quinta-feira, 25 de maio de 2017

VIDA ETERNA



VIDA ETERNA – Nos evangelhos sinóticos[1], o termo refere-se a ter vida divina, vinda de Deus, na Terra no reino milenar de Cristo (Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:17, 30; Lc 10:25, 18:18, 30 etc.). Isso foi prometido no Velho Testamento (Sl 133:3; Dn 12:2) e terá cumprimento no remanescente de Israel (Ap 7:1-8) e nos crentes das nações gentias (Ap 7:9-10) num dia vindouro.
Mas no evangelho de João e nas epístolas do Novo Testamento, vida eterna tem um significado totalmente diferente. Ela é apresentada como algo celestial. Neste aspecto Cristão, vida eterna tem a ver com a possessão da vida divina de acordo com a relação que os Cristãos têm com o Pai e o Filho. O Senhor a definiu como: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). Essa é uma distintiva bênção Cristã, possuída “em Cristo” (Rm 6:23; 2 Tm 1:1). F. G. Patterson disse: “A vida eterna é o termo Cristão para aquilo que temos em Cristo; por ela somos trazidos à comunhão com o Pai e o Filho e, portanto, temos uma natureza adequada ao céu” (Scripture Notes and Queries, pág. 112).
A vida eterna, nesse sentido Cristão, é chamada assim porque se refere a uma qualidade especial da vida divina que o Pai e o Filho têm desfrutado juntos em comunhão com o Espírito Santo eternamente . Antes da vinda de Cristo ao mundo, esse aspecto da vida divina era desconhecido pelos homens – estava “com o Pai” nos céus (1 Jo 1:2). Mas agora foi dada aos Cristãos (Jo 3:16; 1 Jo 5:13 etc.) pela qual são capazes de desfrutar da comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Jo 1:3).
Ao contrário do que muitos Cristãos pensam, a “vida eterna” não é uma descrição da duração da vida divina, mas sim uma descrição do caráter e da qualidade da vida divina. Portanto, “vida eterna” não significa “vida que dura para sempre”. Como toda a vida humana dura para sempre – independentemente de a pessoa ser salva ou não – o termo certamente deve significar mais do que uma vida de duração interminável. H. Nunnerley disse: “Muito mau entendimento surgiu sobre a vida eterna, limitando o seu significado à duração sem fim da sua existência e à eterna segurança daqueles que possuem essa vida” (Scripture Truth, vol.1, pág. 155). A. C. Brown disse que a vida eterna “não significa meramente que temos vida que dura para sempre. Também não se refere particularmente ao nosso primeiro encontro com o Salvador, como salientado por alguns evangelistas” (Eternal Life, pág. 4). H. M. Hooke comentou: “Poucos de nós se esforçam em sentar e pensar o que é a vida eterna. Lembro-me de ter perguntado a uma irmã anciã se ela gostaria de me dizer o que era a vida eterna. ‘Oh, sim!’, ela disse, ‘perpetuidade da existência’. ‘Então, eu disse, você não tem nada a mais do que o diabo tem – pois ele tem a perpetuidade de existência!’ Eu acredito que o que ela disse é um entendimento comum. Mesmo os perdidos têm perpetuidade de existência, pois eles passarão a eternidade no lago de fogo, mas eles não têm a vida eterna” (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230).
Muitos confundem a vida eterna com o novo nascimento, mas esses termos não são sinônimos. Ambos têm a ver com possuir vida divina, mas a vida eterna é ter a vida divina em seu sentido mais pleno, o que exigiu a vinda do Filho de Deus. O Senhor disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10:10). Antes de Sua vinda ao mundo, as pessoas não conheciam esse caráter da vida divina. Não é que existem dois tipos diferentes de vida divina. A vida dada no novo nascimento e vida eterna são a mesma vida em essência. É a própria vida de Cristo – de fato, Ele é chamado “A Vida Eterna” (1 Jo 1:2). A diferença é que nascer de novo é ter a vida divina em embrião, por assim dizer, enquanto que a vida eterna é ter essa vida em sua plenitude. O mesmo poderia ser dito da vida em uma semente de maçã em oposição à vida em uma macieira adulta. Ambas têm a mesma vida, mas uma não a desenvolveu.
A posse da vida eterna, em seu sentido Cristão, envolve quatro coisas:

1) CONHECER A DEUS COMO PAI (Jo 17:3). Isso exigiu a vinda de Cristo ao mundo para revelar o Pai (Jo 1:18, 14:6-11).
J. N. Darby disse: “A revelação do nome do Pai traz consigo a vida eterna” (Notes and Jottings, pág. 102). H. Nunnerley disse: “A vida eterna é uma vida de comunhão, de participação nas relações divinas, um conhecimento prático do Pai e Seu Enviado” (Scripture Truth, vol. 1, pág. 197). (“Pai” é usado algumas vezes no Velho Testamento em referência a Deus, mas está indicando Seu cuidado para com Seu povo como um pai guia e cuida de sua família, não é usado como um nome de Deus revelando Sua Pessoa como tal, como é revelado no Novo Testamento. Alguns exemplos são: Is 63:16, 64:8; Jr 3:4)

2) CRER EM CRISTO, O FILHO DE DEUS (Jo 3:16, 36, 5:24, 6:47; Rm 6:23 etc.).

3) CONHECER A OBRA CONSUMADA DE CRISTO NA CRUZ (Jo 3:14-15).

4) SER HABITADO PELO ESPÍRITO SANTO (Jo 4:14), que traz o crente em um relacionamento com o Pai e o Filho. F. G. Patterson disse: “Temos a vida eterna em Cristo – Cristo vive em nós, e esta vida eterna nos leva à comunhão com o Pai e o Filho, o que não poderia acontecer até que o Pai fosse revelado n’Ele e o Espírito Santo ser dado, pelo Qual nós a apreciamos” (Words of Truth, vol. 3, pág. 178). A. C. Brown disse: “A vida eterna refere-se à vida de Deus desfrutada em comunhão com o Pai e o Filho por meio do Espírito Santo que habita em nós” (Eternal Life, pág. 4).

Assim, enquanto os santos do Velho Testamento eram sem dúvida nascidos de novo (e assim tinham a vida divina), eles não poderiam ter tido vida eterna, simplesmente porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo para revelar o Pai, nem tinha sido revelado como o Filho de Deus, nem tinha consumada a redenção, nem havia subido ao alto para enviar o Espírito Santo. H. M. Hooke disse: “Fiquei muito impressionado ao examinar as Escrituras do Velho Testamento e não encontrar uma única passagem mencionando um santo do Velho Testamento que tivesse a vida eterna; ela não era conhecida” (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230). Perguntaram para J. N. Darby: “Não tinham, os santos do Velho Testamento, vida eterna?”. Ele respondeu “Com relação aos santos do Velho Testamento, a vida eterna não fazia parte da revelação do Velho Testamento, mesmo supondo ainda que os santos do Velho Testamento a tiveram” (Notes and Jottings, pág. 351). Ele também disse: “O conhecimento de Deus, mesmo do Pai e do Filho, o Espírito de filiação, a consciência de estar em Cristo e Cristo em nós, a comunhão com o Pai e o Filho, nada disto os santos do Velho Testamento possuíam” (Collected Writings, vol. 10, pág. 26). F. G. Patterson disse: “Não se pode dizer que eles (os santos do Velho Testamento) tiveram vida eterna. Ela só foi trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10; Tt 1:2 etc.)” (Scriptures Notes and Queries, pág. 66).
Ensinar que os santos do Velho Testamento tinham a vida eterna obscurece a distinção entre os dois Testamentos e as bênçãos e privilégios que distinguem a Igreja de Israel. É um erro da Teologia do Pacto, que vê Israel e a Igreja como um só povo com bênçãos iguais.

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Há dois aspectos da vida eterna[2] em seu sentido Cristão. Isso não se refere apenas ao caráter da vida divina no crente como uma possessão presente (Jo 3:15-16, 36), mas também se refere a uma esfera de vida na qual o crente deve viver em comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Tm 6:12, 19). Usamos a palavra vida de forma semelhante ao descrever uma esfera na qual uma pessoa habita – por exemplo: “vida no campo”, “vida na cidade” etc. Neste sentido, a vida eterna é um ambiente de vida em que tudo é luz e amor, e onde a comunhão com o Pai e o Filho é tudo. Em virtude de o Espírito habitar em nós, podemos viver nessa esfera agora enquanto estamos aqui na Terra (Jo 4:14; 1 Jo 5:11-13). Assim, alguém adequadamente disse que a vida eterna é “uma condição de coisas fora deste mundo”, na qual o crente vive pelo Espírito.
O apóstolo Paulo refere-se a esse aspecto da vida eterna como algo em que entraremos no futuro, quando formos recebidos no céu em nosso estado glorificado (Rm 2:7, 5:21, 6:22, 23; Gl 6:8; 1 Tm 1:16, 6:12, 19; Tt 1:2, 3:7). Isso não significa que não podemos desfrutar dessa vida agora. Podemos certamente apreciá-la agora pelo Espírito, mas então estaremos naquela vida em sua plenitude. Por outro lado, o apóstolo João fala da vida eterna no crente como uma possessão presente (Jo 3:15 etc.), embora também a mencione em seu sentido futuro (Jo 4:36, 12:25)[3].




 [1] N. do T.: Evangelhos sinópticos ou sinóticos é um termo que designa os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de relatos em comum, na mesma sequência, e algumas vezes utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras.

 [2] N. do T.: O Concise Bible Dictionary diz: “Aquele que tem o Filho de Deus, portanto, tem vida agora (a possessão presente) e sabe disso pelo Espírito Santo, o Espírito da vida. O apóstolo João fala da vida como um estado subjetivo nos crentes, embora inseparável do conhecimento de Deus plenamente revelado como o Pai no Filho, e de fato caracterizado por isso. O Senhor disse a Seu Pai: “a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). O apóstolo Paulo apresenta a vida eterna mais como uma esperança diante do Cristão (a possessão futura), que, no entanto, tem um efeito moral presente (Tt 1:2, 3:7). Disso obtemos que a vida eterna para o Cristão se dirige à sua plenitude para a glória de Deus, quando o corpo atual como parte da velha criação será transformado, e haverá total conformidade a Cristo, de acordo com o propósito de Deus. Nesse meio tempo, a mente de Deus é que o Cristão, habitado pelo Espírito Santo, saiba (tenha o conhecimento consciente) que ele tem a vida eterna (1 Jo 5:13).

  [3] N. do T.: Todas as versões da Bíblia em português não fazem qualquer distinção entre o caráter presente e o futuro da vida eterna como o fazem as versões de J. N. Darby e William Kelly. Na tradução de J. N. Darby os versículos que se referem ao caráter presente (que traduzem como eterna vida) são: Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:30; Lc 10:25, 18:30; Jo 3:15, 16, 36, 4:36, 5:24, 39, 6:27, 40, 47, 54, 68, 10:28; 12:25, 50, 17:2; Rm 2:7; 1 Tm 1:16; 1 Jo 2:25. A tradução de William Kelly ainda acrescenta à lista acima quatro versículos (1 Jo 3:15, 5:11, 13, 20) que se referem ao caráter presente da vida eterna. Os versículos seguintes se referem ao caráter futuro (que traduzem como vida eterna): Mc 10:17; Lc 18:18; Jo 4:14, 17:3; At 13:46, 48; Rm 5:21, 6:22, 23, Gl 6:8; 1 Tm 6:12; Tt 1:2, 3:7; 1 Jo 1:2; Jd 21.

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