quinta-feira, 8 de junho de 2017

PERDÃO (Remissão)



PERDÃO (Remissão) – O significado básico que a palavra “perdão” transmite é “liberar alguém de (ou cancelar) uma dívida”. Às vezes é traduzida como “remissão” para transmitir essa ideia. W. Kelly disse: “O perdão é a remissão dos pecados daqueles que creem em Jesus por fé no Seu sangue” (The Bible Herald, vol.1, pág. 234).
W. Potter indicou que há cinco aspectos do perdão na Escritura (The Christian, 2006 January):

1) Perdão judicial ou eterno

Isso tem a ver com o perdão que uma pessoa recebe de Deus por fé que o livra do julgamento eterno de seus pecados. Assim, ele tem “a remissão” de seus pecados (Mt 26:28; Lc 24:47; At 2:38, 5:31, 13:38, 10:43, 26:18; Ef 1:7, 4:32; Cl 1:14; Hb 9:22) ou “o perdão dos pecados” (1 Jo 2:12). Ao receber esse perdão, a consciência do crente é purificada quanto à sua culpa (Hb 9:14, 10:2, 22), e assim ele tem um conhecimento consciente de que seus pecados foram divinamente perdoados. Essa é a bênção que cada crente no Senhor Jesus Cristo já possui (Ef 1:7).
Esse aspecto eterno de perdão dos pecados foi anunciado pela primeira vez quando o Senhor ressuscitou dos mortos (Lc 24:47). Antes disso, nos tempos do Velho Testamento e durante o ministério do Senhor na Terra, o perdão foi concedido a pessoas num sentido puramente governamental (Êx 32:32; Lv 4:20, 26, 31, 35; 1 Rs 8:34-39; Sl 86:5; Jr 36:3; Mt 9:2-6, 6:14; Lc 7:47-48, 23:34). Assim, os santos do Velho Testamento não conheceram esse aspecto eterno de perdão dos pecados. Consequentemente, eles viveram com a incerteza de saber se seus pecados seriam ou não trazidos a julgamento por Deus (Sl 25:7 etc.). H. E. Hayhoe declarou: “Antes do primeiro advento de Cristo, a verdade do perdão eterno de pecados não foi conhecida. De modo geral, o perdão, como referido no Velho Testamento, era governamental – isto é, tinha a ver com esta vida, mas não com a eternidade” (Present Truth For Christians, pág. 10).
Isso não significa que os santos do Velho Testamento não estejam no céu, mas que não tinham a consciência de que seus pecados tinham sido perdoados, como têm os Cristãos, porque não conheciam a obra consumada de Cristo. Seus pecados foram mantidos em suspenso sob “a paciência de Deus”, esperando o tempo em que Deus os colocaria sobre o Senhor Jesus na cruz, onde eles seriam judicialmente tratados de acordo com as reivindicações da justiça divina (Rm 3:25). Mas os santos do Velho Testamento não conheciam isso. Assim, seus pecados foram “cobertos” (Sl 32:1), mas hoje com a obra de Cristo tendo sido consumada e com a vinda do Espírito Santo, pelo evangelho temos uma revelação mais completa sobre o que Deus fez com nossos pecados. Sabemos que nossos pecados foram “perdoados” (At 13:38) e que eles foram “aniquilados” (Hb 9:26) e “tirados” (1 Jo 3:5).

2) Perdão governamental

Refere-se ao perdão que Deus concede a uma pessoa, retirando Seu julgamento governamental que estava sobre ela por causa de seus caminhos pecaminosos (Mt 18:23-25; Gl 6:7, 1 Co 11:29-32; 1 Pe 1:16-17, 3:12, 4:17; 1 Jo 5:16-17), sendo ela assim perdoada (Sl 103:10-11; Mt 18:26-35; Jo 5:14; Tg 5:15).
Este aspecto do perdão está condicionado a duas coisas da parte daquele que é perdoado. Em primeiro lugar, deve haver arrependimento genuíno (Lv 26:40-41; 2 Cr 12:7, 12, 33:11-13, 19; Jn 3:5-10; 1 Jo 1:9). Em segundo lugar, deve haver a manutenção de um espírito perdoador para com os outros (Mt 6:12, 14-15, 18:23-35; Mc 11:25-26; Lc 6:37). J. N. Darby destacou que esses dois requisitos são ilustrados na vida de Jó. Ele se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6) e orou por seus três amigos que o acusaram injustamente, pedindo a Deus que os perdoasse (Jó 42:10). Quando Deus viu essas duas coisas em Jó, Ele removeu sua disciplina e “virou” seu “cativeiro”. Uma pessoa nem precisa ser um crente verdadeiro para experimentar esse tipo de perdão governamental de Deus. Este foi o caso do rei Acabe (1 Rs 21:27-29). Portanto, é possível que uma pessoa seja governamentalmente perdoada, mas não eternamente perdoada! (Collected Writings of J. N. Darby, vol. 31, pág. 362).
Quando vemos os filhos de Deus pecando, em circunstâncias normais, devemos orar para que o pecado “lhes não seja imputado” e que sejam governamentalmente perdoados (2 Tm 4:16; 1 Jo 5:16a). Porém pode haver ocasiões em que o discernimento dirá que não deveríamos orar desta maneira por uma pessoa e, portanto, concordar com a sabedoria de Deus em Seus tratamentos governamentais com Seu povo (1 Jo 5:16b).
É importante entender que tanto o julgamento governamental quanto o perdão governamental têm a ver com o tratamento de Deus com os homens enquanto vivem na Terra. Esses tratamentos não afetam seu destino eterno. Os tratamentos governamentais de Deus com os crentes dizem respeito à sua comunhão com Ele, não ao seu relacionamento com Ele.

3) Perdão restaurativo

J. N. Darby trata isso como uma forma de perdão governamental (Sinopse of the Books of the Bible na nota de rodapé de 1 João 1:9)[1]. Tem a ver com Deus retirando Sua disciplina governamental que foi sentida por um de Seus filhos que agiu errado e que teve sua comunhão interrompida pela sua própria negligência e pecado, por cujo perdão a comunhão é novamente desfrutada. A disciplina é retirada porque houve julgamento próprio e confissão de pecados (1 Jo 1:9). O Sr. Darby explica esta forma de ação governamental de Deus da seguinte maneira: “Se falarmos de maneira impensada com nosso irmão, ou andarmos descuidadamente pelas ruas e virmos em nós alguma vaidade, descobriremos o efeito disso em nossa própria alma no final do dia com Deus. Se alguma palavra irada escapa de mim, eu sinto seu efeito no final do dia com Deus, mas a graça nos restaurará” (Nine Lectures on the First Epistle of John, pág. 15). Assim, mesmo algo tão simples, como ter pensamentos errados ou pronunciar palavras com ira, causará a interrupção da comunhão. Deus nos permite sentir essa perda como um tratamento governamental conosco. Quando o julgamos e o confessamos, a comunhão é restaurada.
Embora isso possa ser tomado como parte do perdão governamental, é um pouco diferente no sentido de que a comunhão pode ser restaurada a uma pessoa, mas ele ainda pode ter que governamentalmente levar as consequências de suas ações. Esse foi o caso de Davi. Deus lhe disse que, por causa de seu pecado com Bate-Seba e da morte de seu marido, a espada não se apartaria jamais de sua casa (2 Sm 12:9-10). Este julgamento foi com Davi todos os seus dias. Mas o Senhor disse que Ele havia traspassado o pecado de Davi por causa do seu arrependimento, e assim Davi foi restaurado à comunhão com o Senhor (2 Sm 12:13). Isto é evidente pelo fato de que ele escreveu muitos salmos de louvor e adoração após sua restauração à comunhão com Deus.

4) Perdão fraternal

Isso tem a ver com perdoar nosso irmão se ele nos ofendeu (Mt 18:21-22; Ef 4:32). Há duas coisas aqui que não devem ser confundidas. Em primeiro lugar, devemos perdoar do nosso coração (Mt 18:35) a pessoa que nos fez mal. Ou seja, devemos manter um espírito perdoador para com ele, mesmo que não haja nenhum sinal de arrependimento nele. Isso é importante porque se não fizermos isso, sentimentos ruins podem surgir em nosso coração com relação a essa pessoa. E, em segundo lugar, quando a pessoa que nos ofendeu se arrepende e se desculpa pelo que fez, então devemos perdoá-la expressando-o de forma audível ou formal (Lc 17:3-4).
Lucas 17:3-4 tem sido usado para justificar a manutenção de um espírito imperdoável em relação a uma pessoa, porque ela não se desculpou. A parte ofendida dirá: “Eu não vou perdoá-la até que ela se arrependa, porque é o que a Escritura diz que devo fazer”. No entanto, Mateus 18:35 mostra que, independentemente de a pessoa se ter desculpado ou não, devemos manter um espírito de perdão para com ela. A Escritura adverte que aqueles que não perdoarem de coração a seus irmãos terão o perdão governamental do Senhor recusado nos erros que eles cometerem (Mt 6:14-15, 18:23-35; Mc 11:25-26).

5) Perdão administrativo

Refere-se à assembleia atuando administrativamente nos assuntos de disciplina em relação aos indivíduos que agiram errado. Os apóstolos receberam esta autoridade do Senhor para agir administrativamente por Ele em assuntos de se reter os pecados de uma pessoa e o de perdoar seus pecados (Jo 20:23). As assembleias reunidas ao nome do Senhor também têm este poder (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4). Se eles “tiram” uma pessoa da comunhão dos santos (1 Co 5), e se essa pessoa está arrependida, eles devem remover o julgamento colocado sobre ela e “perdoá-la” (2 Co 2:6-11). (Veja: Julgamento, Julgamento Administrativo na Assembleia)




  [1] N. do T.: Nota de J. N. Darby em 1 João 1:9: “Ao falar de pecado, o apóstolo fala no tempo presente (v.8 - ‘não cometemos pecado’ - TB): ao falar de pecar, ele fala no passado (v. 10 - ‘não temos cometido pecado’ - TB). Ele não acredita que continuemos fazendo isso. Tem sido uma pergunta se o apóstolo fala da primeira vez que fomos ao Senhor ou de falhas subsequentes. Eu respondo, ele fala de maneira abstrata e absoluta: a confissão traz, pela graça, o perdão. Se é a nossa primeira vinda a Deus, é perdão, é no sentido pleno e absoluto. Eu sou perdoado por Deus: Ele não Se lembra mais dos meus pecados. Se é um fracasso subsequente, a honestidade de coração sempre confessa, então é o perdão no que diz respeito ao governo de Deus, e a condição atual e o relacionamento da minha alma com Ele. Mas o apóstolo, como em toda parte, fala absolutamente e do princípio”.

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