quarta-feira, 26 de julho de 2017

ENCARNAÇÃO DE CRISTO, A



ENCARNAÇÃO DE CRISTO, A – Esse termo não é encontrado na Escritura, mas a verdade que ele transmite com certeza é. Refere-se ao fato de o Senhor unir a humanidade com a Sua Pessoa e Se tornar um Homem. Isso significa que Ele teve um “espírito” humano (Jo 11:33, 13:21), uma “alma” humana (Mt 26:38; Jo 12:27) e um “corpo” humano (Hb 10:5). No entanto, ao fazer isso, Ele não declinou de Sua Divindade. Assim, Ele era totalmente Homem e totalmente Deus. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável para a mente do homem (Mt 11:27). Não somos chamados a entendê-la, mas simplesmente a aceitá-la e crer. Essa encarnação ocorreu quando Maria “concebeu” do Espírito Santo (Mt 1:20) e Ele “nasceu” no mundo (Lc 1:35). (Veja: Jo 1:14; Rm 1:3; Fp 2:5-8; 1 Tm 3:16a)
O Senhor não tomou simplesmente um corpo humano como uma capa dentro da qual o Seu Espírito divino habitou – o erro do Apolinarianismo. Havia uma união verdadeira entre tudo n’Ele como Pessoa divina com tudo o que constitui um ser humano. Tornar-Se um Homem era uma suprema condescendência[1], pois essa união da natureza divina com a humana pemanecerá para sempre. O Senhor viveu e Se moveu e teve Seu Ser neste mundo como um Homem, e Ele entregou Sua vida na morte como um Homem, e assim Ele passou ao estado intermediário (Sua alma e espírito foram temporariamente separados de Seu corpo), mas mesmo na morte, Ele ainda era um Homem (At 2:27). Na ressurreição, Ele tomou Seu corpo novamente e ascendeu à direita de Deus em um estado glorificado (1 Tm 3:16b) – e Ele permanecerá um Homem por toda a eternidade!
Quando a Escritura fala da humanidade de Cristo, ela cuidadosamente se guarda da ideia de que Ele tomou parte na natureza caída pelo pecado que temos. Por exemplo, Hebreus 2:14 diz: “como os filhos participam (“koinoneo” em grego) da carne e do sangue, também Ele participou (“metecho” em grego) [tomou parte – JND] das mesmas coisas”. Isso significa que “como” os humanos tomam parte na humanidade (a qual envolve três partes – um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano), Cristo também participou “das mesmas coisas”. Em outras palavras, Ele Se tornou um Homem real. No entanto, ao falar da humanidade de Cristo, o Espírito usa uma palavra diferente do que Ele usa para descrever nossa humanidade. Os “filhos”, diz o escritor, são “participantes” da carne e sangue. A palavra grega traduzida como “participantes” (koinoneo) refere-se a algo universal compartilhado por toda a humanidade. Isso é verdade para todos os homens, pois todos participamos plenamente da humanidade – até na participação da natureza do pecado. No entanto, quando o versículo continua a falar de Cristo tornando-Se um Homem, o escritor usa outra palavra grega. Ele diz que o Senhor “tomou parte” (“metecho” – JND) na mesma. Essa palavra indica um compartilhamento de algo, sem especificar o grau dessa partilha, e, portanto, indica que, quando Cristo Se tornou Homem, a Sua humanidade não chegou tão longe a ponto de compartilhar da humanidade caída.
Além disso, Hebreus 4:15 afirma que a humanidade do Senhor era “sem pecado [pecado à parte2 – JND]. O “pecado” (singular) é frequentemente usado nas epístolas do Novo Testamento para indicar a velha natureza caída do pecado. Esse versículo, portanto, deixa claro que o Senhor não teve uma natureza humana caída, como têm todos os descendentes do Adão caído (Sl 51:5).
A encarnação, portanto, é diferente das manifestações divinas no Velho Testamento. Aquelas foram ocasiões em que Cristo tomou a forma humana e interagiu com os homens para determinados fins. Muitas vezes, a Escritura usa o título “Anjo” para indicar isso (Gn 16:7, 18:1-33, 32:24-32; Êx 3:2, 4:24, 14:19; Js 5:13-15; Jz 6:11-24, 13:3-5, 9-21; 1 Cr 21:18-30 etc.). Naquelas ocasiões, o Senhor apareceu numa forma humana, mas não era a união das duas naturezas (divina e humana) envolvidas em Sua encarnação.




[1] N. do T.: Qualidade daquele que voluntariamente cede à vontade de outro.

[2] N. do T.: J. N. Darby traduz essa passagem como “sin apart”. Traduzir isto ao português como “apartado (ou separado) do pecado” não estaria correto, pois poderia dar a impressão de que o Senhor Jesus escolheu Se apartar ou Se separar do pecado. Mas a ideia é que o pecado não encontrava lugar n’Ele e, portanto, não agia n’Ele. Nós devemos nos separar ou nos apartar do pecado pois, do contrário o pecado vai encontrar em nós a capacidade de agir. N’Ele não havia “pecado” o que é diferente da ideia que frequentemente vemos na Cristandade professa de que o Senhor Jesus “escolheu” não pecar.

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