DOM – No Novo
Testamento, “dom” é um assunto que é
tratado de algumas maneiras diferentes. Em primeiro lugar, há “o dom do Espírito Santo”, que é dado a
toda pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo (Jo 4:10; At 2:38, 10:45; 1 Ts 4:8;
1 Jo 3:24). Ao receber o Espírito Santo, a pessoa se torna parte da Igreja de
Deus, que é o corpo de Cristo.
Há
o dom da “graça” que é dado a cada
membro do corpo de Cristo, pelo qual cada um é capaz de preencher o lugar no
corpo que lhe foi atribuído (Ef 4:7).
Há
também dádivas espirituais que são dadas aos crentes, chamadas “dons espirituais”, ou “manifestações espirituais”, como
traduzido por J. N. Darby (1 Co 12:1, 14:1, 12). Essa dádiva espiritual é dada
a uma pessoa no momento em que ela crê no Senhor Jesus e recebe o Espírito
Santo. Quando ela é conduzida pelo Espírito para exercer seu dom, contribuirá
de alguma forma para a edificação do corpo (1 Co 12:7; Ef 4:15). A Bíblia
ensina que a todos os crentes foi dado pelo menos um dom (1 Co 12:7; 1 Pe 4:10).
O ministério é simplesmente o exercício do dom de alguém; como todos os Cristãos
têm algum dom, todos os Cristãos estão “no ministério”. A extensão completa
desses dons é muito mais ampla do que ensinar, exortar, profetizar, pregar etc.
Inclui dons de sinais tais como: cura, línguas, e dom de milagres (1 Co
12:9-10), e dons de caráter mais privado, como ajudar as pessoas
individualmente – como pastorear, ajudar, dar, mostrar misericórdia etc. (Rm
12:8; 1 Co 12:28).
Há
também “dons” especiais que são dados à Igreja por Cristo, a Cabeça do corpo (Ef
4:10-11). Esses são homens que em si
mesmos possuem certos dons espirituais para ministrar a Palavra. Eles são: “apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e doutores [mestres –
ARA]”. O Senhor dá esses homens com
o propósito de preparar os santos e, assim, torná-los capazes de contribuir na
obra do ministério (Ef 4:12). Os apóstolos já não existem (Ef 2:20), mas os
outros dons certamente sim. Os profetas que estão conosco hoje não são aqueles
que recebem revelações e predizem eventos futuros (At 11:28, 21:10-11), mas
aqueles que ministram a Palavra para edificação, exortação e consolação (1 Co
14:3).
Os
dons de sinais e de testemunho acima mencionados cessaram porque o propósito
para o qual foram dados já foi cumprido. Isso aconteceu de duas maneiras:
Em
primeiro lugar, esses dons foram usados para
dar “testemunho” à nação judaica que
Deus era capaz e estava disposto a trazer o reino em todo o seu poder e glória
(como apresentado nos profetas do Velho Testamento), se eles recebessem o
Senhor Jesus como seu legítimo Messias. Deus confirmou essa graça para com eles
no ministério dos apóstolos (At 2:43), pelo qual a nação provou “os poderes do mundo vindouro” (Hb
6:4-5 – TB) e viu “sinais e milagres”
e “várias maravilhas” com “dons do Espírito Santo, distribuídos por
Sua vontade” (Hb 2:3-4), e eles também tiveram homens falando-lhes em “línguas” (At 2:1-13; 1 Co 14:21-22).
Mas quando os judeus rejeitaram formalmente esse testemunho (At 7:54-60), a não
ser o remanescente que creu (Rm 11:5), Deus colocou a nação de lado no ano 70
d.C., com a destruição de Jerusalém e do templo e com a morte de uma grande
porção do povo (Mt 21:33-44, 22:7, 24:2). Então, o uso desses dons de sinais
não era mais necessário (1 Co 13:8). A história testemunha o fato de que, após
o primeiro século, esses dons de milagres não eram mais usados.
Em
segundo lugar, Deus
usou os dons de sinais para dar testemunho aos gentios de que Ele havia efetuado
um novo início em Seus caminhos dispensacionais ao enviar o Espírito Santo no
Pentecostes para formar a Igreja (Mc 16:15-20; Rm 15:18-19). Aos gentios foi
dada a oportunidade de fazer parte da Igreja, se recebessem o Senhor Jesus.
Depois que a Igreja foi estabelecida naqueles primeiros tempos, os dons de
sinais que foram manifestados em associação com a pregação do evangelho, não tiveram
continuidade. Novamente, a história da Igreja testemunha esse fato.
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A
esfera na qual os dons operam na casa de Deus é uma das três esferas distintas
de privilégio e responsabilidade – sacerdócio,
dom e ofício. A Cristandade tem entendido mal as distinções que marcam
estas três esferas de atividade espiritual e as fundiu em uma só, e disso veio
a invenção de um clérigo (um assim-chamado ministro ou pastor), que não tem o
apoio da Escritura. É, portanto, importante notar a diferença entre eles. Uma
diferença é que o sacerdócio tem a ver com o que vai do homem para Deus, pois está relacionado ao louvor e à oração,
enquanto o dom tem a ver com coisas espirituais sendo ministradas de Deus para o homem. (Veja: OSacerdócio dos Crentes e Ofício)
Quando
a esfera do dom na casa de Deus está sendo considerada, geralmente se refere
aos dons que pertencem ao ministério público da Palavra – pregar, ensinar,
exortar etc. No entanto, o exercício do dom espiritual de alguém é algo que não
se limita às reuniões da assembleia; os dons devem ser exercitados sempre e
onde quer que uma pessoa, dirigida pelo Espírito, é conduzida a fazê-lo.
Uma
coisa importante de se notar em conexão com o assunto de dom é que a Escritura
não ensina que uma pessoa precisa ser treinada em um seminário e ordenada antes
que possa usar seu dom espiritual. A Escritura também não ensina que esses dons
devam ser exercitados sob o patrocínio da assembleia, ou sob a direção de uma
organização para-eclesiástica ou um conselho missionário. Cada dom é dado pelo
Senhor e deve ser usado sob Sua direção. A posse de um dom espiritual é a
autorização de Deus para usá-lo. O apóstolo Pedro indica isto, dizendo: “Cada um administre aos outros o dom como o
recebeu” (1 Pe 4:10). Ele também disse: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus: se alguém
administrar, administre segundo o poder que Deus dá”. Note que Pedro
não diz que depois de receber um dom para ministrar a Palavra alguém precise ir
à escola antes que possa usá-lo. A simples ordem na Escritura é: “Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação” (1 Co
14:26). A Igreja foi assim ensinada e edificada no seu princípio e é o modelo
para o ministério Cristão de hoje.
J.
N. Darby disse: “Se Cristo pensou em me dar um dom, eu devo negociar com meu
talento como Seu servo, e a assembleia nada tem a ver com isso: Definitivamente
eu não sou servo dela... Eu me recuso terminantemente a ser seu servo. Se eu,
fazendo ou dizendo algo como um indivíduo, sou chamado à disciplina, aí é outra
questão; mas ao negociar com o meu talento, eu não atuo ‘por’ nem ‘para’ uma
assembleia. Quando vou ensinar, exercito individualmente o meu dom... O
Senhorio de Cristo é negado por aqueles que sustentam essas ideias; eles querem
fazer da assembleia, ou deles próprios, senhores. Se eu sou servo de Cristo,
deixe-me servi-Lo na liberdade do Espírito. Eles querem fazer dos servos de
Cristo servos da assembleia, e negar o serviço individual como sendo
responsável perante Cristo... Eu sou livre para agir sem consultá-los no meu
serviço a Cristo: eles não são os donos dos servos do Senhor” (Letters, vol. 2, pág. 92).
O
dom de uma pessoa precisa ser desenvolvido, e isso leva tempo e treino. Quanto
mais a pessoa amadurece nas coisas divinas, mais eficiente ela se tornará no
seu ministério (At 18:24-28; Mc 4:20). A maneira bíblica de uma pessoa ser
ensinada nas coisas divinas é assistir às reuniões de leitura da Bíblia (1 Tm
4:13) e outras reuniões onde a Palavra de Deus é ensinada sob a direção do
Espírito Santo (At 20:7; 1 Co 14:29-31). Há também um ministério escrito (2 Tm
4:13), e um ministério gravado, dado por pessoas bem formadas e dotadas.
Também
é importante entender que esses dons “espirituais”
não são dons naturais (1 Co 12:1, 14:1, 12). Os dons naturais foram dados aos
homens por Deus desde o nascimento, e os homens os desenvolvem pela prática.
Esses podem ser coisas tais como habilidades musicais, habilidades artísticas,
habilidades atléticas, capacidade intelectual etc. Em Mateus 25:14-30, o Senhor
fez uma distinção entre dons espirituais (usando a figura de “talentos” – uma unidade monetária) e
habilidades naturais, destreza (que Ele chamou de “capacidade”), mostrando que estas são duas coisas diferentes. A
sabedoria de Deus é vista na parábola pois o homem deu talentos aos seus servos
“segundo” suas diferentes
habilidades. Isso nos ensina que o Senhor dá dons espirituais aos membros de
Seu corpo que correspondem ao que foi formado naturalmente na personalidade
deles. Por exemplo, um evangelista provavelmente deveria ter uma capacidade
natural de falar com as pessoas, uma vez que o essencial desse tipo de serviço
é alcançar as pessoas com o evangelho. Não é provável que o Senhor dê esse dom
a uma pessoa que seja tímida e não possua habilidades comunicativas. Do mesmo
modo, o dom de ensino requer certo grau de habilidade natural na forma de
capacidade intelectual. O dom do ensino, portanto, provavelmente seria dado a
alguém que tem uma mente organizada.
Os
Cristãos, de um modo geral, estão confusos em relação a isso. Eles pensam que a
habilidade natural de alguém é seu dom no corpo de Cristo. Daí vem a crença de
que os Cristãos devem buscar carreiras mundanas na vida – tais como: esportes
profissionais, música profissional e outros tipos de entretenimento mundano,
porque têm uma habilidade natural nessa direção. J. N. Darby disse: “É um
princípio inteiramente falso de que ter dons naturais é uma razão para usá-los.
Posso ter força ou velocidade extraordinária para correr; eu derrubo um homem
com um braço, e ganho o troféu com outro. A música pode ser uma coisa mais
refinada, mas o princípio é o mesmo. Este ponto eu acredito ser da mais alta
importância. Os Cristãos perderam sua influência moral ao considerar a natureza
e o mundo como inofensivos. Todas as coisas me são lícitas, mas como eu disse,
vocês não podem misturar carne e Espírito” (Letters,
vol. 3, pág. 476). Nem vemos a Igreja na Escritura tendo reuniões para essas
pessoas talentosas mostrarem suas habilidades naturais. Os dons espirituais não
são para o entretenimento Cristão, mas para a edificação dos santos nas coisas
espirituais.
Também é importante
ver que todos esses dons não estão em uma pessoa. A Escritura diz: “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra
da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro,
pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito...” (1 Co 12:8-10). Um homem pode ter
mais de um dom, mas está claro por esta passagem que ele não vai possuir todos
os dons. Portanto, a assembleia precisará da participação de todos os que têm
dom para ministrar a Palavra, se for para ela receber o benefício dos dons em
seu meio. Infelizmente, o sistema de clérigos/leigos existente em quase toda a
Cristandade toma o lugar do livre exercício dos dons nessas assembleias.
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