sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A



HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A – Isso se refere ao fato de o Senhor Jesus Cristo ter uma natureza humana incapaz de pecar. Não toca precisamente a questão se Ele pecou em Sua vida (o que, sem dúvida, não o fez), mas se Ele tinha uma natureza que fosse capaz de pecar. Enquanto todos os Cristãos concordam unanimemente que Cristo não pecou, ​​muitos pensam que Ele poderia ter pecado, se Ele assim escolhesse. Mas essa falsa ideia ataca a impecabilidade da Pessoa de Cristo e é um grave erro que afeta a doutrina de Cristo.
Quando Cristo veio ao mundo (Sua encarnação), Ele tomou a humanidade (um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano) em união com Sua Pessoa. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável (Mt 11:27). Ao fazê-lo, Ele não tomou a natureza humana inocente que Adão teve antes da queda. Aquela natureza era sem pecado, mas não tinha o conhecimento do bem e do mal, e era capaz de pecar – o que Adão infelizmente demonstrou (Rm 5:12). Cristo não poderia ter tomado essa natureza porque ela já não existia em seu estado inocente no momento da Sua chegada ao mundo. Ela tinha sido corrompida pela desobediência de Adão e estava caída. Nem Cristo poderia ter Se unido a Si mesmo com essa natureza em seu estado caído, pois, ao fazê-lo, teria levado o pecado à Sua Pessoa, e assim Ele teria deixado de ser Santo. Se Ele tivesse feito isso, teria deixado de ser Deus, porque santidade (a ausência do mal) é um dos atributos essenciais da Divindade! (Is 6:3; Ap 4:8). A Bíblia indica que Deus preparou para Ele uma “Santa” humanidade – espírito, alma e corpo (Lc 1:35; Hb 7:26, 10:5). Sendo Santo, o Senhor Jesus teve uma natureza humana que não podia pecar.
Então, desde a queda de Adão, quando falamos de uma pessoa pecar – independentemente de quem possa ser – traz imediatamente à discussão, a pessoa tendo a natureza pecaminosa que produziria esses pecados. Os pecados (os frutos), como sabemos, são o produto do pecado (a natureza). Por isso, dizer que o Senhor Jesus poderia pecar (embora Ele não o tenha feito) implica dizer que Ele teve a natureza caída do pecado! Esta é uma suposição terrivelmente equivocada que a Palavra de Deus certamente não ampara.
As seguintes referências mostram que Cristo não participou da humanidade caída, embora Ele certamente tenha Se tornado um Homem:
1 João 3:5 diz: “n’Ele não há pecado”. Essa declaração única da Palavra de Deus resolve a questão se Cristo poderia pecar. Ela nos diz que Ele não tinha a natureza pecaminosa em Si mesmo e, portanto, Ele não tinha a possibilidade de cometer pecados.
Em Lucas 1:35, em conexão com a encarnação do Senhor, o anjo que veio a Maria disse: “o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. Isso nos diz que a essência de Sua natureza como homem é “Santa”. Isso não pode ser dito de nenhum outro homem. Não nascemos santos (Sl 51:5).
Em Lucas 3:23 (TB), ao traçar a linhagem do Senhor até Adão, a Escritura diz: “Ora o mesmo Jesus, ao começar o Seu ministério, tinha cerca de trinta anos, sendo filho (como se julgava) de José”. A frase “como se julgava” é inserida no texto pelo Espírito Santo para mostrar que o Senhor não era o filho natural de José; Ele era apenas seu filho legal. Ele foi “concebido” pelo Espírito Santo, e não por José (Mt 1:20). O fato de a Escritura afirmar que José não tinha nada a ver (biologicamente) com a concepção do Senhor, mostra o cuidado que Deus toma em não permitir qualquer pensamento de que Cristo tenha herdado a natureza caída do pecado passada a Ele por intermédio dos descendentes de Adão.
Romanos 8:3 diz: “Deus, enviando a Seu próprio Filho em semelhança de carne de pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne”. Mais uma vez, vemos que a Escritura tem cuidado em proteger a humanidade de Cristo, afirmando que a Sua vinda em humanidade foi “em semelhança de carne de pecado”. Assim, Ele não tinha “carne de pecado”, mas estava apenas em “semelhança” dela. Ou seja, por todas as aparências exteriores, Ele Se parecia com qualquer outro homem (Hb 10:20), mas, interiormente, Ele não tinha a natureza do pecado.
Hebreus 2:6 diz: “Que é o homem, para que dele Te lembres?” Essa é uma citação do Salmo 8. O salmista fica maravilhado com a graça de Deus que se importa com homens. A palavra aqui para “homem” no hebraico é “Enosh”. Ela indica o estado fraco e frágil do homem – implicando uma condição caída e degenerada. O salmo prossegue dizendo: “...ou o filho do homem, para que o visites?”. Isso refere-se à visita de Deus à raça humana na Pessoa de Seu Filho (Lc 1:78). Note que nessa ocasião, o salmista usa uma palavra diferente para “homem” no hebraico daquela que ele havia usado anteriormente. Aqui é “Adão”, que não carrega as conotações de “Enosh”. Isto significa que, quando Cristo visitasse a humanidade, ao Se tornar um Homem, não seria no estado do degenerado “Enosh”.
Hebreus 2:14 diz: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou [tomou parte – JND] das mesmas coisas”. Aqui novamente, a Escritura guarda cuidadosamente a humanidade sem pecado de Cristo. Mais uma vez, a Escritura usa duas palavras diferentes no grego para distinguir entre homens caídos que participam da humanidade e Cristo que tomou parte na humanidade. A primeira palavra (“koinoneo”), traduzida como “participam”, refere-se a uma participação completa em algo. É usada neste versículo para indicar o tipo de participação na humanidade que todos na raça de Adão têm. E como é uma total participação, necessariamente incluirá participar da natureza caída do pecado. A outra palavra (“metecho”) é traduzida como “tomou parte” (JND e KJV), que significa participar de algo sem especificar a profundidade da participação, é usada para indicar a participação que Cristo teve na humanidade. Ele tomou parte na humanidade, mas não ao ponto de participar da natureza caída do pecado, que todos os outros homens têm. (Veja a nota de rodapé na tradução de J. N. Darby sobre Hebreus 2:14)[1]
Em Hebreus 4:15, no que diz respeito às provas e as tentações do Senhor em Sua senda terrenal, o escritor diz: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado [pecado à parte[2] – JND]. Infelizmente, lendo esse versículo como está na tradução King James (e em muitas traduções modernas – e na maioria das em português), parece que está dizendo que o Senhor não cometeu nenhum pecado em Sua vida. Mas este não é o assunto do versículo. A frase, “mas sem pecado” deve ser traduzida “pecado à parte” (JND) que significa que Suas tentações não estavam na classificação das tentações que tinham a ver com a natureza pecaminosa. Existem dois tipos de tentações às quais os homens estão sujeitos: há tentações e provações externas pelas quais a fé e a paciência de alguém são testadas (provas santas), e há tentações internas que resultam de alguém ter uma natureza de pecado (provas pecaminosas). (Veja Tg 1:2-12 e 1:13-16). O escritor de Hebreus está simplesmente afirmando que o Senhor foi tentado de todos os modos que um homem justo poderia ser tentado, mas não na classe de tentações que estão conectadas com a natureza interior do pecado. A razão para isso é óbvia – Ele nunca teve a natureza de pecado. J. N. Darby disse: “Há dois tipos de tentações: uma vem de fora – todas as dificuldades da vida Cristã. Cristo passou por elas duma forma muito mais intensa do que qualquer um de nós. O outro tipo de tentação é quando um homem é levado por sua própria concupiscência e seduzido. Cristo, é claro, nunca teve isso” (Notes and Jottings, pág. 6).
Em João 8:46, o Senhor disse aos Seus acusadores: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” Ninguém poderia provar que Ele tinha aquela natureza caída, porque ninguém poderia apontar para um único pecado que Ele houvesse cometido.
Em João 14:30, o Senhor anunciou aos discípulos: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim”. Ele estava se referindo à vinda de Satanás para molestá-Lo e amedrontá-Lo, mas Ele lhes assegurou que não havia nada “em” Ele (isto é, a natureza do pecado) que respondesse aos seus ataques.
Tiago 1:13 diz que “Deus não pode ser tentado pelo mal”. Assim, a santidade é um atributo intrínseco de Deus (Is 6:3; Ap 4:8). Se quando Deus, na Pessoa de Seu Filho, Se tornou um Homem (1 Tm 3:16), tivesse Se tornado capaz de ser tentado a fazer o mal, então Ele teria renunciado a um dos Seus atributos essenciais da Divindade. Portanto, se a doutrina que afirma que Cristo poderia pecar é verdadeira, então Cristo deixou de ser tudo o que Ele era como Deus ao Se tornar um Homem! Isso é blasfêmia!
1 João 3:9 diz: “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”. Esse versículo está falando sobre o crente tendo uma nova natureza (resultante de um novo nascimento) que não pode pecar. João explica que isso é assim porque, sendo gerados por Deus, temos “Sua semente” em nós. Isso confirma o que todo Cristão já conhece – que a “semente” (ou a vida) de Deus não pode pecar. Portanto, como Cristo é “Deus manifestado em carne” (1 Tm 3:16), então segue-se naturalmente que Ele não poderia pecar – porque Deus não pode pecar! O que poderia ser mais claro do que isso?

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três objeções principais a esta verdade sobre a humanidade de Cristo:

1) Aqueles que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, pensam que é roubar do Senhor a Sua glória de obediência dizer que não poderia pecar. Eles dizem que se isso fosse verdade, então, Cristo não obteria crédito (nenhuma glória) pela Sua vida de perfeita obediência ao Pai, porque Ele não podia fazer nada além do que era certo.
Para a razão humana, pode parecer que estas coisas referentes à humanidade de Cristo estão roubando Sua glória, mas, na verdade, ensinar que Ele poderia pecar ataca a impecabilidade de Sua Pessoa e macula Sua glória. Não somos mais sábios do que a Palavra de Deus. Quando nossa razão humana nos leva a conclusões que estão em conflito com a Escritura – o que faz esta doutrina – devemos abdicar de nossos pensamentos e aceitar o que a Escritura diz como a autoridade final, pois ela é a infalível Palavra de Deus (Sl 12:6; Jo 10:35).

2) Os que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, apontam para as tentações do Senhor no deserto, e perguntam: “Qual foi o propósito de ter Cristo passando por essas tentações quando Ele não poderia falhar?” A resposta é que elas não eram para Deus descobrir se Cristo iria ou não pecar. Ele conheceu Sua perfeição sem pecado e pronunciou Sua aprovação sobre Ele – “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” antes de ter sido tentado (Mt 3:17-4:11). Se as tentações fossem com o propósito de descobrir se Cristo pecaria ou não, então o pronunciamento de Deus teria sido depois que Ele passasse pela tentação. Seria, por assim dizer, Seu “selo de aprovação” na perfeita obediência de Cristo. Mas essas tentações não eram para Deus; elas são para nós vermos e sabermos, além de qualquer sombra de dúvida, que Cristo não poderia pecar. Se Ele tivesse qualquer tendência em Si para o pecado, isso teria se manifestado sob tentações tão intensas – mas nada foi manifestado além da perfeição moral.
Muitos estão confusos quanto a isso, por causa do pensamento de que “tentado” (Mt 4:1) perde o seu significado se não envolve a possibilidade de pecar. Mas isso é um erro. Tentar significa testar, e nem todos os testes implicam a possibilidade de falha. Suponha que havia um objeto valioso feito de ouro fino – era ouro 100% puro. Mas a autenticidade foi contestada. Então, para provar o que já sabemos, o testamos por um joalheiro. E com certeza, ele volta certificado como sendo 100% puro. Por que o objeto foi testado? Sabíamos do que era feito o tempo todo. Obviamente, o teste foi para aqueles que tiveram alguma dúvida sobre o objeto. Da mesma forma, com as tentações do Senhor, todos esses testes apenas provaram o que era verdadeiro n’Ele – que Ele não podia pecar. Essas provas que o Senhor sofreu são registradas na Escritura para nós, para que nós possamos conhecer esse fato abençoado sobre o Filho de Deus.

3) Alguns que consideram que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, dizem que não pode haver uma verdadeira humanidade sem que uma pessoa tenha a capacidade de pecar, porque é uma característica essencial do ser humano. Eles dirão que ensinar que Cristo não podia pecar é dizer que Ele não era um verdadeiro homem. Eles acreditam que ensinar isso rouba de Cristo a capacidade de ter empatia conosco em nossas tentações de concupiscência e pecado. No entanto, a verdade é que há muitas coisas que experimentamos na vida, como homens, que o Senhor nunca experimentou. Mas isso não significa que Ele não fosse um verdadeiro Homem. Também isso não O desqualifica de ser um Sumo Sacerdote que Se compadece. Por exemplo, experimentamos enfermidades (doenças), mas o Senhor não. Experimentamos a alegria do perdão, mas o Senhor nunca precisou de perdão. Ele nunca Se casou, nem criou filhos, mas Ele era, e é um verdadeiro Homem. Por que pensamos que Ele teria que ter todas essas experiências antes que pudesse ser considerado como um verdadeiro Homem?
Hebreus 4:15 é frequentemente citado para dar suporte à essa ideia equivocada. Diz que o Senhor foi “como nós, em tudo foi tentado”, o que (na mente deles) incluiria a tentação de pecar. No entanto, aqueles que dizem essas coisas negligenciam o fato de que o escritor inspirado qualifica essas tentações dizendo “pecado à parte3 (JND) – isto é, tais tentações relativas ao pecado eram de uma classe separada. Isso significa que as tentações do Senhor não foram daquela categoria. Se tivessem lido esse versículo com mais cuidado, também teriam visto que o escritor se refere a provações em conexão com nossas “enfermidades”, que são doenças corporais (Mt 8:17; Jo 5:5; Rm 8:26; 2 Co 12:5). Enfermidades não são tentações a pecar. Notemos também que, embora o Senhor não tenha tido enfermidades pessoalmente (Ele nunca esteve doente), o versículo diz que Ele pode ter empatia com nossas enfermidades. Isso mostra que é falsa a suposição de que Cristo não poderia ter sido um homem verdadeiro sem experimentar tudo o que experimentamos.

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       O raciocínio nessas ideias blasfemas é absurdo. Pense nas ramificações de Cristo poder pecar. Se Ele pudesse pecar quando estava na Terra, então poderia pecar agora no céu – pois a Escritura diz que Ele é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8; At 1:11). Longe esteja tal pensamento, mas se Ele fosse pecar agora, Ele certamente seria expulso do céu, como Satanás uma vez foi! E o que aconteceria conosco? Perderíamos tudo – nosso Salvador, nossa salvação e todas as nossas bênçãos – porque tudo o que temos está “em Cristo”! Se essa má doutrina fosse verdadeira, não estaríamos eternamente seguros, como a Escritura ensina (Jo 10:27-28), porque a qualquer momento Cristo poderia pecar e perderíamos nosso Salvador. Além disso, se Cristo pecou, ​​que parte d’Ele iria ao inferno? Porque na Sua encarnação, houve uma união da natureza humana e da natureza divina que nunca pode ser desfeita.




[1] N. do T.: A nota de rodapé “q” em Hebreus 2:14: “Existe uma diferença intencional aqui entre as palavras ‘participar’ (koinoneo) e ‘tomar parte’ (metecho), no versículo 14. A primeira, referindo-se às crianças (filhos), é um compartilhamento comum e igual da natureza. A segunda, referindo-se a Cristo, significa que Ele tomou uma parte nela; e refere-se sempre a algo fora de mim, mas do qual tomo, ou tomo uma parte. A primeira palavra refere-se a uma participação conjunta naquilo que me pertence ou à comunhão conhecida. A segunda é usada no cap. 5:13 como ‘aquele que participa do leite’; em 1 Coríntios 9:10, onde o que lavra recebe uma parte da esperança do semeador e em 1 Coríntios 10:17, 21, 30 como ‘participar’, onde a ‘participação’ (metecho) é prova de participação na comunhão (koinonia), no versículo 16. A palavra não diz até onde foi a participação”

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