terça-feira, 22 de agosto de 2017

NOVA CRIAÇÃO



NOVA CRIAÇÃO – Refere-se à nova raça de homens que Deus está criando atualmente sob Cristo, “o último Adão” e “o segundo Homem” (1 Co 15:45, 47). Uma vez que a primeira raça de homens sob Adão falhou terrivelmente (Ec 7:20; Rm 3:23), Deus Se propôs a fazer uma raça completamente nova sob Cristo que O representará adequadamente neste mundo e O glorificará em todas as coisas.
A Escritura indica que o Senhor Jesus Se tornou a Cabeça desta nova raça, quando Ele ressuscitou de entre os mortos. Diz que Ele é “o Princípio, o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1:18b). Ou seja, ao Se levantar da morte, Cristo foi o “princípio” de uma nova ordem de humanidade (Ap 3:14). Hebreus 2:10 comprova isso, afirmando que, em Deus trazendo “muitos filhos” (uma nova raça) para “glória” (uma condição glorificada), “o Príncipe [Autor] da salvação deles” (o Senhor) primeiro teria que ser feito “perfeito”. Isso, novamente, refere-se à ressurreição e glorificação de Cristo (Lc 13:32; Hb 5:9). Assim, aqu’Ele que estava destinado a ser a Cabeça desta nova raça teve que ser glorificado primeiro, antes que pudesse haver uma raça glorificada sob Ele. “Glória” (a glorificação do espírito, da alma e do corpo) é algo que não havia sido predito da velha raça sob Adão, embora Deus tenha dito que a primeira ordem do homem era “muito boa” (Gn 1:31). Isso mostra a superioridade dessa nova raça. Sendo a Cabeça, Cristo tem o lugar de “Primogênito” (primeiro em posição e destaque) nessa raça. Isso significa que Ele é distinguido dos outros na raça, tendo a “preeminência” em “todas as coisas” (Cl 1:18b). (Veja: Primogênito e Cabeça de Cristo)
Aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo e assim são selados com o Espírito Santo (Ef 1:13), fazem parte dessa nova raça por essa conexão. Eles têm um vínculo inseparável com Cristo, a Cabeça, por meio da habitação do Espírito. Isso é indicado nas epístolas de Paulo pela expressão “em Cristo” (2 Co 5:17; Gl 6:15 etc.). No mesmo dia em que o Senhor ressuscitou dentre os mortos, Ele conectou os discípulos Consigo mesmo na vida de ressurreição ao assoprar neles e dizer: “Recebei o Espírito Santo”[1] (Jo 20:22). Isso foi algo semelhante ao que o Senhor fez com Adão na primeira criação quando Ele soprou nele “o fôlego da vida” (Gn 2:7), mas agora era em conexão com Ele sendo a Cabeça da nova raça de homens.
Estando nessa nova raça, os Cristãos são referidos como “irmãos” de Cristo (Rm 8:29; Hb 2:11). A Escritura diz: “Assim O que santifica (Cristo), como os que são santificados (Cristãos), são todos de um” (Hb 2:11). Isso refere-se àqueles dessa raça da nova criação que são da mesma natureza e espécie que o próprio Cristo. “Todos de um” não se refere à unidade do corpo de Cristo, nem fala da unidade na família de Deus, mas da nossa unidade de espécie na nova criação. É uma expressão que indica que estamos unidos com Ele como uma massa, sendo da mesma substância que Ele é. Para indicar isso, a Escritura fala daqueles na nova criação como sendo “de Cristo” (Gl 3:29, 5:24). Portanto, estando nessa nova raça, não estamos apenas “em Cristo” quanto à nossa posição, mas também somos “de Cristo” quanto à nossa unidade de espécie com Ele.
Um exemplo de unidade de espécie é quando a mulher de Adão foi trazida a ele. Ele tinha visto as várias criaturas passarem diante dele – cada uma era “segundo a sua espécie” (Gn 1:21, 24-25). No entanto, não foi encontrada nenhuma entre todas aquelas criaturas que fosse da espécie de Adão e, assim, todas elas eram inadequadas para ele. Mas quando Deus trouxe a mulher para Adão, pela primeira vez ele viu uma de sua própria espécie. Ele disse: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne” (Gn 2:23). Da mesma forma, somos “um” com Cristo nesta nova ordem de humanidade. Estamos num grupo e numa espécie com Ele, e assim, inteiramente adequados a Ele. Por isso, Hebreus 2:11 continua dizendo que Cristo “não Se envergonha de lhes chamar irmãos”. Se Adão tivesse tomado uma das outras criaturas para ser sua esposa, teria ficado envergonhado. Mas quando Deus lhe deu a mulher, que era alguém da sua espécie, ficou muito satisfeito. Da mesma forma, Cristo Se alegra de nos apresentar como Seus irmãos. Ele diz: “Eis-Me aqui a Mim e aos filhos que Deus Me deu” (Hb 2:13).
Vale ressaltar que, embora o Senhor não Se envergonhe de nos ter identificado com Ele, como Seus irmãos, a Palavra de Deus nunca nos diz para chamá-Lo de “nosso Irmão mais velho”, ou usar outros tais termos de familiaridade. Ele tem uma Glória de Preeminência como a Cabeça da nova criação que O distingue de todos os outros na raça. É uma glória que Ele não compartilha (Jo 17:24). As palavras do Senhor a Maria indicam esse lugar especial e distinto que pertence a Ele apenas. Ele disse: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus, e vosso Deus” (Jo 20:17). Note que Ele não disse “nosso” Pai e “nosso” Deus, mas menciona a Si próprio em relação ao Seu Pai e Seu Deus de forma distinta da dos crentes. Isso mostra que, como Homem, Ele tem preeminência em todas as coisas na raça da nova criação.
Além disso, nessa nova ordem de humanidade não há distinções de nacionalidade, sociais, de sexo etc., assim como há na primeira raça sob Adão (Gn 1:27; 1 Co 11:3-14). O apóstolo Paulo disse: “Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28, 6:15). Uma vez que essa raça é assexuada, novas pessoas não são adicionadas a ela por meio da procriação, mas por uma obra do Espírito Santo em um novo nascimento e salvação. Assim, cada pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo é uma criação individual de Deus. Todos esses são “criados em Cristo Jesus” como partes individuais da “feitura Sua” (Ef 2:10, 4:24; Cl 3:10), como diz a Escritura: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criação” (2 Co 5:17 – TB). Somos inclinados a pensar que Deus cessou Sua obra de criação quando fez os mundos e colocou o homem na Terra, mas Deus ainda hoje está criando – no sentido em que estamos falando – acrescentando pessoas, como criações individuais, à nova raça sob Cristo.
Na velha criação, os anjos também foram criados individualmente, mas não devemos pensar que essa nova raça é semelhante à dos anjos. Na verdade, somos uma ordem superior de seres criados! Isso pode ser visto no fato de que quando Cristo ressuscitou dentre os mortos e ascendeu aos céus, como um Homem, Ele passou através do elevado lugar no qual os anjos estão, e levou a humanidade para um lugar muito acima do lugar dos anjos. Quando Ele entrou nos céus como um Homem, assentou-Se em um lugar “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:21 – principados e poderes etc. são seres angélicos). Isso significa que não apenas Cristo está num lugar superior ao dos anjos, mas que agora existe uma raça inteira de homens sob Ele que é superior a esses seres angélicos também! Os homens desta raça da nova criação são agora da mais alta ordem das criaturas de Deus. Fomos uma vez parte de uma raça que foi criada “um pouco menor” do que os anjos (Hb 2:7), mas agora estamos em uma raça que não é apenas um pouco mais alta do que os anjos – estamos “muito acima” (Ef 1:21 – TB) deles!
        Como foi com Adão na velha criação, tudo na raça da nova criação leva o caráter da Cabeça da raça. Tem nela Sua marca de “justiça e santidade” (Ef 4:24). Assim, seremos não apenas fisicamente “como” Ele (Fp 3:21), mas também moralmente “como” Ele (1 Jo 3:2). Quanto à semelhança moral, a Escritura diz: “revistais[2] do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:24). E, novamente, “tendo sido despido do velho homem com os seus feitos e tendo colocado o novo (homem), renovado para o pleno conhecimento de acordo com a imagem daqu’Ele que o criou, onde não há grego e judeu, circuncisão e incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; mas Cristo é tudo e em todos” (Cl 3:9-11 – JND).
Como homens nessa raça (quando glorificados), seremos perfeitamente capazes de representar Deus no mundo vindouro, porque temos sido renovados no conhecimento segundo “a imagem daqu’Ele” que nos criou. (“Imagem”, na Escritura, sempre traz o pensamento de representação – Gn 1:26; Lc 20:24.) Sendo assim, o apóstolo continua dizendo que precisamos ser exercitados sobre o fato de termos sido revestidos, num sentido prático, dos traços morais do “novo homem” (Ef 4:24; Cl 3:10) – que são as características de Cristo – para que possamos manifestar a verdade de “Cristo em vós, a esperança de glória” (Cl 1:27 – JND)
Nossa conexão com Cristo na nova criação é frequentemente confundida com nossa conexão com Ele como membros de Seu corpo (místico). No entanto, são duas relações diferentes que temos com Ele. A diferença é que, como homens na nova raça, estamos “em Cristo” (2 Co 5:17; Gl 6:15) e somos “de Cristo” (Gl 3:29, 5:24), enquanto que, como membros de Seu corpo, estamos unidos “a Cristo” (2 Co 11:2; Ef 1:22, 4:15) e estamos em “o Cristo”. Pode haver algumas exceções, mas “o Cristo” é um termo nas epístolas de Paulo que indica a união mística da Cabeça e os membros de Seu corpo em uma unidade (1 Co 12:12; Ef 1:10, 3:4 – JND). Além disso, a nova criação é algo individual (2 Co 5:17 – “se alguém... ). A associação dos membros do corpo de Cristo é algo coletivo – muitas vezes referida pelos que ensinam sobre a Bíblia como união. Porém, a Escritura não fala da Igreja como estando “em Cristo”, mas como homens, na raça da nova criação que somos. Ambos são verdadeiros para os crentes; eles apenas indicam diferentes aspectos de nossa conexão com Cristo. W. Scott disse: “Quando a associação dos membros do corpo é apresentada a alguém, não se diz que ela está ‘em Cristo’. Nós (como membros de Seu corpo) não estamos na Cabeça. A união das várias partes e membros do corpo humano não está na cabeça, mas unidos à cabeça, e não nela. ‘Em Cristo’ transmite uma ordem e um caráter diferentes da verdade da união a Ele. Unido a Ele é o corpo; unido para Ele é a raça da nova criação. Ambos os caracteres, é claro, são verdadeiros para os crentes” (The Young Christian, vol. 5, pág. 14).
A perspectiva que Deus tem para essa nova raça é ter tudo nela “glorificado” com Cristo (Rm 8:17-18), e também manifestá-la como “filhos de Deus” diante do mundo no dia milenar vindouro (Rm 8:18; 2 Ts 1:10). Atualmente, não parecemos ser diferentes dos outros homens (1 Jo 3:2), mas isso é porque ainda estamos em nosso corpo de humilhação (Fp 3:21 - JND), que faz parte da ordem da velha criação. No entanto, “assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:49). Ou seja, há um dia chegando quando seremos glorificados como Cristo – em espírito, alma e corpo. Isso significa que nosso corpo terá a capacidade que o Senhor demonstrou em Seu corpo depois que Ele Se levantou da morte – atravessando objetos físicos, viajando grandes distâncias em um momento de tempo etc. (Lc 24:33-36; Jo 20:19). A natureza caída do pecado em nós também será erradicada. Assim, estamos atualmente em um processo de transferência de Adão para Cristo, que não estará completo até que o Senhor venha por nós.




  [1] N. do T.: F. B. Hole comentando sobre João 20 diz: “Ele (o Senhor Jesus Cristo) soprou sobre – ou, mais corretamente, para – eles, e disse: Recebei Espírito Santo (JND), pois o artigo definido o está ausente no original... Na criação de Adão em Gênesis 2:7. Quanto ao seu corpo, Adão foi formado do pó da terra, mas a parte espiritual dele veio a existir pelo Senhor Deus, soprando em suas narinas o fôlego de vida, e assim ele foi feito uma alma vivente. Ora, nosso Senhor, que é o último Adão, é um espírito vivificante ou doador de vida, como lemos em 1 Coríntios 15:45, e aqui vemos Ele soprando para Seus discípulos Sua própria vida ressuscitada. Mas sendo assim, por que Ele disse: Recebei Espírito Santo? Porque a Sua própria vida como o Homem ressuscitado é na energia do Espírito Santo. Ele foi morto na carne, mas vivificado no Espírito (1 Pe 3:18 – TB). No dia de Pentecostes, como registrado em Atos 2, os discípulos realmente receberam o Espírito Santo, como uma Pessoa divina habitando o próprio corpo deles, mas aqui temos algo preliminar a isso. No mesmo dia em que Jesus entrou em Sua vida ressuscitada, conforme vivificado pelo Espírito de Deus, Ele a comunicou aos seus”.

  [2] N. do T.: Infelizmente, a versão KJV (assim como as versões em português), traduz os versículos 22-24 de Efésios 4 como se o se despir do velho homem e o se revestir do novo fosse algo que devêssemos fazer em nossas vidas. Contudo, isto não é um exercício Cristão; é algo que nós fizemos ao tomar nossa posição com Cristo. O versículo 22 deveria ser lido: “o fato do seu despojamento, de acordo com o trato anterior, do velho homem” (JND). E o versículo 24 deveria ser lido, “e vosso revestimento do novo homem” (JND).

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

MISTÉRIOS, OS



MISTÉRIOS, OS – O “Mistério”, na Escritura, não é algo misterioso e enigmático, mas um segredo revelado, o qual, antes de ser revelado, era desconhecido pelos homens (Dt 29:29). W. Kelly disse: “‘O Mistério de Sua vontade’ não significa algo que você não pode entender, mas algo que você não poderia saber antes que Deus lhe falasse... A palavra ‘Mistério’ significa aquilo que a Deus aprouve manter em segredo – algo que Ele não tinha revelado antes – mas que é bastante inteligível quando revelado. ‘Mistério’ no sentido popular, é totalmente diferente do seu sentido na Palavra de Deus” (Lectures on the Epistle to the Ephesians, pág. 25).
Os “mistérios de Deus” (1 Co 4:1, 13:2, 14:2) são certas linhas da verdade que Deus não fez conhecidas aos homens até a vinda do Senhor Jesus Cristo e o envio do Espírito Santo (Rm 16:25; Ef 3:5; Cl 1:26). Essencialmente, elas constituem a revelação da verdade Cristã. Os apóstolos eram os “despenseiros” desses mistérios e, portanto, eram responsáveis por fazer a Igreja conhecê-los (1 Co 4:1). W. Kelly disse: “‘Despenseiros dos mistérios de Deus’ significa aqueles chamados e responsáveis por divulgar as verdades especiais do Cristianismo” (An Exposition of Timothy, pág. 63).
Como crentes no Senhor Jesus Cristo, os Cristãos são privilegiados por terem sido trazidos a esses segredos do coração de Deus (Jo 15:15; Rm 16:25-26; Ef 1:8-9; Cl 2:2-3). Uma vez que essas verdades foram abertamente reveladas nos escritos inspirados dos apóstolos, elas são agora propriedade comum de todos os crentes. Portanto, não há algo como uma classe especial de Cristãos iniciados que tenham um “mapa interior” dessas coisas. Essas verdades preciosas são para toda a Igreja de Deus. A revelação Cristã da verdade não foi entregue aos apóstolos, mas sim pelos apóstolos aos santos”. Assim, os santos são os guardiões da verdade e devem “batalhar diligentemente” (ARA) por ela conhecendo-a, caminhando nela e divulgando-a (Jd 3).
Há uma série de referências a esses “mistérios” no Novo Testamento. A palavra“musterion”no texto grego  aparece umas 27 ou 28 vezes, e levou os que ensinam sobre a bíblia a categorizá-las. Alguns dizem que existem sete mistérios, outros dizem dez e outros, doze, catorze, dezessete etc. A diferença de opinião relativa a quantos realmente existem provém de não se ter em conta que algumas dessas referências falam do mesmo mistério, porém com uma redação ligeiramente diferente. A maioria diz que há dez e são:

1) Os mistérios do reino (Mt 13:11; Mc 4:11; Lc 8:10)

O Senhor indicou aos Seus discípulos que existem vários “mistérios” (plural) em conexão com o reino. Ele estava aludindo a um subconjunto de dez semelhanças delineadas no evangelho de Mateus, que são um tipo especial de parábola que começa com a frase: “O reino dos céus é semelhante a... (Mt 13:24, 31, 33, 44, 45, 47, 18:23, 20:2, 22:1, 25:1). Essas semelhanças descrevem a forma incomum que o reino tomaria neste momento em que o Rei está rejeitado e visivelmente ausente deste mundo. Essas parábolas servem a um duplo propósito. Elas dão um entendimento das coisas relativas ao reino para aqueles que receberam o Senhor, mas também ocultam a verdade daqueles que não creram n’Ele (Mt 13:10-17).
Essas dez semelhanças indicam que o reino no presente dia estaria sem um Rei visível, sem um centro administrativo terreno, sem fronteiras nacionais, e que a maioria dos seus súditos (os que meramente professam ser crentes) não considerariam a autoridade do Rei, e viveriam como se Ele não existisse. Além disso, essas semelhanças indicam que esse estranho conjunto de circunstâncias e a mistura de crentes verdadeiros com os meramente professos continuariam a existir no reino até a Aparição do Senhor. Esses “mistérios do reino” apresentam a verdade que era desconhecida nos tempos do Velho Testamento, mas agora está revelada a todos os que creem. (Veja:O Reino dos Céus)

2) O mistério da vontade de Deus a respeito de Cristo e a Igreja (Rm 16:25; Ef 1:9-10, 3:3-4, 9, 5:25-32, 6:19; Cl 1:26, 27, 2:2-3, 4:3)

Esse Mistério é chamado de “grande” porque é a pedra preciosa de todos os mistérios e é algo que está junto ao coração de Deus (Ef 5:32). Ele revela a verdade de Cristo e a Igreja, e apresenta o grande propósito de Deus de mostrar a glória desse relacionamento diante do mundo no dia vindouro.
A verdade revelada nesse Mistério estava “escondida” no coração de Deus desde a fundação do mundo (Ef 3:9). O segredo que agora foi feito conhecido é que Deus manifestará a glória de Cristo perante o mundo por meio de um vaso de testemunho especialmente formado – a Igreja, que é o Seu corpo e a noiva (Ef 1:22-23, 5:25-32; Ap 21:9-22:5). Essa manifestação será em duas esferas (no céu e na Terra) e acontecerá na “dispensação da plenitude dos tempos”, que é o Milênio (Ef 1:10 – “o Cristo” refere-se à união mística de Cristo e a Igreja). W. Kelly disse: “Há duas grandes partes neste Mistério guardado, mas que agora é manifesto. A primeira é que Cristo deve ser estabelecido no céu acima de todos os principados e poderes, e receber o universo todo dado a Ele como Cabeça sobre a herança, sob o fundamento da redenção – Ele próprio, exaltado como Cabeça sobre todas as coisas tanto celestiais como terrenais, e a Igreja unida a Ele como Seu corpo – sendo Ele assim dado como Cabeça à Igreja sobre todas as coisas. Então, o outro lado do Mistério é Cristo nos santos aqui embaixo... Em Efésios, o apóstolo enfatiza mais sobre o primeiro desses aspectos, em Colossenses sobre o segundo” (Lectures on Colossians, pág. 107).

3) O mistério da fé (1 Tm 3:9)

Isso se refere à revelação especial da verdade que foi revelada pela vinda do Espírito Santo. Isso envolve as bênçãos específicas do crente em conexão com a doutrina de Paulo e as instruções da conduta do Cristão de acordo com a presente dispensação (1 Tm 1:4 – JND). Tudo isso era desconhecido nos tempos do Velho Testamento.

4) O mistério da piedade (1 Tm 3:16)

Isso se refere ao segredo da vida piedosa. Paulo disse a Timóteo que, se ele quisesse saber “como convém andar na casa de Deus” (1 Tm 3:15), tudo o que precisava fazer era olhar para o Senhor Jesus e Seu caminho perfeito neste mundo. Assim, o segredo de ser piedoso é conhecer o andar e maneiras de Cristo e imitá-Lo. Isso não poderia ter sido algo que os santos do Velho Testamento conheciam porque Cristo ainda não havia vindo para nos dar o padrão perfeito de piedade. W. Kelly disse: “O segredo (agora revelado) de piedade é a verdade de Cristo. Ele é a fonte, o poder e o padrão do que, de uma maneira prática, é aceitável a Deus – Sua Pessoa, como agora é conhecida” (An exposition of Timothy, pág. 72). A meditação n’Ele e em Sua caminhada nos levará a imitar Sua vida, e assim caminharmos em verdadeira piedade neste mundo.

5) O mistério da glorificação dos santos (1 Co 15:51-57; 1 Ts 4:15-18)

Isso se refere à revelação da verdade sobre a “vida e a incorrupção” que é trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10). A ressurreição, em si mesma, não era um segredo. Os santos do Velho Testamento sabiam que Deus ressuscitaria os mortos e eles esperavam pelo momento em que isso aconteceria (Jó 14:10-14; Sl 16:10-11, 17:15). Na verdade, fazia parte da fé judaica ortodoxa (Jo 11:24; At 23:8, 26:8; Hb 6:2). Mas eles não sabiam a maneira na qual eles seriam ressuscitados, e a condição em que eles seriam mudados. Nem sabiam quando isso ocorreria. Eles simplesmente acreditavam que de alguma forma isso aconteceria “no último dia” (Jo 11:24).
Essas coisas foram trazidas à luz pelo evangelho e são um segredo revelado no Novo Testamento. Agora sabemos que os santos que “em Jesus dormem” (1 Ts 4:14) serão ressuscitados “incorruptíveis” – uma condição glorificada – no momento do Arrebatamento (1 Co 15:51-56; Fp 3:21; 1 Ts 4:15-18). Também sabemos que, no mesmo momento, os santos vivos também experimentarão uma mudança milagrosa de glorificação e se revestirão “da imortalidade” (Rm 8:11; 1 Co 15:53; 2 Co 5:4). O resultado será que os santos “trarão a imagem do celestial” – Cristo (1 Co 15:49). Eles serão como Ele moralmente (1 Jo 3:2) e fisicamente (Fp 3:21). Isso não era conhecido nos tempos do Velho Testamento.

6) O mistério das estrelas e dos castiçais (Ap 1:12, 20)

Isso se refere à responsabilidade que os anciãos/bispos têm (nas assembleias locais onde residem) para ordenar a assembleia de acordo com a mente do Senhor na doutrina e na prática. Ao interpretar o que João tinha visto na primeira visão do livro (Ap 1:12-16), o Senhor explicou que “os sete castiçais de ouro” são as assembleias locais estabelecidas na Terra como um testemunho público para Ele como portadores da luz nas comunidades onde estão localizadas. Ele também disse que as sete “estrelas” são os “anjos” dessas assembleias, e que estes estavam em Sua “mão direita” (Ap 1:20, 2:1). Como “estrelas”, os anciãos nessas assembleias eram para fornecer luz, sabedoria e orientação para as várias situações que as assembleias enfrentariam. Sendo também chamados “anjos” indica que esses líderes espirituais deveriam agir como mensageiros do Senhor, assegurando-se de que as coisas fossem feitas corretamente. O fato de que eles estavam em Sua “mão direita” indica que eles deveriam agir por Ele como Seus representantes e, portanto, eram diretamente responsáveis a Ele. Isso também não era conhecido nos tempos do Velho Testamento, porque essa função pertence apenas à Igreja e seu testemunho na Terra, e a verdade da Igreja naqueles dias ainda não havia sido revelada.

7) O mistério da oliveira (Rm 11:25)

Esse mistério tem a ver com a verdade dispensacional que é o ensino bíblico que distingue as várias dispensações (administrações) que a casa de Deus tem tido, ou terá, através dos tempos (Veja: Dispensações). A verdade dispensacional em conexão com “a oliveira” refere-se à suspensão da dispensação da lei na qual Deus tem tratado com Israel. Isso foi provocado por causa da rejeição de Cristo pelos judeus. Durante essa suspensão, Deus alcançou os gentios e os trouxe a uma posição de favor. Isso é indicado em Romanos 11:17, onde o apóstolo Paulo afirma que os ramos naturais da oliveira foram “quebrados” e os ramos de “zambujeiro” (uma oliveira brava – que não dá fruto) foram enxertados na árvore. Isso não significa que o mundo dos gentios tenha sido salvo pelo evangelho, mas que essa oportunidade e graça foram estendidas a eles.
A passagem menciona que a massa dos gentios, que exteriormente (professamente) abraçará esse privilégio, provará ser incrédula como os judeus também foram, como ramos, e serão “cortados”, e que Deus enxertaria novamente os ramos naturais (Rm 11:18-24). Paulo acrescenta que esse re-enxerto não ocorreria “até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25). Isso se refere ao número total de crentes entre os gentios que foram “ordenados para a vida eterna” (At 13:48), crendo no evangelho e sendo salvos. Uma vez que isso tenha acontecido, Paulo diz que Deus vai voltar a Sua atenção para Israel novamente e salvará a nação (Rm 11:26-29). Mais uma vez, essa divulgação aos gentios não é encontrada no Velho Testamento, e, portanto, os santos do Velho Testamento não sabiam nada disso (Dt 29:29).

8) O mistério da iniquidade (2 Ts 2:7)

Esse “mistério” tem a ver com o espírito de desobediência que está ativo na profissão Cristã e no mundo de um modo geral. Refere-se à atividade da mente humana em oposição à vontade de Deus em todas as coisas, tanto divinas como seculares, pela influência do diabo. A atividade oculta da iniquidade já estava acontecendo nos dias dos apóstolos, e continuaria a crescer até ser plenamente manifestada na apostasia do “homem do pecado” (o anticristo).
Não é que Deus não tenha colocado restrição à atividade da iniquidade. O apóstolo Paulo menciona que Deus tem dois que detém essa atividade, que Ele mesmo estabeleceu na Terra que trabalham para restringir o progresso da iniquidade. Paulo os define como:
  • Aquilo que o detém” (2 Ts 2:6 – TB).
  • Aqu’Ele que agora o detém” (2 Ts 2:7 – TB). 
Aquilo que o detém” refere-se ao princípio de lei e de ordem no governo humano que Deus colocou na mão do homem para exercer após o dilúvio (Gn 9:5-6; Ec 5:8; Rm 13:1-7). J. N. Darby disse: “Aquilo que o detém’, portanto, é o poder de Deus atuando no governo aqui na Terra, com autorização d’Ele. O mais grosseiro abuso de poder ainda possui esse último caráter. Cristo disse a Pilatos: ‘Nenhum poder terias contra Mim, se de cima te não fosse dado’. Perverso tanto quanto ele era, seu poder é reconhecido como vindo de Deus” (Synopsis of the Books of the Bible, em 2 Tessalonicenses 2). O Sr. Darby também disse: “Aquilo que o detém’ no grego significa algo. O que é isso? Deus não nos disse o que é, e isso, sem dúvida, porque aquilo que resistia então, não é o mesmo que resiste agora. Então, isso foi, em certo sentido, o Império Romano, como pensavam os pais, que viam no poder do Império Romano um obstáculo para a revelação do homem do pecado e, assim, oraram pela prosperidade desse império. Atualmente, o obstáculo é a existência dos governos estabelecidos por Deus no mundo” (Collected Writings, vol. 27, págs. 302-303).
O segundo Restritor que Paulo menciona é Aqu’Ele que agora o detém” (2 Ts 2:7). Isso se refere a uma Pessoa divina – o Espírito Santo que reside na Terra, na Igreja – agindo para conter o mal em várias esferas. O apóstolo Paulo diz que o Espírito restringirá “até que do meio seja tirado”. Assim, haverá um tempo em que o Espírito Santo não residirá mais na Terra. Como o Espírito habitará na Igreja “para sempre” (Jo 14:16), quando a Igreja for tirada da Terra pelo Senhor, no Arrebatamento, o Espírito também sairá da Terra naquele momento. E. Dennett disse: “O que Paulo ensina em 2 Tessalonicenses 2 é que o que restringe a manifestação desse monstro de iniquidade no presente momento é a presença do Espírito Santo na Terra, na Igreja” (Christ as a Morning Star and the Sun of Righteousness, pág. 46). O Espírito, tendo sido “tirado”, não significa que Ele deixará de agir na Terra. Ele continuará trabalhando na Terra, mas será desde o céu como Ele fez nos tempos do Velho Testamento.
Iniquidade existe no mundo e na Igreja. Apostasia – o abandono de uma profissão feita por alguém concernente à verdade – também está em atividade. (Os verdadeiros crentes não apostatam. Eles podem ser levados juntamente com a atual apostasia e podem começar a abrir mão de certas doutrinas e práticas, mas nunca abandonarão publicamente a profissão de sua fé em Cristo). A atividade oculta da iniquidade está aumentando na Terra porque o primeiro restritor está lentamente enfraquecendo em razão do aumento constante da apostasia no governo humano. Além disso, como o Espírito de Deus está cada vez mais sendo desconsiderado pelos Cristãos, Ele está Se tornando cada vez mais Entristecido e, consequentemente, não está exercendo Seu poder para conter o mal como Ele poderia, se Lhe fosse dado o Seu legítimo lugar no testemunho Cristão. Mas quando a Igreja e o Espírito Santo são “tirados do caminho”, o mal inundará, de forma sem precedentes. Esse segredo revelado nos dá a conhecer que há um fim para a atividade da iniquidade nos julgamentos do Senhor em Sua Aparição (2 Ts 2:8).

9) O mistério da Babilônia, a mãe das prostitutas (Ap 17:5)

Esse mistério revela que depois que a verdadeira Igreja for chamada da Terra no Arrebatamento, a falsa igreja dos crentes meramente professos (que serão deixados para trás) será encabeçada pelo sistema católico romano. Terá o caráter de confusão religiosa e blasfêmia pelas quais a Babilônia foi conhecida na história; daí o mesmo título é dado a esse sistema. A falsa igreja usará seu dinheiro e influenciará a esfera política para unir as nações na Europa ocidental em uma confederação de dez países (Ap 6:1-2, 17:12-13). Esse é realmente o renascimento do Império Romano (Dn 2:40-43, 7:7-8; Ap 17:7-11). Assim, a Igreja de Roma, em sua corrupção eclesiástica, controlará as superpotências ocidentais, conforme retratado na mulher que está assentada sobre uma besta (Ap 17:1-4). Esse poder de controle durará apenas “um pouco de tempo” (Ap 17:10). Ou seja, só os primeiros três anos e meio da 70ª semana de Daniel (Dn 9:27). No meio da semana profética, a esfera política do império energizada por Satanás se levantará e destruirá esse sistema religioso corrupto (Ap 17:16-18). Como todo o assunto da Igreja não era conhecido pelos crentes do Velho Testamento, a existência da falsa igreja e sua corrupção também é algo que não conheciam.

10) O mistério de Deus (Ap 10:7)

(Esse “mistério” não é o mesmo que “o Mistério de Deus” em Colossenses 2:2, que é um aspecto do Mistério de Cristo e a Igreja.) O “mistério” em Apocalipse 10 tem a ver com o segredo dos “caminhos” de Deus para com os homens, que são “inescrutáveis” (Rm 11:33), finalmente sendo esclarecidos. Por milhares de anos, Deus permitiu que os homens maus continuassem em sua maldade e aparentemente evitou punir isso. Na verdade, a Sua paciência e tolerância com o pecado e os pecadores neste mundo causam perplexidade. No entanto, quando Cristo intervier publicamente em Sua Aparição, Ele julgará este mundo com justiça (At 17:30-31), e o mistério de Deus será “cumprido [completado – JND]. Isto é, quando Deus traz Seus juízos sobre a Terra, esse mistério se tornará um segredo revelado, e a justiça de todos os Seus tratamentos por todos os tempos será vista, e assim Ele será justificado em tudo.
A maligna atividade das trevas que está acontecendo hoje, aparentemente sem controle, sempre foi difícil para o homem entender. Muitas vezes, é perguntado: Por que Deus permite que o mal continue e cresça no mundo sem julgá-lo? Essa perplexidade é descrita na queixa de Asafe no Salmo 73. Enquanto todos os mistérios anteriores nos foram agora revelados, devemos esperar por esse último mistério ser revelado – o que acontecerá quando o Senhor aparecer.
W. Kelly disse: “O mistério aqui não é Cristo e a Igreja, mas Deus permitindo que o mal continue em seu curso atual com aparente impunidade” (The Revelation Expounded, pág. 127). Ele também disse: “Deus porá um fim ao mistério de Sua atual aparente inatividade no governo público da Terra” (The Revelation Expounded, pág. 126). H. Smith disse: “O mistério de Deus nessa passagem refere-se ao fato de que, por longo tempo, Deus não interveio publicamente nos assuntos dos homens. A maldade dos homens cresceu sem controle sem haver qualquer ação pública por parte de Deus. Os homens foram autorizados a satisfazer suas concupiscências, alcançar suas ambições, aumentar sua rebelião contra Deus e perseguir Seu povo. Através dos séculos, o povo de Deus foi torturado, banido de suas casas e martirizado em fogueiras e Deus aparentemente não interferiu. Tudo isso – que tem sido chamado de o silêncio de Deus – é um grande mistério”.



MINISTÉRIO



MINISTÉRIO – Refere-se ao exercício do dom espiritual de uma pessoa – a execução do serviço que o Senhor nos deu para fazer por Ele (1 Pe 4:10-11). Como todos os Cristãos têm um dom, todos devem estar no ministério. Alguém pode não ministrar a Palavra publicamente nas reuniões bíblicas, mas quando o seu dom é exercitado, fará dele, de alguma forma, uma “junta de auxílio” para todo o corpo (Ef 4:16). (Veja: Dom)
        As pessoas que dizem ser “chamadas para o ministério” dão a entender que sentem que estão sendo levadas a buscar a ocupação de um clérigo (um assim chamado ministro ou pastor), e assim se matriculam em um seminário para serem treinados para essa posição em uma denominação. Mas, no sentido bíblico da palavra, todos fomos “chamados para o ministério”, porque todos temos um dom que deve ser exercido para o Senhor. O problema na Igreja hoje é que há muitos como “Arquipo” que não estão cumprindo seu ministério (Cl 4:17).

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

MILÊNIO, O



MILÊNIO, O – Esse é um termo que se encontra na versão da Vulgata Latina em Apocalipse 20:4, mas não aparece em outras versões. Refere-se ao reino de Cristo de mil anos, que começará na Sua Aparição. Os profetas de Israel falam desse reino que o Messias estabeleceria (2 Sm 7:12-16; Sl 72, Dn 2:44 etc.). Eles afirmam que ele duraria “para sempre”, o que no Velho Testamento significa “enquanto durar o tempo”, ou “até o fim do tempo”. Apocalipse 20 afirma que o reino durará mil anos – vindo daí a palavra “Milênio” (Ap 20:4, 6).
Os profetas de Israel descrevem este reino vindouro como tendo condições ideais inimagináveis. Algumas das características excepcionais são:
  • O Messias de Israel (o Senhor Jesus Cristo) reinará supremo sobre todo o mundo, não apenas sobre Israel (Sl 47:7; Zc 14:9). As nações dos gentios se ajuntarão e se submeterão a Ele com gozo (Sl 18:43-44; Zc 2:11).
  • Jerusalém será a capital do mundo e o centro religioso da Terra (Is 2:2, 62:6-7; Sl 48; Ez 5:5; Jr 3:17; Sl 87:1-3).
  • Haverá um governo universal sobre toda a Terra, pelo qual a “justiça” reinará (Sl 72:1-7; Is 9:6-7, 11:4, 16:5, 32:1, 16-18, 61:11).
  • A duração desse reino será para sempre, enquanto houver tempo (2 Sm 7:12-16; Dn 2:44, 7:14, 44; Sl 145:13).
  • Israel será estabelecido como a “cabeça” de todas as nações na Terra de acordo com o propósito original de Deus para eles. Eles não estarão mais sob o domínio dos gentios (Dt 26:18-19, 28:1; Is 2:1-5, 60:14; Dn 3:29-30, 7:27; Sl 18:43, 47:3).
  • Haverá paz mundial. As guerras acabarão (Sl 46:9, 72:7; Is 2:4; Mq 4:3; Os 2:18; Is 60:18; Sl 147:14).
  • O Senhor fará uma “nova aliança” com Israel sob o princípio da graça, onde Ele os abençoará espiritual e materialmente (Jr 31:31-34).
  • O Espírito Santo será “derramado” sobre Israel e eles farão milagres para ajudar e abençoar o mundo em nome do Senhor (Is 44:3; Ez 39:29; Jl 2:28-29).
  • Haverá uma religião mundial – a adoração universal do Senhor Jesus Cristo como Jeová de Israel no contexto do judaísmo, segundo os princípios da graça da “nova aliança”. Assim, o Milênio será uma administração onde a Lei e o Sábado serão observados etc. (Is 66:23; Ez 44:24, 45:17). O Cristianismo e seu modo de aproximação a Deus “em espírito e verdade” (Jo 4:24; Hb 10:19-22) não será mais a ordem religiosa daquele dia.
  • A idolatria e toda religião falsa serão abolidas da face da Terra. O islã, o hinduísmo, o budismo etc., serão tirados para sempre (Is 1:28-31, 2:18; Ez 37:23; Os 14:8; Mq 5:12-14; Zc 13:2-6, 14:9).
  • A própria criação será libertada de sua escravidão e maldição. A Terra cantará (figurativamente falando) e desfrutará o seu Jubileu (Is 35:1-2; Sl 65:13; Zc 14:11; Ap 22:3). Compare Romanos 8:19-22.
  • Os cegos, os surdos, os loucos e os coxos etc. serão todos curados (Is 35:5-6; Sl 146:8). Não haverá mais doenças e epidemias na Terra – gripe, câncer etc. Consequentemente, não haverá necessidade de médicos, dentistas, enfermeiros, hospitais etc. (Is 33:24; Sl 103:3).
  • Homens e mulheres não morrerão de causas naturais, mas viverão tanto quanto a árvore – isso é, por um período de mil anos! (Is 65:20, 22)
  • Os instintos selvagens e de caça nos animais serão alterados. “O lobo e o cordeiro” viverão juntos. As crianças brincarão com leões e cobras e não serão feridas (Is 11:6-9, 35:9, 65:25; Ez 34:25).
  • Haverá um novo rio com águas que sararão ao saírem do novo templo que será construído. Ele fluirá para o centro de Jerusalém e se separará em dois braços – um para o Leste, dando no Mar Morto e outro para o Oeste, dando no mar Mediterrâneo. Esse rio terá propriedades curativas que irão enriquecer e fertilizar toda a Terra (Ez 47:1-9; Zc 14:4, 8; Sl 65:9-10; Jl 3:18).
  • A agricultura florescerá de uma maneira que não se conheceu desde a queda do homem (Sl 65:9-13, 67:6, 144:13-14; Is 27:6, 35:1-2, 7; Jl 2:21-27, 3:18; Am 9:13-15; Mc 4:14; Zc 3:10). O deserto florescerá como uma rosa (Is 35:1-2, 7). Árvores frutíferas produzirão colheitas mensalmente! (Ez 47:12) As colheitas serão tão grandes que não haverá tempo suficiente para se colherem os frutos dos campos antes que seja hora de semear novamente (Am 9:13).
  • Como resultado de tal abundância, não haverá mais pobreza na Terra (Sl 132:15; Is 41:17, 65:21-23; Sl 146:7).
  • Todas as nações da Terra serão tributárias a Israel (sob a forma de impostos) e Israel “mamará” da abundância dos gentios e será a nação mais rica da Terra (Is 60:5-6, 9-11, 16-17, 61:4-5; Sl 72:10, 10:14-15; Zc 14:14). Os gentios terão tanto materialmente que terão prazer em dar uma porção a Israel. Serão felizes em servir a Israel – alimentando seus rebanhos, arando seus campos e mantendo suas vinhas (Is 14:2, 61:5-6) – enquanto Israel cuidará das coisas do Senhor com Seus Sacerdotes e Ministros, ensinando as nações a viver no reino (Is 2:3, 61:6; Mq 4:2).
  • A Terra brilhará com a glória do Senhor e o Milênio será um longo dia sem noite (Ez 43:2; Nm 14:21; Hc 2,14; Sl 72:19). A luz da Sua glória será tão brilhante que a noite não será totalmente escura (Zc 14:6-7, Is 4:5-6, 30:26, 60:19-20; Ap 21:23-24).
  • Satanás e seus anjos serão presos no abismo, e os homens na Terra não serão mais perseguidos pelo tentador para fazer o mal (Ap 20:1-3, Is 24:21-22).
  • Qualquer transgressão que acontecer pela vontade própria dos homens será tratada na luz da manhã do dia seguinte. Os ofensores serão mortos por um julgamento providencial do Senhor (Sl 101:7-8; Zc 5:1-4). Qualquer um que possa ter vontade de pecar não ousará fazê-lo por medo de julgamento. Assim, o mundo estará virtualmente livre de crime, imoralidade, corrupção espiritual etc. Como resultado, não haverá necessidade de sistemas de segurança, cofres, fechaduras etc.

MISERICÓRDIA E MISERICÓRDIAS



MISERICÓRDIA & MISERICÓRDIAS – Misericórdia é “não receber o que merecemos” – isto é, ser julgado por nossos pecados. Muitas vezes é mencionada em contraste com a graça, que é “receber algo que não merecemos” – isto é, a salvação e as muitas bênçãos associadas a ela. Assim, Deus estende a Sua “misericórdia” aos homens em seus pecados (Ef 2:4) porque Ele não quer que ninguém se perca eternamente (2 Pe 3:9).
Por outro lado, as “misericórdias” de Deus têm a ver com coisas temporais que Deus concede aos homens providencialmente nas dificuldades da vida na Terra (Gn 32:10; Sl 40:11; Lm 3:22; 2 Co 1:3; Fp 2:1; Cl 3:12). Isto seriam coisas relacionadas ao Seu cuidado pelas pessoas em meio aos perigos da vida etc. Assim, em contraste com nossas bênçãos que são celestiais, espirituais e eternas, as misericórdias de Deus são provisões terrenas e temporais que Ele concede aos homens na Terra. Esta distinção entre misericórdia e misericórdias é uma ideia geral na Escritura, mas pode haver exceções.
        A seguinte citação da revista The Christian Friend (E. Dennett – editor) é útil a este respeito: “No versículo 3 (de Efésios 1) encontramos o melhor tipo de bênçãos, no melhor lugar, elas estão em Cristo e elas estão todas lá. Temos misericórdias temporais com certeza, mas isso é apenas uma coisa passageira, e não a nossa porção” (The Christian Friend, vol. 9, 1882, págs. 213-214).

MESA E A CEIA DO SENHOR, A


MESA & A CEIA DO SENHOR, A – A “Mesa do Senhor” (1 Co 10:21) é um termo simbólico que significa o terreno bíblico de comunhão sobre o qual o Senhor reúne os Cristãos em torno de Si. (Não é uma mesa literal sobre a qual os Cristãos colocam os emblemas da Ceia do Senhor no partimento do pão). Uma vez que “mesa”, na Escritura, simboliza comunhão, “a Mesa do Senhor” refere-se à comunhão dos Cristãos que o Senhor formou. É uma comunhão onde Ele está no meio daqueles que Ele reuniu para adoração e ministério, e onde Sua autoridade é reconhecida e reverenciada em ações administrativas que ocorrem nessa comunhão. Na verdade, a mesa do Senhor é a única “comunhão” entre os homens à qual os Cristãos são chamados (1 Co 1:9). Todas as outras comunhões que os homens fazem são cismáticas – mesmo que tenham sido formadas com as melhores intenções. (Veja: Reunido ao Nome do Senhor)
Um erro comum é confundir “a Mesa do Senhor” (1 Co 10:21) com “a Ceia do Senhor” (1 Co 11:20, 23-26). Muitas vezes, esses dois termos são usados ​​de forma aleatória, como se não houvesse diferença entre eles, mas isso não é correto. Como mencionado, a Mesa do Senhor é um termo simbólico, enquanto que a Ceia do Senhor é uma ordenança literal que os Cristãos participam quando se lembram do Senhor em Sua morte no partimento do pão.
Algumas diferenças entre essas duas coisas são: se uma pessoa está reunida ao nome do Senhor, ela está na Mesa do Senhor 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas apenas toma a Ceia do Senhor em uma hora específica do dia do Senhor, uma vez por semana. Outra diferença é que, em condições normais, uma pessoa deve vir à Mesa do Senhor uma vez em sua vida (quando entra em comunhão com aqueles reunidos ao nome do Senhor), mas ele deve comparecer na Ceia do Senhor muitas vezes – ou seja, semanalmente. Portanto, seria incorreto dizer que vamos à Mesa do Senhor no Dia do Senhor. Seria melhor dizer que vamos participar da Ceia do Senhor naquele dia. Pessoas bem-intencionadas podem dizer coisas como: “o irmão tal se levantou à Mesa do Senhor para agradecer”, mas o comentário seria mais preciso se fosse dito que o irmão se levantou na Ceia do Senhor para agradecer.
Quando alguém é recebido em comunhão, ele é recebido à “Mesa do Senhor” onde ele tem o privilégio de tomar a “Ceia do Senhor”. Se uma pessoa é “tirada” sob um ato administrativo de julgamento pela assembleia (1 Co 5:13), ela é afastada da Mesa do Senhor, não apenas da Ceia do Senhor. Assim, ela é colocada fora da comunhão dos santos reunidos ao nome do Senhor como um todo, o que inclui o privilégio de partir o pão. Alguns pensam que o comer, mencionado em 1 Coríntios 5:11, refere-se à Ceia do Senhor. Daí eles concluem que não devemos partir o pão com uma pessoa que tenha sido afastada, mas que podemos comer uma refeição comum com ela e, portanto, ter comunhão com ele individualmente. Isso, no entanto, é um erro; comer neste versículo tem a ver com qualquer forma de comer – seja no partimento do pão ou em uma refeição comum em nossa casa. A tradução de J. N. Darby esclarece afirmando que não devemos nos “misturar com ela” socialmente (1 Co 5:11).

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A Ceia do Senhor é mencionada em 1 Coríntios 10 e 11 de duas maneiras. Algumas diferenças nesses dois capítulos são:
Capítulo 10:15-17 é o ato coletivo de partir o pão – diz: “o cálice de bênção que (nós) abençoamos” e “o pão que (nós) partimos”, enquanto o capítulo 11:23-26 é o ato individual de partir o pão. Diz: Fazei (vós) isso...
No capítulo 10:15-17, o “pão”, visto em sua forma inteira, representa o corpo místico de Cristo, enquanto o “pão”, no capítulo 11:23-26, representa o corpo físico do Senhor no qual Ele sofreu e morreu.
Capítulo 10:15-17 coloca primeiro o “cálice de bênção”, seguido do “pão”, porque está falando a respeito do nosso direito de estar à Mesa como crentes redimidos – que é resultado do derramamento de Seu sangue. No capítulo 11:23-26, a ordem é inversa, colocando o partimento do pão primeiro, depois seguido pelo beber do cálice, que é a ordem em que deve ser tomada a Ceia (Lc 22:19-20). Isso ocorre porque tomamos a Ceia em memória d’Ele em Sua morte, e Ele primeiro sofreu em Seu corpo, e então, depois de morrer, Seu sangue foi derramado.
No capítulo 10:16-17, o partimento do pão está em conexão com “a Mesa do Senhor”, onde demonstramos a comunhão do corpo de Cristo (v. 21). No capítulo 11:26, no partimento do pão (“Ceia do Senhor”), demostramos a morte de Cristo.
        O Capítulo 10:15-22 tem a ver com nossa responsabilidade de nos manter separados de todas as outras mesas (comunhões), sejam mesas Cristãs cismáticas, mesas judaicas ou mesas idólatras, enquanto o capítulo 11:23-32 tem a ver com a nossa responsabilidade de manter a pureza pessoal em nossa vida.

SENHORIO DE CRISTO, O



SENHORIO DE CRISTO, O – Este não é um termo usado na Escritura, mas a verdade que ele transmite é definitivamente encontrada na Palavra de Deus. O Senhorio de Cristo é mencionado em muitos lugares no Novo Testamento pela frase “no Senhor” (Rm 16:2, 11-13, 19; 1 Co 7:22, 39, 9:1-2, 11:11, 15:58; 2 Co 10:17; Ef 2:21, 4:1, 17, 5:8, 6:1, 10, 21; Fp 2:19, 24, 29, 3:1, 4:1-2, 4, 10; Cl 4:7 etc.). O senhorio tem a ver com o crente reconhecendo a autoridade de Cristo em sua vida de uma maneira prática.
Nas epístolas de Paulo, “no Senhor” é diferente de “em Cristo” – outra expressão que ele costuma usar. “Em Cristo” refere-se à posição do crente perante Deus no lugar de aceitação de Cristo (Ef 1:6; 1 Jo 4:17). É uma posição estabelecida eternamente na qual todos os Cristãos estão. (Veja: Em Cristo). “No Senhor”, por outro lado, tem a ver com o crente reconhecendo a autoridade do Senhor em questões práticas de sua vida. Por isso, todos os Cristãos estão “em Cristo”, mas pode ser que nem todos os Cristãos estejam vivendo “no Senhor” – isto é, reconhecendo Seu Senhorio e autoridade sobre eles.
Reconhecer o Senhorio de Cristo em nossa vida significa que não devemos simplesmente sair e fazer qualquer coisa que queiramos fazer, mas conhecer, pelos princípios na Palavra de Deus, o que o Senhor gostaria que fizéssemos. Por isso, o Senhorio implica fazer o que Ele quer que façamos em questões de consciência (Rm 14:5-9), comunhão (Rm 16:2, 19; Fp 2:29), companheirismo e casamento (1 Co 7:39), os papéis dos homens e das mulheres na assembleia (1 Co 11:11), caminhando de forma a expressar a verdade de que a Igreja é o corpo de Cristo (Ef 4:1-4), obediência das crianças (Ef 6:1), planos de viagens (Fp 2:24), serviço (Rm 16:11-13; 1 Co 15:58; Ef 6:21; Cl 4:7) etc. Viver de maneira prática sob o Senhorio de Cristo é o segredo de uma vida Cristã feliz e frutífera.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

ÚLTIMOS DIAS, OS



ÚLTIMOS DIAS, OS  Essa expressão é usada no Novo Testamento para descrever dois tratamentos completamente diferentes de Deus para com os homens. Estudantes da Bíblia que não entendam os caminhos dispensacionais de Deus com Israel e com a Igreja estarão em um dilema quando forem interpretar o significado de “os últimos dias”. Por exemplo, a Escritura indica que Deus visitou Seu povo terrenal Israel nos “últimos dias” na Pessoa de Seu Filho (Hb 1:2), e nesses “últimos tempos” Cristo morreu e ressuscitou dentre os mortos (1 Pe 1:20-21). A Escritura também indica que Israel será atacado pelo rei do Norte (Dn 8:19, 23, 11:40-43) e será restaurado e trazido a um relacionamento com o Senhor nos “últimos dias” (Dn 12:1-4; Is 2:2-4; Mq 4:1-2). Algumas dessas coisas aconteceram há dois mil anos e algumas delas ainda estão por acontecer. A pergunta óbvia é: “Como essas coisas podem acontecer todas nos últimos dias?”
Muitos têm apresentado todos os tipos de ideias na tentativa de explicar isso. No entanto, quando entendemos que o chamado da Igreja pelo evangelho é uma coisa interposta, algo entre parênteses nos caminhos de Deus com Israel, o problema é resolvido. Retirando o tempo da jornada da Igreja na Terra para fora da questão (que já tem quase dois mil anos), vemos que os tratos de Deus com Israel vão direto desde a época da morte e ressurreição do Senhor até a 70ª semana de Daniel (Dn 9:27), que são os últimos sete anos da história deles antes de Cristo aparecer, restaurar Israel e estabelecer Seu reino milenar. Nesse sentido, a morte de Cristo e os eventos proféticos relativos ao ataque a Israel e a restauração final da nação são realmente todos nos últimos dias de Israel.
Entre a morte de Cristo e a restauração de Israel (o intervalo atual), Deus tem dirigido Sua atenção para chamar a Igreja pelo evangelho de Sua graça (At 15:14). A Igreja permanecerá na Terra numa posição de testemunho até que o Senhor venha levá-la para casa no céu no Arrebatamento. Ela também tem seus “últimos dias” de testemunho na Terra. Os apóstolos Paulo, Pedro e João, e Judas, o irmão do Senhor, todos falam disso (1 Tm 4:1; 2 Tm 3:1; 2 Pe 3:3; 1 Jo 2:18; Jd 18). Estamos nestes últimos dias agora, mas não estamos no tempo dos últimos dias de Israel. Esses dois distintos tratamentos de Deus não devem ser confundidos.



segunda-feira, 7 de agosto de 2017

REINO, O



REINO, O – Esse termo tem a ver com a esfera da autoridade do Senhor de várias maneiras em conexão com os homens na Terra. Há pelo menos dez expressões diferentes na Escritura sobre o reino retratando seus diferentes aspectos. Não é que existam dez reinos, mas sim dez aspectos ou caracteres distintivos de um único reino (Precious Things, vol. 3, pág. 227):

1) O Reino de Deus


Esse termo, mencionado mais de 70 vezes na Escritura, tem a ver com o estado moral que Deus forma nos súditos do reino. Ou seja, quando esse termo é usado, está enfatizando a ordem moral que deve ser encontrada nos caminhos e maneiras daqueles que estão no reino. Em Romanos 14:17, o apóstolo Paulo define esse aspecto do reino não como sendo rituais e cerimônias religiosas exteriores (“não é comida nem bebida”), mas sim como características morais (“justiça, paz e alegria no Espírito Santo”) que Deus produz em Seu povo.
Essas características são vistas na resposta que o Senhor deu aos que estavam esperando o estabelecimento do reino de Deus. As pessoas achavam que ele viria com uma aparência exterior de poder político e bênção material. No entanto, o Senhor explicou que o reino já tinha vindo e estava sendo manifestado “entre” eles, como demonstrado em Sua vida, porque Ele exemplificava perfeitamente os traços morais do reino em Seus caminhos e maneiras (Lc 17:20-21).
Uma pessoa entra no reino de Deus pelo novo nascimento (Jo 3:5). Receber uma nova vida e a natureza de Deus (por meio do novo nascimento) permite que uma pessoa viva de acordo com a ordem moral do reino. Sem isso, uma pessoa não pode manifestar corretamente os traços morais do reino de Deus em sua vida, nem pode entendê-los e apreciá-los quando manifestados em outros (Jo 3:3). Enquanto uma pessoa precisa entrar no reino, em realidade, por um novo nascimento, é possível que alguém exiba de uma forma exterior as características morais do reino de Deus sem ser um verdadeiro crente. Lucas 13:18-21 indica essa hipocrisia. Uma grande mostra exterior de fé desenvolveu-se entre os homens na ausência do Senhor, misturada com muita má doutrina. No Milênio, o reino será marcado pelas características morais apropriadas em seus súditos.

2) O Reino dos céus


Esse é um termo encontrado apenas no evangelho de Mateus – ocorrendo 33 vezes. Refere-se ao reino que foi prometido nas Escrituras do Velho Testamento que o Messias de Israel estabeleceria na Terra, tendo sua sede de governo nos céus (Gn 49:10; 2 Sm 7:12-13; Dn. 2:44). Não é um reino nos céus, como geralmente se pensa, mas sim um reino na Terra com a sede do seu governo nos céus (Sl 103:19). Os profetas de Israel descrevem esse reino tendo condições ideais inimagináveis. (Veja: O Milênio)
A Escritura indica que, pelo fato de os judeus terem rejeitado o seu Messias, o estabelecimento do “reino dos céus”, com suas bênçãos exteriores, seria postergado (Dn 9:26; Mq 5:2-3; Zc. 11:4-14). A história atesta esse fato, pois por quase dois mil anos, desde que os judeus crucificaram seu Messias, virtualmente nada se materializou para eles com relação ao estabelecimento do reino, como prometido no Velho Testamento.
Deus não foi frustrado por essa rejeição de Cristo; Ele planejou que, nesse meio tempo, o Senhor Jesus estabeleceria “o reino dos céus” na forma de mistério. Isso pode ser visto ao se traçar o esboço do evangelho de Mateus. Nos capítulos 1-10, o Senhor Se apresentou à nação como seu Messias. Esses capítulos demonstram que Ele tinha todas as credenciais, bem como o poder de introduzir o reino de acordo com a descrição dada pelos profetas do Velho Testamento. No entanto, as pessoas comuns (cap. 11) e os líderes (capítulo 12:24-45; Mc 3:22) O rejeitaram. Consequentemente, nos capítulos 12-13, com algumas ações e ensinamentos simbólicos, o Senhor indicou que cortaria Suas relações com a nação (temporariamente) e conduziria o reino com esse caráter místico. Assim, o reino dos céus passaria por uma fase mística (Mt 13:10-17) antes de ser finalmente estabelecido em uma manifestação pública quando da Aparição de Cristo, como prometida pelos profetas de Israel. Essas duas fases podem ser distinguidas como:
  • O reino em mistério (Mt 13:11).
  • O reino em manifestação (1 Jo 3:2 – JND – nota de rodapé). 
A parábola em Lucas 19:11-27 indica que o Senhor recebeu o reino quando Ele ascendeu ao céu após a Sua morte e ressurreição. O “nobre” na parábola (Cristo) entrou em “terra remota” (céu) para receber um reino (v. 12). Assim, a fase em mistério do reino dos céus teve seu início naquele momento. Estando em forma de mistério neste momento presente, não parece existir um reino em andamento. Por todas as aparências exteriores, parece que Deus não está fazendo nada neste mundo. Atualmente, o reino está em uma forma de mistério porque:
  • Não tem um Rei visível.
  • Não tem um centro terreno, geográfico e administrativo.
  • Não possui fronteiras territoriais.
  • A maioria dos seus súditos professos não considera a autoridade do Rei e vive como se não houvesse Rei. 
Independentemente dessas peculiaridades, a fé vê o Rei (o Senhor Jesus) no Seu trono hoje em Seu reino. Como bons súditos do reino, a fé leva o crente a viver de acordo com os princípios do reino, conforme dados no Sermão da Montanha (Mt 5-7), até o momento em que o reino passe para a fase de manifestação pública.
Uma pessoa entra no reino em sua forma de mistério ao professar conhecer o Senhor Jesus Cristo, mas o modo formal de entrada é por meio do batismo. Assim, “o reino dos céus” é a esfera da profissão Cristã. Inclui aqueles que são crentes verdadeiros e aqueles que meramente professam fé em Cristo.
De Mateus 13 a 25, o Senhor mostrou dez semelhanças do reino dos céus em sua fase de mistério. Essas semelhanças apresentam uma descrição abrangente do caráter que o reino teria no presente dia em que o Rei está ausente. O ponto dessas parábolas especiais não é conciliar a revelação Cristã da verdade (dada nas epístolas) com o que é apresentado nas semelhanças. Cada uma delas tem um ponto de destaque que o Senhor quer que entendamos, mas elas não necessariamente incorporam todas as doutrinas do Cristianismo em si mesmas. Por exemplo, Deus, e não o Senhor Jesus, é visto como o Rei nas 7ª e 9ª semelhanças. Além disso, nas 9ª e 10ª semelhanças, os crentes são vistos como convidados para o casamento e não como a noiva. A noiva em ambas as semelhanças não é o foco do ensinamento do Senhor, e, portanto, não está na figura. Portanto, é importante se concentrar no ponto de destaque que o Senhor enfatiza em cada uma delas, ao invés de tentar conciliar a doutrina Cristã com os detalhes de cada parábola.
As dez semelhanças podem ser divididas em três grupos: o primeiro grupo (da 1ª à 3ª) nos diz o que Satanás está fazendo no reino. O próximo grupo (4ª à 6ª) nos diz o que o Senhor está fazendo no reino, apesar do trabalho de Satanás. O último grupo (7ª à 10ª) nos diz o que deveríamos estar fazendo no reino como bons súditos.
  • Semelhança 1 – Satanás está introduzindo pessoas más (“joio”) no reino (Mt 13:24-30, 37-43).
  • Semelhança 2 – Satanás está introduzindo espíritos malignos (“aves”) no reino (Mt 13:31-32).
  • Semelhança 3 – Satanás está introduzindo más doutrinas (“fermento”) no reino (Mt 13:33).
  • Semelhança 4 – O Senhor está assegurando indivíduos (um “tesouro”) para Si mesmo (Mt 13:44).
  • Semelhança 5 – O Senhor está chamando a Igreja (a “pérola”) a um custo elevadíssimo para Si mesmo (Mt 13:45-46).
  • Semelhança 6 – O Senhor está salvando almas pelo evangelho (a “rede”) e colocando-os em assembleias locais (“cestos”) (Mt 13:47-50).
  • Semelhança 7 – Devemos manter um estado de alma correto em relação ao Senhor e ter um espírito perdoador para com nossos irmãos, temendo os tratamentos governamentais de Deus em nossa vida (Mt 18:23-35).
  • Semelhança 8 – Devemos servir voluntariamente na vinha do Senhor sem competição, ciúme ou queixa (Mt 20:1-16).
  • Semelhança 9 – Devemos anunciar o evangelho para o mundo, apesar de o Senhor ter sido rejeitado (Mt 22:1-14).
  • Semelhança 10 – Devemos estar esperando a iminente volta do Senhor (Mt 25:1-13).
Como mencionado, “o reino dos céus” passará para a sua fase de manifestação na Aparição de Cristo (Dn 2:31-45, 7:9-28). O reino nesse aspecto será introduzido pelo poder de Deus em julgamento (Is 26:9; At 17:31). A primeira coisa que o Senhor fará será purificar o reino dos céus da mistura que existe nele há muitos séculos. Aqueles que meramente professam ser crentes e aqueles que abandonaram a fé em Deus (apóstatas) serão retirados em julgamento pelos anjos (Mt 13:40-43, 24:40-41; Ap 19:20). Muitos deles professaram sujeição ao Rei, mas não creram no evangelho da graça e da glória de Deus.

3) O Reino do Filho do Homem


Quando o reino dos céus passar para sua plena manifestação no Milênio, Cristo reinará publicamente como “o Filho do Homem” (Mt 13:41). Haverá duas esferas no reino – uma celestial e uma terrenal. A esfera terrenal do reino é chamada o reino do Filho do Homem (Mt 13:41, 16:28, 19:28, 20:21; Lc 22:30, 23:42; 2 Tm 4:1; Hb 1:8; Ap 3:21, 20:4) e será composta do remanescente de Israel e das nações dos gentios (Zc 2:11; Ap 2:26-27, 21:24).

4) O Reino de Seu Pai


Esse termo refere-se à esfera celestial do reino no dia do reinado público de Cristo no Milênio (Dn 7:18, 22, 27 (“os santos dos lugares mais altos – JND), Mt 6:10, 13:43, 26:29; 1 Ts 2:12; Hb 12:28). Em Mateus 13:43, o Senhor usou a figura do “Sol”, que é um corpo celeste, para descrever aqueles da esfera celestial do reino. Os “justos” que “resplandecerão” não são aqueles que serão deixados na Terra, depois que os anjos tiverem levado os impuros em julgamento, mas os que foram recolhidos no “celeiro”, no céu (Mt 13:30).
Essa esfera celestial do reino será composta de santos do Velho Testamento ressuscitados (“o espírito dos homens justos tornado perfeitos” – Hb 12:22-23 – JND; Mt 8:11; Lc 13:28), por aqueles que morreram abaixo da idade de responsabilidade e ressuscitaram (Mt 18:10), por aqueles que fazem parte do ressuscitado remanescente judeu martirizado (Ap 11:11-12, 14:13, 20:4), e pela Igreja – “os mortos em Cristo” que serão ressuscitados e os santos vivos que serão arrebatados (1 Ts 4:15-18; Fp 3:20-21). Estes santos celestiais reinarão com Cristo sobre a Terra no dia Milenar (Hb 12:22-23; Ap 3:21). O tempo em que os santos celestiais reinarão acabará no final do Milênio (Ap 20:4). Apocalipse 22:5 confirma isso, quando afirma: “Eles reinarão até os séculos dos séculos” (JND), isto é, reinarão até ao Estado eterno.

5) O Reino do Filho de Seu Amor (Cl 1:13)

Esse termo descreve a única regra de vida que prevalece para aqueles que estão no reino agora, que têm a posição especial de serem “filhos” – isto é, Cristãos (Rm 8:14-15; Gl 4:5; Ef 1:5). Eles estão tão próximos de Deus quanto o próprio Filho está (Ef 1:6) e são tão amados pelo Pai como o próprio Filho é (Jo 17:23).

6) O Reino do mundo do Nosso Senhor e do Seu Cristo (Ap 11:15)

Esse termo refere-se à autoridade do senhorio de Cristo sendo estabelecida em todo o mundo pelo poder de julgamento na Sua Aparição. Esse aspecto do reino corresponde a “o dia do Senhor”, quando Ele afirma publicamente o Seu poder e autoridade universal sobre todos os homens (Is 2:10-22; Jr 46:10; Jl 1:15; Zc 2:2-3; Ml 4:5; 1 Ts 5:2; 2 Ts 2:2; 2 Pe 3:8-10).

7) O Reino de Cristo e de Deus (Ef 5:5)

Esse aspecto do reino tem a ver com a exibição da glória de Cristo no Milênio. Ele corresponde a “o dia de Cristo”, que enfatiza a manifestação de Sua glória e a manifestação das recompensas dos santos celestiais (Jo 8:56; 1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fp 1:6, 10, 2:16; 2 Ts 1:10).

8) O Reino de nosso pai Davi (Mc 11:10)

Esse aspecto do reino vê Israel como o centro das operações de Deus na Terra.

9) O Reino celestial (2 Tm 4:18)

Isso tem a ver com o destino dos santos celestiais. 

10) O Reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 1:11)

Esse aspecto enfatiza a longevidade do reino que, literalmente, durará até o fim dos tempos, de forma inimitável pelo homem. “Eterno” nesse versículo não significa “que dura para sempre”, mas sim que ele continua até o fim do tempo. Ou seja, o reino existirá enquanto houver tempo passando – o que será até o fim do Milênio. (A palavra “para sempre” é usada da mesma maneira em muitos lugares do Velho Testamento). Assim, o reinado dos santos com Cristo, no governo do mundo vindouro, continuará até os séculos dos séculos”, que é até o Estado Eterno (Ap 22:5 – JND). Quando o Estado Eterno começar, não haverá mais necessidade de reinar e controlar poderes adversos que possam surgir, como acontece num reino.
G. Davison disse: “Esse título nos assegura que, uma vez que o reino tenha sido estabelecido em poder, nunca mais será sucedido por outro, pois ele durará enquanto durar o tempo. Isso não significa que o reino continuará para sempre no Estado Eterno, mas sim que ele não terá um sucessor. Os reinados são estabelecidos para manter poderes adversos em sujeição, bem como proteger seus súditos. Na verdade, um é o resultado do outro, mas, como não há poderes adversos no Estado Eterno, o reino não será necessário. Isso é claro a partir de 1 Coríntios 15:24-26” (Precious Things, vol. 1, Answers to correspondence – July/Aug).
No final do tempo, o Senhor entregará o reino ao Pai, para Se dedicar à Sua noiva (1 Co 15:24-28). Tendo recebido o reino das mãos de Deus, O Senhor o devolverá a Deus com uma glória aumentada. Todos os administradores na história não conseguiram manter a esfera de autoridade em que reinaram; nem Adão, nem Davi, nem Salomão, nem os monarcas gentios. Quando o Senhor receber o reino, “os inimigos” não estarão todos “aniquilados”, mas quando Ele o entregar ao Pai no “fim”, todos estarão em plena sujeição a Deus. Isso diferencia Cristo de todos os outros como sendo o maior Administrador de todos os tempos.

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Muitos Cristãos confundem o reino com a Igreja e, consequentemente, usam frases não bíblicas como “o reino da Igreja”. No entanto, o reino não é sinônimo de Igreja pelas seguintes razões:
Em primeiro lugar, o reino em mistério abrange um período de tempo maior do que o tempo da Igreja na Terra. Tem maior duração, com início dez dias antes da Igreja, quando o Senhor voltou para o céu (Lc 19:12; At 1:9-11). E também continuará em sua fase de mistério após a Igreja ser levada para o céu, até o final da 70ª semana de Daniel, cerca de sete anos após o Arrebatamento.
Em segundo lugar, o reino é mais amplo do que a Igreja no que se refere aos seus súditos. Como já vimos, o reino no presente momento tem “joio” (meros professos) e “trigo” (verdadeiros crentes), enquanto que a Igreja é composta apenas de verdadeiros crentes. As pessoas podem se juntar a uma assim chamada denominação da igreja e estar no seu livro de membros, mas, se não forem salvas por fé em Cristo, elas não fazem parte da Igreja de Deus.
Em terceiro lugar, Cristo é o Rei em Seu reino e somos Seus servos, mas a Escritura nunca fala d’Ele como o Rei da Igreja. Porém, Ele é a Cabeça da Igreja e os crentes são membros de Seu corpo (1 Co 12:12-13; Cl 1:18).
Em quarto lugar, Mateus 16:19 nos diz que a Pedro foram dadas “as chaves do reino dos céus”, não as chaves da Igreja. Essas chaves são o batismo e o discipulado. Por essas duas coisas, alguém entra no reino exteriormente, mas elas não fazem de alguém parte da Igreja. A entrada na Igreja de Deus é apenas por alguém nascer de Deus e ser selado com o Espírito Santo (Jo 3:5; Ef 1:13, 4:4).
Por fim, da comunhão da Igreja devemos tirar o fermento, colocando fora de comunhão a pessoa ou pessoas em quem ele for encontrado (1 Co 5:11-13). No reino dos céus (em mistério), os malfeitores e o fermento não são removidos, mas lhes é permitido continuar “até a ceifa” (Mt 13:28-30).