domingo, 28 de maio de 2017

PRIMOGÊNITO

PRIMOGÊNITO – Este termo é usado na Escritura de duas maneiras:
  • Para indicar aqueles que nascem primeiro em uma família – ordem de nascimento.
  • Para indicar aqueles que estão em primeira posição e destaque, tendo um lugar de preeminência entre outros. 
Alguns exemplos das duas maneiras pelas quais o termo é usado no Velho Testamento são:

OS FILHOS DE ISAQUE – Esaú nasceu primeiro (Gn 27:19), mas Jacó (Israel) recebeu o lugar de preeminência como “primogênito” (Êx 4:22).

OS FILHOS DE JACÓ – Rúben nasceu primeiro (Gn 46:8), mas Judá foi escolhido para ter a linhagem real (Gn 49:8; 1 Cr 5:1-2).

OS FILHOS DE JOSÉ – Manassés foi o primeiro na ordem de nascimento (Gn 41:51, 48:14), mas a Efraim foi dado o lugar de ser o primeiro como “primogênito” (Jr 31:9).

OS FILHOS DE JESSÉ – Eliabe foi o primeiro na ordem de nascimento (1 Cr 2:13-15), mas a Davi foi dado o lugar de preeminência como “primogênito” (Sl 89:27).

O SENHOR JESUS CRISTO – Ele nasceu primeiro na família de José e Maria (Mt 1:25; Lc 2:7) e Ele também é colocado em primeiro lugar e posição, em tudo aquilo que está conectado com o propósito de Deus (Rm 8:29; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5). Assim, Ele é “Primogênito” em ambos os sentidos.
Colossenses 1:15 diz que Ele é “o Primogênito de toda a criação”. Sendo o Criador do universo, quando Ele veio ao mundo (Sua encarnação), não poderia ter outro lugar além do Cabeça da criação. Ser o Primogênito de todas as Suas criaturas O distingue como tendo um lugar superior ao delas. Colossenses 1:18 indica que o Senhor é Primogênito de outra maneira. Quando Ele Se levantou “de entre os mortos” (ARA) Ele Se tornou o “Primogênito” de toda uma nova raça de homens (Rm 8:29 – “muitos irmãos”). Uma vez que eles são da mesma “espécie” que Ele é na nova criação (compare Gn 1:24), eles são perfeitamente adequados para serem Seus eternos companheiros, e assim Ele “não Se envergonha de lhes chamar irmãos” (Hb 2:11). Sendo “o Primogênito de entre os mortos”, o Senhor Jesus é o Redentor triunfante que agora tem o direito de receber o louvor e adoração dos santos. Apocalipse 1:5 indica que o Senhor, como “Primogênito”, tem o título e o direito de tomar a herança (toda criação) e reinar sobre ela, o que Ele fará em Sua Aparição (Ap 1:7).
Como “Primogênito”, o Senhor tem muitos irmãos sob Si em Sua nova criação (Rm 8:29), mas como o “Unigênito”, Ele não tem irmãos conectados Consigo porque esse termo indica a essência divina, a qual nenhuma criatura pode ter ou sequer alcançará. (Veja: Unigênito)

A IGREJA DE DEUS – O termo “primogênito” também é aplicado aos Cristãos. Nos manuscritos gregos ele está no plural e, para indicar isso, é traduzido por W. Kelly como “primogênitos”. Isso mostra que aqueles que foram chamados pelo evangelho hoje e que, portanto, fazem parte da Igreja de Deus, foram colocados em uma posição especial e de favor entre todas as criaturas abençoadas na família de Deus (Ef 3:15). Eles têm uma posição superior na família de Deus – mesmo acima dos anjos – com bênçãos superiores que correspondem à sua posição privilegiada! Não é que eles sejam melhores do que os outros na família, mas porque Deus Se propôs mostrar “a glória da Sua graça” por meio deles (Ef 1:6). Ele tomou os mais baixos dos homens e por meio da graça colocou-os no mais alto lugar possível de bênção. (Veja: Adoção)

PRIMEIRO HOMEM, O


PRIMEIRO HOMEM, O – Este termo indica o que é natural e terreno na raça humana (1 Co 15:47). A Escritura nunca nos diz do “primeiro homem” ser corrupto ou pecaminoso, porque o que é inerentemente natural ao homem não é mau, pois foi Deus que o criou. Por esta razão, não é dito do “primeiro homem” ser “crucificado” com Cristo, como é o caso do “velho homem” (Rm 6:6).
A criação do homem, segundo a primeira ordem, tem muitas características do próprio Deus, pois foi criado à Sua “imagem” e segundo Sua “semelhança” (Gn 1:26). Por exemplo, o homem tem uma personalidade definida com preferências e aversões. Ele também tem sentimentos e poderes de raciocínio etc. Essas qualidades naturais não são más, mas fazem parte da composição do ser humano. Deus não trouxe isto a juízo, pois foi feito por Sua própria mão na criação. É o mesmo com nosso corpo; ele nunca é considerado mau. (Na KJV lê-se Filipenses 3:21 como “nosso corpo vil”, mas esta não é a melhor tradução, pois o que Deus criou não é vil – no sentido moderno da palavra. Se nosso corpo fosse vil nesse sentido, nunca seríamos convidados a apresentá-lo a Deus como um sacrifício vivo, como afirmado em Romanos 12:1  (A versão Almeida Corrigida diz: “nosso corpo abatido”. A Atualizada e J. N. Darby dizem “nosso corpo de humilhação”). “O corpo do pecado”, mencionado em Romanos 6:6, não está falando de nosso corpo físico, mas da totalidade do pecado como um sistema. Usamos a palavra “corpo” de forma semelhante em outros tópicos. Por exemplo, dizemos, “o corpo de bombeiros”, ou “o corpo médico” etc.
Enquanto que não nos é dito que aquilo é natural no “primeiro homem” venha a ser julgado por Deus, toda a ordem humana foi suplantada por outra ordem humana sob Cristo a qual é superior. Esta é a força da palavra “depois” em 1 Coríntios 15:46. Por isso o primeiro homem foi colocado de lado e substituído pela nova ordem humana sob Cristo. Os Cristãos são parte dessa nova raça agora (2 Co 5:17; Ef 2:10) e estão esperando para fisicamente trazer a imagem do “segundo homem”, quando forem glorificados (1 Co 15:49).
O termo “primeiro homem” é frequentemente usado de forma alternada com o termo “homem velho” mas, como observamos, esses termos não são sinônimos. O apóstolo Paulo usa esses termos para definir dois aspectos diferentes da raça humana sob Adão. O “velho homem” designa o estado corrupto e caído da raça, enquanto o “primeiro homem” designa o que é natural e terreno na raça. O primeiro homem foi substituído, mas o velho homem foi julgado. (Veja: O Velho Homem)

CHEIO DO ESPÍRITO


CHEIO DO ESPÍRITO – Este termo tem a ver com o estado do crente e, portanto, é algo mais do que receber “o dom do Espírito Santo” pelo qual somos habitados por Ele (At 2:38, 8:15-17, 10:45, 19:2; 2 Co 1:21-22; Gl 3:2; Ef 1:13, 4:30; 1 Ts 4:8 etc.). Estar “cheio do Espírito” (Ef 5:18; At 2:4, 4:31, 6:3, 7:55, 9:17, 11:24 etc.) tem a ver com dar o controle total de nossa vida ao Espírito de uma forma prática.
Uma ilustração dada por H. P. Barker torna clara essa distinção. Ele disse: “Um visitante em sua casa não a ocupa. Ele está restrito à parte da casa à qual você o introduziu. Se, no entanto, você colocar sua casa inteira à sua disposição, e lhe der a chave de cada quarto e armário, ele então controlará todo o lugar. Não é que ele tenha vindo para fazer isto, mas agora, por seu ato de entrega, ele terá completo controle. Assim também é com o Espírito Santo. Muitas vezes O restringimos a certas partes de nossa vida e experiência, mas Ele deseja ter total controle, para nos possuir inteiramente para os interesses de Cristo. Quando entregamos ao Seu controle toda a nossa casa, então Ele está num indisputado comando dela e, nesse sentido, nos enche” (The Holy Spirit Here Today, pág. 77).
Assim, o crente recebe o Espírito Santo uma vez em sua vida ao crêr no Senhor Jesus Cristo. Quando este Hóspede divino faz do crente Sua residência, Ele nunca o deixa, pois o crente é com Ele “selado para o dia” da sua “redenção” final – que é quando o Senhor vem no Arrebatamento (Ef 4:30; Jo 14:16 – “para sempre”). Mas o crente pode ser enchido muitas vezes. Isto é porque nosso estado é como a maré vazante, e podemos não estar sempre rendidos ao Espírito como deveríamos. Sendo assim, não há na Escritura exortações aos Cristãos para serem “selados” ou “ungidos” com o Espírito. Esses termos têm a ver com a presença permanente do Espírito no crente. E como os Cristãos são crentes, já receberam o Espírito. Há, no entanto, exortações na Escritura para serem “cheios” do Espírito.
Bem podemos perguntar: “Como é que um Cristão se enche do Espírito?” As passagens seguintes, que falam do “encher”, nos dão a resposta:
  • Em Atos 2:1-4, dedicando-se aos interesses do Senhor.
  • Em Atos 4:31, ocupando-se com a oração e a leitura da Palavra de Deus.
  • Em Atos 6:3 e Atos 11:22-24, servindo aos outros em nome do Senhor.
  • Em Atos 7:55, testemunhando de Cristo.
  • Em Efésios 5:18-21, regozijando-se no Senhor com canto e ações de graças.

Porém, para que possamos ser preenchidos, precisamos primeiro ser esvaziados de tudo o que é incompatível com o Senhor. Muitas vezes há coisas na vida dos crentes que não têm direito de estar ali, e elas impedem o Espírito. Consequentemente, Ele não os enche. Podem ser pensamentos impuros, motivos indignos, desejos cobiçosos, interesses e ambições egoístas etc. Essas coisas certamente precisam ser lançadas fora e a grande questão é: “Como fazer isso”? A resposta é: “Sob o princípio do deslocamento”. H. P. Barker deu a conveniente ilustração sobre este ponto. Ele disse: “Suponha que eu tenha em minha mão um copo, aparentemente vazio. Na verdade, ele está cheio de ar. Como posso esvaziá-lo do ar? Não por agitá-lo freneticamente com a boca para baixo, nem limpando-o com um pano. Ele é esvaziado simplesmente por estar parado em uma mesa enquanto é enchido com água. Eu o esvazio de ar enchendo-o com água.” (The Holy Spirit Here Today, pág. 78). É o mesmo que ser cheio do Espírito; quando coisas e atividades Cristãs ocupam nossos pensamentos e nossa vida, aquelas outras coisas não terão lugar nela. Se tentarmos forçar a estarmos cheios do Espírito de outra maneira, a vida Cristã vai se tornar uma coisa legalista e, afinal, desmoronará por falta de energia para continuar nelas.
Estar cheio do Espírito Santo tem muito a ver com se entregar às reivindicações de Cristo e ao Hóspede divino que habita em nós. Nossa vontade é a principal culpada de impedir essa entrega. Outra ilustração de H. P. Barker nos ajuda a entender este ponto. Na Alemanha, há muitos anos, um magnífico órgão de tubos de renome mundial foi construído em uma grande catedral. Um dia um visitante foi à catedral e perguntou se ele poderia tocar o órgão. O zelador disse ao visitante que não era permitido deixar estranhos tocarem o instrumento. O visitante insistiu, e, finalmente, depois de muita persuasão, o zelador permitiu-lhe sentar-se ao órgão. Imediatamente, a música mais deslumbrante fluiu daquele órgão e encheu a catedral. O zelador ficou atônito e parou imóvel, admirado, enquanto ouvia os maravilhosos sons que reverberavam pela construção. Após o visitante ter tocado por algum tempo e estando prestes a sair, o zelador foi até ele e perguntou: “Quem é você?” Ele respondeu: “Mendelssohn” – Era o grande compositor em pessoa! Então o zelador ficou constrangido e disse: “Imagine só; eu estava aqui impedindo você, um homem tão eminente e de tal habilidade, e o maior compositor na Europa, de tocar este órgão! Estou envergonhado de mim mesmo”. Muito mais excelente do que qualquer compositor humano famoso, o Espírito de Deus entrou em nosso coração quando fomos salvos. Mas temos nós, como aquele zelador, proibido o Compositor divino de sentar-Se ao painel de controle de nossa vida para criar, por assim dizer, “uma belíssima música” para a glória de Deus?

sábado, 27 de maio de 2017

COMUNHÃO


COMUNHÃO – Significa ser “participantes em conjunto” naquilo que as partes envolvidas têm em comum (1 Co 10:16). Os crentes no Senhor Jesus Cristo foram levados à “comunhão” com o Pai e o Filho (1 Jo 1:3), com o Espírito Santo (2 Co 13:14) e uns com os outros (1 Jo 1:7). Assim, permanecendo juntos nessa comunhão, Deus e Seu povo têm seus corações entretecidos em reflexão inteligente, objetivo, propósito, desejo e afeto em relação a todas as coisas passadas, presentes e futuras. Se nossos pensamentos e ideias não estão de acordo com a mente de Deus, então estamos sem comunhão com Ele, no que diz respeito a esses tópicos.
Comunhão deste tipo não aparece na Escritura senão depois de consumada a expiação, sobre a qual Deus sai em busca do homem, em graça, para formar um relacionamento com os crentes à luz da plena revelação da verdade. Os santos do Velho Testamento, como Abraão, tinham comunhão com Deus, mas não da maneira na qual os Cristãos conhecem a comunhão com Deus pela morada interior do Espírito. H. M. Hooke disse: “A primeira vez que ela [a comunhão] ocorre no Novo Testamento é em Atos 2:42. Por que você não a vê antes? Porque até que você tenha a vida eterna revelada, manifestada, e até que ela tenha sido comunicada, não poderia haver tal coisa como a comunhão. Como poderia Deus levar as pessoas a terem comunhão Consigo mesmo sem antes ter tirado os pecados deles? Não foi até que Cristo morreu, ressuscitou e foi para o céu, e o Espírito Santo desceu, para que você obtivesse essa palavra” (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 234).
Na Escritura, a comunhão Cristã (1 Co 1:9; At 2:42-47) é sobretudo proximidade. Implica estar “reunidos” ao nome do Senhor Jesus Cristo (Mt 18:20), “reunidos” para partir o pão (At 20:7 – TB), estavam “reuidos” para a oração (At 4:31, 12:12; Rm 15:30), “se reuniram” para o ministério da Palavra (At 11:26; 1 Co 14:23), “reunido” a congregação para ações administrativas (At 15:30; Rm 1:12), andando “unidos” em um mesmo sentido e com os mesmos objetivos (1 Co 1:10), e sendo “cooperadores” no serviço do Senhor (1 Co 3:9; 2 Co 6:1 – TB).
Tudo isso se baseia no fato de que fomos vivificados “juntamente”, ressuscitados “juntamente” e assentados “juntamente” em Cristo (Ef 2:5-6 – JND), e também porque fomos “bem conjuntados” (Ef 2:21 – TB) e edificados “juntamente” para a habitação de Deus na Terra (Ef 2:22). Em breve seremos arrebatados “juntamente”, e assim reunidos juntamente “com Ele” (2 Ts 2:1), seremos glorificados juntamente “com Ele” (Rm 8:17) e, finalmente, viveremos “juntamente” com Ele (1 Ts 5:10).



– A Escritura usa essa palavra de duas maneiras, mas com dois significados completamente diferentes. Como regra, quando o artigo “a” é usado com “fé”, refere-se à revelação Cristã da verdade. Por exemplo, Judas 3 diz: A fé que uma vez foi entregue aos santos”. Mas quando o artigo “a” não é mencionado, refere-se simplesmente à energia interior da confiança de uma alma em Deus. Por exemplo, Atos 20:21 diz: “arrependimento para com Deus e a em nosso Senhor Jesus”. (As traduções em português acrescentam incorretamente o artigo “a” neste versículo).

ESTADO ETERNO, O


ESTADO ETERNO, O – Este termo não é encontrado na Escritura, mas transmite um pensamento bíblico. Os que ensinam sobre a Bíblia o usam quando se referem a uma condição de coisas que Deus criará nos céus e na Terra depois que o tempo terminar seu curso – isto é, depois do Milênio. Há apenas três lugares na Escritura onde o Estado Eterno é descrito: 1 Coríntios 15:24-28; 2 Pedro 3:12-13 e Apocalipse 21:1-8.
No Estado Eterno, a reconciliação de todas as coisas será completa; tudo estará de acordo com a mente de Deus (Cl 1:20). O pecado e a morte existirão no Milênio (Sl 101:5-8; Is 65:20; Zc 5:1-4; 1 Co 15:25), mas no Estado Eterno eles desaparecerão (Jo 1:29; 1 Co 15:26). Durante o Milênio, a justiça “reinará” (Is 32:1, 61:11). Será a regra de vida para todos na Terra; tudo o que levanta a cabeça contra ela será julgado e derrubado. Mas no Estado Eterno, a justiça “habita” pacificamente (2 Pe 3:13). Não haverá necessidade de impô-la, pois não haverá poder contrário para resistir a ela – tudo será de Deus e Ele será “tudo em todos” (1 Co 15:28). A Escritura diz que Cristo e os santos celestiais “reinarão para todo o sempre” (que é o Estado Eterno). Cristo terá entregado o reino ao Pai, e não haverá necessidade de governo na Terra (1 Co 15:24). Assim, o Milênio será para a reivindicação do caráter de Deus, mas o Estado Eterno será para a satisfação de Seu coração. O Milênio será “o dia do Senhor” (Is 2:12 etc.) e “o dia de Cristo” (Fp 1:6, 10, 2:16 etc.), mas o Estado Eterno será “o dia de Deus” (2 Pe 3:12) e “o dia da eternidade” (2 Pe 3:18). Tudo no céu e na Terra refletirá a glória de Deus naquele dia eterno.
O céu e a Terra permanecerão como lugares distintos por toda a eternidade, mas eles estarão em uma condição inteiramente nova, que será totalmente diferente daquilo que conhecemos hoje. Apocalipse 21:1 diz que “o mar já não existe”. Isso, tomado simbolicamente, indica que não haverá mais separação nas circunstâncias que conhecemos hoje. Um “mar” é um elemento separador na natureza e é usado neste versículo para indicar a separação em circunstâncias, espaço, tempos e nacionalidade etc. Portanto, as dimensões do tempo, limites geográficos, limitações e diferenças humanas desaparecerão. Não haverá nada para separar os homens da feliz comunhão uns com os outros e com Deus. Uma condição de felicidade imutável permeará tudo. Assim, não haverá mais “lágrimas”, “morte”, “tristeza”, “choro” e “dor” – coisas essas que são o resultado direto do pecado (Ap 21:1-5).
A Nova Jerusalém será vista como a morada eterna da Igreja, que será “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2). Assim, a Igreja existirá como uma entidade distinta dos outros grupos de pessoas redimidas como sendo a “noiva” de Cristo. A Igreja como “a esposa do Cordeiro” (o que ela será no Milênio, ajudando no governo da Terra – Ap 21:9) cessará no Estado Eterno, mas a Igreja como noiva de Cristo continuará pela eternidade. Ela estará lá totalmente “para” o Seu gozo e para a satisfação do Seu coração.
Da Nova Jerusalém é dito que vem “de Deus”, mas não há indicação de que ela toque a Terra; assim o céu e a Terra permanecerão distintos no Estado Eterno, mas estarão na mais estreita harmonia. Naquele dia eterno, será triunfantemente declarado: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará” (Ap 21:3). Este é o grande desejo de Deus – habitar em comunhão com “os filhos dos homens” (Pv 8:31). Quando isso ocorrer, será anunciado triunfantemente – “Está cumprido” (Ap 21:6). Isso marca o cumprimento do propósito de Deus para com o homem.
Apocalipse 21:8 afirma que haverá também um estado imutável de condenação para os perdidos. Oito classes de pecadores são mencionadas como estando sob eterna condenação no lago de fogo. O Estado Eterno não tem fim. Isso é muito solene.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

FILHO ETERNO, O

FILHO ETERNO, OEste termo não é encontrado na Escritura, embora a verdade que ele transmite certamente é. Refere-se ao relacionamento de Cristo na Divindade como Filho, como sendo aquilo que tem existido eternamente. Não se refere à eternidade de Seu Ser, mas à eternidade de Sua Filiação. Alguns erroneamente pensam que embora Ele existisse eternamente como uma das Pessoas na Divindade, Ele não Se tornou o Filho até Sua encarnação. Esse erro é chamado de “Filiação Temporal”. As seguintes passagens indicam que a Filiação de Cristo é eterna:
Provérbios 30:4 indica que a Filiação de Cristo não só existia antes de Sua encarnação, mas que existia antes mesmo da criação do mundo!
Colossenses 1:13-16 e Hebreus 1:1-2 afirmam que Cristo, como Filho de Deus, criou o mundo, provando assim que Sua Filiação existia muito antes de Ele ter entrado neste mundo como um Homem.
Isaías 9:6 e João 3:16 também indicam que a Filiação de Cristo existia antes que Ele viesse a este mundo. Esses versículos afirmam que o Filho de Deus foi “dado”, e para que algo seja dado, primeiro deve existir. Do contrário, a palavra “dado” perde seu significado.
Muitas passagens da Escritura (especialmente no evangelho de João) atestam o fato de que Cristo, como Filho de Deus, foi “enviado” pelo Pai. Novamente, isso demonstra que a Filiação de Cristo tinha que ser preexistente à Sua Humanidade, caso contrário, “enviado” também perderia seu significado. Veja Mc 12:6; Jo 3:17, 3:34, 4:34, 5:23-24, 30, 36-38, 6:29, 38-40, 44, 57, 7:16, 18, 28-29, 33, 8:16, 18, 26, 29, 42, 9:4, 10:36, 11:42, 12:44-45, 49, 13:16, 20, 14:24, 15:21, 16:5, 17:3, 18, 21, 23, 25, 20:21; At 3:26; Rm 8:3; Gl 4:4; 1 Jo 4:9, 10, 14.
J. N. Darby disse: “Se eu não tenho a Ele como Filho antes do Seu nascimento no mundo, perco tudo o que o Filho é. Se Ele é Filho apenas após a encarnação, você perdeu todo o amor do Pai ao enviar o Filho” (Collected Writings, vol. 25, págs. 230-231). Ele também disse: “'O Pai enviou o Filho para ser o Salvador do mundo'. Ele não enviou meramente uma ideia. Havia uma Pessoa viva de Quem é dito que foi enviada. Nem foi somente quando Ele foi enviado a este mundo, pois Ele diz: “'Eu saí do Pai, e vim ao mundo'” (Notes and Comments, vol. 2, pág. 281).
João 1:18 afirma, em referência a Cristo como o Filho de Deus “que está no seio do Pai”. A palavra “está” neste versículo refere-se ao presente eterno.
João 11:27 afirma que Cristo é “o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. As palavras “havia de vir” confirmam Sua preexistência à Sua Humanidade.
João 16:27-28 indica que Cristo, como o Filho de Deus, “saiu do Pai”. Isto mostra que Ele estava ao lado do Pai antes de Ele ter vindo a este mundo.
Em João 17, o Senhor Se dirige ao “Pai” como sendo o “Filho”. Esse relacionamento de Pai e Filho é mencionado por toda a oração. Duas vezes Ele faz referência a algo que existia entre Eles antes da fundação do mundo: a “glória” que Ele, como Filho, tinha com o Pai (v. 5) e o “amor” que Ele, como Filho, desfrutava do Pai (v. 24). Essas duas coisas mostram claramente que Ele estava com o Pai como o Filho antes de Sua encarnação.
Hebreus 5:8 mostra que houve um ponto na história pessoal do Senhor quando Ele, como “o Filho”, não sabia o que era ser obediente, nunca tendo sido submetido à obediência. Isso, é claro, foi antes que Ele Se tornasse um Homem. Este versículo afirma que, apesar de ser “o Filho”, quando Ele Se tornou um Homem, Ele teve que aprender a obediência como qualquer outro homem – somente, é claro, Ele aprendeu isso em perfeição. H. Smith disse: “Ele aprendeu por experiência o que custa obedecer” (Outline of the Epistle to the Hebrews, pág. 31).
1 João 1:1-2 afirma que Cristo, “a Vida Eterna”, estava “com o Pai” antes de ser “manifestada” neste mundo. O fato de que Ele estava “com o Pai” antes de vir ao mundo, mostra que Ele estava lá como o Filho, pois “pai” e “filho” são termos correlativos; não pode haver um pai sem que haja um filho! Por isso, Ele, como o Filho, preexistiu à Sua encarnação. O Sr. Darby observou: “O que é chamado de ‘A Filiação Eterna’ é uma verdade vital; de outra forma, perdemos o Pai enviando o Filho, e o Filho criando, e não temos Pai se não temos Filho” (Notes and Comments, vol. 2, pág. 300).
Hebreus 7:3 descreve as características do sacerdócio de Melquisedeque. O escritor inspirado não está dizendo que Melquisedeque não tinha pai ou mãe, mas que ele foi introduzido na Escritura (Gn 14) sem que ela nos desse qualquer detalhe sobre sua genealogia. Não está registrado quem era seu pai e sua mãe. O ensinamento simbólico que o Espírito de Deus usa é apresentar Melquisedeque como sendo uma pessoa eterna com um sacerdócio eterno. O escritor acrescenta, “feito semelhante ao Filho de Deus”, porque ele assume que todos sabemos que o Filho de Deus é eterno.
J. N. Darby disse: “A noção de Filiação em Cristo somente quando Encarnado é destrutiva para o gozo mais elementar da Igreja, e abominável para aqueles que têm comunhão pelo Espírito na verdade” (Collected Writings, vol. 3, pág. 89). Ele também disse: “Eu considero vital sustentar a Filiação antes dos mundos, isto é a verdade”.
J. G. Bellett disse: “É evidente que o Filho era o Eterno, o nome deste Eterno Filho é Jesus Cristo” (Bible Treasure, vol.6, pág. 57).
W. Kelly disse: “Sob todas as mudanças, externamente, Ele permanece desde a eternidade, o Filho Unigênito no seio do Pai. Portanto, o Filho estando nesta afável proximidade de amor, não tem a Deus somente, mas ao Pai” (Lectures Introductory to the Gospels, on John 1, pág. 463).
C. H. Mackintosh disse: “Questione a Eterna Filiação de Cristo, questione a Sua Divindade, questione a Sua Humanidade imaculada, e você terá aberto a porta da enxurrada para que uma onda desoladora de erro mortal se apresse a entrar” (Notes of the Pentateuch, Levítico, pág. 39)
W. T. P. Wolston disse: “O Pai nunca foi Encarnado e o Espírito de Deus nunca foi Encarnado, mas o Filho de Deus, o Verbo, ‘Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade’ (Jo 1:14) O Filho Eterno entrou nesta cena, humilhando-Se a Si mesmo e tornando-Se um Homem” (Seekers For Light, pág. 107).
W. Scott disse: “‘O Filho unigênito, que está no seio do Pai’, é apenas uma vez registrado na Escritura, e é a declaração para nós da profundidade e ternura do amor no qual o Filho sempre habitou com Seu Pai” (Bible Handbook, Old Testament, pág. 72).
A. J. Pollock disse: “Sabemos, dos quatro evangelhos, qual das três Pessoas da Trindade o Senhor Jesus era: o Filho, o Filho eterno, o Filho de toda a eternidade... recusar reconhecer isto é o Espírito do anticristo” (The Amazing Jew, pág. 45).

quinta-feira, 25 de maio de 2017

SEGURANÇA ETERNA DO CRENTE, A

SEGURANÇA ETERNA DO CRENTE, A – A expressão exata “segurança eterna” não é encontrada na Bíblia, mas a verdade que ela transmite certamente está ali. Refere-se ao fato de que uma pessoa verdadeiramente salva, por meio da fé em Cristo, não pode perder sua salvação e sua aceitação em Cristo diante de Deus. Os seguintes versículos ensinam isso: Lc 15:3-6; Jo 6:37-40, 10:28-29, 14:16; Rm 6:23 com 11:29; Rm 8:30-39; 1 Co 1:7-8, 3:13-17, 5:5; Ef 1:13 com 4:30; Fp 1:6; 1 Tm 4:10; Hb 10:14, 13:5; 1 Pe 1:5; 1 Jo 2:1.
Se um crente perdesse sua salvação e acabasse no inferno, Deus daria prova de ser mentiroso, porque a Sua Palavra diz que as ovelhas de Cristo “nunca hão de perecer” (Jo 10:28-29); Cristo teria que acabar no inferno com o crente, porque Ele prometeu: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5); e o Espírito Santo também teria que ir para o inferno, porque a Escritura diz que Ele habitará e estará com os crentes “para sempre” (Jo 14:16). Tudo isso, é claro, é absurdo e totalmente impossível.
Há algumas passagens da Escritura que parecem ensinar que um crente poderia perder sua salvação, mas um olhar mais atento a essas passagens mostra que elas não estão falando de crentes verdadeiros no Senhor Jesus Cristo, mas sim de crentes meramente professantes que apostatam da fé Cristã. Algumas dessas passagens são: Mt 7:21-23, 12:43-45, 13:5-6, 20-21, 24:13, 25:26-30; Mc 3:28-30; Lc 22:31-32; Jo 15:2-6; Rm 11:22; 1 Co 9:27, 15:2; Hb 6:4-6, 10:26-29, 12:14; 2 Pe 2:1, 20-21. A dificuldade que as pessoas têm com essas passagens – que as levam a uma conclusão errada – é que elas não sabem a diferença entre queda e apostasia. Ambas se referem a uma pessoa se afastar de Deus, mas uma – a apostasia – é infinitamente pior do que a outra. Um verdadeiro crente pode cair e deixar de andar com o Senhor, mas ele não vai apostatar. Apenas crentes professos podem apostatar, que é abandonar a confissão de fé que eles fizeram uma vez. Se eles fizerem isso, estão condenados, mesmo que ainda estejam vivos neste mundo! Eles não podem ser renovados ao arrependimento e trazidos à salvação por fé em Cristo (Hb 6:4-6, 10:26).
A chave para entender estas passagens que parecem ensinar que um crente poderia perder sua salvação é ver que elas estão se referindo à apostasia, e não à queda. Elas têm a ver com crentes meramente professantes, não crentes verdadeiros. Pode-se perguntar: “Por que essas advertências a respeito de apostasia são apresentadas nos livros da Bíblia que foram escritas aos crentes quando ela não tem aplicação para eles?” A resposta é que os escritores do Novo Testamento, divinamente inspirados, em muitas ocasiões, falaram para uma multidão mista de crentes verdadeiros e crentes meramente professantes. Assim, suas observações incluíam advertências para aqueles que transitavam entre os verdadeiros crentes e que estavam meramente professando fé em Cristo. Tais observações destinavam-se à consciência dessas pessoas. Elas tinham a intenção de despertá-los para sua necessidade de serem salvos, e avisá-los de que, se se desviassem da fé que professavam, estariam perdidos para sempre! (Veja: Apostasia e Queda)

VIDA ETERNA



VIDA ETERNA – Nos evangelhos sinóticos[1], o termo refere-se a ter vida divina, vinda de Deus, na Terra no reino milenar de Cristo (Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:17, 30; Lc 10:25, 18:18, 30 etc.). Isso foi prometido no Velho Testamento (Sl 133:3; Dn 12:2) e terá cumprimento no remanescente de Israel (Ap 7:1-8) e nos crentes das nações gentias (Ap 7:9-10) num dia vindouro.
Mas no evangelho de João e nas epístolas do Novo Testamento, vida eterna tem um significado totalmente diferente. Ela é apresentada como algo celestial. Neste aspecto Cristão, vida eterna tem a ver com a possessão da vida divina de acordo com a relação que os Cristãos têm com o Pai e o Filho. O Senhor a definiu como: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). Essa é uma distintiva bênção Cristã, possuída “em Cristo” (Rm 6:23; 2 Tm 1:1). F. G. Patterson disse: “A vida eterna é o termo Cristão para aquilo que temos em Cristo; por ela somos trazidos à comunhão com o Pai e o Filho e, portanto, temos uma natureza adequada ao céu” (Scripture Notes and Queries, pág. 112).
A vida eterna, nesse sentido Cristão, é chamada assim porque se refere a uma qualidade especial da vida divina que o Pai e o Filho têm desfrutado juntos em comunhão com o Espírito Santo eternamente . Antes da vinda de Cristo ao mundo, esse aspecto da vida divina era desconhecido pelos homens – estava “com o Pai” nos céus (1 Jo 1:2). Mas agora foi dada aos Cristãos (Jo 3:16; 1 Jo 5:13 etc.) pela qual são capazes de desfrutar da comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Jo 1:3).
Ao contrário do que muitos Cristãos pensam, a “vida eterna” não é uma descrição da duração da vida divina, mas sim uma descrição do caráter e da qualidade da vida divina. Portanto, “vida eterna” não significa “vida que dura para sempre”. Como toda a vida humana dura para sempre – independentemente de a pessoa ser salva ou não – o termo certamente deve significar mais do que uma vida de duração interminável. H. Nunnerley disse: “Muito mau entendimento surgiu sobre a vida eterna, limitando o seu significado à duração sem fim da sua existência e à eterna segurança daqueles que possuem essa vida” (Scripture Truth, vol.1, pág. 155). A. C. Brown disse que a vida eterna “não significa meramente que temos vida que dura para sempre. Também não se refere particularmente ao nosso primeiro encontro com o Salvador, como salientado por alguns evangelistas” (Eternal Life, pág. 4). H. M. Hooke comentou: “Poucos de nós se esforçam em sentar e pensar o que é a vida eterna. Lembro-me de ter perguntado a uma irmã anciã se ela gostaria de me dizer o que era a vida eterna. ‘Oh, sim!’, ela disse, ‘perpetuidade da existência’. ‘Então, eu disse, você não tem nada a mais do que o diabo tem – pois ele tem a perpetuidade de existência!’ Eu acredito que o que ela disse é um entendimento comum. Mesmo os perdidos têm perpetuidade de existência, pois eles passarão a eternidade no lago de fogo, mas eles não têm a vida eterna” (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230).
Muitos confundem a vida eterna com o novo nascimento, mas esses termos não são sinônimos. Ambos têm a ver com possuir vida divina, mas a vida eterna é ter a vida divina em seu sentido mais pleno, o que exigiu a vinda do Filho de Deus. O Senhor disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10:10). Antes de Sua vinda ao mundo, as pessoas não conheciam esse caráter da vida divina. Não é que existem dois tipos diferentes de vida divina. A vida dada no novo nascimento e vida eterna são a mesma vida em essência. É a própria vida de Cristo – de fato, Ele é chamado “A Vida Eterna” (1 Jo 1:2). A diferença é que nascer de novo é ter a vida divina em embrião, por assim dizer, enquanto que a vida eterna é ter essa vida em sua plenitude. O mesmo poderia ser dito da vida em uma semente de maçã em oposição à vida em uma macieira adulta. Ambas têm a mesma vida, mas uma não a desenvolveu.
A posse da vida eterna, em seu sentido Cristão, envolve quatro coisas:

1) CONHECER A DEUS COMO PAI (Jo 17:3). Isso exigiu a vinda de Cristo ao mundo para revelar o Pai (Jo 1:18, 14:6-11).
J. N. Darby disse: “A revelação do nome do Pai traz consigo a vida eterna” (Notes and Jottings, pág. 102). H. Nunnerley disse: “A vida eterna é uma vida de comunhão, de participação nas relações divinas, um conhecimento prático do Pai e Seu Enviado” (Scripture Truth, vol. 1, pág. 197). (“Pai” é usado algumas vezes no Velho Testamento em referência a Deus, mas está indicando Seu cuidado para com Seu povo como um pai guia e cuida de sua família, não é usado como um nome de Deus revelando Sua Pessoa como tal, como é revelado no Novo Testamento. Alguns exemplos são: Is 63:16, 64:8; Jr 3:4)

2) CRER EM CRISTO, O FILHO DE DEUS (Jo 3:16, 36, 5:24, 6:47; Rm 6:23 etc.).

3) CONHECER A OBRA CONSUMADA DE CRISTO NA CRUZ (Jo 3:14-15).

4) SER HABITADO PELO ESPÍRITO SANTO (Jo 4:14), que traz o crente em um relacionamento com o Pai e o Filho. F. G. Patterson disse: “Temos a vida eterna em Cristo – Cristo vive em nós, e esta vida eterna nos leva à comunhão com o Pai e o Filho, o que não poderia acontecer até que o Pai fosse revelado n’Ele e o Espírito Santo ser dado, pelo Qual nós a apreciamos” (Words of Truth, vol. 3, pág. 178). A. C. Brown disse: “A vida eterna refere-se à vida de Deus desfrutada em comunhão com o Pai e o Filho por meio do Espírito Santo que habita em nós” (Eternal Life, pág. 4).

Assim, enquanto os santos do Velho Testamento eram sem dúvida nascidos de novo (e assim tinham a vida divina), eles não poderiam ter tido vida eterna, simplesmente porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo para revelar o Pai, nem tinha sido revelado como o Filho de Deus, nem tinha consumada a redenção, nem havia subido ao alto para enviar o Espírito Santo. H. M. Hooke disse: “Fiquei muito impressionado ao examinar as Escrituras do Velho Testamento e não encontrar uma única passagem mencionando um santo do Velho Testamento que tivesse a vida eterna; ela não era conhecida” (The Christian Friend, vol. 12 [1885], pág. 230). Perguntaram para J. N. Darby: “Não tinham, os santos do Velho Testamento, vida eterna?”. Ele respondeu “Com relação aos santos do Velho Testamento, a vida eterna não fazia parte da revelação do Velho Testamento, mesmo supondo ainda que os santos do Velho Testamento a tiveram” (Notes and Jottings, pág. 351). Ele também disse: “O conhecimento de Deus, mesmo do Pai e do Filho, o Espírito de filiação, a consciência de estar em Cristo e Cristo em nós, a comunhão com o Pai e o Filho, nada disto os santos do Velho Testamento possuíam” (Collected Writings, vol. 10, pág. 26). F. G. Patterson disse: “Não se pode dizer que eles (os santos do Velho Testamento) tiveram vida eterna. Ela só foi trazida à luz por meio do evangelho (2 Tm 1:10; Tt 1:2 etc.)” (Scriptures Notes and Queries, pág. 66).
Ensinar que os santos do Velho Testamento tinham a vida eterna obscurece a distinção entre os dois Testamentos e as bênçãos e privilégios que distinguem a Igreja de Israel. É um erro da Teologia do Pacto, que vê Israel e a Igreja como um só povo com bênçãos iguais.

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Há dois aspectos da vida eterna[2] em seu sentido Cristão. Isso não se refere apenas ao caráter da vida divina no crente como uma possessão presente (Jo 3:15-16, 36), mas também se refere a uma esfera de vida na qual o crente deve viver em comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Tm 6:12, 19). Usamos a palavra vida de forma semelhante ao descrever uma esfera na qual uma pessoa habita – por exemplo: “vida no campo”, “vida na cidade” etc. Neste sentido, a vida eterna é um ambiente de vida em que tudo é luz e amor, e onde a comunhão com o Pai e o Filho é tudo. Em virtude de o Espírito habitar em nós, podemos viver nessa esfera agora enquanto estamos aqui na Terra (Jo 4:14; 1 Jo 5:11-13). Assim, alguém adequadamente disse que a vida eterna é “uma condição de coisas fora deste mundo”, na qual o crente vive pelo Espírito.
O apóstolo Paulo refere-se a esse aspecto da vida eterna como algo em que entraremos no futuro, quando formos recebidos no céu em nosso estado glorificado (Rm 2:7, 5:21, 6:22, 23; Gl 6:8; 1 Tm 1:16, 6:12, 19; Tt 1:2, 3:7). Isso não significa que não podemos desfrutar dessa vida agora. Podemos certamente apreciá-la agora pelo Espírito, mas então estaremos naquela vida em sua plenitude. Por outro lado, o apóstolo João fala da vida eterna no crente como uma possessão presente (Jo 3:15 etc.), embora também a mencione em seu sentido futuro (Jo 4:36, 12:25)[3].




 [1] N. do T.: Evangelhos sinópticos ou sinóticos é um termo que designa os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de relatos em comum, na mesma sequência, e algumas vezes utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras.

 [2] N. do T.: O Concise Bible Dictionary diz: “Aquele que tem o Filho de Deus, portanto, tem vida agora (a possessão presente) e sabe disso pelo Espírito Santo, o Espírito da vida. O apóstolo João fala da vida como um estado subjetivo nos crentes, embora inseparável do conhecimento de Deus plenamente revelado como o Pai no Filho, e de fato caracterizado por isso. O Senhor disse a Seu Pai: “a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). O apóstolo Paulo apresenta a vida eterna mais como uma esperança diante do Cristão (a possessão futura), que, no entanto, tem um efeito moral presente (Tt 1:2, 3:7). Disso obtemos que a vida eterna para o Cristão se dirige à sua plenitude para a glória de Deus, quando o corpo atual como parte da velha criação será transformado, e haverá total conformidade a Cristo, de acordo com o propósito de Deus. Nesse meio tempo, a mente de Deus é que o Cristão, habitado pelo Espírito Santo, saiba (tenha o conhecimento consciente) que ele tem a vida eterna (1 Jo 5:13).

  [3] N. do T.: Todas as versões da Bíblia em português não fazem qualquer distinção entre o caráter presente e o futuro da vida eterna como o fazem as versões de J. N. Darby e William Kelly. Na tradução de J. N. Darby os versículos que se referem ao caráter presente (que traduzem como eterna vida) são: Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:30; Lc 10:25, 18:30; Jo 3:15, 16, 36, 4:36, 5:24, 39, 6:27, 40, 47, 54, 68, 10:28; 12:25, 50, 17:2; Rm 2:7; 1 Tm 1:16; 1 Jo 2:25. A tradução de William Kelly ainda acrescenta à lista acima quatro versículos (1 Jo 3:15, 5:11, 13, 20) que se referem ao caráter presente da vida eterna. Os versículos seguintes se referem ao caráter futuro (que traduzem como vida eterna): Mc 10:17; Lc 18:18; Jo 4:14, 17:3; At 13:46, 48; Rm 5:21, 6:22, 23, Gl 6:8; 1 Tm 6:12; Tt 1:2, 3:7; 1 Jo 1:2; Jd 21.

terça-feira, 23 de maio de 2017

PERDIÇÃO ETERNA


PERDIÇÃO ETERNA – Refere-se ao julgamento que cairá sobre aqueles que estão eternamente perdidos (Mt 25:46). Eles existirão no inferno eternamente, onde pagarão o preço por seus pecados. (Veja: Inferno)
Alguns pensam que a “perdição eterna” (2 Ts 1:9; Fp 3:19; Mt 7:13; 2 Pe 2:1, 12, 3:16 etc.) significa que as pessoas são consumidas pelo fogo do julgamento de Deus, e assim deixam de existir. Essa falsa doutrina é chamada Aniquilacionismo. A Palavra de Deus indica que a “perdição eterna” não tem a ver com a perda do ser de uma pessoa, mas com a perda do seu bem-estar eterno.
Jó 14:22 e Jó 30:24 torna claro que os incrédulos ainda existem depois que morrem, pois dizem que eles “clamam” e “lamentam” mesmo depois da destruição deles. Apocalipse 19:20 nos diz que a besta e o falso profeta foram lançados vivos no ardente lago de fogo e no capítulo 20, nos fala que o diabo é lançado no abismo durante o Milênio, e então é solto. E depois de uma breve rebelião, lemos: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20:10). Nota: a besta e o falso profeta ainda estavam lá no lago de fogo após o reinado de mil anos de Cristo! Eles não deixaram de existir. Novamente, diz em Apocalipse 14:10-11: “e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite”. O tormento é uma condição que exige que uma pessoa exista para suportá-lo. Você não pode atormentar o que não existe. O Senhor também disse: “O seu bicho não morre” (Mc 9:48). Isso indica que os tormentos de uma consciência culpada não se extinguirão nos perdidos sob a punição eterna. Além disso, várias Escrituras nos dizem que o fogo do juízo de Deus “nunca se apaga” (Mt 3:12; Mc 9:43, 45; Lc 3:17). Que necessidade haveria de que o fogo continuasse se aqueles que forem lançados lá fossem aniquilados imediatamente? Alguns dizem que a própria morte é o juízo, mas a Escritura diz: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso (da morte) o juízo” (Hb 9:27). Se “depois” da morte vem o juízo, como poderia a morte ser o juízo?
Mesmo na linguagem comum “perdição” não significa a cessação da existência. Por exemplo, se pegássemos um machado e fizéssemos uma bela mesa de madeira em pedaços, poderíamos ser acusados ​​de destruir a mesa. No entanto, haveria tanto material espalhado em uma pilha inútil no chão como quando compunha uma bela mesa. Uma vez destruída, ela não pode mais ser usada para a finalidade para a qual foi feita – mas o material de que foi construído ainda existe. É o mesmo com a destruição dos seres humanos. O homem foi feito para a glória de Deus (Is 43:21; Ap 4:11); se ele vai à “perdição eterna”, não pode mais ser capacitado pela salvação para o propósito para o qual ele foi criado.

ELEITO, O (ESCOLHIDO)


ELEITO, O (Escolhido) – Isto nos fala de Deus, na Sua soberania, escolhendo pessoas e anjos para vários propósitos. A Palavra de Deus indica que existem vários grupos entre o povo de Deus que foram assim escolhidos. Há aqueles a quem Ele “escolheu” para fazer parte da Igreja – os Cristãos (Ef 1:4; Cl 3:12; 1 Ts 1:4; 1 Pe 1:2, 2:9). Há também judeus “eleitos” (Is 65:9, 15, 22; Mt 24:22; Lc 18:7), e os israelitas “eleitos” das dez tribos (Mt 24:31). Há até anjos “eleitos” (1 Tm 5:21). O próprio Senhor também é mencionado como o “Meu Eleito” (Is 42:1; Mt 12:18).
               A eleição está intimamente ligada à predestinação. A diferença é que a eleição tem a ver com ser escolhido e a predestinação tem a ver com para que fomos escolhidos. A eleição, portanto, diz respeito a Deus escolhendo pessoas para bênção, e a predestinação diz respeito a Ele escolhendo o destino delas (Ef 1:5 – JND).

PENHOR DO ESPÍRITO, O


PENHOR DO ESPÍRITO, O – O penhor é um adiantamento feito por algo que uma pessoa pretende tomar posse no futuro. É usado frequentemente em conexão com imóveis. Na Bíblia, é usado para indicar a presença do Espírito no crente como uma garantia de sua porção em Cristo no dia vindouro de glorificação, e também o que lhe permite desfrutar sua porção em Cristo antes que ele chegue ao céu (2 Co 1:22, 5:5; Ef 1:14).
H. P. Barker ilustrou o “penhor do Espírito” como segue: “É como se fosse assim. Eu estou indo em uma viagem marítima, e prometo levar meu filho, um menino de doze anos, comigo. Para seu deleite a bordo do navio eu lhe compro um telescópio – não um mero brinquedo, mas um instrumento realmente útil. Para ele o presente é uma garantia da minha parte de que eu pretendo levá-lo na viagem, mas é mais do que isso. Quando a viagem está chegando ao seu fim, uma palavra percorre todo o navio informando que a terra está à vista. Não consigo ver nada, mas meu garoto com seu olho no telescópio, diz que ele pode ver as montanhas com bastante clareza. Logo eu começo a traçar os contornos das montanhas, mas meu menino exclama: ‘Eu posso ver árvores e algumas casas’. Essas coisas um pouco mais tarde podem ser discernidas a olho nu, mas o menino grita: ‘Pai, posso ver as pessoas no porto’. O telescópio lhe dá uma visão mais clara da terra para a qual ele está indo e lhe permite obter vislumbres dela antes do desembarque. Isso é o que o Espírito Santo como o Penhor faz por nós. Ele nos dá uma visão espiritual mais precisa; nos coloca hoje num terreno de gozo das grandes coisas que constituem nossa herança eterna; Ele nos capacita, por assim dizer, a respirar a atmosfera do céu e a conhecer o que existe lá antes de chegarmos lá” (Holy Spirit Here Today, pág. 73).
G. Cutting tinha uma boa ilustração que enfatiza o trabalho do Espírito no crente como o Penhor, concedendo ao crente já desfrutar daquilo que receberá no dia vindouro. Ele imaginou um fazendeiro comprando algumas ovelhas em um mercado e confiando-as a seu capataz para levá-las com segurança para casa. “João, coloque-as em um cercado ao lado do celeiro, corte alguns maços daquele capim do campo atrás da casa, e coloque-os no recinto para as ovelhas se alimentarem nesta noite. Amanhã, vamos colocá-las no próprio campo”. Isso descreve exatamente a nossa situação. Somos ovelhas compradas e confiadas aos cuidados do Espírito Santo, que nos conduzirá ao céu. No glorioso “cedo venho”, pelo qual esperamos, vamos ser introduzidos nesse campo de capim celestial, por assim dizer. Entretanto, o Espírito como o Penhor de nossa herança nos dá hoje para provar o “capim” das coisas que virão para nosso prazer.

domingo, 14 de maio de 2017

DISPENSAÇÕES


DISPENSAÇÕES – A palavra “dispensação” significa “a administração de uma casa”, ou “o gerenciamento de uma família”, ou “a lei de uma casa”. No sentido usado na Escritura, fala de um tratamento público, ordenado por Deus aos homens na administração de Seus caminhos, em Sua casa, durante várias eras.
Uma vez que a casa de Deus na Terra não foi estabelecida num sentido verdadeiro até que Ele formalmente assumiu relações com Israel no terreno da redenção, com a construção do tabernáculo onde Ele pôde encontrar-Se com eles (Êx 25-40), poderíamos dizer que a partir desse momento em diante há três dispensações principais nos caminhos de Deus (The Concise Bible Dictionary, págs. 216-217). Antes disso, os homens andavam com Deus como indivíduos, mas não havia um sistema público, ordenado por Deus, tratando com os homens coletivamente em relação à Sua casa.
A primeira delas é a dispensação da lei, que era um tratamento ordenado por Deus aos homens (a nação de Israel), segundo o qual as obrigações e exigências da Lei deveriam ser cumpridas pelo povo para que eles pudessem andar em comunhão com Deus. Essa administração passou por três fases:
  • Cerca de 400 anos sob os Juízes (desde a entrada de Israel na terra de Canaã até o final dos Juízes – At 13:19-20).
  • Cerca de 500 anos sob os reinos (de Saul ao cativeiro babilônico).
  • Cerca de 600 anos de testemunho profético durante os tempos dos gentios (do cativeiro a João Batista (Lc 16:16). 

A segunda dispensação é a presente “dispensação [administração – JND] do Mistério” (Ef 3:9). Essa é uma administração especial para o governo de uma companhia celestial de pessoas (a Igreja) neste presente Dia da Graça. O apóstolo Paulo foi encarregado de “demonstrar a todos” acerca do que envolvia essa administração (Ef 3:9). Três vezes ele fala de lhe ter sido “dada” uma revelação especial da verdade relativa à presente “dispensação” (1 Co 9:17; Ef 3:2; Cl 1:25). Ele devia ensinar as grandes verdades do Mistério “que desde os séculos esteve oculto” que dizia respeito a “Cristo e à Igreja” (Ef 3:9, 5:32), incluindo, desde o chamado da Igreja até os arranjos práticos para os santos se reunirem para adoração e ministério. A Igreja propriamente não é uma dispensação, mas é governada por uma dispensação ou lei da casa de Deus em relação à verdade revelada no Mistério.
O ministério da graça realmente começou com o ministério de nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 1:17), mas quando Seu povo terreno O rejeitou, Deus revelou a presente dispensação do Mistério no chamado celestial da Igreja, com a vinda do Espírito Santo em Pentecostes (At 2:1-4, 11:15). Os crentes hoje estão sendo chamados dentre os judeus e dentre os gentios para fazer parte de uma coisa nova, celestial – a Igreja, o corpo e a noiva de Cristo (At 15:14, 26:17). O encargo do verdadeiro ministério Cristão é “promover a dispensação de Deus” ajudando os santos que compõem a Igreja a entender seu chamado celestial em Cristo e a viver a vida deles de acordo com a atual administração de Sua casa (1 Tm 1:4).
A terceira dispensação ainda está por vir – “a dispensação da plenitude dos tempos” (Ef 1:10). Essa será uma ordem especial de Deus aos homens durante o reinado público de Cristo no Milênio. O remanescente restaurado de Israel e das nações gentias desfrutarão uma porção terrena de bênção sob a administração de Cristo e a Igreja, que reinará sobre o universo desde os céus (Sl 103:19; Ap 21:10).
Essas três dispensações (ou administrações) da casa de Deus são imensamente diferentes. Na verdade, quanto mais as estudarmos, mais veremos como são diferentes. Por exemplo, a dispensação da lei tem a ver com um povo que tem uma porção e um destino terrenal, enquanto que a dispensação do Mistério – intercalada entre a dispensação da lei e a dispensação da plenitude dos tempos – tem a ver com pessoas que têm um chamamento e um destino celestial (a Igreja). Atualmente, o tratamento de Deus com a nação de Israel está suspenso (Dn 9:24-27; Os 5:15-6:3; Mq 5:2-3; Rm 11:11-24 etc.). Enquanto isso Ele está chamando os crentes deste mundo pelo evangelho da Sua graça para compor a Igreja (At 15:14, 26:17). Quando o número total de crentes eleitos for salvo e trazido à Igreja (Rm 11:25), Deus retomará Seus tratos com Israel e trará um remanescente de todas as doze tribos à bênção (Rm 11:26-27). As nações gentias também serão abençoadas, sujeitas a esse remanescente, no reino milenar de Cristo. Assim, houve uma mudança nos caminhos dispensacionais de Deus, da Lei à Graça, administrada em o Mistério, e haverá outra mudança da administração do Mistério para a administração do reino milenar. Em um dia próximo, quando o propósito de Deus for totalmente cumprido, o reino terá pessoas na Terra abençoadas em relação a Cristo, e também pessoas no céu abençoadas com Cristo.
Muitas vezes as dispensações foram confundidas com as eras (ou séculos). Alguns tentaram uniformizá-las e torná-las na mesma coisa. Por exemplo, o Dicionário da Bíblia de Unger diz: “Uma dispensação é uma era de tempo durante a qual o homem é testado”. Esquema das “Sete Dispensações” de C. I. Scofield é outro exemplo dessa mistura.
No entanto, eras e dispensações não são iguais. W. Kelly disse: “A palavra ‘dispensação’ não tem nenhuma referência a um determinado período ou era” (Lectures on the Epistle to the Ephesians, pág. 27 – nota de rodapé). Uma “era” é um período de tempo, e uma “dispensação” é uma ordenação moral e espiritual de Deus durante um período de tempo, em relação a alguma verdade específica que Ele concedeu à Sua casa. De acordo com isso, J. N. Darby falou de estar “em” uma época, mas “sob” uma dispensação (Collected Writings, vol. 10, pág.12).


sábado, 13 de maio de 2017

DISCIPLINA


DISCIPLINA – Disciplina significa “abrir o entendimento pela correção” (Jó 36:10). Toda disciplina, se vem da mão de Deus, é boa, pois Ele é a fonte de todo o bem. Existem duas classes de disciplina:
  • Disciplina de edificação de caráter.
  • Disciplina corretiva.

Sob a categoria de edificação de caráter, a disciplina deve ser vista como um treinamento divino na escola de Deus. Há pelo menos três tipos de treinamento divino – cada um começando com a letra P:

1) Disciplina preparatória

Tem a ver com uma ação de Deus preparando Seus servos para uma obra específica à qual Ele os chamará. Assim como um atleta é preparado por treinamento, Deus treina Seu povo para o serviço ao qual Ele os chama. Um exemplo desse tipo de treinamento divino é visto no que Paulo disse aos Coríntios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar [encorajar – JND] os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação [encorajamento – JND] com que nós mesmos somos consolados [encorajados – JND] de Deus” (2 Co 1:3-6). Isso mostra que Deus coloca Seu povo em certas situações difíceis para que aprendam por elas sobre Sua compaixão e conforto por meio de uma experiência prática. Essas experiências com o Senhor amolecem nosso coração (Jó 23:16) e nos enchem de compaixão pelos outros, e deixando-nos mais inclinados a nos compadecer, confortar e encorajar aqueles que estão passando por provações. Assim, as experiências que passamos na vida têm uma maneira de nos preparar para uma certa linha de serviço na qual o Senhor vai nos usar.
O Senhor Jesus Cristo experimentou esse tipo de treinamento disciplinar em Sua vida que O preparou (pelos sofrimentos que Ele experimentou) para ser nosso “misericordioso e fiel Sumo Sacerdote” (Hb 2:17-18, 4:15, 5:8).

2) Disciplina purificativa

Às vezes chamada de disciplina “produtiva”, tem a ver com a obra de Deus de remoção das falhas de caráter e traços em nossa personalidade que não sejam semelhantes a Cristo. Há falhas de caráter em cada Cristão que impedem, de alguma forma, que Cristo possa ser visto neles. Essas coisas não são pecados propriamente, mas são traços de caráter em nossa personalidade que talvez nem sejamos conscientes deles. Mesmo que não possamos estar cientes dessas coisas em nosso caráter, Deus as vê (e nossos irmãos também, muitas vezes), e Ele Se ocupa em remover essas falhas por meio de Sua disciplina purificativa. Ele o faz usando as provações e tribulações que tocam nossa vida. Essas disciplinas não formam Cristo em nós – o que se dá somente quando nos ocupamos com Ele (2 Co 3:18) – mas elas têm o objetivo de nos fazer ver a nós mesmos mais claramente, e assim sermos levados a nos julgar. Tão logo essas qualidades indesejáveis forem removidas de nossa personalidade, Cristo será visto em nós com mais nitidez.
Vemos esse tipo de disciplina na vida de Jó. Ele era “sincero [perfeito – JND], reto e temente a Deus, e desviava-se do mal” (Jó 1:1). Isso mostra claramente que o problema de Jó não estava em suas ações – ele certamente não estava fazendo nada de errado que pudesse ser visto em sua vida – era sua atitude que precisava de ajuste. Ele tinha uma atitude de autoestima que o Senhor removeu por meio das provações que experimentou. O Senhor usou as provações que o afligiram como uma disciplina purificativa. No final, Jó viu o que o Senhor estava tentando mostrar, e ele se abominou, e se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6). Ao julgar-se a si mesmo, ele era uma pessoa melhor por causa da disciplina. Assim, por meio desse tipo de disciplina, Deus fez um bom homem ser melhor! Podemos pensar que as atitudes não são tão importantes, mas Deus vê de outra forma, e Ele fará o possível para corrigir um espírito errado em Seus filhos, pois Ele é “o Pai dos espíritos” (Hb 12:9).
Várias figuras são usadas na Escritura para indicar esse processo de remoção das imperfeições em nossos caminhos e maneiras. Davi disse: “Cercas o meu andar” (Sl 139:2-3). Cercar (ou peneirar, separar – KJV margem) é o processo de remover a palha do trigo. Salomão disse: “Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor” (Pv 25:4). Escórias são as impurezas em metais preciosos que o ourives remove por meio do calor intenso. Jeremias disse que o vinhateiro remove o sedimento de seu vinho, mudando-o cuidadosamente de “vaso para vaso” (Jr 48:11). O Senhor disse que o Pai “limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:1-2). Isso se refere ao processo de poda que os lavradores fazem para ter um maior rendimento em sua vinha. O escritor de Hebreus, disse: “tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos: não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas Este, para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade” (Hb 12:9-10). Isto refere-se à criação e admoestação (Ef 6:4) que um pai terreno emprega para corrigir seus filhos que têm um espírito incorreto, o mesmo que o Senhor semelhantemente faz conosco.

3) Disciplina preventiva

Este tipo de disciplina tem a ver com o benefício que recebemos com as dificuldades e provas pelas quais passamos em nossa vida e que resultam em nossa preservação. A dependência expressa pela oração e o andar em humildade com o Senhor são essenciais para sermos preservados no caminho de fé. Quando começamos nossa vida Cristã, geralmente não há nela bastante desse bem precioso, e estamos sujeitos a cair sob um ataque do inimigo de nossa alma. Conhecendo nosso estado e nossas necessidades espirituais muito melhor do que nós, Deus, em perfeita sabedoria, permite certas provações e dificuldades em nossa vida para nos exercitar e, se recebidas adequadamente, irão nos preservar no caminho (Sl 18:30; Rm 8:28). Essas provações e dificuldades têm um modo de nos manter em constante exercício para nos lançar sobre o Senhor em humilde dependência. O resultado é que somos preservados de andar descuidados e independentes. A fórmula para cair de nossa firmeza (2 Pe 3:17) é andarmos descuidados e independentes.
Paulo mencionou este tipo de disciplina para os coríntios falando: “para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” (2 Co 12:7-9). Essa disciplina foi dada a Paulo para mantê-lo humilde e dependente, de modo que não ficasse inchado pelo orgulho e fosse levado pela autoestima – o que certamente o levaria à queda (Pv 16:18). Assim, o Senhor usou essa aflição como uma disciplina preventiva para preservar Paulo como um vaso útil em Seu serviço. Se o apóstolo Paulo precisou disso, certamente também precisamos.

4) Disciplina punitiva

O quarto tipo de disciplina é a corretiva, que o Senhor determina na vida de um Cristão desobediente por causa de um curso de pecado em que está andando. Ela é enviada por Ele como algo punitivo e é projetado para quebrar a vontade do Cristão desobediente, e assim corrigi-lo e restaurá-lo. Embora Jonas não fosse Cristão, a experiência dele com o Senhor é um exemplo. Este tipo de disciplina emana do coração de Deus em amor (Hb 12:6). Seu amor é tal que Ele não permitirá que Seus filhos desobedientes continuem indefinidamente em um curso intencional de pecado. Custe o que custar, Ele trará de volta o Cristão que se desviar – mesmo que seja no seu leito de morte.
Paulo se referiu a esse tipo de disciplina quando disse: “quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). O julgamento e castigo a que Paulo se refere aqui é o governamental. Alguns dos coríntios tinham sentido a mão de Deus dessa maneira punitiva – havia doentes e alguns foram levados pela morte (1 Jo 5:16). Eliú também lembrou a Jó desse aspecto da disciplina de Deus (Jó 36:9-12). Isso poderia vir sobre nós pela mão de nossos irmãos em uma ação administrativa em nome do Senhor. Paulo lançou um par de blasfemadores fora da assembleia, de tal forma que eles “aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20).
Quando somos castigados dessa maneira, existe o perigo de “subestimar” a disciplina e considerá-la como sendo algum outro tipo de disciplina, e então perdermos o que o Senhor está nos dizendo. J. N. Darby disse: “Não duvido que uma grande parte das doenças e das provações dos Cristãos sejam castigos enviados por Deus por causa de coisas que são más à Sua vista, que a consciência deveria ter prestado atenção, mas as negligenciou. Deus foi forçado a produzir em nós o efeito que o julgamento próprio deveria ter produzido antes da Sua ação. No entanto, não é verdade supor que todas as aflições são disciplinares. Embora sejam assim às vezes, elas nem sempre são enviadas por causa de pecado” (Collected Writings, vol.16, pág. 175).