segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

SANTOS E PECADORES


SANTOS & PECADORES – Um “santo” é “alguém separado” ou “alguém santificado”. Todos os que conhecem o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador são santificados (posicionalmente) e, portanto, são santos.
Romanos 1:7, em algumas versões, diz: “Chamados para serem santos”, mas as palavras “para serem” estão em itálico, indicando que não estão no texto grego e foram adicionados pelos tradutores para ajudar a leitura da passagem. Infelizmente, isso muda o significado e faz da santidade um objetivo a ser alcançado em algum momento no futuro. (Este é um erro católico romano. Eles ensinam que se uma pessoa se mantém fiel a esse sistema, depois que deixa este mundo pela morte, pode ser promovida para a posição especial de ser santo). O texto deve simplesmente ser lido “chamados santos”. Isso significa que uma pessoa se torna um santo obedecendo à chamada do evangelho. Não é algo que esperamos ser, mas algo que a Palavra de Deus diz que somos pela graça de Deus. Não há uma Escritura sequer que nos diga para tentar alcançar a santidade, mas há Escrituras que nos dizem que todos os crentes são santos, mesmo enquanto ainda vivem neste mundo. No entanto, algumas pessoas pensam que é um sinal de humildade se recusar a já se chamar a si mesmos santos, mas não é orgulho nem presunção crer na Palavra de Deus. Na verdade, um crente que se recusa a se chamar santo está, de fato, negando a verdade da Escritura.
Um “pecador”, na Escritura, é uma pessoa que não é salva. No entanto, quando alguém é justificado, é libertado de todas as acusações do pecado por ser trazido para uma nova posição diante de Deus, na qual Deus já não o vê na posição de pecador, mas sim como um santo. Portanto, crentes falarem de si mesmos como “pobres pecadores” está abaixo da dignidade de sua posição perante Deus e isso, realmente nega a verdade do que somos como filhos de Deus. Em certo sentido, diminui o valor da obra de Cristo que nos salvou e nos colocou nessa nova posição de favor como “santificados em Cristo Jesus” (1 Co 1:2). Não estamos dizendo que os Cristãos não deveriam usar o termo “pecadores” em relação a si mesmos, mas que devemos dizer que já fomos pecadores.
W. Kelly disse: “Algumas pessoas falam de ‘um pecador crente’, ou falam de adoração oferecida a Deus por ‘pobres pecadores’. Muitos hinos, de fato, nunca colocam a alma para além desta condição. Mas o que se entende por ‘pecador’ na Palavra de Deus é uma alma completamente sem paz, uma alma que pode talvez sentir a sua necessidade de Cristo, sendo vivificada pelo Espírito, mas sem o conhecimento da redenção. Não é correto negar o que os santos são à vista de Deus” (Lectures on the Epistle to the Galatians, pág. 47).
O Sr. Kelly também disse: “Existe entre muitas pessoas evangélicas um mau hábito de falar sobre ‘pecadores salvos’. Para mim, não é apenas inexato, mas enganoso e perigoso. A Escritura não reconhece algo como um ‘pecador salvo’. Podemos nos alegrar por um ‘pecador salvo’ se conhecemos a misericórdia em nossa alma, mas se consentirmos com a frase – um ‘pecador salvo’, o efeito moral disso é que, embora já salvo, ele ainda é livre para pecar... É perfeitamente verdade que, quando Deus começa a tratar com alguém, certamente começa com ele sendo um pecador, mas Ele nunca termina aí. Não conheço nenhuma parte da Palavra de Deus em que um crente, a não ser talvez em um estado de transição, seja chamado de ‘pecador’.... É evidente que ser um santo e pecador ao mesmo tempo é simplesmente uma clara contradição. Em suma, a Sagrada Escritura não sanciona tal combinação, e quanto mais cedo nos livrarmos de tais frases, que não merecem um nome melhor do que uma hipocrisia religiosa, será melhor para todos” (Lectures Introductory to the New Testament, págs. 213- 214).

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Há uma exceção em Tiago 5:19-20, onde ele chama um crente que falha de “pecador”, mas não no sentido de sua posição, como Paulo e Pedro usam o termo. Tiago está falando sobre o que caracteriza um crente que persiste em seguir um curso de pecado em sua vida.

JUSTIÇA DE DEUS, A



JUSTIÇA DE DEUS, A – Ela tem a ver em como Deus é capaz de salvar os pecadores sem comprometer o que Ele é em Si mesmo. “A justiça de Deus” diz respeito à ação de Deus em amor para salvar os pecadores, mas, ao mesmo tempo, não comprometendo o que Ele é como Deus santo e justo (Rm 3:21).
O pecado do homem aparentemente colocou Deus em um dilema. Como “Deus é amor” (1 Jo 4:9), Sua própria natureza invoca a bênção do homem, pois Ele ama a todos (Jo 3:16). Mas, ao mesmo tempo, “Deus é luz” (1 Jo 1:5), e assim Sua santa natureza exige que, com justiça, o homem seja julgado pelos seus pecados (Hb 2:2). Se Deus agisse de acordo com o Seu coração de amor e trouxesse os homens à bênção sem tratar com os pecados deles, Ele deixaria de ser santo e justo. Por outro lado, se Deus agisse de acordo com a Sua natureza santa e julgasse os homens de acordo com as reivindicações da justiça divina, todos os homens seriam justamente enviados para o inferno, e nenhum seria salvo – e o amor de Deus permaneceria desconhecido. Como Deus então pode salvar os homens e ainda permanecer justo? O evangelho anuncia isso. Ele declara a justiça de Deus e revela a boa notícia de que Ele encontrou um modo de satisfazer Suas santas reivindicações contra o pecado e, assim, conseguir alcançar em amor os pecadores que creem para a salvação. Assim, Deus é apresentado no evangelho como sendo “Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26).
Muitos Cristãos têm a ideia de que a justiça de Deus é algo que é transmitido, ou colocado sobre ou dado ao crente. No entanto, a Escritura não a apresenta dessa maneira. Simplificando, a justiça de Deus se refere a um ato de Deus, não algo que Ele transmite aos homens quando creem. Se Deus nos desse Sua justiça quando fossemos salvos, então Ele ficaria sem ela! W. Scott disse: “É a justiça de Deus, não a do homem. Deus não pode imputar aquilo que é inerente a Si mesmo em Seus tratos com os homens” (Unscriptural Phraseology, pág. 10). É verdade que Deus a tem dado (Rm 5:17), mas isso é no sentido de tê-la garantido ou providenciado para a humanidade, em Cristo, o Homem ressuscitado e glorificado. Assim, Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça” (1 Co 1:30), e nós “para que n’Ele fôssemos feitos justiça de Deus” para testemunho ao mundo (2 Co 5:21). Mas a justiça de Deus não é algo que foi enviado do céu e colocado sobre o crente, como alguns pensam.
W. Scott também disse: “Não se trata de colocar uma quantidade de justiça dentro ou sobre um homem” (Doctrinal Summaries, pág. 15).
J. N. Darby observou: “O reconhecimento do homem como sendo justo é a sua posição diante de Deus, e não a quantidade de justiça transferida a ele” (Collected Writings, vol. 23, pág. 254).
F. B. Hole disse algo semelhante: “Não devemos ler essas palavras [‘a justiça de Deus’] com uma ideia comercial em nossa mente, como se quisessem dizer que chegamos a Deus trazendo uma porção de fé para a qual recebemos em troca o equivalente em justiça, assim como um comerciante troca bens por dinheiro” (Outlines of Truth, pág. 5).
Algumas traduções modernas, infelizmente, dizem: “justiça que vem de Deus” (Rm 1:17, 3:21-22, 10:3, Fp 3:9). Estas são traduções incorretas que fazem com que as pessoas pensem que é algo que Deus transmite ou dá aos crentes quando creem no evangelho.
A justiça de Deus mostra o que Deus tem feito ao tomar a questão do pecado e resolvê-la para Sua própria glória e para a bênção do homem. Ele enviou Seu Filho para ser aqu’Ele que levaria sobre Si o pecado, e em Sua morte, Deus julgou o pecado de acordo com a Sua santidade. O Senhor Jesus tomou o lugar do crente diante de Deus e levou seus pecados (o julgamento deles) “em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pe 2:24). Sua obra “consumada” na cruz (Jo 19:30) satisfez plenamente as reivindicações da justiça divina e pagou o preço pelos pecados do crente. Assim, Deus não comprometeu o que Ele é como Deus santo e justo ao estender a bênção ao homem. O amor de Deus veio aos homens com a boa notícia de que Ele pode, sobre uma base justa, redimir, perdoar, justificar e reconciliar o pecador que crê.

domingo, 10 de dezembro de 2017

RESSURREIÇÃO



RESSURREIÇÃO – O homem é um ser tripartido – tendo um espírito, uma alma e um corpo. A morte física ocorre quanto o espírito e a alma se separam do corpo (Tg 2:26). A ressurreição, por outro lado, envolve a reunião da alma e do espírito com o corpo. A Escritura diz: “todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15:22). O “todos” nesta passagem refere-se a todos da raça humana – independentemente de serem salvos ou perdidos. Todos os mortos ressuscitarão, embora não todos ao mesmo tempo. Na verdade, há duas ressurreições: uma que envolve “os justos” e outra envolvendo “os injustos” (Jo 5:26-30; At 24:15; Ap 20:5, 12-13). A Escritura indica que essas duas ressurreições ocorrerão com cerca de mil anos de diferença. Isso é algo que os santos do Velho Testamento não conheciam; eles só conheciam a ressurreição de uma maneira geral (Jo 11:24). O evangelho trouxe luz sobre esse assunto e agora sabemos que há duas ressurreições (2 Tm 1:10).
A primeira ressurreição, referindo-se aos justos, é mencionada como a ressurreição “de entre os mortos” na tradução de J. N. Darby. Assim, ela é seletiva; os justos que morreram serão selecionados de entre os mortos injustos e serão ressuscitados. Essa ressurreição foi ensinada pela primeira vez pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 17:9) e depois pelos apóstolos (Rm 6:4; 1 Co 15:20; Ef 1:20; Fp 3:11, Cl 1:18 etc.). A primeira ressurreição tem três fases:
  • “Cristo, as primícias” (1 Co 15:23a). Isso aconteceu quando o Senhor ressuscitou de entre os mortos (Mt 28:1-6). O caráter de Sua ressurreição é uma amostra daquilo que acontecerá também com os justos. Por isso, Ele é “as primícias” dessa ressurreição.
  • “Os que são de Cristo, na Sua vinda” (1 Co 15:23b). Isso se refere aos santos do Velho e do Novo Testamento que serão ressuscitados no Arrebatamento (1 Ts 4:15-18; Hb 11:40).
  • Os judeus e gentios fiéis que morrerem durante a 70ª semana de Daniel serão ressuscitados no final da grande tribulação, completando assim a primeira ressurreição (Ap 14:13).
Os Cristãos geralmente falam da ressurreição e da imortalidade quando os santos receberem “novo” corpo, mas isso não é biblicamente correto. A Escritura não diz que os santos receberão “novo” corpo, mas sim que o corpo deles será “transformado” (Jó 14:14; 1 Co 15:51-52; Fp 3:21). O próprio corpo no qual os santos viveram será ressuscitado, mas em uma condição completamente diferente – glorificado (Lc 14:14; Jo 5:28-29; 1 Co 15:51-55; 1 Ts 4:15-16 etc.). Isso é afirmado claramente em 1 Coríntios 15:42-44, ao dizer que o mesmo corpo que é “semeado” na terra, no enterro, ressuscitará novamente. Observe o uso da palavra “o corpo” na passagem, referindo-se à semeadura e à ressurreição. Se os santos recebessem “novo” corpo quando o Senhor viesse, então não haveria necessidade de o Senhor ressuscitar o corpo dos santos no qual eles já viveram. Se tomarmos essa ideia equivocada e avançarmos para a conclusão lógica, ela realmente negará a ressurreição. Para evitar uma ideia como essa, a Escritura é cuidadosa em nunca dizer que receberemos “novo” corpo.
A Escritura registra dez casos de pessoas ressuscitadas dentre os mortos, mas estas não fazem parte da primeira ressurreição (1 Rs 17:21-22; 2 Rs 4:32-37, 13:20-21; Mt 9:24-25, 27:52-53; Lc 7:14-15; Jo 11:43-44; At 9:40-41, 14:19-20, 20:9-11). Todos esses morreram novamente. A primeira ressurreição é uma ressurreição a um estado de glorificação; aqueles assim ressuscitados nunca morrerão novamente.
A segunda ressurreição – dos injustos – ocorrerá no final do Milênio (Ap 20:5, 11-15). Os mortos ímpios serão ressuscitados naquele momento e julgados diante do grande trono branco e depois lhes será atribuída uma eternidade perdida no lago de fogo.

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A Escritura indica pelo menos doze razões pelas quais Deus ressuscitou o Senhor Jesus de entre os mortos:
  • Para cumprir a Escritura (1 Co 15:3-4).
  • Para provar que o Senhor Jesus é o Filho de Deus (Rm 1:4).
  • Para colocar um selo de aprovação na obra consumada do Senhor na cruz (1 Pe 1:21).
  • Para que o Senhor fosse estabelecido como um objeto da fé para a salvação (Rm 10:9).
  • Para a nossa justificação (Rm 4:25).
  • Para que o Senhor fosse a Cabeça da raça da nova criação (Cl 1:18).
  • Para que o Senhor pudesse realizar Sua intercessão como Sumo Sacerdote (Rm 8:34; Hb 7:25).
  • Para que pudéssemos produzir fruto para Deus em nossa vida (Rm 7:4).
  • Para que o Senhor fosse o Primogênito dos que dormem (1 Co 15:20).
  • Para fortalecer a fé de Seus discípulos para testemunhar por Ele (At 2:32-36).
  • Para demonstrar o poder de Deus ao estabelecer o reino de acordo com as promessas do Velho Testamento (Ef 1:19-20).
  • Para dar certeza a todos os homens a respeito do julgamento vindouro (At 17:31).

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A ressurreição também é usada em um sentido nacional. Israel terá uma ressurreição nacional dentre os mortos (Is 26:19; Ez 37:1-14; Dn 12:2; Os 6:2; Rm 11:15). A nação de Israel se tornou inexistente por cerca de dois mil anos, mas quando o Senhor vier (Sua Aparição) e restaurar a nação, haverá uma reaparição pública da nação. Na verdade, ela se tornará a principal nação da Terra durante o período do Milênio.
O retorno de cerca de cinco milhões de judeus para sua terra natal desde 1948 não é essa ressurreição nacional. Mas sim “a figueira” produzindo “folhas”, mas sem nenhum fruto para Deus (Mt 24:32). Os judeus na sua terra hoje não reconheceram Jesus Cristo como seu Messias, e, portanto, há apenas uma profissão exterior de vida espiritual entre eles, da qual falam as folhas da figueira. Não haverá fruto para Deus em Israel até que eles recebam Cristo como seu Messias (Gn 49:22; Os 14:8). Quando o fizerem, Ele os restaurará, e então haverá essa ressurreição nacional da qual a Escritura fala.

sábado, 9 de dezembro de 2017

RESTAURAÇÃO DE TODAS AS COISAS, A


RESTAURAÇÃO DE TODAS AS COISAS, A – Essa expressão é encontrada em Atos 3:21 e se refere a todas as coisas que os profetas de Israel haviam profetizado a respeito da bênção da nação sob seu Messias no mundo vindouro. Isso coincide com a declaração do Senhor sobre a vinda de Elias e restauração de “todas as coisas” (Mt 17:11).
A afirmação, “a restauração de todas as coisas”, foi usada erroneamente para apoiar a falsa doutrina do universalismo – a salvação final de todas as criaturas de Deus, para que ninguém acabe no inferno. No entanto, Pedro qualificou sua observação sobre a restituição de todas as coisas, acrescentando: “de que Deus falou por boca dos Seus santos profetas”. Assim, “todas as coisas” às quais ele se referia eram aquelas coisas que os profetas de Israel tinham profetizado – a saber, a restauração da nação e a suas bênçãos sob o seu Messias.

ARREPENDIMENTO


ARREPENDIMENTO – O arrependimento significa ter uma mudança de pensamento a respeito de uma conduta errada que estávamos tendo, e por ter feito nosso julgamento sobre isso. A nota de rodapé na tradução de J. N. Darby em Mateus 3:8 diz: “O arrependimento indica o julgamento moral da alma sobre todo o passado, sobre tudo o que é da carne diante de Deus. Inclui, mas vai além de apenas uma mudança de pensamento”. O Concise Bible Dictionary afirma: “O arrependimento tem sido descrito como uma mudança de pensamento diante de Deus que leva a um julgamento de si mesmo e de seus atos” (pág. 658).
A confissão é um ato, mas o arrependimento é um processo que deve continuar por toda a vida do crente depois que ele é salvo. Lucas 15:7 diz: “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende”. Note que não diz, “arrependido”, mas “que se arrepende” – isso indica que é algo que deveria continuar na vida de um crente. De fato, se deixássemos de nos arrepender de uma coisa errada ou de uma conduta errada em que vivemos, não estaríamos mais mantendo nosso julgamento sobre essa coisa ou esse curso e, assim, estaríamos voltando a eles em nosso coração. Isso não significa que devemos voltar e reviver com tristeza os erros que fizemos, mas sim seguir o caminho com alegria, mantendo um pensamento mudado e a convicção do julgamento contra essa coisa ou conduta particular. Em 2 Coríntios 7:10, temos o princípio do arrependimento. O arrependimento de Coríntios era para “nunca ser pesaroso” (JND). Ou seja, eles não deveriam mudar de ideia sobre seu arrependimento, porque ao fazê-lo, estariam voltando para seus erros. Assim, quanto mais velhos nos tornamos e quanto mais tempo estivermos na senda Cristã, mais profundo nosso ódio deve ser contra os pecados que antes cometemos – mas não devemos nos ocupar com essas coisas; a ocupação normal do crente é com Cristo e Seus interesses.
O arrependimento é produzido nos homens pela “bondade de Deus” tocando o coração deles (Rm 2:4 – TB). Quando o filho pródigo pensou na bondade de seu pai, ela o levou a mudar de ideia sobre seu pai e a julgar a si mesmo (Lc 15:17-19). Infelizmente, arrependimento é uma palavra que perdeu seu significado bíblico na mente de muitos hoje. Parte da confusão resultou do mau ensinamento que tem existido na profissão Cristã há anos. Alguns exemplos são:
  • Arrependimento não é autopunição. Autopunição é o esforço do homem para expiar seus erros.
  • Arrependimento não é confissão. Alguns erroneamente pensam que, se pedirem desculpas por alguma má ação, então estão se arrependendo. No entanto, é possível fazer uma confissão e não estar verdadeiramente arrependido.
  • Arrependimento não é reforma. Reforma tem mais a ver com uma mudança exterior, o “virar uma nova página” na tentativa de substituir maus hábitos com bons. Embora essas coisas surjam do arrependimento, elas não são arrependimento. Deus não está nos pedindo para fazer promessas solenes para as quais não temos o poder de manter.
  • Arrependimento não é penitência. A penitência é tristeza pelo pecado. Isso pode resultar em arrependimento, mas a própria tristeza não é arrependimento. 
O arrependimento deve ser visto no pecador que vem a Cristo para a salvação e também no crente que falhou e que é restaurado ao Senhor (At 20:21; Ap 2:5 etc.). A versão Almeida Corrigida diz que Judas “se arrependeu”, mas deveria dizer que ele estava “tocado com remorso” (JND). Ele não estava arrependido. O verdadeiro arrependimento tem seus frutos – sinais reveladores que uma pessoa manifestará. João Batista afirmou isso aos fariseus não arrependidos que vieram até ele. Ele disse: “Produzi pois frutos dignos de arrependimento” (Mt 3:8). Noemi ilustra as marcas do verdadeiro arrependimento.
  • Ela fez um claro rompimento com sua vida anterior em Moabe. A bondade de Deus tinha trabalhado em seu coração quando ela ouviu que Ele havia dado pão ao Seu povo. O resultado foi que “saiu do lugar onde estivera” (Rt 1:6-7).
  • Ela voltou ao seu ponto de partida (Rt 1:19). Ela foi para “Belém”, o mesmo lugar de onde ela e seu marido tinham vindo quando moravam na terra de Israel. Isso ilustra a necessidade de voltar à raiz do nosso fracasso e julgá-lo.
  • Ela manifestou um genuíno espírito quebrantado e humildade. Ela disse: “Não me chameis Noemi; chamai-me Mara”. Mara significa “amarga”. Assim, ela indicou uma amargura de alma em relação a sua conduta (Rt 1:20; Sl 51:17).
  • Ela justificou a Deus em tudo o que Ele permitiu que acontecesse com ela (Rt 1:20).
  • Ela fez uma franca confissão de seu erro. Ela disse: “Eu saí... (Rt 1:21 – TB). Ela não culpou seu marido ou qualquer outra pessoa.
  • Ela deu todo o crédito ao Senhor por sua restauração. Ela disse: “O Senhor me fez tornar” (Rt 1:21; Sl 23:3).
  • Ela queria estar entre o povo do Senhor (Rt 1:22).
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A Escritura indica que o próprio Deus Se arrepende, mas não, é claro, da mesma maneira que os homens falhos se arrependem. Como o arrependimento significa ter um pensamento mudado, Deus pode e muda Seu pensamento de vez em quando. Mas com Deus, o arrependimento nunca tem a ver com o julgamento de Si mesmo, porque Ele nunca faz nada errado.
Quando se trata do propósito de Deus, Ele nunca Se arrepende (Nm 23:19; 1 Sm 15:29). Mas quanto aos Seus caminhos para com os homens, Ele Se arrepende (Gn 6:6-7; 1 Sm 15:11). Muitas vezes, o arrependimento de Deus está relacionado com a possibilidade de arrependimento do homem. Quando Deus vê verdadeiro arrependimento nos homens sobre quem Ele pronunciou um juízo, Ele pode arrepender-Se e não executar o julgamento (Êx 32:14; Jz 2:18; 1 Cr 21:15; Sl 90:13, 106:44-45; Jr 18:8; Jl 2:13; Jn 3:9-10). Tal é a misericórdia de Deus.

REMANESCENTE, O



REMANESCENTE, O – Esse termo significa “uma pequena porção do povo” ou “o resto do povo”. Ele é usado de algumas maneiras diferentes na Escritura. Pode ser em conexão com a história de Israel (2 Rs 19:4, 30-31; Is 1:9; Ed 9:8; Ne 1:3), ou em conexão com os judeus (Ap 12:17) e as dez tribos de Israel no dia vindouro (Is 10:20-22, 11:11, 16). Ou, pode ser usado em referência aos crentes no testemunho Cristão hoje (Ap 2:24 – “o restante [remanescente – W. Kelly]).
Quanto a Israel no dia vindouro, Deus prometeu que Ele não abandonará a nação para sempre. A cegueira governamental que está sobre o coração deles será retirada, e a bênção de Deus será derramada sobre eles quando o Senhor aparecer “trazendo curas nas Suas asas” (Ml 4:2 – TB, Rm 11:25; 2 Co 3:14-16). Mas a Escritura não ensina que isso se aplica a todos os israelitas de nascimento. Como mencionado anteriormente, a redenção de Israel será realizada apenas em um remanescente do povo. Romanos 11:26 afirma que todo o Israel será salvo” e abençoado por Deus, mas antes, no capítulo 9:6-8, Paulo explica que “nem todos são Israel, os que são de Israel” (JND). Assim, para ser um verdadeiro israelita, precisa ser não apenas da linhagem de Abraão, mas também ter a fé de Abraão. Muitos dos descendentes de Abraão são “semente” de Abraão, mas eles não são “filhos” de Abraão e, portanto, não são “filhos de Deus”. (Compare Rm 2:28-29.) Assim, quando Paulo disse que “todo” Israel seria salvo, ele estava assumindo que o leitor acompanharia a lógica de seu discurso na epístola sobre esse ponto. O “todo” em Romanos 11:26, portanto, são todos os verdadeiros israelitas – interior e exteriormente. Isso mostra a importância do contexto na leitura da Escritura.
As Escrituras proféticas indicam que haverá duas partes no remanescente, ou talvez dois remanescentes: um de judeus (as duas tribos) e outro das dez tribos de Israel. Esses serão reunidos em um quando o Senhor aparecer e restaurar a nação, quando herdarão o reino juntos (Is 11:12-13; Ez 37:15-19 etc.). Para ter um entendimento das relações de Deus com Israel, o estudante da profecia precisa distinguir essas duas partes da nação. As três principais diferenças são:
  • Os judeus (as duas tribos) retornarão à sua pátria no início da 70ª semana de Daniel (Dn 9:27) antes da grande tribulação (Is 18:1-4), e um remanescente se distinguirá entre eles por ter fé e temor de Deus (Is 8:16, 66:2; Sl 1:1-3). As dez tribos não voltarão para sua terra até depois que a grande tribulação acabar e o rei do Norte tiver devastado a terra (Mt 24:29-31). Enquanto que a massa das dez tribos volta à sua pátria, apenas um remanescente dela terá fé verdadeira, sendo-lhe permitido entrar na terra (Ez 11:9-11, 20:34-38; Am 9:9-10).
  • Os judeus rejeitaram a Cristo (Jo 19:15) e receberão o anticristo (Jo 5:43), mas as dez tribos não são culpadas disso, pois não estavam na terra quando Cristo veio para os Seus e os Seus não O receberam (Jo 1:11). Nem estarão na terra quando o anticristo surgir e for recebido pelos judeus.
  • O remanescente dos judeus confessará o “crime de sangue” pela crucificação de Cristo e também assumirá a quebra da Lei (Sl 51:14; At 7:53), mas o remanescente das dez tribos confessará seu fracasso por abandonar a Lei e voltar-se para a idolatria (Is 26:13; Os 14:8). 
Alguns sábios serão levantados entre o remanescente judeu temente a Deus, que serão instruídos nos caminhos de Deus e nos Seus tratos com a nação. Eles são chamados de “Masquil”[1] (Dn 12:3, compare também Dn 11:33). Esses sábios atuarão como instrutores para os outros – “os que converterem a muitos para a justiça” (TB). Seu entendimento provavelmente será tal que eles verão o Senhor Jesus Cristo, a Quem a nação crucificou, como o verdadeiro Messias de Israel, e encorajará a outros a recebê-Lo como Tal. O remanescente dos judeus finalmente fará isso quando aparecer Cristo e olhará para aqu’Ele “a Quem traspassaram” (Zc 12:10; Jo 19:37). Naquele tempo, eles se lamentarão em arrependimento (Zc 12:11-14), e o Senhor abrirá uma “fonte” para a sua purificação, por isso eles serão restaurados a Ele (Zc 13:1).
Há duas partes do fiel remanescente judeu: a porção preservada que será milagrosamente poupada dos ataques de seus perseguidores e de outros perigos, e entrará no reino de Cristo na Terra – o Milênio (Ap 12:6, 13-17, 14:1; Sl 91). E haverá também a porção martirizada do remanescente que Deus permitirá que seja morta por seu testemunho fiel durante os sete anos de tribulação (Ap 6:9-11, 11:2-12, 14:13a, 15:2-4; Is 57:1-2). Estes judeus piedosos serão ressuscitados no final da grande tribulação e terão uma melhor porção no céu – serão glorificados (Ap 14:13). Eles reinarão com Cristo sobre a Terra com os santos do Velho Testamento e a Igreja, no Milênio (Ap 20:4; Dn 7:18, 22, 27).
Uma vez que existem essas diferenças de responsabilidade entre os judeus e as dez tribos, o Senhor tratará com eles de forma diferente com vista à restauração deles. O resultado será o mesmo em ambos – verdadeiro arrependimento e uma restauração completa ao Senhor, após a qual, as bênçãos do Seu Reino serão derramadas sobre eles. Eles constituirão a nação de Israel no Milênio.
A multidão incrédula dos judeus que não são verdadeiros filhos de Abraão será destruída pelo rei do Norte e sua confederação árabe (Sl 83:1-8, 79:1-3; Dn 2:40-42; Zc 13:8-9). A multidão das dez tribos dos israelitas que não são verdadeiros filhos de Abraão retornará à terra com a ajuda dos anjos de Deus (Mt 24:31) e com a ajuda de algumas nações gentias que temerão a Deus (Isa 14:1-2, 49:22, 60:9, 66:19-20). Eles serão levados para os “confins” da terra de Israel, onde o Senhor os “peneirará”, fazendo-os “passar debaixo da vara”, e assim serão “separados” aqueles que não têm fé real (Ez 11:9-12, 20:34-38). Um “décimo” deles (um remanescente) será achado verdadeiro e será trazido para “o vínculo do concerto” (Is 6:13; Ez 20:37; Jr 31:31-34). Eles subirão para a terra e juntar-se-ão ao remanescente das duas tribos (judeus) e serão “um” e “não serão mais duas nações, nem serão divididas em dois reinos” (Ez 37:14-22; Is 11:13, 49:18-23). Esse será um momento triunfante porque estiveram separados por quase três mil anos! A massa dos israelitas que serão separados dentre as dez tribos será destruída pelo próprio Senhor, quando Ele rugir de Sião para destruir a última confederação sob Gogue no julgamento do lagar (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:13-16). Duas ações são mencionadas em Apocalipse 14:19 em conexão com o julgamento de Israel. A “vinha da terra” (Israel) é primeiro “vindimada [reunida – JND](de volta à terra), e então os apóstatas entre eles são “lançados” no lagar do julgamento de Deus.

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Como mencionado, a palavra “remanescente” também é usada em conexão com o testemunho Cristão (Ap 2:24 – trad. W. Kelly). Refere-se àqueles que são verdadeiros crentes em meio à massa de Cristãos meramente professos. Hoje existem milhões na profissão Cristã, mas a grande maioria destes são apenas Cristãos nominais (somente em nome).




 [1] N. do T.: Masquil é uma palavra hebraica que ocorre nos títulos de vários Salmos (32, 42, 44, 45, 52-55, 74, 78, 88, 89 e 142) e significa “instrução”. Esses salmos contêm instruções ao remanescente, as quais ele entenderá. A mesma palavra no plural “Masquilim” significa “os sábios” ou “os instruídos” de Dn 11:33, 35, 12:3, 10 – Morrish Bible Dictionary)

REGENERAÇÃO



REGENERAÇÃO – Essa palavra significa um novo começo na vida do crente – uma mudança moral exterior, resultante de ser salvo e selado com o Espírito Santo. Essa mudança é algo que as pessoas deveriam ver na vida de cada crente. W. Scott disse: “A lavagem da regeneração pode ser percebida pelos olhos dos homens, pois é uma mudança exterior” (Doctrinal Summaries, pág. 28).
A “lavagem da regeneração” (Tt 3:5) refere-se à limpeza moral da vida de um crente, resultante da separação do estilo de vida que tinha antes da sua conversão, que era de acordo com a carne. Tem a ver com uma pessoa passando da antiga forma de vida em que vivia para uma nova ordem de vida que é de acordo com o Cristianismo. Daí vem o comentário muitas vezes ouvido: “Ele limpou a sua vida e agora está num caminho reto e estreito!” Se essa mudança é um verdadeiro trabalho de Deus na vida de uma pessoa, é resultado da lavagem da regeneração. A “lavagem” envolvida na regeneração está ligada àquilo que as águas do batismo significam para o batizado. A pessoa é assim colocada em um novo lugar, limpo na Terra, na casa de Deus, onde ele deve andar em santidade como Cristão (Sl 93:5; Hb 12:14; 1 Ts 4:7; 1 Pe 1:16). Paulo enfatizou a Tito a necessidade de regeneração entre os crentes na ilha de Creta, porque havia uma clara falta de justiça prática na vida deles (Tt 1:12).
Não obstante, os Cristãos de todas as escolas de pensamento geralmente não entendem o significado da regeneração. Eles pensam que, uma vez que a palavra “regenerar” significa reiniciar algo, está se referindo ao ser nascido de novo e, portanto, usa esses termos indistintamente. Embora o novo nascimento e a regeneração se refiram a um novo começo, são dois começos diferentes na vida de uma pessoa.
  • O novo nascimento (que ocorre antes na vida de uma pessoa) é um novo começo interior na alma, por receber uma nova vida de Deus. Uma evidência disso será sua visível busca por Deus.
  • A regeneração é um novo começo exterior da vida de um crente, consequência de ser salvo e selado com o Espírito Santo. A evidência disso será a visível ruptura de suas associações e hábitos profanos que tinha e a adoção do estilo de vida Cristão. 
O Sr. Darby disse: “A regeneração não é a mesma palavra que ‘nascer de novo’, nem é usada dessa forma na Escritura” (Nota de rodapé “b” de Tito 3:5 na tradução de J. N. Darby)[1]. W. Scott disse: “O novo nascimento não é o mesmo que a regeneração, e este último termo só ocorre duas vezes no Novo Testamento (Tt 3:5 e Mt 19:28). O primeiro termo refere-se a uma obra interior; o último a uma mudança exterior” (The Young Christian, vol. 2, pág. 131). Ele também disse: “A regeneração é quase que universalmente considerada equivalente ao novo nascimento, mas não é assim na Escritura. A regeneração é um estado ou condição objetiva, enquanto o novo nascimento é a expressão de um estado interior e subjetivo” (Bible Handbook, Old Testament, pág. 372).
Novo nascimento e regeneração envolvem um banho, o qual significa lavagem ou limpeza. O “banho” envolvido no novo nascimento significa uma lavagem interior na alma pela recepção de uma nova vida limpa de Deus (Jo 13:10 – tradução de W. Kelly; 1 Co 6:11), enquanto o “banho” na regeneração significa uma lavagem exterior da vida da pessoa em um sentido prático (Nota de rodapé “b” de Tito 3:5 na tradução de J. N. Darby). O primeiro é efetuado pela “vivificação” do Espírito Santo (Jo 6:63); o último é efetuado pela “renovação” do Espírito Santo (Tt 3:5). O efeito prático da regeneração é ilustrado em um novo crente no seu batismo. Ele deixa seus pertences (seus cigarros, seu frasco de bebidas alcoólicas, revistas mundanas etc.) na borda e entra na água. Depois de ser batizado e sair da água, ele segue o caminho com os outros Cristãos que participaram do batismo. Mas alguém fala para ele: “João, você esqueceu suas coisas”. Ele responde: “Deixe-as lá, elas pertencem ao velho João”. Este deve ser o efeito prático da lavagem mencionada na regeneração; há uma separação (e, portanto, uma limpeza) do estilo de vida antigo. Significa um novo começo na vida de um crente que deveria ser percebido por todos.
Para complicar ainda mais os equívocos que surgem de assumir que a regeneração é o mesmo que o novo nascimento, muitos Cristãos têm a ideia de que a regeneração é uma obra milagrosa de Deus na renovação ou recriação da natureza de uma pessoa quando ela crê no evangelho. Eles pensam que é uma infusão de uma nova vida na natureza antiga de uma pessoa, tornando-a nova. Com base nessa ideia equivocada, a maioria dos teólogos reformados, e muitos pregadores evangélicos também, ensinam que os Cristãos não têm duas naturezas, mas sim uma natureza que foi regenerada! Isso faz com que o novo nascimento e a regeneração sejam nada mais do que uma reabilitação da carne. A verdade é que a velha natureza não é capaz de ser melhorada e, portanto, não pode ser reabilitada. A Escritura diz: “não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser (Rm 8:7). A carne simplesmente não pode ser sujeita a Deus. O Senhor ensinou isso a Nicodemos. Ele disse: “o que é nascido da carne é carne” (Jo 3:6). Ou seja, os homens podem aplicar muitas coisas à carne num esforço para melhorá-la – a influência da cultura, educação, religião etc. – mas o resultado final é que nada muda moralmente. A carne ainda é carne. E é por isso que o Senhor lhe disse: “Necessário vos é nascer de novo”. Ou seja, os homens precisam de uma vida inteiramente nova e de uma natureza separada e distinta da velha natureza que lhes foi transmitida (Jo 3:7).

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Mateus 19:28 também fala de “regeneração”, mas de uma maneira ligeiramente diferente. Refere-se à nova ordem moral exterior da vida que permeará o mundo vindouro – o Milênio (Sl 72:8, Zc 14:9). Os homens naquele dia serão forçados a viver de acordo com princípios justos por medo da morte (Is 32:1; Sl 101:7-8; Zc 5:1-4).




   [1] N. do T.: Nota de rodapé “b” de Tito 3:5 na tradução de J. N. Darby “‘Lavagem’ está correto aqui. É um banho ou a água para ele. ‘Regeneração’ não é a mesma palavra para ‘nascido de novo’ e nem é usada assim na Escritura. A força da palavra é de uma mudança de posição; um novo estado de coisas. A palavra é apenas usada aqui e em Mateus19:28 em relação ao reino vindouro do Salvador”.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

RECONCILIAÇÃO



RECONCILIAÇÃO – Refere-se à obra de Deus trazendo de volta à unidade, à paz e à comunhão, aquilo que se afastou d’Ele. Envolve tanto pessoas (crentes) como coisas (Cl 1:20-22). O fundamento para a reconciliação descansa no que Cristo realizou na cruz em Sua morte e no derramamento de Seu sangue. Isso é mencionado pelo apóstolo Pedro, que disse: “Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos  injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3:18). Há três coisas indicadas nesse versículo:
  • “Padeceu uma vez pelos pecados” – Esta é a propiciação.
  • “O Justo pelos injustos” – Esta é a substituição.
  • “Para levar-nos a Deus” – Esta é a reconciliação. 
Note que Pedro coloca a propiciação e a substituição (as duas partes da expiação) antes da reconciliação. Isso nos mostra que as reivindicações da justiça divina em relação ao pecado tinham que ser resolvidas antes que Deus pudesse chegar aos homens com bênção. Isso foi feito na propiciação (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2, 4:10), que é o lado de Deus na obra de Cristo na cruz. Cristo satisfez totalmente a Deus em relação a toda ruptura causada pelo pecado, e assim fez com que “todo o mundo” possa ser salvo (1 Jo 2:2). A substituição, que é o lado do crente da obra de Cristo na cruz, tem a ver com o que Cristo fez na cruz para os crentes, levando os pecados deles sobre Si mesmo e suportando o julgamento desses pecados em lugar dos crentes (1 Pe 2:24). Como resultado da questão de o pecado ter sido resolvida na cruz, Deus é capaz de alcançar o homem e reconciliar os crentes Consigo mesmo em uma base justa.
Como mencionado, há duas coisas envolvidas na obra de reconciliação a Deus:
  • A reconciliação de pessoas.
  • A reconciliação de coisas.

1) Reconciliação de pessoas

O caos que o pecado causou na queda do homem foi muito mais devastador do que podemos imaginar. Não só desonrou a Deus e arruinou Sua formosa criação, mas também trouxe dano para o homem e à sua posteridade – espiritualmente (em seu espírito e alma) e fisicamente (em seu corpo). Um dos tristes resultados da entrada do pecado neste mundo é que existem relações alienadas entre homens e Deus. Agora pensamentos e sentimentos errados dominam o coração do homem e a “mente” em relação a Deus (Cl 1:21). Pelo pecado, os homens, em seu estado caído, tornaram-se “aborrecedores de Deus” (Rm 1:30) e, portanto, têm grande “inimizade contra Deus” (Rm 8:7). Por isso, os homens são “estranhos e inimigos” de Deus (Cl 1:21). Esta condição de inimizade é toda do lado do homem; foi o homem que pecou e foi para longe de Deus. Na sua alienação, ele desenvolveu maus sentimentos e ódio contra Deus.
Embora o coração do homem em relação a Deus tenha sido corrompido, a disposição de Deus em relação ao homem não mudou. Ele ainda está disposto a favor de Suas criaturas, pois Ele é o Deus Imutável (Ml 3:6). Isso pode ser visto no fato de que “Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8). Assim, em seu estado confuso de pensamento, o homem vê Deus como um inimigo – mas Ele não é um inimigo de maneira alguma. Na verdade, Deus está buscando o bem e a bênção do homem. Uma mudança de coração é desesperadamente necessária no homem, mas não em Deus, pois Ele sempre amou o homem. Portanto, não é Deus Quem precisa ser reconciliado com o homem, mas o homem a Deus. Dizer que Deus precisa ser reconciliado, nega o Seu “amor eterno” pelo homem (Jr 31:3; Jo 3:16). Às vezes, quando as pessoas são despertadas para a necessidade de serem salvas, elas têm a ideia equivocada que, já que pecaram e se afastaram de Deus, precisam fazer algo para atrair o coração de Deus para elas. Algumas pensam que precisam derramar lágrimas, enquanto outras pensam que precisam limpar sua vida e se tornar religiosa. Mas, novamente, isso demonstra um mau entendimento sobre o coração de Deus. A verdade é que o Seu coração sempre foi para com o homem e desde o dia em que o pecado entrou na criação, Deus tem buscado libertação e bênção para o homem.
Sendo assim, a Escritura não apresenta a reconciliação como a conhecemos hoje, no sentido moderno da palavra, que a vê como duas partes que foram distanciadas, aproximando-se uma da outra com certo grau de compromisso, de modo que as relações entre elas possam retomar como eram no passado. A reconciliação bíblica sempre trata o assunto como o homem sendo trazido de volta a Deus. Portanto, a Escritura não diz que somos reconciliados com Deus, mas sim “a” Deus (Rm 5:10 – KJV e JND); 2 Co 5:20 – KJV e JND; Ef 2:16 – KJV e JND; Cl 1:20). “Nós” recebemos “a reconciliação”; Deus não a recebe (Rm 5:11 – JND e TB, Cl 1:21). (Mt 5:24 usa a palavra “reconciliado” no sentido de que duas partes se juntam, mas é uma palavra diferente no grego e não está em conexão com as bênçãos do evangelho que estamos considerando).
Existem quatro passagens principais no Novo Testamento onde a reconciliação de pessoas é considerada – cada uma vê o assunto de um aspecto diferente:
  • Colossenses 1:19-22 – para o agrado da Divindade.
  • Romanos 5:1-11 – para o gozo do crente em Deus.
  • Efésios 2:11-16 – considerando a unidade entre os membros do corpo de Cristo.
  • 2 Coríntios 5:19-21 – como testemunho em relação ao mundo.

a) Reconciliação para o agrado da Divindade (Cl 1:19-22)

Esta passagem apresenta a reconciliação a partir da perspectiva de Deus; enfatiza o que ela faz para o prazer de Deus. É, portanto, o aspecto mais elevado da reconciliação, pois o que pertence a Deus sempre deve vir primeiro. Tem a ver com a Sua obra de trazer Suas criaturas e Sua criação para uma posição onde Ele possa Se deliciar com elas. O Espírito de Deus usa “Ela” (“It” – JND) nessa passagem, ao se referir à “Divindade”. Isso destaca o fato de que as três Pessoas da Divindade estão profundamente interessadas na bênção do homem e estão envolvidas na reconciliação do homem em uma feliz comunhão Consigo mesma (“Itself” JND) no terreno da redenção.
Essa passagem mostra que a condição caída do homem é dupla: tornou-se um estranho e um inimigo de Deus (Cl 1:21). “Estranho (ou alienado)” é o que os homens são por natureza; “inimigos” é o que são pela prática. Como alienado, o homem agora está longe de Deus, moral e espiritualmente, sem relação com o seu Criador. Essa separação não foi apenas com Adão que pecou, mas é verdadeira para toda a raça sob ele (Rm 5:19a). O coração do homem está cheio de ódio e inimizade contra Deus. Essa condição existe em cada pessoa perdida na raça caída de Adão. É evidente na forma profana com que os homens usam o Seu santo nome (Salmo 139:20) e nas “obras más” que praticam (Cl 1:21). Essas coisas contribuíram para o homem se distanciar de Deus; os homens têm a sensação de ter errado, e isso os afasta daqu’Ele contra Quem agiram errado.
Em Colossenses 1, Paulo mostra que Deus, em graça, superou esta condição dupla do homem caído na grande obra da reconciliação. Isso não significa que toda pessoa no mundo esteja reconciliada agora, ou que todas serão reconciliadas, mas que uma provisão foi feita para alcançar e restaurar a cada pessoa, se elas estiverem dispostas. Ele mostra que, para que Deus realizasse a reconciliação, Cristo teve que Se tornar um Homem (v. 19) e ir à cruz para pagar o preço pelo pecado e pelos pecados (v. 20). Assim, a encarnação de Cristo trouxe Deus para o homem. Deus desceu ao homem na Pessoa do Senhor Jesus Cristo e Seu coração Se manifestou plenamente. No entanto, a encarnação em si mesma não era suficiente para efetuar a reconciliação; também exigia a obra de Cristo na cruz. Paulo indica isso ao mencionar “o sangue de Sua cruz” (v. 20) e “o corpo da Sua carne, pela morte” (v. 22). Portanto:
  • A encarnação trouxe Deus ao homem (v. 19).
  • A morte e o derramamento do sangue de Cristo trouxeram os homens (crentes) a Deus (v. 20).
Sermos perdoados nos teria satisfeito, mas não satisfaria a Deus. Lucas 15 ilustra essa grande verdade. O pai não estava satisfeito em dar ao filho pródigo o beijo de perdão – ele o vestiria com a melhor roupa, com um anel e com os sapatos nos pés, para que seus olhos pudessem descansar sobre seu filho com complacência (Lc 15:20-23). Assim, aprendemos disso, que Deus trabalha para efetuar a reconciliação para que possamos ser encontrados em um estado adequado perante Ele como “santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” aos Seus olhos, para que Ele possa encontrar o Seu prazer em nós. Assim, a reconciliação não só inclui o perdão dos pecados e a justificação, mas vai além para levar o crente para “perto” de Deus em paz (Ef 2:13). W. Kelly disse: “A reconciliação, portanto, é um termo de rico significado, e vai muito além do arrependimento ou fé, vivificação ou justificação” (Notes on the Second Epistles to the Corinthians, pág. 114). Esse é o lado de Deus nesse grande assunto.

b) Reconciliação para o gozo do crente em Deus (Rm 5:10-11)

Essa passagem apresenta a reconciliação sob a perspectiva do crente e mostra o que Deus fez para satisfazer sua condição como tendo se desviado para longe d’Ele. Como “inimigos” de Deus, os homens têm inimizade e maus sentimentos para com Deus. Seus maus sentimentos são produzidos pela sua má-consciência que os condena como pecadores. Dá-lhes uma sensação de terem feito errado, e isso os incomoda a respeito de terem que se encontrar com Deus. Assim, sua consciência trabalha para mantê-los à distância de Deus.
Apesar de tal condição prevalecer sobre a raça humana, Deus Se empreendeu em removê-la e a trazer os homens (crentes) de volta para Si. O quinto capítulo de Romanos mostra que Deus, em graça, deu o primeiro passo para a reconciliação do homem. Ele teve que fazer o primeiro avanço, porque o homem, deixado sozinho em sua condição caída, nunca faria um movimento em direção a Deus. Assim, Deus provou o Seu amor para com o homem, ao prover um sacrifício pelo pecado, e isso foi feito a um grande custo para Ele mesmo (Rm 5:8).
Paulo continua dizendo como Deus remove a inimizade no coração de um pecador – é por meio da “morte de Seu Filho” (v. 10). Nessa passagem, o apóstolo enfatiza o grande amor de Deus pelo homem – tão grande que Ele mesmo daria Seu próprio Filho para levar os homens de volta para Si mesmo! Note que não diz a morte “de Cristo”, mas a morte de “Seu Filho”. Isso enfatiza a afeição que existia em Seu relacionamento com Seu Filho. Deus tinha apenas um Filho, e Ele O amava profundamente, mas estava disposto a dá-Lo para salvar os pecadores! Portanto, o custo desse sacrifício para Deus é incalculável!
Quando este grande fato – que Deus ofereceu Seu muito amado Filho para trazer os homens de volta para Si mesmo – atinge o coração do pecador pelo poder do Espírito, o coração desse homem é profundamente tocado. Então, conhecendo que a disposição de Deus tem sido para com ele o tempo todo (mesmo que tenha abrigado maus pensamentos para com Deus) é mais do que o seu coração possa suportar. O amor e a compaixão de Deus tanto apertam seu coração que a inimizade que uma vez habitou ali é totalmente dissipada. Todos os seus maus sentimentos e ódio são removidos de uma vez de sua alma, e “o amor de Deus é derramado” em seu coração pelo Espírito (Rm 5:5, 8). Assim, seus pensamentos para com Deus são todos mudados, e Seu Filho, que Se entregou para tornar isso possível, Se torna a Pessoa mais maravilhosa e atraente para ele.
Ao receber a Cristo como Salvador, o coração do crente, que estava uma vez cheio de pecado e pensamentos errados para com Deus, está agora cheio de paz e amor, para que ele possa se gloriar “em Deus” (v. 11). Ele já se sentiu desconfortável com o pensamento de encontrar-se com Deus, mas agora ele está confortável em Sua presença e, na verdade, se deleita em estar aí. Em relação com esse aspecto da reconciliação, J. N. Darby observou: “Sinto-me em casa com Deus. Todos os Seus sentimentos graciosos são para comigo, e eu sei disso, e meu coração é trazido de volta a Ele”. Regozijar-se “em Deus” é a atitude adequada ao crente. Seu coração está afastado de si mesmo, e exulta naquilo que possui em Deus e em Cristo.
Em Romanos 5:11, na versão inglesa King James, diz que o crente recebe “a expiação”, mas isso é um erro de tradução; deve se ler “a reconciliação”. Na salvação de homens e mulheres, Deus recebe a propiciação porque o pecado afrontou a Sua santidade, mas nós recebemos a reconciliação. Assim, Paulo diz: agora temos recebido reconciliação” (v. 11 – TB). Isto indica que é um fato consumado; não é algo que estamos esperando para receber quando o Senhor vier.

c) Reconciliação entre judeus e gentios no corpo de Cristo (Ef 2:11-16)

Esse aspecto da reconciliação tem a ver com a desavença que tem existido na raça humana por milhares de anos entre judeus e gentios. Na grande obra de reconciliação, os homens não são apenas reconciliados a Deus, mas também uns com os outros no corpo de Cristo.
O assunto na epístola aos Efésios tem a ver com o grande plano de Deus para mostrar a glória de Seu Filho no céu e na Terra no reino milenar vindouro, por meio de um vaso de testemunho especialmente formado – a Igreja, que é o corpo e a noiva de Cristo. Neste segundo capítulo, vemos Deus salvando os pecadores dentre os judeus e os gentios e reunindo-os na Igreja. Seu desejo é que eles possam habitar juntos em uma unidade prática agora neste mundo antes que o reino milenar seja estabelecido, e assim dar testemunho do fato de que eles são um só corpo em Cristo. O problema é que tem havido uma animosidade e um preconceito de longa data entre aqueles a quem Deus escolheu para fazer parte desta companhia especial de crentes. Fazer com que os judeus e os gentios habitem juntos é, humanamente falando, impossível. Apesar disso, Paulo mostra que a grande obra de reconciliação a Deus é tal que remove esse obstáculo.
Nessa passagem, Paulo explica como isso é feito. Tanto os judeus como os gentios precisam da reconciliação – não somente a Deus, mas também uns para com os outros. Os gentios estão “longe” de Deus (v. 13), mas os judeus também estão “longe de Deus” (Mt 15:8). Mas Paulo diz: “Porque Ele (Cristo) é a nossa (dos judeus e gentios) paz, o Qual de ambos os povos fez um” O aspecto da “paz” que Paulo menciona aqui é a paz racial. É um dos três aspectos da paz relacionados com a posição do crente em Cristo – aspectos esses que pertencem aos crentes no momento em que são salvos e selados com o Espírito (Veja: Paz). Deus estabelece essa paz racial entre aqueles que creem pela “anulação” (JND, e não “desfazimento” ou “abolição” como em algumas versões) do que deu causa à inimizade entre judeus e gentios – “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”. A Lei de Moisés não foi abolida; ainda tem sua “aplicação” para os que estão na carne, mostrando-lhes que são pecadores (1 Tm 1:9-10). Mas para aqueles que creem, e assim fazem parte dessa nova e celestial companhia (a Igreja), ela é “anulada”.
A inimizade foi anulada pelo fato de Deus tirar os judeus e gentios “para fora” de suas antigas posições “na carne” (At 15:14, 26:17), tornando-os membros do corpo de Cristo (1 Co 12:12-13). Assim, Ele removeu a distinção entre judeus e gentios. Aqueles que fazem parte dessa nova companhia não são nem judeus, nem gentios (Gl 3:28; Cl 3:11). Para eles, a parede de separação que estava no meio, foi derrubada, e Deus fez dos dois “um novo homem”. O “novo homem” é Cristo (a Cabeça no céu) ligado aos membros do Seu corpo na Terra pela habitação do Espírito. Por isso, no novo homem, já não existe o judeu nem o gentio, e com eles a inimizade que já existiu desaparece!

d) Reconciliação anunciada ao mundo (2 Co 5:18-21)

Essa passagem mostra que depois que Deus reconcilia os crentes Consigo mesmo, Ele os usa como instrumentos para anunciar a verdade da reconciliação ao mundo. Isso é feito pela pregação do evangelho. Efésios 2:17 diz que o Senhor “evangelizou a paz, a vós que estáveis longe (gentios) e aos que estavam perto (judeus). Podemos nos perguntar como o Senhor poderia estar pregando na Terra quando Ele voltou para o céu? Mas esse fato apenas ilustra a grande verdade do “novo homem”. Cristo está pregando ao mundo hoje por meio dos membros de Seu corpo (Compare At 9:4).
Esses versículos em 2 Coríntios 5 mostram que Deus estava trabalhando para trazer o mundo (pessoas) de volta a Ele mesmo pelo ministério do Senhor Jesus quando Ele estava aqui na Terra. Esses versículos também mostram que essa obra foi transmitida aos apóstolos e aos outros trabalhadores Cristãos no tempo da ausência de Cristo. Seu ministério era “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10). Assim, como Paulo diz: “Deus estava em Cristo, reconciliando Consigo o mundo”, e acrescenta: “Não lhes imputando os seus pecados”. Isso significa que o Senhor não condenou os pecadores com os quais Ele interagiu (Jo 3:17, 8:11). No entanto, apesar de todo o amor e bondade mostrados por meio do ministério do Senhor, todos O rejeitaram, menos um remanescente de crentes – Sua missão aos pecadores pareceu em vão (Is 49:4).
Agora que Cristo foi retirado deste mundo pela morte, Paulo diz: Deus confiou “a  nós a palavra da reconciliação”. O “nós” aqui, em primeiro lugar, se referia aos apóstolos, mas também inclui outros trabalhadores Cristãos que atualmente estão envolvidos na obra do evangelho. É chamada de “a palavra” da reconciliação porque tem a ver com a comunicação da verdade do evangelho, e fazemos isso usando palavras. Paulo disse: “somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com [a – JND] Deus”. Por isso, somos pessoas reconciliadas em um mundo não reconciliado, anunciando uma mensagem de reconciliação. A história de Mefibosete ilustra (em figura) a verdade da reconciliação (2 Sm 9).

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Há um aspecto da reconciliação de pessoas que é puramente uma coisa exterior; isso não significa que todos os que são reconciliados são salvos (Rm 11:15). Esse aspecto da reconciliação tem a ver com Deus trazendo o mundo dos gentios para um lugar de proximidade relativa Consigo mesmo, neste dia da graça. A rejeição do evangelho por Israel e o fato de que, por consequência, a nação tenha sido colocada de lado temporariamente, abriram uma tremenda oportunidade para os gentios hoje – pois que o evangelho foi enviado a todo o mundo. Assim ela tem sido chamada de reconciliação “provisional” ou “dispensacional”. Como mencionado, isso não significa que o mundo inteiro tenha sido salvo e reconciliado no sentido em que já consideramos, mas que o privilégio de ser abençoado por crer no evangelho foi estendido a eles. Portanto, o mundo dos gentios é visto como estando próximo a Deus neste presente dia, enquanto Israel é deixado de lado. É uma proximidade relativa a Deus.

2) Reconciliação de todas as coisas

A segunda parte da reconciliação tem a ver com as coisas criadas. Isso acontecerá no dia vindouro em que a Divindade irá “reconciliar todas as coisas Consigo mesma” (Cl 1:20 – JND).
Em Colossenses 1:16, Paulo diz que “todas as coisas têm sido criadas por Ele e para Ele” (JND). O grande propósito da criação é, em última instância, para Deus que a criou (Ap 4:11). No entanto, uma vez que a criação foi manchada pelo pecado, para que Deus possa ter prazer nela, deve ser libertada da “servidão da corrupção” (Rm 8:21-23). Só então poderá ser usada devidamente para o propósito para o qual Deus a criou – para ser o palco no qual manifestará a glória de Seu Filho.
Toda a criação (céu e Terra) foi afetada pelo pecado e está contaminada. Tudo deve ser trazido de volta ao seu adequado relacionamento com Deus. A criação mais baixa atualmente está sofrendo sob os efeitos do pecado e precisa ser redimida – libertada (Ef 1:14). Mesmo que a criação não tenha se afastado de Deus por sua própria vontade (Rm 8:20), ainda assim está contaminada e precisa ser purificada (Jó 15:15, 25:5). Pela virtude do sangue de Cristo, Deus pode, e vai, no dia vindouro, efetuar a purificação da criação (Hb 9:23). Ele tirará a criação material das mãos dos homens pecadores e a libertará para o uso de Deus. Na Aparição de Cristo, Deus libertará a criação de sua escravidão e então começará a reconciliar todas as coisas criadas Consigo. Essa obra não estará completa até que todo traço de pecado na criação tenha desaparecido – o que não será atingido até que o Estado Eterno comece e tudo seja feito novo.
Note que enquanto Colossenses 1:20 diz que “todas as coisas” serão reconciliadas, não diz que todas as pessoas serão reconciliadas. Isso mostra que a vontade do homem pode resistir à graça de Deus. Todos os que não crerem na “palavra de reconciliação” terão seu fim em uma eternidade perdida. Não há reconciliação para seres infernais – o diabo e seus anjos, e homens incrédulos.