como um indivíduo, sou chamado à disciplina, aí é outra questão; mas ao negociar com o meu talento, eu não atuo ‘por’ nem ‘para’ uma assembleia. Quando vou ensinar, exercito individualmente o meu dom... O Senhorio de Cristo é negado por aqueles que sustentam essas ideias; eles querem fazer da assembleia, ou deles próprios, senhores. Se eu sou servo de Cristo, deixe-me servi-Lo na liberdade do Espírito. Eles querem fazer dos servos de Cristo servos da assembleia, e negar o serviço individual como sendo responsável perante Cristo... Eu sou livre para agir sem consultá-los no meu serviço a Cristo: eles não são os donos dos servos do Senhor” (Letters, vol. 2, pág. 92).
O dom de uma pessoa precisa ser desenvolvido, e isso leva tempo e treino. Quanto mais a pessoa amadurece nas coisas divinas, mais eficiente ela se tornará no seu ministério (At 18:24-28; Mc 4:20). A maneira bíblica de uma pessoa ser ensinada nas coisas divinas é assistir às reuniões de leitura da Bíblia (1 Tm 4:13) e outras reuniões onde a Palavra de Deus é ensinada sob a direção do Espírito Santo (At 20:7; 1 Co 14:29-31). Há também um ministério escrito (2 Tm 4:13), e um ministério gravado, dado por pessoas bem formadas e dotadas.
Também é importante entender que esses dons “espirituais” não são dons naturais (1 Co 12:1, 14:1, 12). Os dons naturais foram dados aos homens por Deus desde o nascimento, e os homens os desenvolvem pela prática. Esses podem ser coisas tais como habilidades musicais, habilidades artísticas, habilidades atléticas, capacidade intelectual etc. Em Mateus 25:14-30, o Senhor fez uma distinção entre dons espirituais (usando a figura de “talentos” – uma unidade monetária) e habilidades naturais, destreza (que Ele chamou de “capacidade”), mostrando que estas são duas coisas diferentes. A sabedoria de Deus é vista na parábola pois o homem deu talentos aos seus servos “segundo” suas diferentes habilidades. Isso nos ensina que o Senhor dá dons espirituais aos membros de Seu corpo que correspondem ao que foi formado naturalmente na personalidade deles. Por exemplo, um evangelista provavelmente deveria ter uma capacidade natural de falar com as pessoas, uma vez que o essencial desse tipo de serviço é alcançar as pessoas com o evangelho. Não é provável que o Senhor dê esse dom a uma pessoa que seja tímida e não possua habilidades comunicativas. Do mesmo modo, o dom de ensino requer certo grau de habilidade natural na forma de capacidade intelectual. O dom do ensino, portanto, provavelmente seria dado a alguém que tem uma mente organizada.
Os Cristãos, de um modo geral, estão confusos em relação a isso. Eles pensam que a habilidade natural de alguém é seu dom no corpo de Cristo. Daí vem a crença de que os Cristãos devem buscar carreiras mundanas na vida – tais como: esportes profissionais, música profissional e outros tipos de entretenimento mundano, porque têm uma habilidade natural nessa direção. J. N. Darby disse: “É um princípio inteiramente falso de que ter dons naturais é uma razão para usá-los. Posso ter força ou velocidade extraordinária para correr; eu derrubo um homem com um braço, e ganho o troféu com outro. A música pode ser uma coisa mais refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu acredito ser da mais alta importância. Os Cristãos perderam sua influência moral ao considerar a natureza e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse, vocês não podem misturar carne e Espírito” (Letters, vol. 3, pág. 476). Nem vemos a Igreja na Escritura tendo reuniões para essas pessoas talentosas mostrarem suas habilidades naturais. Os dons espirituais não são para o entretenimento Cristão, mas para a edificação dos santos nas coisas espirituais.
Também é importante ver que todos esses dons não estão em uma pessoa. A Escritura diz: “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito... (1 Co 12:8-10). Um homem pode ter mais de um dom, mas está claro por esta passagem que ele não vai possuir todos os dons. Portanto, a assembleia precisará da participação de todos os que têm dom para ministrar a Palavra, se for para ela receber o benefício dos dons em seu meio. Infelizmente, o sistema de clérigos/leigos existente em quase toda a Cristandade toma o lugar do livre exercício dos dons nessas assembleias.

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