sábado, 13 de maio de 2017

DISCIPLINA


DISCIPLINA – Disciplina significa “abrir o entendimento pela correção” (Jó 36:10). Toda disciplina, se vem da mão de Deus, é boa, pois Ele é a fonte de todo o bem. Existem duas classes de disciplina:
  • Disciplina de edificação de caráter.
  • Disciplina corretiva.

Sob a categoria de edificação de caráter, a disciplina deve ser vista como um treinamento divino na escola de Deus. Há pelo menos três tipos de treinamento divino – cada um começando com a letra P:

1) Disciplina preparatória

Tem a ver com uma ação de Deus preparando Seus servos para uma obra específica à qual Ele os chamará. Assim como um atleta é preparado por treinamento, Deus treina Seu povo para o serviço ao qual Ele os chama. Um exemplo desse tipo de treinamento divino é visto no que Paulo disse aos Coríntios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar [encorajar – JND] os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação [encorajamento – JND] com que nós mesmos somos consolados [encorajados – JND] de Deus” (2 Co 1:3-6). Isso mostra que Deus coloca Seu povo em certas situações difíceis para que aprendam por elas sobre Sua compaixão e conforto por meio de uma experiência prática. Essas experiências com o Senhor amolecem nosso coração (Jó 23:16) e nos enchem de compaixão pelos outros, e deixando-nos mais inclinados a nos compadecer, confortar e encorajar aqueles que estão passando por provações. Assim, as experiências que passamos na vida têm uma maneira de nos preparar para uma certa linha de serviço na qual o Senhor vai nos usar.
O Senhor Jesus Cristo experimentou esse tipo de treinamento disciplinar em Sua vida que O preparou (pelos sofrimentos que Ele experimentou) para ser nosso “misericordioso e fiel Sumo Sacerdote” (Hb 2:17-18, 4:15, 5:8).

2) Disciplina purificativa

Às vezes chamada de disciplina “produtiva”, tem a ver com a obra de Deus de remoção das falhas de caráter e traços em nossa personalidade que não sejam semelhantes a Cristo. Há falhas de caráter em cada Cristão que impedem, de alguma forma, que Cristo possa ser visto neles. Essas coisas não são pecados propriamente, mas são traços de caráter em nossa personalidade que talvez nem sejamos conscientes deles. Mesmo que não possamos estar cientes dessas coisas em nosso caráter, Deus as vê (e nossos irmãos também, muitas vezes), e Ele Se ocupa em remover essas falhas por meio de Sua disciplina purificativa. Ele o faz usando as provações e tribulações que tocam nossa vida. Essas disciplinas não formam Cristo em nós – o que se dá somente quando nos ocupamos com Ele (2 Co 3:18) – mas elas têm o objetivo de nos fazer ver a nós mesmos mais claramente, e assim sermos levados a nos julgar. Tão logo essas qualidades indesejáveis forem removidas de nossa personalidade, Cristo será visto em nós com mais nitidez.
Vemos esse tipo de disciplina na vida de Jó. Ele era “sincero [perfeito – JND], reto e temente a Deus, e desviava-se do mal” (Jó 1:1). Isso mostra claramente que o problema de Jó não estava em suas ações – ele certamente não estava fazendo nada de errado que pudesse ser visto em sua vida – era sua atitude que precisava de ajuste. Ele tinha uma atitude de autoestima que o Senhor removeu por meio das provações que experimentou. O Senhor usou as provações que o afligiram como uma disciplina purificativa. No final, Jó viu o que o Senhor estava tentando mostrar, e ele se abominou, e se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6). Ao julgar-se a si mesmo, ele era uma pessoa melhor por causa da disciplina. Assim, por meio desse tipo de disciplina, Deus fez um bom homem ser melhor! Podemos pensar que as atitudes não são tão importantes, mas Deus vê de outra forma, e Ele fará o possível para corrigir um espírito errado em Seus filhos, pois Ele é “o Pai dos espíritos” (Hb 12:9).
Várias figuras são usadas na Escritura para indicar esse processo de remoção das imperfeições em nossos caminhos e maneiras. Davi disse: “Cercas o meu andar” (Sl 139:2-3). Cercar (ou peneirar, separar – KJV margem) é o processo de remover a palha do trigo. Salomão disse: “Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor” (Pv 25:4). Escórias são as impurezas em metais preciosos que o ourives remove por meio do calor intenso. Jeremias disse que o vinhateiro remove o sedimento de seu vinho, mudando-o cuidadosamente de “vaso para vaso” (Jr 48:11). O Senhor disse que o Pai “limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:1-2). Isso se refere ao processo de poda que os lavradores fazem para ter um maior rendimento em sua vinha. O escritor de Hebreus, disse: “tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos: não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade” (Hb 12:9-10). Isto refere-se à criação e admoestação (Ef 6:4) que um pai terreno emprega para corrigir seus filhos que têm um espírito incorreto, o mesmo que o Senhor semelhantemente faz conosco.

3) Disciplina preventiva

Este tipo de disciplina tem a ver com o benefício que recebemos com as dificuldades e provas pelas quais passamos em nossa vida e que resultam em nossa preservação. A dependência expressa pela oração e o andar em humildade com o Senhor são essenciais para sermos preservados no caminho de fé. Quando começamos nossa vida Cristã, geralmente não há nela bastante desse bem precioso, e estamos sujeitos a cair sob um ataque do inimigo de nossa alma. Conhecendo nosso estado e nossas necessidades espirituais muito melhor do que nós, Deus, em perfeita sabedoria, permite certas provações e dificuldades em nossa vida para nos exercitar e, se recebidas adequadamente, irão nos preservar no caminho (Sl 18:30; Rm 8:28). Essas provações e dificuldades têm um modo de nos manter em constante exercício para nos lançar sobre o Senhor em humilde dependência. O resultado é que somos preservados de andar descuidados e independentes. A fórmula para cair de nossa firmeza (2 Pe 3:17) é andarmos descuidados e independentes.
Paulo mencionou este tipo de disciplina para os coríntios falando: “para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” (2 Co 12:7-9). Essa disciplina foi dada a Paulo para mantê-lo humilde e dependente, de modo que não ficasse inchado pelo orgulho e fosse levado pela autoestima – o que certamente o levaria à queda (Pv 16:18). Assim, o Senhor usou essa aflição como uma disciplina preventiva para preservar Paulo como um vaso útil em Seu serviço. Se o apóstolo Paulo precisou disso, certamente também precisamos.

4) Disciplina punitiva

O quarto tipo de disciplina é a corretiva, que o Senhor determina na vida de um Cristão desobediente por causa de um curso de pecado em que está andando. Ela é enviada por Ele como algo punitivo e é projetado para quebrar a vontade do Cristão desobediente, e assim corrigi-lo e restaurá-lo. Embora Jonas não fosse Cristão, a experiência dele com o Senhor é um exemplo. Este tipo de disciplina emana do coração de Deus em amor (Hb 12:6). Seu amor é tal que Ele não permitirá que Seus filhos desobedientes continuem indefinidamente em um curso intencional de pecado. Custe o que custar, Ele trará de volta o Cristão que se desviar – mesmo que seja no seu leito de morte.
Paulo se referiu a esse tipo de disciplina quando disse: “quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). O julgamento e castigo a que Paulo se refere aqui é o governamental. Alguns dos coríntios tinham sentido a mão de Deus dessa maneira punitiva – havia doentes e alguns foram levados pela morte (1 Jo 5:16). Eliú também lembrou a Jó desse aspecto da disciplina de Deus (Jó 36:9-12). Isso poderia vir sobre nós pela mão de nossos irmãos em uma ação administrativa em nome do Senhor. Paulo lançou um par de blasfemadores fora da assembleia, de tal forma que eles “aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20).
Quando somos castigados dessa maneira, existe o perigo de “subestimar” a disciplina e considerá-la como sendo algum outro tipo de disciplina, e então perdermos o que o Senhor está nos dizendo. J. N. Darby disse: “Não duvido que uma grande parte das doenças e das provações dos Cristãos sejam castigos enviados por Deus por causa de coisas que são más à Sua vista, que a consciência deveria ter prestado atenção, mas as negligenciou. Deus foi forçado a produzir em nós o efeito que o julgamento próprio deveria ter produzido antes da Sua ação. No entanto, não é verdade supor que todas as aflições são disciplinares. Embora sejam assim às vezes, elas nem sempre são enviadas por causa de pecado” (Collected Writings, vol.16, pág. 175).

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