segunda-feira, 7 de agosto de 2017

REINO, O



REINO, O – Esse termo tem a ver com a esfera da autoridade do Senhor de várias maneiras em conexão com os homens na Terra. Há pelo menos dez expressões diferentes na Escritura sobre o reino retratando seus diferentes aspectos. Não é que existam dez reinos, mas sim dez aspectos ou caracteres distintivos de um único reino (Precious Things, vol. 3, pág. 227):

1) O Reino de Deus


Esse termo, mencionado mais de 70 vezes na Escritura, tem a ver com o estado moral que Deus forma nos súditos do reino. Ou seja, quando esse termo é usado, está enfatizando a ordem moral que deve ser encontrada nos caminhos e maneiras daqueles que estão no reino. Em Romanos 14:17, o apóstolo Paulo define esse aspecto do reino não como sendo rituais e cerimônias religiosas exteriores (“não é comida nem bebida”), mas sim como características morais (“justiça, paz e alegria no Espírito Santo”) que Deus produz em Seu povo.
Essas características são vistas na resposta que o Senhor deu aos que estavam esperando o estabelecimento do reino de Deus. As pessoas achavam que ele viria com uma aparência exterior de poder político e bênção material. No entanto, o Senhor explicou que o reino já tinha vindo e estava sendo manifestado “entre” eles, como demonstrado em Sua vida, porque Ele exemplificava perfeitamente os traços morais do reino em Seus caminhos e maneiras (Lc 17:20-21).
Uma pessoa entra no reino de Deus pelo novo nascimento (Jo 3:5). Receber uma nova vida e a natureza de Deus (por meio do novo nascimento) permite que uma pessoa viva de acordo com a ordem moral do reino. Sem isso, uma pessoa não pode manifestar corretamente os traços morais do reino de Deus em sua vida, nem pode entendê-los e apreciá-los quando manifestados em outros (Jo 3:3). Enquanto uma pessoa precisa entrar no reino, em realidade, por um novo nascimento, é possível que alguém exiba de uma forma exterior as características morais do reino de Deus sem ser um verdadeiro crente. Lucas 13:18-21 indica essa hipocrisia. Uma grande mostra exterior de fé desenvolveu-se entre os homens na ausência do Senhor, misturada com muita má doutrina. No Milênio, o reino será marcado pelas características morais apropriadas em seus súditos.

2) O Reino dos céus


Esse é um termo encontrado apenas no evangelho de Mateus – ocorrendo 33 vezes. Refere-se ao reino que foi prometido nas Escrituras do Velho Testamento que o Messias de Israel estabeleceria na Terra, tendo sua sede de governo nos céus (Gn 49:10; 2 Sm 7:12-13; Dn. 2:44). Não é um reino nos céus, como geralmente se pensa, mas sim um reino na Terra com a sede do seu governo nos céus (Sl 103:19). Os profetas de Israel descrevem esse reino tendo condições ideais inimagináveis. (Veja: O Milênio)
A Escritura indica que, pelo fato de os judeus terem rejeitado o seu Messias, o estabelecimento do “reino dos céus”, com suas bênçãos exteriores, seria postergado (Dn 9:26; Mq 5:2-3; Zc. 11:4-14). A história atesta esse fato, pois por quase dois mil anos, desde que os judeus crucificaram seu Messias, virtualmente nada se materializou para eles com relação ao estabelecimento do reino, como prometido no Velho Testamento.
Deus não foi frustrado por essa rejeição de Cristo; Ele planejou que, nesse meio tempo, o Senhor Jesus estabeleceria “o reino dos céus” na forma de mistério. Isso pode ser visto ao se traçar o esboço do evangelho de Mateus. Nos capítulos 1-10, o Senhor Se apresentou à nação como seu Messias. Esses capítulos demonstram que Ele tinha todas as credenciais, bem como o poder de introduzir o reino de acordo com a descrição dada pelos profetas do Velho Testamento. No entanto, as pessoas comuns (cap. 11) e os líderes (capítulo 12:24-45; Mc 3:22) O rejeitaram. Consequentemente, nos capítulos 12-13, com algumas ações e ensinamentos simbólicos, o Senhor indicou que cortaria Suas relações com a nação (temporariamente) e conduziria o reino com esse caráter místico. Assim, o reino dos céus passaria por uma fase mística (Mt 13:10-17) antes de ser finalmente estabelecido em uma manifestação pública quando da Aparição de Cristo, como prometida pelos profetas de Israel. Essas duas fases podem ser distinguidas como:
  • O reino em mistério (Mt 13:11).
  • O reino em manifestação (1 Jo 3:2 – JND – nota de rodapé). 
A parábola em Lucas 19:11-27 indica que o Senhor recebeu o reino quando Ele ascendeu ao céu após a Sua morte e ressurreição. O “nobre” na parábola (Cristo) entrou em “terra remota” (céu) para receber um reino (v. 12). Assim, a fase em mistério do reino dos céus teve seu início naquele momento. Estando em forma de mistério neste momento presente, não parece existir um reino em andamento. Por todas as aparências exteriores, parece que Deus não está fazendo nada neste mundo. Atualmente, o reino está em uma forma de mistério porque:
  • Não tem um Rei visível.
  • Não tem um centro terreno, geográfico e administrativo.
  • Não possui fronteiras territoriais.
  • A maioria dos seus súditos professos não considera a autoridade do Rei e vive como se não houvesse Rei. 
Independentemente dessas peculiaridades, a fé vê o Rei (o Senhor Jesus) no Seu trono hoje em Seu reino. Como bons súditos do reino, a fé leva o crente a viver de acordo com os princípios do reino, conforme dados no Sermão da Montanha (Mt 5-7), até o momento em que o reino passe para a fase de manifestação pública.
Uma pessoa entra no reino em sua forma de mistério ao professar conhecer o Senhor Jesus Cristo, mas o modo formal de entrada é por meio do batismo. Assim, “o reino dos céus” é a esfera da profissão Cristã. Inclui aqueles que são crentes verdadeiros e aqueles que meramente professam fé em Cristo.
De Mateus 13 a 25, o Senhor mostrou dez semelhanças do reino dos céus em sua fase de mistério. Essas semelhanças apresentam uma descrição abrangente do caráter que o reino teria no presente dia em que o Rei está ausente. O ponto dessas parábolas especiais não é conciliar a revelação Cristã da verdade (dada nas epístolas) com o que é apresentado nas semelhanças. Cada uma delas tem um ponto de destaque que o Senhor quer que entendamos, mas elas não necessariamente incorporam todas as doutrinas do Cristianismo em si mesmas. Por exemplo, Deus, e não o Senhor Jesus, é visto como o Rei nas 7ª e 9ª semelhanças. Além disso, nas 9ª e 10ª semelhanças, os crentes são vistos como convidados para o casamento e não como a noiva. A noiva em ambas as semelhanças não é o foco do ensinamento do Senhor, e, portanto, não está na figura. Portanto, é importante se concentrar no ponto de destaque que o Senhor enfatiza em cada uma delas, ao invés de tentar conciliar a doutrina Cristã com os detalhes de cada parábola.
As dez semelhanças podem ser divididas em três grupos: o primeiro grupo (da 1ª à 3ª) nos diz o que Satanás está fazendo no reino. O próximo grupo (4ª à 6ª) nos diz o que o Senhor está fazendo no reino, apesar do trabalho de Satanás. O último grupo (7ª à 10ª) nos diz o que deveríamos estar fazendo no reino como bons súditos.
  • Semelhança 1 – Satanás está introduzindo pessoas más (“joio”) no reino (Mt 13:24-30, 37-43).
  • Semelhança 2 – Satanás está introduzindo espíritos malignos (“aves”) no reino (Mt 13:31-32).
  • Semelhança 3 – Satanás está introduzindo más doutrinas (“fermento”) no reino (Mt 13:33).
  • Semelhança 4 – O Senhor está assegurando indivíduos (um “tesouro”) para Si mesmo (Mt 13:44).
  • Semelhança 5 – O Senhor está chamando a Igreja (a “pérola”) a um custo elevadíssimo para Si mesmo (Mt 13:45-46).
  • Semelhança 6 – O Senhor está salvando almas pelo evangelho (a “rede”) e colocando-os em assembleias locais (“cestos”) (Mt 13:47-50).
  • Semelhança 7 – Devemos manter um estado de alma correto em relação ao Senhor e ter um espírito perdoador para com nossos irmãos, temendo os tratamentos governamentais de Deus em nossa vida (Mt 18:23-35).
  • Semelhança 8 – Devemos servir voluntariamente na vinha do Senhor sem competição, ciúme ou queixa (Mt 20:1-16).
  • Semelhança 9 – Devemos anunciar o evangelho para o mundo, apesar de o Senhor ter sido rejeitado (Mt 22:1-14).
  • Semelhança 10 – Devemos estar esperando a iminente volta do Senhor (Mt 25:1-13).
Como mencionado, “o reino dos céus” passará para a sua fase de manifestação na Aparição de Cristo (Dn 2:31-45, 7:9-28). O reino nesse aspecto será introduzido pelo poder de Deus em julgamento (Is 26:9; At 17:31). A primeira coisa que o Senhor fará será purificar o reino dos céus da mistura que existe nele há muitos séculos. Aqueles que meramente professam ser crentes e aqueles que abandonaram a fé em Deus (apóstatas) serão retirados em julgamento pelos anjos (Mt 13:40-43, 24:40-41; Ap 19:20). Muitos deles professaram sujeição ao Rei, mas não creram no evangelho da graça e da glória de Deus.

3) O Reino do Filho do Homem


Quando o reino dos céus passar para sua plena manifestação no Milênio, Cristo reinará publicamente como “o Filho do Homem” (Mt 13:41). Haverá duas esferas no reino – uma celestial e uma terrenal. A esfera terrenal do reino é chamada o reino do Filho do Homem (Mt 13:41, 16:28, 19:28, 20:21; Lc 22:30, 23:42; 2 Tm 4:1; Hb 1:8; Ap 3:21, 20:4) e será composta do remanescente de Israel e das nações dos gentios (Zc 2:11; Ap 2:26-27, 21:24).

4) O Reino de Seu Pai


Esse termo refere-se à esfera celestial do reino no dia do reinado público de Cristo no Milênio (Dn 7:18, 22, 27 (“os santos dos lugares mais altos – JND), Mt 6:10, 13:43, 26:29; 1 Ts 2:12; Hb 12:28). Em Mateus 13:43, o Senhor usou a figura do “Sol”, que é um corpo celeste, para descrever aqueles da esfera celestial do reino. Os “justos” que “resplandecerão” não são aqueles que serão deixados na Terra, depois que os anjos tiverem levado os impuros em julgamento, mas os que foram recolhidos no “celeiro”, no céu (Mt 13:30).
Essa esfera celestial do reino será composta de santos do Velho Testamento ressuscitados (“o espírito dos homens justos tornado perfeitos” – Hb 12:22-23 – JND; Mt 8:11; Lc 13:28), por aqueles que morreram abaixo da idade de responsabilidade e ressuscitaram (Mt 18:10), por aqueles que fazem parte do ressuscitado remanescente judeu martirizado (Ap 11:11-12, 14:13, 20:4), e pela Igreja – “os mortos em Cristo” que serão ressuscitados e os santos vivos que serão arrebatados (1 Ts 4:15-18; Fp 3:20-21). Estes santos celestiais reinarão com Cristo sobre a Terra no dia Milenar (Hb 12:22-23; Ap 3:21). O tempo em que os santos celestiais reinarão acabará no final do Milênio (Ap 20:4). Apocalipse 22:5 confirma isso, quando afirma: “Eles reinarão até os séculos dos séculos” (JND), isto é, reinarão até ao Estado eterno.

5) O Reino do Filho de Seu Amor (Cl 1:13)

Esse termo descreve a única regra de vida que prevalece para aqueles que estão no reino agora, que têm a posição especial de serem “filhos” – isto é, Cristãos (Rm 8:14-15; Gl 4:5; Ef 1:5). Eles estão tão próximos de Deus quanto o próprio Filho está (Ef 1:6) e são tão amados pelo Pai como o próprio Filho é (Jo 17:23).

6) O Reino do mundo do Nosso Senhor e do Seu Cristo (Ap 11:15)

Esse termo refere-se à autoridade do senhorio de Cristo sendo estabelecida em todo o mundo pelo poder de julgamento na Sua Aparição. Esse aspecto do reino corresponde a “o dia do Senhor”, quando Ele afirma publicamente o Seu poder e autoridade universal sobre todos os homens (Is 2:10-22; Jr 46:10; Jl 1:15; Zc 2:2-3; Ml 4:5; 1 Ts 5:2; 2 Ts 2:2; 2 Pe 3:8-10).

7) O Reino de Cristo e de Deus (Ef 5:5)

Esse aspecto do reino tem a ver com a exibição da glória de Cristo no Milênio. Ele corresponde a “o dia de Cristo”, que enfatiza a manifestação de Sua glória e a manifestação das recompensas dos santos celestiais (Jo 8:56; 1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fp 1:6, 10, 2:16; 2 Ts 1:10).

8) O Reino de nosso pai Davi (Mc 11:10)

Esse aspecto do reino vê Israel como o centro das operações de Deus na Terra.

9) O Reino celestial (2 Tm 4:18)

Isso tem a ver com o destino dos santos celestiais. 

10) O Reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 1:11)

Esse aspecto enfatiza a longevidade do reino que, literalmente, durará até o fim dos tempos, de forma inimitável pelo homem. “Eterno” nesse versículo não significa “que dura para sempre”, mas sim que ele continua até o fim do tempo. Ou seja, o reino existirá enquanto houver tempo passando – o que será até o fim do Milênio. (A palavra “para sempre” é usada da mesma maneira em muitos lugares do Velho Testamento). Assim, o reinado dos santos com Cristo, no governo do mundo vindouro, continuará até os séculos dos séculos”, que é até o Estado Eterno (Ap 22:5 – JND). Quando o Estado Eterno começar, não haverá mais necessidade de reinar e controlar poderes adversos que possam surgir, como acontece num reino.
G. Davison disse: “Esse título nos assegura que, uma vez que o reino tenha sido estabelecido em poder, nunca mais será sucedido por outro, pois ele durará enquanto durar o tempo. Isso não significa que o reino continuará para sempre no Estado Eterno, mas sim que ele não terá um sucessor. Os reinados são estabelecidos para manter poderes adversos em sujeição, bem como proteger seus súditos. Na verdade, um é o resultado do outro, mas, como não há poderes adversos no Estado Eterno, o reino não será necessário. Isso é claro a partir de 1 Coríntios 15:24-26” (Precious Things, vol. 1, Answers to correspondence – July/Aug).
No final do tempo, o Senhor entregará o reino ao Pai, para Se dedicar à Sua noiva (1 Co 15:24-28). Tendo recebido o reino das mãos de Deus, O Senhor o devolverá a Deus com uma glória aumentada. Todos os administradores na história não conseguiram manter a esfera de autoridade em que reinaram; nem Adão, nem Davi, nem Salomão, nem os monarcas gentios. Quando o Senhor receber o reino, “os inimigos” não estarão todos “aniquilados”, mas quando Ele o entregar ao Pai no “fim”, todos estarão em plena sujeição a Deus. Isso diferencia Cristo de todos os outros como sendo o maior Administrador de todos os tempos.

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Muitos Cristãos confundem o reino com a Igreja e, consequentemente, usam frases não bíblicas como “o reino da Igreja”. No entanto, o reino não é sinônimo de Igreja pelas seguintes razões:
Em primeiro lugar, o reino em mistério abrange um período de tempo maior do que o tempo da Igreja na Terra. Tem maior duração, com início dez dias antes da Igreja, quando o Senhor voltou para o céu (Lc 19:12; At 1:9-11). E também continuará em sua fase de mistério após a Igreja ser levada para o céu, até o final da 70ª semana de Daniel, cerca de sete anos após o Arrebatamento.
Em segundo lugar, o reino é mais amplo do que a Igreja no que se refere aos seus súditos. Como já vimos, o reino no presente momento tem “joio” (meros professos) e “trigo” (verdadeiros crentes), enquanto que a Igreja é composta apenas de verdadeiros crentes. As pessoas podem se juntar a uma assim chamada denominação da igreja e estar no seu livro de membros, mas, se não forem salvas por fé em Cristo, elas não fazem parte da Igreja de Deus.
Em terceiro lugar, Cristo é o Rei em Seu reino e somos Seus servos, mas a Escritura nunca fala d’Ele como o Rei da Igreja. Porém, Ele é a Cabeça da Igreja e os crentes são membros de Seu corpo (1 Co 12:12-13; Cl 1:18).
Em quarto lugar, Mateus 16:19 nos diz que a Pedro foram dadas “as chaves do reino dos céus”, não as chaves da Igreja. Essas chaves são o batismo e o discipulado. Por essas duas coisas, alguém entra no reino exteriormente, mas elas não fazem de alguém parte da Igreja. A entrada na Igreja de Deus é apenas por alguém nascer de Deus e ser selado com o Espírito Santo (Jo 3:5; Ef 1:13, 4:4).
Por fim, da comunhão da Igreja devemos tirar o fermento, colocando fora de comunhão a pessoa ou pessoas em quem ele for encontrado (1 Co 5:11-13). No reino dos céus (em mistério), os malfeitores e o fermento não são removidos, mas lhes é permitido continuar “até a ceifa” (Mt 13:28-30).





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