terça-feira, 26 de setembro de 2017

PAZ



PAZ – Há pelo menos sete aspectos da paz na Escritura – alguns relacionados à posição do crente diante de Deus, alguns relativos ao estado do crente e apenas um em relação ao futuro estado do mundo sob o reinado público de Cristo. Alguns desses aspectos são posicionais, outros são práticos e o último é profético (ainda por ser cumprido).

1) Paz em conexão com a posição do crente

A. P. Cecil indicou que há três partes para a posição em paz do crente, e que nos pertencem desde o momento em que cremos no evangelho e fomos selados com o Espírito Santo. Elas são:

a) Paz com Deus (Rm 5:1)

Esta é uma “paz” exterior que existe entre Deus e o crente como resultado de ser “justificado pela fé”. É uma condição exterior que prevalece entre duas partes que antes estavam separadas. Da mesma forma, quando duas nações estão em guerra, não há paz. Mas se a paz for estabelecida entre elas, a guerra acaba, cessam as hostilidades e os inimigos são transformados em amigos. Isso foi exatamente o que aconteceu com o crente por fé na morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não existe mais uma separação entre nós e Deus; prevalece agora uma condição de “paz com Deus”.
Algumas pessoas pensam que o pecador precisa fazer a paz com Deus. Eles dirão: “Faça a sua paz com Deus”. No entanto, não podemos fazer paz com Deus porque não somos capazes de atender às reivindicações da justiça divina necessária para a paz. Graças a Deus, Ele interveio para assegurá-la ao crente. A Bíblia ensina que esta paz foi feita para os homens pela obra de Cristo na cruz (Cl 1:20). Assim, tudo o que temos a fazer é crer no testemunho de Deus sobre esse fato, e “sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Esse aspecto da paz é uma realidade objetiva e não um sentimento subjetivo ou um estado de espírito. Assim, não é um sentimento de paz interior na alma do crente, como algumas pessoas pensam. Os sentimentos de paz podem vir e ir, dependendo das circunstâncias e do estado de alma de uma pessoa, mas não fazem parte da justificação do crente e de sua “paz com Deus”. A paz com Deus é uma condição permanente na qual o crente habita com Deus. É tão segura e inabalável como seu fundamento: a morte e a ressurreição de Cristo. Romanos 5:1 não está falando do gozo de nossa paz com Deus, mas sim do fato de que temos paz com Deus. Essa paz não depende do nosso estado de alma, nem pode ser perdida pelas fraquezas do nosso caráter ou falhas no caminho da fé, porque é uma coisa eternamente estabelecida e inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus. Portanto, não temos mais desta paz caminhando em comunhão com o Senhor, nem temos menos dela se não caminharmos com Ele.

b) Paz da libertação (Rm 8:6)

Esse aspecto da paz é algo interior. Tem a ver com o crente ser trazido ao descanso em sua alma com relação à culpa de seus pecados. É uma paz interna na alma do crente resultante do conhecimento da sua aceitação (Rm 8:1) e da libertação (Rm 8:2-4). Assim, o crente tem um profundo senso de ter sido libertado do julgamento, e isso faz com que a paz e o descanso preencham sua alma. Esse aspecto interior da paz é muitas vezes confundido com a paz exterior com Deus, acima mencionada.
A aceitação tem a ver com o entendimento do que foi realizado na obra consumada de Cristo na cruz e do lugar que Ele tem à direita de Deus. Como consequência da Sua ressurreição e ascensão, o Senhor agora está em um lugar diante de Deus que está além da condenação. E, devido à habitação do Espírito de Deus no crente, o crente está “em Cristo” (Rm 8:1 etc.). “Em Cristo” é um termo técnico usado na doutrina de Paulo para demonstrar o crente estando “no lugar de Cristo perante Deus” (Ef 1:6). Assim, ele é tão aceito como Cristo é aceito (1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo)
A libertação tem a ver com o Espírito efetuando uma libertação do poder do pecado na alma do crente (Rm 8:2-4). Isso não significa que ele não possa mais pecar, mas que existe um poder nele que lhe permite viver sem pecar, se ele andar no Espírito. Isto é assim em virtude da “lei [o princípio] do Espírito de vida, em Cristo Jesus”, agindo no crente para superar as inclinações da carne. J. N. Darby observou que quando uma alma obtém essa paz, nunca mais entra em dúvidas a respeito de sua salvação. (Veja: Libertação)

c) Paz racial (Ef 2:14-15)

Refere-se à condição de paz existente entre os membros do corpo de Cristo, apesar de suas posições anteriores como judeus e gentios serem totalmente opostas. A grande obra de reconciliação a Deus por meio do sangue de Cristo (Ef 2:13), não somente trouxe o crente para perto de Deus, mas também a uma união com os outros membros do corpo de Cristo. Assim, as diferenças que existiram durante séculos entre judeus e gentios foram anuladas; eles estão agora juntos, unidos ao corpo de Cristo pela habitação interior do Espírito.
Como mencionado, os três aspectos de nossa posição em paz são nossos no momento em que cremos no evangelho e somos selados com o Espírito Santo.

2) Paz em conexão com o estado do crente

Quando o estado de alma do crente está correto, e ele está caminhando em comunhão com o Senhor, existem certos aspectos da paz prática que ele irá desfrutar. Tudo isso tem a ver com o estado do crente. Se, no entanto, ele negligencia andar com o Senhor, não terá os seguintes aspectos da paz:

a) A Paz de Deus (Fp 4:7)

Essa se refere ao estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Ele vê e conhece todos os conflitos e problemas que ocorrem neste mundo, mas nenhuma dessas coisas perturba a paz em que Ele habita. Não é que Ele seja indiferente a tudo isso – Ele está muito preocupado com o sofrimento, a tristeza, a violência etc., e corrigirá tudo um dia – mas isso não perturba a Sua paz. Paulo ensina em Filipenses 4 que Deus quer que vivamos na própria paz em que Ele vive, para que nossa mente e coração não sejam turbados pelas circunstâncias preocupantes pelas quais passamos neste mundo. Paulo diz que devemos trazer diante de Deus em oração tudo aquilo que nos preocupa e nos incomoda e fazer com que nossas “petições” sejam conhecidas por Ele (Fp 4:6). Ele não diz que Deus necessariamente nos dará tudo o que pedirmos, mas que Ele nos dará a paz nestas situações inquietantes da vida (Fp 4:7). Paulo continua dizendo que não só teremos “a paz de Deus” em nossa alma, mas também teremos “o Deus da paz” conosco em nossas circunstâncias (Fp 4:9). Ou seja, Ele nos concederá um senso especial de Sua presença. Compare Daniel 3:24-25. W. Scott disse: “Oh, Tê-Lo como teu Companheiro de viagem, constantemente ao teu lado; teu guia, guardião e amigo – o Deus da paz!” (Young Christian, vol. 5, pág. 128).
Nunca podemos perder a nossa “paz com Deus”, pois está inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus em Cristo. Mas se não trouxermos nossas preocupações e problemas a Deus em oração, não poderemos ter a “paz de Deus” em nossa alma e nos incomodaremos com muitas coisas nas vicissitudes da vida (Lc 10:41).

b) A Paz de Cristo (Jo 14:27; Cl 3:16)

Essa se refere ao estado de paz em que o próprio Senhor viveu quando Ele andou por este mundo. Ninguém viu problemas como Ele, nem sofreu como Ele. As dores que Ele experimentou devido ao ódio e à rejeição dos homens pesavam sobre o coração de Deus. No entanto, Ele tomou tudo em perfeita calma, sem ser indiferente. Essa calma veio da aceitação dessas circunstâncias como vindas da mão de Seu Pai, em perfeita submissão (Mt 11:26). Assim, Ele viveu em paz (Mc 14:61, 15:3-5) e dormiu em paz (Mc 4:37-41), e no final da Sua senda na Terra, deu essa paz a Seus seguidores (Jo 14:27), pois eles teriam que passar pelo mesmo mundo hostil.
A diferença entre a paz de Cristo e a paz de Deus é que a paz de Deus resulta quando trazemos nossos problemas e dificuldades para Deus em oração, enquanto que a paz de Cristo resulta de tomarmos nossos problemas e dificuldades como vindos de Deus, em submissão.

c) Paz entre os irmãos (Rm 14:19; 2 Co 13:11; Ef 4:3; 1 Ts 5:13; 2 Ts 3:16; 2 Tm 2:22,  Hb 12:14; Tg 3:18; 1 Pe 3:11)

Esse aspecto da paz tem a ver com condições felizes e pacíficas existentes entre os irmãos. O salmista disse: “Eis quão bom e quão agradável é que os irmãos vivam em unidade” (Sl 133:1 – JND). Enquanto isso realmente está falando sobre as tribos de Israel habitando pacificamente, o princípio também é aplicável aos irmãos Cristãos. Satanás está fazendo tudo o que pode para perturbar a paz entre os irmãos. Os santos em cada assembleia local, portanto, devem “operar” sua “salvação” dos ataques malignos entre eles tendo a humildade de Cristo e cada um estimando o outro melhor do que a si mesmo (Fp 2:12).

3) Paz mundial (Sl 72:3, 7, 147:14; Lc 2:14)

Isso tem a ver com a paz entre as nações na Terra. É algo que os reis e os governadores e políticos têm tentado realizar a milhares de anos, mas todos falharam. A Escritura nos diz que a paz mundial será estabelecida pelos julgamentos do Senhor em Sua Aparição. Ele diz: “havendo os Teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Naquele tempo, o Senhor “faz cessar as guerras até ao fim da Terra” (Sl 46:9).
Muitos Cristãos acreditam que devem fazer o que podem para trazer a paz ao mundo neste presente Dia da Graça. Eles veem isso como seu dever Cristão. Por isso, eles se envolvem na política, apoiam o porte de armas, envolvem-se em protestar contra atos injustos na sociedade etc. Esse pensamento equivocado tem suas origens na Teologia Reformada (Pacto), que ensina que o reino de Cristo será estabelecido por meio da pregação e da influência Cristã. Essas ideias têm influenciado em quase todos os setores da profissão Cristã hoje. No entanto, enquanto a Bíblia nos ensina que devemos procurar viver pacificamente entre os povos deste mundo (Rm 12:18; 1 Tm 2:1-2), ela não nos ensina a nos envolver em seus assuntos políticos, porque somos meramente peregrinos passando por ele (1 Pe 2:11). A Bíblia nos assegura que, enquanto este mundo certamente será ordenado corretamente pela força nos julgamentos do Senhor, o Dia da Graça não é o momento para isso. O Senhor ensinou que, enquanto Ele fosse rejeitado por este mundo, seus seguidores não deveriam “lutar” em questões de justiça na sociedade (Jo 18:36; Ap 13:10; Mt 26:52). É uma causa perdida porque a Escritura ensina que o mundo continuará piorando, moral e espiritualmente, até que o Senhor intervenha em julgamento (2 Tm 3:13). Portanto, devemos aguardar Ele ordenar o mundo por meio do julgamento que fará na Sua Aparição (At 17:31; 2 Ts 1:7-9; Ap 11:15). Naquele tempo, Ele trará “paz ao povo” de todo este mundo (Sl 72:3).

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