quinta-feira, 27 de julho de 2017

JULGAMENTO



JULGAMENTO – A Escritura fala de pelo menos doze julgamentos diferentes:

1) Julgamento do pecado e dos pecados

Esse é o maior de todos os julgamentos na Escritura. Tem a ver com o que Deus realizou para Sua própria glória e para a bênção do homem, por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Como o Emissário do pecado, Ele levou o juízo de todo o contágio do pecado na criação (Hb 2:9, 9:26; Rm 8:3). Isso não significa que todos os homens são libertados do julgamento de seus pecados e são salvos, mas que, pela obra de Cristo na cruz, a salvação dos homens é agora possível, porque a “propiciação” foi feita “pelos (pecados) de todo o mundo” (1 Jo 2:2).

2) Julgamento próprio

Isso tem a ver com o crente não se poupando, mas julgando todo mau pensamento, palavras vãs e más ações em sua vida, de modo a manter uma boa consciência e assim poder desfrutar a comunhão ininterrupta com Deus (1 Co 11:31a). A circuncisão de Israel em Gilgal é uma figura disso – representando o corte (julgamento) da atividade da carne em nossa vida (Js 5). Quando eles vieram daquele lugar, foram vitoriosos sobre seus inimigos (Js 10:7, 43 etc.), mas quando eles negligenciaram ir a Gilgal antes de encontrar seus inimigos, foram derrotados (Js 7:1-5).

3) Julgamento governamental

Esse tipo de julgamento tem a ver com a maneira atual de Deus tratar o Seu povo que deliberadamente se desvia d’Ele (1 Co 11:32; 1 Pe 1:17, 3:12b, 4:17). A extensão dessa ação governamental ocorre apenas durante o tempo em que o povo está na Terra; não tem nada a ver com seu destino eterno. Não envolve apenas os crentes, mas diz respeito a todos os que estão na casa de Deus – incluindo os crentes meramente professos e aqueles que estão fora da casa. Em relação aos crentes, poderia ser chamado de “o governo do Pai” (1 Pe 1:17), e, em conexão com os incrédulos, poderia ser chamado de “o governo de Deus” (2 Pe 3).
O julgamento governamental pode ser sentido na vida de uma pessoa, por Deus providencialmente permitir que certas coisas negativas aconteçam a ela para que colha o que semeou (Gl 6:7-8). Como o Senhor tem “todo poder” no céu e na Terra (Mt 28:18), Ele pode tocar em nossa vida de várias maneiras, se assim Ele o quiser. Para o crente, esse tipo de julgamento tem como objetivo chamar sua atenção e levá-lo a julgar o que quer que seja que o Senhor trate em sua vida que esteja inconsistente com a Sua santidade. Mesmo depois de termos tratado coisas que não estão corretas em nossa vida, o Senhor pode ainda nos deixar continuar sob os efeitos de Seu julgamento governamental para nos manter humildes e dependentes (2 Sm 12:10).

4) Julgamento administrativo na assembleia

Uma assembleia, que seja conforme a Escritura, exercerá disciplina quando necessário. A assembleia é responsável por manter a santidade e ordem na casa de Deus e deve lidar com os problemas antes que saiam de seu controle. Se a assembleia puder corrigir o curso que uma pessoa está seguindo antes de chegar ao ponto em que deva afastá-la da sua comunhão, terá feito um bom trabalho e libertado tal pessoa de muitos problemas e tristezas em sua vida (Tg 5:19-20). Isso mostra que a maior parte de toda a disciplina da Igreja deve ser exercida em relação a uma pessoa quando ela ainda está em comunhão.
Existem três áreas principais de preocupação em que uma pessoa pode falhar e um julgamento administrativo de excomunhão pode ser necessário. Os seguintes cenários dão o procedimento geral. Isso não pode ser considerado regra e tratado como se estivéssemos consultando um manual. Cada caso deve ser tratado na sua própria importância e com discernimento espiritual (Gl 6:1)

a) Uma pessoa mundana – (falha em seu andar)

Isso se aplicaria a uma grande variedade de desordens morais (1 Co 5:11 etc.). Aqueles que têm o cuidado do rebanho em seu coração devem tentar “restaurar” uma pessoa surpreendida em uma falha (Gl 6:1; Jo 13:14). Eles procurarão alcançar a consciência da pessoa de forma gentil e atenciosa num esforço de afastá-la do curso em que possa estar. Se isso não a alcançar, o próximo passo será “avisá-la” com uma repreensão privada (1 Ts 5:14). Se a pessoa persiste em seu curso, mas não está em algum pecado em particular que exija ser tirada de comunhão, aqueles que têm o cuidado podem encorajar os santos a se “apartar” da pessoa num esforço para alcançá-la (2 Ts 3:6-15). Se um determinado pecado que requer excomunhão se tornar manifesto, a assembleia deve então agir executando uma decisão de “ligar” para “tirar” essa pessoa (Mt 18:18-20; 1 Co 5:4, 11-13).

b) Uma pessoa heterodoxa[1] (falha em sua doutrina)

Se alguém adota uma doutrina errônea, aqueles que têm o cuidado devem “adverti-lo” a não ensinar nenhuma outra doutrina além do que é ortodoxo[2] (1 Tm 1:3). Se ele insiste em propor suas ideias errôneas, a assembleia é responsável por “julgar” seus ensinamentos, pedindo que ele cesse e desista de ministrar nas reuniões (1 Co 14:29). Se as doutrinas da pessoa são de natureza blasfema, tocando a Pessoa e a obra de Cristo, a assembleia deve colocá-la fora de comunhão, porque seus ensinamentos contaminarão os outros (Gl 5:9). O apóstolo Paulo fez isso com Himeneu e Alexandre, entregando-os a Satanás para que fossem “ensinados por disciplina a não blasfemar” (1 Tm 1:20 – JND). A assembleia não pode entregar alguém diretamente a Satanás como um apóstolo poderia fazer, mas pode colocá-lo fora de sua comunhão, onde Deus julga.

c) Uma pessoa divisiva – (herética em seu espírito)

Isto tem a ver com uma pessoa que cria uma separação na assembleia, tendo um espírito de partidarismo em alguma questão. É um mal eclesiástico e o mais difícil de todos os males de se detectar e de se lidar. Uma vez que isso prejudica a unidade da assembleia, ele precisa ser detido. Em primeiro lugar, os irmãos devem se “desviar” daqueles que causam tais divisões (Rm 16:17-18). Isso não está falando daqueles que seguem em divisões, mas daqueles que as “causam” – os instigadores da divisão. Uma repreensão pública é apropriada quando alguém divide os santos de alguma forma (Gl 2:12-14; 1 Tm 5:19-20). Se a pessoa continua a forçar suas questões e dividir o rebanho, a assembleia tem motivos para colocá-la fora de comunhão. Semear discórdia entre os irmãos é uma “abominação” (Pv 6:16-19), uma obra da carne (Gl 5:20), e pessoas que assim dividem os santos devem ser colocadas fora de comunhão. (Veja: Heresia)
Existem três razões principais porque a assembleia deve executar julgamentos administrativos.
Em primeiro lugar, a assembleia é responsável por não permitir que o nome do Senhor seja associado ao mal diante do mundo (2 Co 7:11).
Em segundo lugar, a santidade na assembleia deve ser mantida para que seja conservada como um lugar adequado para a presença santa de Deus (Ef 2:22; Sl 93:5) e impedir que o caráter de fermento do pecado afete a outros (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12).
Em terceiro lugar, é praticada com o objetivo de corrigir e restaurar o ofensor. Ele é colocado fora e não devemos nos socializar com ele (1 Co 5:11), para que ele possa ser levado ao arrependimento e ser restaurado ao Senhor. Quando a pessoa está arrependida, a assembleia deve recebê-la de volta à comunhão (2 Co 2:6-8). Esse desligamento de uma decisão de “ligar” é também uma ação administrativa da assembleia (Mt 18:18).

5) Julgamento das obras do crente

Esse julgamento está relacionado aos crentes e ocorrerá no céu após o Arrebatamento, no “Tribunal de Cristo” (Rm 14:10-11; 2 Co 5:10). O propósito disso não é determinar se a pessoa que está sendo examinada é apta para o céu – o que foi estabelecido pela sua fé no que Cristo realizou na cruz (Jo 5:24; Rm 8:1) – mas para encontrar coisas em sua vida que foram feitas para o Senhor e para recompensá-la devidamente. Alguns Cristãos veem o tribunal de Cristo com tremor, mas não temos nada a temer porque não será um julgamento de nossos pecados no sentido penal.
Não é a pessoa que está sendo julgada no tribunal de Cristo, mas suas obras. O aspecto do julgamento de Cristo com os crentes é como o de um juiz em uma exposição de arte, não como juiz em um tribunal. Sabemos disso “para que no dia do juízo tenhamos confiança” (1 Jo 4:17).
Alguns têm pensado que essa revisão diz respeito apenas aos nossos pecados depois de termos sido salvos. Mas isso não é o que a Escritura ensina. Ela diz: “o que tiver feito por meio do corpo” (2 Co 5:10). Para enfatizar esse ponto, C. H. Brown habilmente perguntou: “Você estava em seu corpo antes de ser salvo? Sim, você estava; então será uma manifestação de toda a sua vida”. E. Dennett disse: “A totalidade de nossa vida, o significado de cada ato, seus motivos assim como seus objetivos, serão tornados claros para nós – claros quanto à fonte de todos eles, se nossas atividades surgiram da energia da carne ou se foram produzidas pelo Espírito de Deus” (Christ the Morning Star, pág. 37).
Cada vez que o tribunal de Cristo é mencionado no Novo Testamento, ele é visto de uma perspectiva diferente. Ao juntar essas referências, aprendemos que o Senhor examinará todos os aspectos da nossa vida. As áreas de revisão são:
  • Nossos caminhos (2 Co 5:9-10).
  • Nossas palavras (Mt 12:36).
  • Nossas maneiras de servir (1 Co 3:12-15).
  • Nossos pensamentos e motivos (1 Co 4:3-5).
  • Nossos exercícios pessoais em relação a questões de consciência (Rm 14:10-12). 
Há dois motivos principais para o tribunal de Cristo: um tem a ver com efeitos futuros e o outro com efeitos presentes.
Quanto aos efeitos futuros do tribunal, o grande resultado da revisão será o aumento do louvor eterno de Deus e Seu Filho! Isso será realizado de três maneiras:
a) O Senhor magnificará a graça de Deus diante de nossos olhos, de forma que nossa apreciação, por aquilo que Ele fez para nos salvar será aprofundada significativamente em nossa alma. Isso exigirá a revisão de nossa vida inteira, onde veremos nossos pecados à luz de um Deus infinitamente Santo. J. N. Darby disse: “Naquele dia, aprenderemos a verdadeira maldade de nossa carne”. Perceberemos que nossa dívida era muito maior do que pensávamos. Então, o Senhor nos mostrará a grandeza de Sua graça que suplantou a tudo e tirou nossos pecados sobre um justo fundamento que custou a Cristo as agonias da cruz. Veremos com maior profundidade do que nunca, que “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5:20). Como resultado, uma clamorosa erupção de louvores ecoará dos redimidos.
b) Ao rever nossa vida, o Senhor revelará a sabedoria de Seus caminhos para conosco na Terra. Ele nos levará através dos “porquês” e os “para quê” em nossa vida, passo a passo, e nos mostrará que Ele não cometeu nenhum erro no que permitiu que acontecesse. Naquele dia, Ele irá responder a todas as nossas perguntas difíceis sobre essas coisas. Quando olhamos nossa vida agora, pode parecer uma confusão emaranhada, mas naquele dia conheceremos o significado e a razão de tudo – tudo terá o perfeito sentido (Rm 8:28). Ele vai nos mostrar que havia “necessidade de ser” para tudo (1 Pe 1:6). Conheceremos de maneira mais profunda a verdade do Salmo 18:30: “O caminho de Deus é perfeito”. E nós O louvaremos por isso.
c) O Senhor usará a ocasião para determinar nossas recompensas no reino. Naquele dia, Ele encontrará algo para recompensar na vida de cada Cristão (1 Co 4:5; Mt 25:21). Ele não perderá nem a menor coisa que tenha sido feita pelo Seu nome, e nos recompensará por isso (Mt 10:42). Quando virmos as recompensas que Ele nos dará – muitas das quais serão para coisas que teremos esquecido – haverá um fluxo ainda maior de louvores que se derramarão de nosso coração para Ele.

Quanto ao efeito presente do tribunal, uma percepção consciente do que isto envolve, motiva o Cristão a servir o Senhor agora, enquanto há oportunidade. Sabendo que tudo o que fazemos por Ele agora será recompensado e que há pessoas que estarão diante do tribunal de Cristo em seus pecados para serem sentenciados a uma eternidade perdida no inferno (se eles não se salvarem), deveria nos motivar a ocupar-nos no Seu serviço e “persuadir os homens” a se “reconciliar a Deus” (2 Co 5:11, 20 – JND).

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Alguns então em dúvida se a revisão ante o tribunal será uma manifestação pública de nossa vida diante de todos os santos no céu, ou um assunto privado. J. N. Darby foi convidado a responder a esta pergunta no Bible Treasury (W. Kelly - editor). Pergunta: “Em 2 Coríntios 5:10, a manifestação será diante dos irmãos ou diante do Senhor somente?” Resposta: “Não encontro nada na Escritura que fale de manifestação diante de irmãos...” (Bible Treasury, vol. 1, pág. 243; Collected Writings, vol. 13, pág. 359).
W. Scott disse: “Todos sairão do tribunal como um assunto entre cada um e Deus. Não será uma exposição pública diante dos outros” (Exposition of the Revelation, pág. 399).
E. Dennett disse: “O tribunal de Cristo... Tudo isso nos será manifestado naquela oportunidade na paciente graça de nosso bendito Senhor, para nós individualmente, não necessariamente para os outros em público” (Christ the Morning Star, págs. 36-37).
H. D. R. Jameson disse: “‘Devemos todos comparecer (ou, como deveria ser lido, ser manifestados) diante do tribunal de Cristo’. Note-se, no entanto, que a palavra é ‘manifestados’, não ‘julgados’, pois nenhum santo jamais entrará em julgamento (Veja Jo 5:24)... embora nossa manifestação leve tudo à vista (não publicamente, eu julgo, mas como entre o indivíduo e o Senhor)” (Scripture Truth, vol. 1, págs. 317-318).
H. D’A. Champney disse: “Embora seja o tribunal de Cristo, Ele não nos julgará como se fossemos criminosos, mas sim manifestará todos os nossos atos e caminhos... Não creio que Ele nos exporá diante de outros, porém para nós mesmos, e isso também para magnificar Sua graça e amor que nunca nos desamparou” (Wonderful PrivilegesThe Bride of Christ, pág. 10).
F. B. Hole disse: “Ele os conduziu à parte privadamente. Assim será com todos nós quando nos achegarmos a Ele em Sua vinda. Isso significará ser manifestado diante de Seu tribunal, e será na privacidade e no descanso de Sua presença” (The Gospels and Acts, pág. 162).

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Os “todos”, em 2 Coríntios 5:10, inclui todos os homens. Isso significa que o tribunal de Cristo realmente se estende até ao julgamento dos incrédulos no grande trono branco. Embora o caráter do julgamento seja completamente diferente. H. D. R. Jameson disse: “Quanto às palavras ‘todos’, é evidente a partir do contexto que o pensamento do apóstolo inclui a apresentação de todos os homens diante do tribunal (o ‘todos’ no versículo 10 alcança seu escopo no pleno significado do ‘todos’ do versículo 14), e como foi indicado pelo falecido Sr. Kelly, a construção grega é, portanto, diferente daquela encontrada em tal Escritura como 2 Coríntios 3:18, onde apenas os crentes são incluídos” (Scripture Truth, vol. 1, pág. 318).

6) Juízo da consumação

Esse é um julgamento que o Senhor executará sobre os judeus apóstatas no final da grande tribulação, pouco antes d’Ele aparecer vindo do céu (Is 10:22-23, 28:22; Dn. 9:27b). Uma vez que ocorrerá antes de Sua Aparição, será executado indiretamente por meio de um instrumento levantado por Deus – o rei do Norte e sua confederação árabe (Sl 83:1-8; Dn 11:40-42; Jl 2:1-11 etc.). Esses exércitos devastarão a terra de Israel do Norte até ao Sul, matando cerca de dez milhões dos quinze milhões de judeus que terão voltado à sua pátria naqueles dias (Zc 13:8).

7) Juízo da ceifa

Isso tem a ver com o julgamento do Senhor sobre as nações Cristianizadas no Ocidente (Mt 13:38-42; Ap 14:14-16). Ele será executado quando o Senhor aparecer (Mt 24:27, 30; 2 Ts 1:7-9; Jd 14-15; Ap 1:7, 3:3, 11:15 etc.). Quando o Senhor vier do céu como um Rei Guerreiro, destruirá os exércitos da besta e lançará o seu líder (com o anticristo) no lago de fogo (Ap 16:13-15, 19:11-21). Naquele tempo, o Senhor “enviará Seus anjos” para expurgar “o reino dos céus” (isto é, a Cristandade) dos incrédulos. Esses serão crentes meramente professos e que abandonaram a fé em Deus – apóstatas, ateus etc. Todos esses serão lançados diretamente no lago de fogo, sem ver a morte (Mt 13:40-42, 49, 24:39-42). É chamado o julgamento da “ceifa” porque é um trabalho discriminatório de separar o “joio” (o ímpio) de entre o “trigo” (o justo). Os ímpios serão retirados em juízo e os justos viverão no reino milenar de Cristo. Isso é o contrário do que acontecerá no Arrebatamento. No Arrebatamento, o Senhor tira os crentes da Terra (1 Ts 1:10, 4:15-18) e deixa os incrédulos para entrarem no período da tribulação (Mt 25:10-12).

8) Julgamento do lagar (Vindima)

Depois que o Senhor retorna (Sua Aparição) e destrói os exércitos do Ocidente e os exércitos do rei do Norte, Ele irá restaurar um remanescente de todas as doze tribos de Israel para Si mesmo. Então, enquanto Israel recém-restaurado estiver habitando com segurança em sua terra sob a proteção do Senhor, uma confederação final dos exércitos gentios sob Gogue (Rússia) fará um ataque contra eles (Ez 38-39). O Senhor defenderá Israel desses exércitos rugindo de Sião para destrui-los. Esse é o julgamento do “Lagar” (Vindima) (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:12-14). É chamado de “o lagar” porque, como as uvas em um lagar são esmagadas indiscriminadamente, assim será o julgamento dos pecadores nesta enorme confederação. Esse julgamento contrasta com o julgamento da ceifa no qual alguns são selecionados para julgamento e outros não. O Senhor sairá de Jerusalém para a terra de Edom (uma terra transjordaniana a cerca de 320 quilômetros a sudeste de Israel – Ap 14:20) e destruirá o longo comboio de exércitos confederados de Gogue que se reunirão lá (Is 34:1-10, 63:1-6; Hc 3:3-16). Esse julgamento marcará o fim de todas as guerras (Sl 46:9; Zc 9:10).

9) Julgamento em sessão

Após os juízos marciais do Senhor terem terminado (a Ceifa e o Lagar), Ele conduzirá uma sessão de julgamento em conexão com o remanescente das nações gentias que estão situadas fora da terra profética (Mt 25:31-46). Uma vez que todos os poderes hostis terão sido subjugados pelos anteriores juízos marciais do Senhor, esse será um julgamento pacífico diante do “trono da Sua glória”. Esse trono não estará no céu, mas na Terra. Não será o julgamento dos mortos, como o julgamento do “grande trono branco” (Ap 20:11-15), mas sim um julgamento de pessoas vivas entre as nações remotas do mundo. O critério pelo qual as pessoas dessas nações serão julgadas será simplesmente se elas foram ou não hostis aos mensageiros do evangelho do reino (“Meus irmãos”) – não se elas pessoalmente creram na mensagem. Aqueles que foram hostis em relação aos mensageiros do Senhor e rejeitaram sua mensagem serão julgados como uma nação “bode”, e os indivíduos culpados daquela nação serão lançados no lago de fogo pelos anjos que serão os executores deste julgamento (Mt 25:31).

10) Julgamento milenar

Quando Cristo estabelecer Seu reino milenar, Ele “reinará com justiça” (Is 32:1, 61:11). O mundo inteiro será obrigado a viver em justiça no que o Senhor chamou de “a regeneração” (Mt 19:28), e aqueles que optarem por fazer de outra forma serão mortos (providencialmente) por um julgamento do Senhor. Na manhã do dia seguinte, o ofensor cairá morto! (Sl 34:12-16, 101:5-8; Sf 3:5; Zc 5:1-4)

11) Julgamento dos anjos (Maus)

Após o Milênio, no fim do tempo, haverá o julgamento dos anjos maus (1 Co 6:3), e eles serão lançados no lago de fogo com o diabo (Mt 25:41). Os santos glorificados estarão envolvidos na avaliação desse julgamento. O julgamento determinará o grau de punição atribuído a cada anjo caído. Os anjos bons ou “eleitos” (1 Tm 5:21) não fazem parte deste julgamento; eles não precisam ser julgados.

12) Julgamento do grande trono branco

Esse julgamento também ocorrerá no final do Milênio, quando o tempo tiver acabado. Ele trata dos mortos ímpios. Todos os que morreram em seus pecados sem fé, desde o início até o fim do tempo serão julgados pelo Senhor em Seu “grande trono branco” (Is 24:22, Ap 20:11-15). Os mortos ímpios serão ressuscitados naquele momento e serão sentenciados pelos pecados que cometeram (Ap 20:13). Eles serão lançados no lago de fogo (inferno) e punidos lá eternamente (Mt 25:46). O seu julgamento será “segundo as suas obras”. Isto significa que alguns no inferno sofrerão mais, e outros menos, porque todos têm uma quantidade diferente de pecados e um grau diferente de responsabilidade (Lc 12:47-48). Deus não permitirá que ninguém sofra na eternidade por algo que não fez. Não haverá crianças ou pessoas com deficiências mentais punidas nesse julgamento (Mt 18:10); Deus não responsabiliza pessoas por suas ações se não forem mentalmente capazes. Os “grandes e pequenos” que serão julgados naquela época não são crianças e adultos, mas pequenos pecadores e pecadores proeminentes deste mundo que morreram em seus pecados.




  [1] N. do T.: Heterodoxo provém da palavra grega “hetero” que significa “diferente” e “doxa” que significa “fé”. É o que se opõe aos padrões, normas, regras ou à uma doutrina pré-estabelecida. É o que está em desconformidade com a doutrina tida como verdadeira.

  [2] N. do T.: Ortodoxo provém da palavra grega “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.




quarta-feira, 26 de julho de 2017

ISRAEL DE DEUS, O


ISRAEL DE DEUS, O – Esse termo refere-se aos crentes no Senhor Jesus Cristo que foram salvos e trazidos para fora da nação de Israel (Gl 6:16; At 26:17 – “Livrando-te deste povo”). Eles são “um remanescente, segundo a eleição da graça” daquela nação (Rm 11:5 – AIBB) e agora fazem parte da Igreja de Deus.

ESTADO INTERMEDIÁRIO, O


ESTADO INTERMEDIÁRIO, O – Esse termo não é encontrado na Escritura, mas a verdade que ele transmite certamente é. Refere-se à condição de uma pessoa após a morte, mas antes da ressurreição. O estado intermediário às vezes é referido como o estado “separado”, porque na morte as três partes que compõem um ser humano (espírito, alma e corpo) estão separadas (Tg 2:26). O espírito e a alma ficam conscientes no Hades – o mundo invisível das pessoas desencarnadas – e o corpo fica no túmulo.
Se uma pessoa morre em fé, sendo um crente, ele estaria “despido”, no estado intermediário (2 Co 5:4). Seu espírito e alma estariam “com Cristo” no “paraíso” (Fp 1:23; Lc 24:51; At 1:9-10, 3:21, 7:55) enquanto o seu corpo estaria no túmulo, aguardando a ressurreição. Seu espírito e alma estarão em um estado que é “muito melhor” do que qualquer coisa que ele tenha experimentado enquanto estava vivo no corpo aqui na Terra (Fp 1:23).
A alma e o espírito daqueles que morreram sem fé também estão no estado intermediário no Hades, mas estão em um estado completamente diferente do que o dos justos. Estando perdidos, eles “lamentam” em “tormentos” (Lc 16:23; Jó 14:22, 30:24) e aguardam a ressurreição quando terão seu julgamento eterno sentenciado no julgamento do grande trono branco e então serão lançados no inferno, “o lago de fogo” (Ap 20:11-15). (Veja: Inferno)
O estado intermediário é, portanto, uma condição temporária dos mortos. Todos os que morreram estão nesse estado separado – tanto os justos como os injustos. Mas eles não permanecerão lá para sempre. Todos serão ressuscitados, mas em momentos diferentes, e assim terão destinos completamente diferentes. (Veja: Hades e Ressurreição)

HERANÇA, A



HERANÇA, A  Há dois aspectos da herança do Cristão no Novo Testamento:
  • São coisas materiais – ou seja, todas as coisas criadas no céu e na Terra (Ef 1:11, 14, 18; Cl 3:24)
  • São coisas espirituais que os crentes possuem em Cristo – isto é, nossas bênçãos espirituais (At 20:32, 26:18; Cl 1:12; 1 Pe 1:4). 
Vista como coisas materiais, é chamada “Sua herança” (de Cristo – Ef 1:18) e “nossa herança” (Ef 1:14) porque somos “herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8:17). Paulo disse: “Tudo é vosso” (1 Co 3:21), e isso inclui a herança. É algo que é nosso agora (Ef 1:11 – “No qual também obtivemos uma herança” (JND). Foi comprada para nós pela obra de Cristo na cruz (Hb 2:9 – “provasse a morte por todas as coisas” – JND). No entanto, ainda que ela já nos pertença, ainda não foi redimida (Ef 1:14). A redenção da herança tem a ver com a libertação com a qual Cristo a libertará do pecado, de Satanás e do mundo, para que possa ser usada para manifestar a Sua glória no mundo vindouro (o Milênio). Isso ocorrerá na Aparição de Cristo por meio de seus juízos marciais.
       Vista como coisas espirituais, a herança tem a ver com o que os crentes possuem espiritualmente em Cristo, ou seja, nossas bênçãos espirituais (Ef 1:3). Atos 26:18, Colossenses 1:12 e 1 Pedro 1:4 falam dela vista dessa forma. J. N. Darby traduz “uma porção” em Atos 26:18 (margem) e em Colossenses 1:12 para distingui-la do lado material da herança. Visto da perspectiva do Cristão na Terra, este aspecto da herança é visto como estando “no céu”. J. N. Darby disse: “A herança é a herança de todas as coisas que Cristo criou. Mas em 1 Pedro ou em Colossenses 1, ela está no céu” (Notes and Jottings, pág. 101).

INDIGNAÇÃO, A



INDIGNAÇÃO, A – Este é um curto período de tempo na profecia (cerca de 75 dias) que ocorrerá no final da grande tribulação, mas antes do início do Milênio (Is 10:5, 25, 26:20; Dn 8:19, 11:36 etc.). Muitos detalhes na profecia ocorrem nesse resumido período no qual cada estudante da profecia precisa notar e entender. Durante esse tempo, os exércitos gentios atacarão Israel (os judeus na verdade), e depois de ter destruído a multidão dos judeus na terra (que são apóstatas), o Senhor intervirá a favor da nação, vindo do céu pessoalmente (a Aparição) para julgar aqueles exércitos e restaurar um remanescente das doze tribos de Israel. Posteriormente, Ele defenderá Israel de qualquer outro ataque (Gogue, por exemplo) e começará o Seu reino milenar, momento em que o restante de Israel será abençoado num relacionamento baseado num novo concerto com Ele (Jr 31:31-34). Este período é chamado de “a indignação”, porque é quando o Senhor liberará Sua indignação sobre a multidão apóstata dos judeus na terra que O rejeitaram e receberam o anticristo (Is 57:9; Ap 13:11-18). Sua indignação também será derramada sobre israelitas infiéis dentre as dez tribos (Ez 11:9-10, 20:33-38; Ap 14:18-20).
Para cumprir Sua indignação contra os judeus apóstatas, o Senhor empregará “o rei do Norte” e sua confederação árabe de dez países (Sl 83:6-8). Essas nações islâmicas têm um ódio profundo e de longa data contra Israel e ficarão felizes em unir forças para atacá-los e destrui-los (Sl 83:1-5). Eles irão varrer a terra de Israel do Norte para o Sul e devastá-la, matando cerca de dez milhões de judeus em questão de alguns dias! (Dn 11:40-41; Zc 13:8). Isso é chamado de “a consumação” (Dn 9:27; Is 10:22-23, 28:22 – TB).
Depois que esses exércitos tiverem passado pela terra de Israel, entrarão no Egito e conquistarão essa terra também (Dn 11:42-43). Quando o rei do Norte estiver indo a caminho do Egito, os exércitos da “besta” (a confederação de dez países no Ocidente – Ap 13:1, 17:12-14) entrarão na terra de Israel, vindos do Oeste, para defender esse território que eles acreditam ser deles (Nm 24:24). É neste momento que o Senhor virá do céu com os Seus exércitos de homens glorificados (Sua Aparição) e destruirá os exércitos da besta “pelo esplendor da Sua vinda” (2 Ts 1:8, 2:8; Ap 16:13-15, 19:11-18).
Ao mesmo tempo, o Senhor executará o juízo da “ceifa”, enviando Seus anjos para purificar a terra profética ocidental (Cristandade) de todos os que rejeitaram o evangelho da graça de Deus. Aqueles tratados nesse julgamento serão crentes meramente professos que abandonaram sua confissão de fé em Deus (apóstatas). Esse será um julgamento discriminatório (seletivo), onde os anjos tiram os incrédulos da Terra e os lançam vivos no lago de fogo (Mt 13:37-43, 24:39-41; Ap 14:14-16). Os primeiros desses serão a besta e o anticristo (Ap 19:20).
Quando o rei do Norte estiver no Egito, ele ouvirá notícias de que um Guerreiro celestial apareceu e se virará para o norte para encontrá-Lo em batalha na terra de Israel (Dn 8:25, 11:44). O Senhor terá indignação contra estes exércitos e executará o Seu julgamento sobre eles (Dn 11:45; Is 30:27-33, 59:19b; Jl 2:20; Zc 9:8, 14:3).
Depois que o Senhor julgar as potências ocidentais, sob o comando da besta, e os exércitos do rei do Norte, Ele restaurará a nação de Israel. Este será um remanescente de todas as doze tribos, e ocorrerá em duas fases:
  • O Senhor Se mostrará ao remanescente dos judeus (as duas tribos) que se lamentarão em arrependimento, motivo pelo qual serão restaurados a Ele (Mt 24:30, Zc 12:9-13:1).
  • O Senhor reunirá as dez tribos de volta à terra de Israel e restaurará um remanescente deles para Si mesmo (Mt 24:31; Ez 11:9-10, 20:34-38; Zc 13:4-6). 
Então, quando um remanescente de todas as doze tribos de Israel estiver morando em segurança na sua terra sob a proteção do Senhor, será atacado pela última confederação das nações dos gentios sob Gogue – Rússia e seus confederados (Ez 38-39). Naquele tempo, o Senhor defenderá Israel destes exércitos rugindo desde Sião para destrui-los no que se chama “juízo da vindima” (Ap 14:17-20; Is 63:1-6; Jl 3:12-14). O Senhor irá de Jerusalém para a terra de Edom (as terras da Transjordânia, ao sudeste de Israel) para destruir os exércitos confederados de Gogue que serão reunidos lá (Is 34:1-10, 63:1-6; Hc 3:3-16). Depois disso, os exércitos do Israel restaurado sairão e possuirão sua inteira herança prometida a Abraão, expulsando quaisquer pessoas que restarem em sua legítima herança (Sl 47:3, 108:7-13; Is 11:14; Jr 51:20-23; Ez 39:10; Ob 17-20; Mq 4:13, 5:8). Isso marcará o fim de todas as guerras e o fim da Indignação (Sl 46:9; Zc 9:10). Depois disso, o Milênio (o reinado de mil anos de Cristo) começará.
Daniel 11:36 indica quando “a Indignação” começará. O profeta afirma que o voluntarioso rei dos judeus (o seu falso messias – o anticristo) reinará “até que se cumpra a indignação” (TB).
Outras passagens da Escritura indicam que ele reinará na terra de Israel como o rei dos judeus até o momento em que o rei do Norte ataque, momento em que ele fugirá de seu posto (Is 22:19; Zc 11:17). Apocalipse 13:5 indica que a besta e o anticristo continuarão em seus papéis por 42 meses (três anos e meio), que é a segunda metade da semana profética de Daniel (Dn 9:27), o período da grande tribulação (Ap 11:2). Juntando essas coisas, aprendemos que a Indignação começa no fim da grande tribulação, com o ataque do rei do Norte. Isaías 10:25 nos diz quando “a Indignação” terminará. O profeta indica que acabará quando o Senhor julgar Gogue e sua confederação – visto em Isaías como o segundo ataque Assírio (Is 10:26-34).
Isso significa que a indignação durará apenas 75 dias. Isso pode ser calculado a partir de três versículos em Daniel 12. Esses versículos indicam três extensões para a 70ª semana de Daniel (Dn 9:27) – cada uma se estendendo a partir do meio da semana (Dn 12:11; Mt 24:15). Essas datas marcam três etapas da libertação de Israel.
  • Aos 1.260 dias ou “um tempo, de tempos e metade de um tempo” [(12 meses + 24 meses + 6 meses) x 30 dias] (Dn 12:7; Ap 11:3, 12:6, 14), o remanescente dos judeus é libertado do anticristo.
  • Em “mil duzentos e noventa dias” (1.290 dias) (Dn 12:11), o remanescente dos judeus é libertado do rei do Norte.
  • Em “mil trezentos e trinta e cinco dias” (1.335 dias) o remanescente de todas as doze tribos de Israel é libertado de Gogue (Dn 12:12).
Assim, os 75 dias (2 meses e meio) da Indignação é o período desde 1.260 dias até 1.335 dias. Isso mostra que a libertação de Israel não ocorrerá em um dia.








ENCARNAÇÃO DE CRISTO, A



ENCARNAÇÃO DE CRISTO, A – Esse termo não é encontrado na Escritura, mas a verdade que ele transmite com certeza é. Refere-se ao fato de o Senhor unir a humanidade com a Sua Pessoa e Se tornar um Homem. Isso significa que Ele teve um “espírito” humano (Jo 11:33, 13:21), uma “alma” humana (Mt 26:38; Jo 12:27) e um “corpo” humano (Hb 10:5). No entanto, ao fazer isso, Ele não declinou de Sua Divindade. Assim, Ele era totalmente Homem e totalmente Deus. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável para a mente do homem (Mt 11:27). Não somos chamados a entendê-la, mas simplesmente a aceitá-la e crer. Essa encarnação ocorreu quando Maria “concebeu” do Espírito Santo (Mt 1:20) e Ele “nasceu” no mundo (Lc 1:35). (Veja: Jo 1:14; Rm 1:3; Fp 2:5-8; 1 Tm 3:16a)
O Senhor não tomou simplesmente um corpo humano como uma capa dentro da qual o Seu Espírito divino habitou – o erro do Apolinarianismo. Havia uma união verdadeira entre tudo n’Ele como Pessoa divina com tudo o que constitui um ser humano. Tornar-Se um Homem era uma suprema condescendência[1], pois essa união da natureza divina com a humana pemanecerá para sempre. O Senhor viveu e Se moveu e teve Seu Ser neste mundo como um Homem, e Ele entregou Sua vida na morte como um Homem, e assim Ele passou ao estado intermediário (Sua alma e espírito foram temporariamente separados de Seu corpo), mas mesmo na morte, Ele ainda era um Homem (At 2:27). Na ressurreição, Ele tomou Seu corpo novamente e ascendeu à direita de Deus em um estado glorificado (1 Tm 3:16b) – e Ele permanecerá um Homem por toda a eternidade!
Quando a Escritura fala da humanidade de Cristo, ela cuidadosamente se guarda da ideia de que Ele tomou parte na natureza caída pelo pecado que temos. Por exemplo, Hebreus 2:14 diz: “como os filhos participam (“koinoneo” em grego) da carne e do sangue, também Ele participou (“metecho” em grego) [tomou parte – JND] das mesmas coisas”. Isso significa que “como” os humanos tomam parte na humanidade (a qual envolve três partes – um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano), Cristo também participou “das mesmas coisas”. Em outras palavras, Ele Se tornou um Homem real. No entanto, ao falar da humanidade de Cristo, o Espírito usa uma palavra diferente do que Ele usa para descrever nossa humanidade. Os “filhos”, diz o escritor, são “participantes” da carne e sangue. A palavra grega traduzida como “participantes” (koinoneo) refere-se a algo universal compartilhado por toda a humanidade. Isso é verdade para todos os homens, pois todos participamos plenamente da humanidade – até na participação da natureza do pecado. No entanto, quando o versículo continua a falar de Cristo tornando-Se um Homem, o escritor usa outra palavra grega. Ele diz que o Senhor “tomou parte” (“metecho” – JND) na mesma. Essa palavra indica um compartilhamento de algo, sem especificar o grau dessa partilha, e, portanto, indica que, quando Cristo Se tornou Homem, a Sua humanidade não chegou tão longe a ponto de compartilhar da humanidade caída.
Além disso, Hebreus 4:15 afirma que a humanidade do Senhor era “sem pecado [pecado à parte2 – JND]. O “pecado” (singular) é frequentemente usado nas epístolas do Novo Testamento para indicar a velha natureza caída do pecado. Esse versículo, portanto, deixa claro que o Senhor não teve uma natureza humana caída, como têm todos os descendentes do Adão caído (Sl 51:5).
A encarnação, portanto, é diferente das manifestações divinas no Velho Testamento. Aquelas foram ocasiões em que Cristo tomou a forma humana e interagiu com os homens para determinados fins. Muitas vezes, a Escritura usa o título “Anjo” para indicar isso (Gn 16:7, 18:1-33, 32:24-32; Êx 3:2, 4:24, 14:19; Js 5:13-15; Jz 6:11-24, 13:3-5, 9-21; 1 Cr 21:18-30 etc.). Naquelas ocasiões, o Senhor apareceu numa forma humana, mas não era a união das duas naturezas (divina e humana) envolvidas em Sua encarnação.




[1] N. do T.: Qualidade daquele que voluntariamente cede à vontade de outro.

[2] N. do T.: J. N. Darby traduz essa passagem como “sin apart”. Traduzir isto ao português como “apartado (ou separado) do pecado” não estaria correto, pois poderia dar a impressão de que o Senhor Jesus escolheu Se apartar ou Se separar do pecado. Mas a ideia é que o pecado não encontrava lugar n’Ele e, portanto, não agia n’Ele. Nós devemos nos separar ou nos apartar do pecado pois, do contrário o pecado vai encontrar em nós a capacidade de agir. N’Ele não havia “pecado” o que é diferente da ideia que frequentemente vemos na Cristandade professa de que o Senhor Jesus “escolheu” não pecar.

terça-feira, 4 de julho de 2017

EM CRISTO E CRISTO EM VOCÊ


EM CRISTO & CRISTO EM VOCÊ – Essas são expressões técnicas usadas pelo apóstolo Paulo para indicar a posição e o estado do Cristão.
“Em Cristo” é um termo posicional indicando a ligação do Cristão com Cristo no mesmo lugar de favor que Ele está diante de Deus. Literalmente, significa estar “no lugar de Cristo perante Deus” (Rm 6:11, 23, 8:1, 39 etc.). Esse lugar foi assegurado para nós por meio da ressurreição de Cristo dentre os mortos e de Sua ascensão à mão direita de Deus como um Homem glorificado. É uma posição que pertence a todo crente no Senhor Jesus Cristo, independentemente do seu estado de alma porque tem a ver com a imutável posição do Cristão perante Deus. O Cristão, mesmo que tenha morrido, ainda é visto como estando “em Cristo”! (1 Ts 4:16; Rm 8:38-39). Está é nossa ligação com Ele como Cabeça da raça da nova criação, da qual somos os Seus “muitos irmãos” (Rm 8:29; 2 Co 5:17). Assim, o termo indica a posição especial que os Cristãos têm e que os santos do Velho Testamento não tiveram, pois, em seus dias, Cristo ainda não havia vindo, nem havia subido ao alto como um Homem glorificado. Na verdade, todas as nossas distintivas bênçãos Cristãs estão “em Cristo”. (Veja: Bênção)
“Cristo em você” é um termo que muitos Cristãos geralmente entendem mal. Eles pensam que isso significa que Cristo habita pessoalmente neles. Por isso, muitas vezes ouvimos frases como: “Cristo habita em mim”, ou “Jesus vive em mim”! Embora seja verdade que o crente é habitado por uma Pessoa divina, não é Cristo Quem habita nele, mas o Espírito Santo (Jo 14:17; At 5:32; Rm 5:5; 1 Co 6:19; 1 Ts 4:8; Tg 4:5; 1 Jo 3:24). Não têm ajudado muito frases de evangelistas modernos como: “Abra seu coração e deixe Jesus entrar” ou “Peça a Jesus para entrar em seu coração” etc. A Escritura não apoia a ideia de que há duas Pessoas divinas que habitam no Cristão. É verdade que Ele é Onipresente (um atributo da deidade) e que, em espírito, Ele está em todo o lugar, mas Ele pessoalmente reside no Seu próprio corpo Humano glorificado no céu.
Certas passagens da Escritura dizem: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:27). “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele (Jo 6:56). “Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós (Jo 14:20). Essas passagens não estão se referindo a Cristo habitando pessoalmente nos crentes, embora seja compreensível como uma pessoa poderia erroneamente concluir isso delas. Em vez disso, elas estão se referindo a um estado subjetivo nos crentes, que resulta por eles terem a vida de Cristo. Esses versículos estão simplesmente afirmando que temos a Sua própria vida e natureza em nós e, portanto, a capacidade de ter suas características morais formadas e manifestadas em nós pelo Espírito (2 Co 3:18). Portanto, Cristo está em nós moralmente, mas não pessoalmente. Colossenses 1:27 está se referindo a isso em um sentido coletivo – indicado pelo “vós”. Comentando este versículo, W. Kelly disse: “É a vida de Cristo em nós em sua manifestação completa do seu caráter de ressurreição” (Lectures on Colossians, pág. 108). Outro expositor disse: “É dito em Colossenses que o Mistério é ‘Cristo em vós, esperança da glória’ como tendo um efeito presente na reprodução das características de Cristo nos gentios” (Precious Things, vol. 3, pág. 120). Portanto, Cristo está conosco em espírito – como uma Pessoa onipresente (Mt 18:20, 28:20; Hb 13:5), mas Ele não habita em nós pessoalmente, como o Espírito Santo habita.

IMUTABILIDADE


IMUTABILIDADE – Refere-se ao caráter imutável de Deus – Sua invariabilidade (Ml 3:6; Hb 1:12, 13:8; Tg 1:17). É um atributo essencial da Divindade. Em conexão com os tratos do Senhor com Abraão, há duas coisas que se diz serem imutáveis: a promessa da Palavra de Deus e o juramento que Ele fez (Hb 6:17-18).

segunda-feira, 3 de julho de 2017

IMORTALIDADE E INCORRUPTIBILIDADE


IMORTALIDADE & INCORRUPTIBILIDADE – Refere-se ao estado imortal no qual os crentes serão transformados quando forem glorificados. Para os santos do Novo e do Velho Testamento, isso ocorrerá no momento do Arrebatamento (1 Co 15:51-56; Hb 11:40). Para a porção martirizada do remanescente judaico crente, será no final da grande tribulação (Ap 14:13). Os santos do Velho Testamento não sabiam muito a respeito da vida após a morte, mas essa verdade já foi trazida à luz pelo evangelho. Agora sabemos que há “vida” para a alma e “incorrupção” para o corpo (2 Tm 1:10).
Como mencionado, no momento do Arrebatamento, o Senhor efetuará uma transformação nos santos que morreram, que Paulo declara como: “isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade” (1 Co 15:53a). O Senhor também efetuará uma mudança nos santos vivos conforme Paulo afirma: “isto que é mortal se revista da imortalidade” (1 Co 15:53b). Essa mudança será tanto moral quanto física. A alma e espírito deles se livrarão da natureza caída do pecado, e assim eles serão feitos moralmente como Cristo é (1 Jo 3:2). Além disso, o corpo deles será transformado fisicamente como o corpo de Cristo é (Fp 3:21).
A alma de todos os homens é imortal – independentemente de ser salvo ou não. Gênesis 2:7 diz: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da Terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Isso mostra que o espírito e a alma dos homens são “viventes” e não sujeitos à morte. Todos esses viverão para sempre, seja no gozo da bênção de Deus ou sob a condenação. Mesmo depois que uma pessoa morre e seu corpo é sepultado, seu espírito e sua alma continuam vivos. Em relação a isso, o Senhor disse: Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para Ele vivem todos (os mortos) (Lc 20:38). Enquanto a alma do homem é imortal, seu corpo é “mortal” – sujeito à morte (Jó 4:17; Rm 6:12, 8:11; 1 Co 15:53-54; 2 Co 4:11). A boa notícia é que chegará um momento para o crente quando aquilo que é “mortal” será “absorvido pela vida” (2 Co 5:4).

IMAGEM E SEMELHANÇA



IMAGEM & SEMELHANÇA – Quando Deus criou o homem, Ele disse: “Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança (Gn 1:26). A “imagem” tem a ver com o homem ter sido colocado numa posição de representante visível de Deus na criação (1 Co 11:7). A “semelhança” tem a ver com o homem ter sido feito moralmente como Deus, sem pecado (Gn 5:1; Tg 3:9).
Quando o homem caiu, ele deixou de ser moralmente como Deus. Por isso, em seu estado caído, o homem perdeu sua semelhança com Deus. Daí em diante não se fala mais de o homem ser “à semelhança de Deus”. Na verdade, fala-se da posteridade de Adão ser “à sua semelhança” (Gn 5:3), o que implica que Adão passou a seus descendentes a sua natureza pecaminosa, que ele adquiriu na queda (Rm 5:12; Sl 51:5). No entanto, mesmo em seu estado caído, é dito do homem ser “à imagem de Deus” (Gn 9:6). A queda não o eximiu de sua responsabilidade de representar Deus. Mas triste é dizer que essa imagem no homem foi manchada pelo pecado. O homem não representou Deus devidamente na criação.
Quando Cristo veio ao mundo, a Escritura diz que Ele era “a imagem de Deus” (2 Co 4:4; Cl 1:15; Hb 1:3). Ele não foi “feito” à imagem de Deus (como o homem foi) – Ele era “a imagem de Deus” em virtude de ser Quem Ele era. Assim, Ele representou perfeitamente a Deus como Cabeça da criação. No entanto, a Escritura não diz que Cristo era “à semelhança de Deus”, como o homem era quando Deus o criou. A razão para isso é que, quando Cristo andou aqui, Ele não era como Deus, Ele era Deus (Jo 1:1). A Escritura diz que ao entrar na Humanidade, Cristo foi “feito semelhante aos homens” (Fp 2:7 – TB; Rm 8:3). Isso não significa que Cristo tomou a carne pecaminosa em união Consigo mesmo. Ele não era semelhante ao homem moralmente. Esta afirmação refere-se ao fato de o Senhor ser semelhante aos homens na sua constituição – tendo um espírito humano (Jo 13:21), uma alma humana (Jo 13:27) e um corpo humano (Hb 10:5). Embora fosse um Homem real, Ele era “sem pecado [pecado à parte – JND] (Hb 4.15) – isto é, sem a natureza pecaminosa.
        A boa notícia é que Deus, em graça, criou uma nova raça de homens sob Cristo (2 Co 5:17; Ef 2:10; Ap 3:14), na qual tanto a semelhança como a imagem são recuperadas. Os “muitos irmãos” (os crentes) de Cristo na nova raça agora podem exibir os traços morais de Deus e, assim, representar a Deus na Terra convenientemente (Rm 8:29; Hb 2:11). A epístola aos Efésios realça a “semelhança de Deus” sendo exibida nessa nova raça (Ef 4:24-32), e a epístola aos Colossenses realça o fato de que a nova raça se “renova para o conhecimento, segundo a imagem daqu’Ele” que criou essa nova raça de homens (Cl 3:10). Assim, a nova raça sob Cristo recuperou aquilo que a velha raça perdeu sob Adão.