quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

MUNDO VINDOURO, O


MUNDO VINDOURO, O – Essa expressão refere-se ao reino milenar de Cristo (Mt 12:32; Mc 10:30; Lc 18:30; Ef 1:21; Hb 6:5).
Há pelo menos dez expressões diferentes que se referem ao tempo em que Cristo terá Seu dia de glória e poder neste mundo:
  • O mundo vindouro (Mt 12:32 – TB; Mc 10:30; Ef 1:21; Hb 6:5).
  • O reino dos céus (Mt 4:17, 6:10, 7:21, 8:11, 10:7).
  • O Milênio (Ap 20:6 – na versão da Vulgata Latina).
  • Os tempos de refrigério (At 3:19).
  • A restauração de todas as coisas (At 3:21 – TB).
  • A regeneração (Mt 19:28).
  • A reforma (Hb 9:10 – TB).
  • A dispensação da plenitude dos tempos (Ef 1:10).
  • O dia do Senhor (1 Ts 5:2; 2 Ts 2:2).
  • O dia de Cristo (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14; Fp 1:6, 10, 2:16).


MUNDO, O


MUNDO, O – Este termo é usado no Novo Testamento de três formas principais:
  • Como um LUGAR onde vivemos – o planeta Terra para o qual Cristo veio para morrer pelos pecadores (Jo 1:10a, 9:5, 17:28, 18:37; At 17:24; Rm 1:20; 1 Tm 1:15; 1 Jo 4:17; Ap 13:8).
  • Como uma SOCIEDADE de onde Cristo é excluído (Jo 8:23, 15:19, 17:14b-16, 18; Rm 12:2; Gl 1:4, 6:14; 2 Tm 4:10; Tg 4:4; 1 Jo 2:15-17, 4:5a, 5:19). O mundo neste sentido se refere à esfera dos assuntos e atividades na Terra que o homem, em sua alienação de Deus, providenciou na tentativa de manter-se feliz e satisfeito sem Cristo. Ele se move com princípios e valores falsos, e se baseia no apelo aos desejos da carne. O princípio fundamental que caracteriza a vida nessa esfera é o egoísmo. Visto sob essa perspectiva, definitivamente o mundo é um inimigo do Cristão, que, se for permitido ter mesmo que um pouco de espaço no coração do crente, destronará Cristo do Seu lugar. O Cristão supera esse inimigo por fé – contemplando Cristo como o centro de uma cena totalmente diferente (1 Jo 5:4-5).
  • Como as PESSOAS que são parte integrante da sociedade que o homem construiu para si mesmo em sua alienação de Deus (Sl 17:14; Jo 1:10b, 3:16, 4:42, 6:51, 15:18, 17:14a; 1 Jo 4:5b, 14).


UNIDADE DO ESPÍRITO, A

UNIDADE DO ESPÍRITO, A – Essa expressão tem a ver com a unidade prática que deve existir entre os membros do corpo de Cristo (Ef 4:3-4). É uma unidade de comunhão que o Espírito de Deus está formando na Terra para expressar a verdade do “um só corpo” (Ef 4:4). F. G. Patterson disse que manter a unidade do Espírito é “esforçar-se para manter em prática aquilo que existe de fato”. Assim, Deus queria ter os membros do corpo de Cristo andando juntos eclesiástica e praticamente, para que o mundo visse uma demonstração da unidade que existe no corpo de Cristo – independentemente de onde os membros do corpo estivessem localizados na Terra.
“A unidade do Espírito” não é meramente uma exortação para ter unidade na comunhão da igreja em certa localidade; é mais do que isso. Esta unidade tem em vista o único corpo – como o versículo seguinte (Ef 4:4) afirma: “há um só corpo”. Como o corpo de Cristo não está em nenhuma localidade na Terra, é claro que isso está se referindo a uma unidade de crentes em todo o mundo. Assim, Deus quer que os Cristãos andem juntos universalmente em comunhão, dando expressão ao fato de que eles são um só corpo, mesmo que os membros estejam em muitos lugares na Terra. O ato de partir o pão é uma confissão prática desta verdade (1 Co 10:16-17), mas a Igreja também deve manifestar a unidade do corpo em questões práticas de comunhão e disciplina. Deus quer que isso seja realizado em uma escala mundial – onde quer que os membros do corpo estejam situados na Terra. Isso exclui a ideia de que as assembleias locais sejam autônomas. As epístolas aos coríntios enfatizam esse lado da verdade.
Muitos confundem a unidade do Espírito (Ef 4:3) com a união do corpo e da Cabeça (1 Co 12:12-13; Ef 2:15). Devemos manter a primeira, mas Deus mantém a última pela habitação do Espírito. A unidade do Espírito pode ser interrompida e quebrada. Mas a união nunca pode ser quebrada. Nos primeiros dias da Igreja, essa unidade foi guardada. Os santos “estavam todos concordemente” (At 2:1 – ARF, 4:32), mas é triste dizer que não permaneceu assim por muito tempo. C. H. Brown disse: “Evidentemente, a unidade do Espírito deve ter sido quebrada em algum momento, resultando dois grupos que se separaram um do outro. A unidade do Espírito deve ter sido quebrada, e de fato foi” (The Ground of Gathering, pág. 28). C. H. Mackintosh disse: “Quebrar a unidade do Espírito seria o caso se sustentássemos que havia muitos corpos” (The Church, pág. 9). J. N. Darby disse: “Ananias e Safira foram os primeiros a quebrá-la (At 5); depois disso, você encontra os helenistas murmurando contra os hebreus (At 6)”. A União, por outro lado, permanece intacta universalmente, independentemente de os membros do corpo de Cristo caminharem juntos na unidade prática ou não. União, portanto, não é o mesmo que a unidade. Para enfatizar a diferença entre elas, tem sido dito que se amarrássemos dois gatos pelas caudas, teríamos união, mas não teríamos unidade.
É um fato triste que a Igreja não tenha mantido a unidade do Espírito e, como resultado, ela se tenha dividido em testemunho. Hoje, existem milhares de partidos, seitas e comunhões – cada um com seus próprios princípios de governo, todos independentes uns dos outros. Embora isso seja verdade, os Cristãos ainda podem manter a unidade do Espírito hoje, mas isso só pode se cumprir em um testemunho remanescente. A unidade do Espírito encontra seu centro em Cristo e guardá-la envolve estar em harmonia com a mente do Espírito que conduz os Cristãos a esse objetivo prático. Os membros do corpo não devem apenas reconhecer a autoridade de Cristo em todas as coisas, mas também devem caminhar em santidade e verdade, porque o Espírito de Deus, que reúne Cristãos de acordo com a verdade de Deus, é “o Espírito de santidade” e “o Espírito de verdade” (Rm 1:4 – ARA; Jo 14:17). Isso envolve, necessariamente, separação de tudo, seja doutrina ou prática, que esteja inconsistente com Sua Pessoa.

UNÇÃO DO ESPÍRITO, A


UNÇÃO DO ESPÍRITO, A – Esse é um aspecto da habitação do Espírito Santo que enfatiza a obra do Espírito no crente para dar-lhe o poder de discernimento em conexão com a verdade e o erro (1 Jo 2:20, 27). Se o crente andar em Espírito, em comunhão com o Senhor, ele terá o poder de discernir o que é verdade e o que é erro quando se depara com ambos (1 Jo 4:6). O apóstolo João disse: “A unção que d’Ele recebestes, permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a Sua unção vos ensina em todas as coisas, e ela é verdadeira e não mentirosa, e como ela vos ensinou, permaneceis n’Ele” (1 Jo 2:27 – TB). Alguns têm usado este versículo para recusar o ensino de mestres dotados, porque têm o Espírito Santo e pensam que isso é tudo o que precisam. Consequentemente, não lerão nenhum livro de ministério etc. Mas isso não é o que este versículo está dizendo. O apóstolo João não está dizendo que todos os crentes instintivamente conhecem a verdade porque têm o Espírito. Se isso fosse verdade, por que Deus daria “mestres” à Igreja? (1 Co 12:28; Ef 4:11) O versículo simplesmente significa que, quando a verdade ou o erro nos são apresentados, não precisamos de alguém para nos dizer o que é o quê. Se estivermos em comunhão e, portanto, “permanecendo n’Ele”, a “unção” do Espírito em nós nos dará a saber se algo é a verdade ou não.


GRANDE TRIBULAÇÃO, A



GRANDE TRIBULAÇÃO, A – A “grande tribulação” (Mt 24:21) refere-se à terrível perseguição que será dirigida ao fiel remanescente judeu durante a segunda metade da 70ª semana de Daniel (Dn 9:27). Também é chamada de “a angústia de Jacó” (Jr 30:7), “o tempo de angústia” (Dn 12:1), e “a hora da tentação” (Ap 3:10). Ela durará 1.260 dias (Ap 11:3, 12:6).
A causa dessa perseguição será o resultado direto do fiel remanescente judeu recusar receber a marca da besta e a adorar sua imagem (Ap 13:14-16). Isso provocará o ódio amargo da besta e do anticristo, que desencadearão contra o remanescente a mais terrível perseguição que o mundo jamais conheceu (Mt 24:21). Eles farão “guerra” contra os santos e “vencerão” e “matarão” a muitos pelo martírio (Ap 11:7, 12:13-17, 13:7, 15; Sl 12:1; Is 57:1). Os judeus apóstatas na terra, que receberão o anticristo e adorarão a imagem da besta, ajudarão na perseguição contra seus irmãos. W. Scott menciona que esse terrível período de perseguição será “abreviado” pelo Senhor cerca de 17 dias e meio ou 18 dias por causa dos eleitos (Mt 24:22). Isto é visto no fato de que os últimos 3 anos e meio da semana profética, que são 1.278 dias (42 meses), serão reduzidos para 1.260 dias (Exposition of the Revelation of Jesus Christ, pág. 172).
No meio da semana profética, a besta (“a pequena ponta [chifre – TB] – Dn 7:8, 20-21) se levantará e assumirá o cargo de “príncipe” romano como líder da confederação ocidental de dez nações – “a besta” (Ap 13:1). (Essas potências ocidentais também podem ser referidas como o Império Romano revivido). Ao assumir o cargo, este novo líder do império irá quebrar os termos do “concerto” (“asa [proteção – JND] das abominações”), que terá sido firmado com a massa incrédula dos judeus (Dn 9:27).
O império então, sob este homem diabólico, tomará o controle da terra de Israel e irá mantê-la como sendo parte do império. Ele abolirá todo culto judeu para abrir caminho para um novo tipo de religião – “a abominação da desolação” – que é a adoração à besta e à sua imagem (Dn 12:11; Mt 24:15; Ap 13:14-16). Como resultado, as coisas se tornarão espiritualmente em densas trevas no reino da besta – o Ocidente (Ap 8:12). O verdadeiro conhecimento de Deus será abolido de seu reino e haverá uma fome pela Palavra de Deus (Am 8:11-12).
Como mencionado, todos no reino da besta, que se recusarem receber a marca da besta e a adorar a sua imagem serão perseguidos. Muitos serão perseguidos até a morte (Ap 13:7, 15). Por causa da cidade de Jerusalém e da terra de Israel terem se entregado à perversidade da idolatria que o anticristo introduzirá, e a perseguição que daí surgirá, o remanescente judeu será forçado a fugir para as montanhas, para as cavernas e as grutas da terra em busca de segurança. Eles serão caçados além da medida (Sl 42-72 – o 2º Livro dos Salmos; Mt 24:16-21; Ap 12:6, 14-15). A perseguição será tão severa que as pessoas hesitarão em expressar seus pensamentos aos seus próprios cônjuges ou membros da família por medo de serem entregues às autoridades. O amigo mais querido não será digno de confiança (Jr 9:4-5; Mq 7:2, 5-6; Mt 10:21-23).
Alguns do remanescente judeu fugirão para as montanhas da Judeia em busca de abrigo (Mt 24:16). Outros fugirão para o Leste, para a terra de Moabe – Jordão, atualmente (Is 16:3-4; 1 Sm 22:3-4; Sl 44:11; Sl 61:2). Outros irão para o Norte até as montanhas do Hermon, ao sul do Líbano (Sl 42:6). Embora a maioria do remanescente fuja, um pequeno número ficará para trás em Jerusalém. Deus os usará para manter um testemunho adequado para Si (expressado pelas “duas testemunhas”) em face da idolatria. Eles serão milagrosamente protegidos por Deus por toda a duração do seu testemunho de 1.260 dias, e então Ele permitirá que sejam martirizados (Ap 11:3-13).
A grande tribulação será finalizada pelo ataque do rei do Norte e sua confederação árabe (Dn 11:40-42). Os judeus apóstatas, que perseguem o remanescente, serão massacrados pelos exércitos atacantes. O rei deles (o anticristo), que prometeu segurança para os judeus, fugirá de seu posto na terra (Zc 11:17) e, os judeus apóstatas que confiaram nele, ficarão perplexos ao serem massacrados (Is 8:21-22). Aproximadamente 10 milhões de judeus apóstatas serão mortos pelos exércitos atacantes! (Zc 13:8) Depois disso, o Senhor aparecerá do céu para julgar os inimigos de Israel. Ele restaurará e abençoará a nação (o remanescente dos judeus que sobreviveu e os verdadeiros entre as dez tribos) de acordo com as promessas dos profetas do Velho Testamento (Rm 11:26-27; Os 6:1-3; Ml 4:2).

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

TEMPOS DE REFRIGÉRIO, OS


TEMPOS DO REFRIGÉRIO, OS – Esse termo refere-se às felizes condições que serão encontradas durante o Milênio quando a vida na Terra será ordenada de acordo com a mente de Deus, sob o reinado de Cristo (At 3:19).

TEMPOS DOS GENTIOS, OS



TEMPOS DOS GENTIOS, OS – Essa expressão refere-se ao período de tempo (atualmente em curso) quando a sede do governo de Deus na Terra – que estava uma vez com a casa de Davi em Israel (1 Cr 29:23) – foi transferida para os gentios por causa do fracasso de Israel. Começou quando Nabucodonosor derrotou o Faraó Neco em 606 a.C. a partir de quando os babilônios se tornaram os líderes incontestáveis do mundo habitável (2 Rs 24:1-4; Jr 46:2; Dn 2:37, 5:18-19). A supremacia dos gentios continuou durante os reinados dos Medos e Persas, do Império Grego e do Império Romano (Dn 2:31-5, 7:1-27). O Senhor disse que Jerusalém seria “pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem” (Lc 21:24). Isso não significa que Jerusalém seria literalmente nivelada a escombros até que “os tempos dos gentios” acabassem, mas que seria subjugada sob os pés dos gentios até aquele momento.
O que leva “os tempos dos gentios” ao seu fim é a vinda de Cristo como o Filho do Homem para julgar o mundo – Sua Aparição (Lc 21:25-28; Dn 2:35, 44). Naquele tempo, o Senhor julgará as nações dos gentios e libertará Israel desse jugo. Quando a nação de Israel for restaurada, “o trono do Senhor” será transferido de volta para a casa de Davi em Jerusalém (Jr 3:17) e Israel governará as nações dos gentios de acordo com o propósito original de Deus para eles (Dt 28:13; Sl 47:2-3; Jr 51:19-20; Mq 5:7-9).

SOFRIMENTOS DE CRISTO, OS



SOFRIMENTOS DE CRISTO, OS – O apóstolo Pedro nos diz que as Escrituras do Velho Testamento têm dois grandes temas em relação a Cristo – “os sofrimentos que haviam de vir a Cristo, e as glórias que os seguiriam” (1 Pe 1:11 – TB). Olhando mais de perto para os sofrimentos de Cristo, a Escritura indica que existem pelo menos cinco tipos diferentes:

1) Seus sofrimentos intrínsecos


O Senhor Jesus sofreu porque era um Homem santo. Sendo “Deus manifestado em carne” (1 Tm 3:16), toda a essência ou constituição da Pessoa de nosso Senhor Jesus era da mais infinita santidade. O anjo que falou a Maria, antes de Sua encarnação, disse: “o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). Após a Sua morte e ressurreição, os apóstolos oraram a Deus, dizendo: “Teu Santo Servo Jesus, ao Qual ungiste” (At 4:27).
Quando o Senhor condescendeu[1] a entrar neste mundo, entrou em uma cena cheia de pecado e impureza. O mundo inteiro foi poluído pelo pecado, moral, espiritual e fisicamente. Era uma cena totalmente estranha à Sua santa natureza. Por isso, sendo o Homem santo que Ele era, sofreu por estar em tal ambiente de corrupção. Embora tenha entrado em contato com o pecado e os pecadores, Ele nunca foi pessoalmente contaminado por eles – Ele permaneceu “imaculado” (Hb 7:26). Se Ló “enfadou, [afligiu –ARA] a sua alma justa pelo que viu e ouviu em Sodoma quando estava tão distante de Deus moralmente (2 Pe 2:7-8), o que o Senhor deve ter sofrido quando passou por um mundo como este!

2) Seus sofrimentos por empatia


Além de sofrer por estar na constante presença do pecado, o Senhor Jesus também sofreu por causa de Seu profundo amor pelas pessoas. Ele Se preocupava com empatia com qualquer pessoa que estivesse sofrendo sob as consequências do pecado no mundo. Isso é evidente de várias maneiras:
a) O Senhor sofreu em relação ao que o pecado tinha feito às Suas criaturas fisicamente (no corpo delas). Quando viu pessoas afligidas com alguma doença ou enfermidade, Seu coração estava com elas em sua aflição. Em perfeita empatia, sentiu em Sua própria alma as dores de Suas criaturas e sofreu com elas (Is 53:4; Mt 8:17). Um exemplo disto foi na cura do homem surdo e mudo (Mc 7:31-37). Diz que o Senhor “suspirou” – indicando que Ele sentiu o sofrimento que aquele homem estava passando em sua aflição – e então Ele abriu os ouvidos do homem e soltou sua língua. J. N. Darby observou que o Senhor nunca curou uma pessoa doente sem antes sentir o peso dessa doença como fruto do pecado. Por isso, não foi fácil para Ele esticar a Sua mão e dizer ao leproso: “Sê limpo” (Mc 1:41), porque cada vez que Ele curava uma pessoa, Ele levava o fardo dessa tristeza em Sua própria alma. Assim, foi corretamente dito que “Ele levou em Seu espírito o que Ele tirou pelo Seu poder”.

b) O Senhor também sofreu por causa do que o pecado havia feito na vida das pessoas emocionalmente. Embora alguns possam não ter sido atingidos pessoalmente com doenças, mesmo assim os efeitos dessas coisas naqueles a quem conheciam e amaram, produziram tristeza e sofrimento neles. O Senhor teve empatia com todos eles. Um exemplo disso é o caso de Maria e Marta, quando seu irmão havia morrido (Jo 11). A doença e a morte não as haviam tocado, mas estavam com grande tristeza por essa causa (vs. 31-33a). Em empatia com elas em sua prova, o Senhor “moveu-Se muito em espírito, e perturbou-Se” (v. 33b). Ele sentiu profundamente a situação delas e “chorou”[2] no túmulo de Lázaro (v. 35).

c)  O Senhor também sofreu em conexão com as tristezas do remanescente judeu num futuro dia. Não só sentiu as dores daqueles que estavam ao Seu redor, mas também sentiu as dores daqueles que sofrerão por sua fidelidade na futura grande tribulação. No momento da última ceia, quando Satanás entrou em Judas, “o filho da perdição”, os pensamentos do Senhor foram projetados para o futuro quando o remanescente judeu sofreria por causa da justiça sob a perseguição do futuro “filho da perdição” – o anticristo (2 Ts 2:3-4; Mt 5:10-12; Sl 69:6-11). Naquele dia de trevas, o anticristo levará a nação à apostasia e perseguirá o remanescente judeu por sua fé e obediência (Mt 24:21-22; Sl 10). Em empatia divina, o Senhor entrou na porção deles e sentiu no Seu coração as dores de rejeição que eles passarão naquele dia (Jo 13:18-21).

d) O Senhor também sofreu com empatia em relação ao castigo do remanescente judeu no dia vindouro. Como parte da nação que é culpada da morte de Cristo – o Messias de Israel – o remanescente experimentará as consequências do seu pecado nacional sob os tratamentos governamentais de Deus. Fazendo parte da nação culpada, necessariamente eles devem ser castigados, mas, no castigo que Ele derrama sobre eles, Ele sente isso juntamente com eles com empatia! (Is 63:9). Tendo em Si mesmo substituído o lugar de Israel diante de Deus (Is 49:1-5), sentiu o pecado de Israel à luz da santidade de Deus, embora Ele mesmo nunca estivesse sob o governo de Deus.

3) Seus sofrimentos antecipativos

A cruz e o seu sofrimento estiveram sempre perante o nosso Senhor. Por toda a Sua senda, Ele os teve diante de Si. Ele podia dizer: “Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo: e como Me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12:50). Várias vezes o Senhor levou Seus discípulos a parte e disse-lhes que “convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16:21, 17:22-23, 20:17-19). Ele falou de Si mesmo como “o grão de trigo” que cairia na terra e morreria (Jo 12:24). Isso levou-O a dizer: “Agora a Minha alma está perturbada; e que direi Eu? Pai, salva-Me desta hora? mas para isto vim a esta hora” (Jo 12:27). Ele antecipou a cruz e seus sofrimentos, e isso O perturbou profundamente.
Quando chegou ao Getsêmani, o tentador veio com todo seu poder em um esforço para aterrorizá-Lo. Satanás pressionou em Sua alma o que significaria ser rejeitado pelos homens e abandonado por Deus. Ele poderia dizer: “torrentes de perdição [Belial – JND] Me amedrontaram” (Sl 18:4 – TB). “Belial” é uma referência a Satanás (2 Co 6:15). No Salmo 102 (“o Salmo do Getsêmani”), vemos o Senhor antecipando o sofrimento na mão de Deus pelo pecado. Sendo a Pessoa onisciente que Ele era, Ele antecipou os sofrimentos da cruz completamente, como nenhuma criatura poderia. O resultado foi que Ele caiu em Seu rosto “em agonia [conflito – JND] e clamou a Deus: “Pai, se queres, passa de Mim este cálice” (Lc 22:42; Mt 26:39). O Senhor poderia ter exercido Seu poder divino e expulsado o demônio, mas permaneceu no lugar de um Homem obediente e dependente, e “orava mais intensamente” (Lc 22:44).

4) Seus sofrimentos de martírio

O Senhor sofreu como um Mártir justo nas mãos dos homens de duas maneiras – no Seu espírito e no Seu corpo (fisicamente):
a) Como resultado do testemunho santo do Senhor neste mundo, Ele sofreu reprovação em Sua alma e espírito. O amor que fez com que Ele ministrasse aos homens aquilo que vinha do celeiro da graça de Deus Lhe trouxe mais tristeza e sofrimento, pois desencadeou o ódio e a maldade nos homens. Quanto mais Ele amava, mais Ele era odiado (Sl 109:5).
Ele sentiu a rejeição dos homens e sofreu em Seu espírito e foi afligido com o que o pecado tinha feito no coração deles, endurecendo-os com incredulidade (Mc 3:2-5, 8:12). Ele também sentiu profundamente a traição de Judas (Jo 13:21; Sl 41:9, 55:12-14) e a deserção de Seus únicos seguidores (Jo 16:32) – particularmente a negação de Pedro (Lc 22:61). Ele também sentiu em Sua alma o engano, os insultos e o escárnio que Lhe foram lançados sobre Si na Sua provação e crucificação (Mt 26:57-68, 27:27-44; Sl 22:6-8). Ele também sentiu a violação da decência humana quando os soldados O despiram e O colocaram na cruz (Sl 22:17-18). E além de tudo isso, Ele levou em Seu espírito a vergonha pela deturpação de Quem Ele representava. O povo O considerou como “aflito, ferido de Deus, e oprimido”. Eles O viram como morrendo justamente sob o julgamento governamental de Deus por ousar dizer que Ele era o Messias. Eles O viram como um impostor, mas não perceberam que Ele era realmente o Messias que estava morrendo pelos pecados deles (Is 53:4-5)!
b) Como resultado do testemunho santo do Senhor neste mundo, Ele também sofreu fisicamente nas mãos de homens ímpios. Em fidelidade e em amor, Ele testemunhou da maldade do homem, e isso O levou a um sofrimento notório (Sl 40:9-10). Ele sofreu contusões dos golpes de uma vara e das palmas das mãos dos homens (Mq 5:1; Mt 26:67, 27:30); ferimentos dos açoites (Is 50:6; Mt 27:26); penetrações da coroa de espinhos (Mt 27:29-30); e perfurações dos cravos nas Suas mãos e pés (Sl 22:16; Mt 27:35). Finalmente, Ele foi “pelas mãos dos injustos”, “crucificado e morto” (At 2:23, 3:13-15, 5:30, 7:52-53, 13:27-29).

5) Seus sofrimentos expiatórios

Finalmente, e o maior de todos, o Senhor sofreu como o divino Emissário do pecado. Todos os outros tipos de sofrimento que o Senhor sentiu não podiam tirar os pecados. Isso só poderia ser feito por meio de Seus sofrimentos expiatórios que Ele suportou nas últimas três horas na cruz (Mt 27:45-46; Mc 15:33-34; Lc 23:44-45). Seus sofrimentos de martírio foi o que Ele sofreu nas mãos de homens ímpios (Sl 69), mas seus sofrimentos expiatórios foi o que Ele sofreu na mão de Deus (Sl 22).
Para fazer expiação por pecado e pecados, o Senhor suportou e exauriu o justo juízo de Deus. A Bíblia indica que Seu grande sacrifício resolveu toda a questão do pecado diante de Deus (Hb 1:3, 9:26, 10:12). Quando o Senhor fez expiação por nossa alma, Ele foi “abandonado” por Deus (Sl 22:1). Sendo “feito pecado” na cruz (2 Co 5:21), Deus, que é santo e “de olhos puros demais para contemplar o mal” (Hc 1:13 – TB), não poderia ter comunhão com Ele. Naquele momento, a comunhão foi quebrada entre essas duas Pessoas divinas. Mas, mesmo quando o Senhor Jesus foi abandonado por Deus, Ele ainda era o objeto da complacência (satisfação) de Seu Pai, porque Ele estava fazendo a vontade de Deus, e isso era agradável a Ele (Is 53:10).
Há duas partes na obra de Cristo na expiação na cruz: a primeira é o lado de Deus, que é chamado de “propiciação” (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2, 4:10). A propiciação realizou para Deus a solução completa para a questão do surgimento do pecado na criação e pelos pecados dos crentes. Assim, a obra consumada de Cristo na cruz atendeu à exigência da natureza santa de Deus, e assim, por ela, as reivindicações da justiça divina foram satisfeitas (Sl 85:10). A segunda parte da obra expiatória de Cristo é para o homem – atendendo à necessidade da culpa do crente. Isso é chamado de “substituição”. Para tirar os seus pecados e culpa, o crente precisa entender que o Senhor tomou o seu lugar na cruz diante de Deus e suportou “Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pe 2:24). O grande resultado de descansar por fé na obra substitutiva de Cristo é que nossa consciência é “purificada” (Hb 9:14, 10:2, 17, 22).
A Bíblia diz: “O trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito” (Is 53:11). O fruto dos sofrimentos expiatórios de Cristo são muitos para que possam ser enumerados aqui. Toda bênção que Israel, a Igreja e os santos no dia do reino milenar desfrutarão será o resultado dessa obra consumada. (Veja: Expiação)




  [1] N. do T.: Condescendência é a qualidade daquele que voluntariamente cede à vontade de outro.
  [2] N. do T.: A palavra grega “dakruo” usada aqui é aquela para o derramamento de lágrimas silenciosas, e não a palavra “klaio”, usada para lamentações audíveis, conforme Lucas 19:41. Só conhecemos um pouco de toda a imensidão de Seu sofrimento interior daquele momento por essas silenciosas lágrimas derramadas por olhos que nos viram com toda a imensidão do Seu amor.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

POSIÇÃO E ESTADO

POSIÇÃO & ESTADO – A distinção entre esses dois termos é de grande importância se quisermos ter um entendimento das Escrituras do Novo Testamento – especialmente das epístolas. Posição e estado referem-se a dois lados da verdade em uma infinidade de assuntos, e distinguir isso requer alguém que “maneja [divide – KJV] bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). Se não distinguirmos essas coisas, iremos chegar a conclusões equivocadas.

Posição

Isso tem a ver com a situação de uma pessoa em relação a Deus. Há apenas duas posições possíveis que os homens podem ter diante de Deus:
  • “Em Adão” (1 Co 15:22).
  • “Em Cristo” (Rm 8:1). 
Por recebermos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, nossa posição diante de Deus é definitivamente mudada de estar “em Adão” para estar “em Cristo”. É uma posição em “graça” eternamente estabelecida (Rm 5:1-2; 1 Co 15:1; 1 Pe 5:12). É perfeita e completa agora como sempre será! Não será mais perfeita quando entrarmos no céu. Ter uma posição diante de Deus “em Cristo” significa que o crente está no lugar de Cristo diante de Deus (Ef 1:6; 1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo)

Estado (Fp 2:19-20)

Isso tem a ver com a condição moral do crente. Se caminharmos perto do Senhor em comunhão com Deus, estaremos em um bom estado de alma. Mas se formos descuidados e indiferentes às reivindicações de Cristo em nossa vida e vivermos distantes d’Ele em nossa prática, o estado de nossa alma será ruim. Não é necessário dizer que nosso estado terá um efeito no nosso andar.
As exortações práticas nas epístolas, que têm a ver com o nosso estado, são baseadas em nossa posição em Cristo. Por exemplo, Colossenses 3:9-10 diz: “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos E vos vestistes do novo, que se renova [é renovado – JND] para o conhecimento, segundo a imagem daqu’Ele que o criou”. O fato de que fomos despidos do velho homem e vestidos do novo (que tem a ver com a nossa posição) deve nos exercitar sobre não mentirmos mais uns aos outros – porque aquilo que é verdade da nossa posição também deve ser verdade em nosso estado. Assim, enquanto a nossa posição em graça diante de Deus é inabalável, nosso estado espiritual de alma pode variar, dependendo de como caminhamos.
Em Filipenses 4:11, Paulo falou de estar “contente” com “as circunstâncias” em que ele se encontrava. Não devemos confundir o que ele estava dizendo neste versículo. Ele não estava se referindo ao seu estado espiritual, mas sim ao seu estado temporal – suas circunstâncias, isto é, quanto à posse ou falta de bens materiais. Paulo nunca incentivaria satisfação com um baixo estado espiritual.

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Como mencionado, ao estudar os vários assuntos da Escritura devemos ter cuidado em “manejar [dividir] bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). A cada assunto que nos deparamos, precisamos distinguir o que se refere à nossa posição e o que se refere ao nosso estado. Se não nos preocuparmos com isso, ficaremos confusos muito rapidamente. Podemos ser levados a pensar que a Bíblia se contradiz. Abaixo estão alguns exemplos:

Perfeição – Hebreus 10:14 diz que a obra de Cristo na cruz nos “aperfeiçoou para sempre”. Mas Hebreus 13:20-21 diz que Deus está buscando tornar o crente “perfeito” – indicando, então, que os crentes não estão atualmente perfeitos! Isso parece contraditório, mas quando entendemos que a primeira citação se refere à nossa posição e a última ao nosso estado, o problema é resolvido.

Santidade – Em Colossenses 3:12, os crentes são chamados de “santos e amados”, mas em 1 Pedro 1:16, somos exortados: “Sede santos”. Novamente, essas passagens parecem entrar em conflito uma com a outra, mas quando entendemos a distinção entre posição e estado, vemos que não há contradição. A primeira passagem aplica-se à nossa posição, e a segunda ao nosso estado.

Aceitação – Em Efésios 1:6, é dito que os crentes são “agradáveis [aceitos – KJV] a Si no Amado”, mas em 2 Coríntios 5:9 nos diz que “nos esforçamos... para lhe sermos agradáveis” (ARA). Mais uma vez, essas coisas não são uma contradição; a primeira tem a ver com a nossa posição e a segunda com o nosso estado.

Santificação – Em 1 Coríntios 1:2, é dito que os crentes são “santificados em Cristo Jesus”, mas em 2 Timóteo 2:21, nos é dito que se nos separarmos dos vasos para a desonra, seremos “santificados”. A primeira refere-se à nossa posição e a segunda ao nosso estado.

Salvação – Em Atos 16:31 nos é dito para “crer” no Senhor Jesus Cristo para ser “salvo”, mas em Filipenses 2:12, nos fala para “operar, efetuar” a nossa “salvação”. Devemos crer para obter salvação ou devemos trabalhar para obtê-la? Novamente, a resposta está no entendimento de que uma se aplica à nossa posição e outra ao nosso estado.

Purificação – Em Hebreus 1:3 e 9:14, é dito que os crentes são purificados por fé na obra consumada de Cristo, mas em 2 Timóteo 2:21, devemos nos purificar a nós mesmos. Mais uma vez, temos a diferença entre posição e estado.

Morto com Cristo – Em Romanos 6:2, diz que os crentes estão “mortos”, mas em Romanos 8:13 e Colossenses 3:5 nos é dito que os crentes devem “mortificar as obras do corpo”. Novamente, isso só pode ser entendido pelo conhecimento da diferença entre posição e estado.

Uma pessoa ficará totalmente confusa ao tentar entender esses e muitos outros tópicos bíblicos, que poderiam ser incluídos aqui, se não souber a diferença entre posição e estado.

SONO


SONO – Esta palavra é usada no Novo Testamento de três maneiras:

1) Sono físico

Isso tem a ver com uma pessoa tendo o seu descanso de noite (Mt 8:24, 13:25, 26:40; At 12:6, 20:9, 1 Ts 5:7 etc.).

2) O sono da morte

Isso tem a ver com o espírito e a alma de um crente sendo separados de seu corpo por meio da morte (Mt 9:24, 27:52; Jo 11:11; At 7:60, 13:36; 1 Co 11:30, 15:6, 51; 1 Ts 4:14, 5:10 etc.). Esse tipo de sono pertence ao corpo do crente (Mt 27:52), não ao seu espírito e alma que “vivem para Ele” após a morte (Lc 20:38 – TB). O corpo é adormecido na morte “em Jesus” (1 Ts 4:14). Isto é, Ele induz os Seus amados à morte quando Ele os chama para Si. Isso nos mostra que a morte para o crente não ocorre por acidente.
Há pelo menos três razões pelas quais um crente adormece na morte:
  • O seu trabalho pelo Senhor está terminado (At 13:36; 2 Tm 4:6-7; 2 Pe 1:14).
  • Sua morte é para a glória de Deus – pelo martírio (Jo 11:4, 21:18-19; Fp 1:20).
  • Ele é tirado da Terra pela morte sob a mão disciplinadora do Senhor (At 5:1-11; 1 Co 11:30; 1 Jo 5:16).

3) Sono espiritual

Refere-se a um estado de apatia espiritual ao qual um crente pode chegar por causa da influência do mundo (Mc 13:36; Rm 13:11; 1 Ts 5:6; Ef 5:14 etc.).

PECADOS E PECADO



PECADOS & PECADO – Como regra nas epístolas do Novo Testamento, “pecados” (plural) referem-se às más ações que os homens fazem, e “pecado” (singular) é a natureza caída nos homens (a carne). Assim, “pecados” são ações más, enquanto “pecado” é a natureza má. O primeiro é o que fazemos, e o segundo é o que somos. Assim, “pecados” são manifestações do “pecado”, ou “pecados” são os produtos do “pecado”, ou “pecados” são os frutos de uma árvore má e o “pecado” é a raiz dessa árvore má. O “pecado” é mais do que apenas a velha natureza do pecado; é aquela natureza má com uma vontade determinada a satisfazer suas concupiscências.
                    Outra diferença entre essas duas coisas é que os “pecados” podem ser “perdoados” pela graça de Deus (Rm 4:7), mas o “pecado” não é perdoado, mas sim é “condenado” sob o justo julgamento de Deus (Rm 8:3). É importante prestar atenção a essa distinção ao ler as epístolas; se não o fizermos, iremos chegar a conclusões equivocadas.

HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A



HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A – Isso se refere ao fato de o Senhor Jesus Cristo ter uma natureza humana incapaz de pecar. Não toca precisamente a questão se Ele pecou em Sua vida (o que, sem dúvida, não o fez), mas se Ele tinha uma natureza que fosse capaz de pecar. Enquanto todos os Cristãos concordam unanimemente que Cristo não pecou, ​​muitos pensam que Ele poderia ter pecado, se Ele assim escolhesse. Mas essa falsa ideia ataca a impecabilidade da Pessoa de Cristo e é um grave erro que afeta a doutrina de Cristo.
Quando Cristo veio ao mundo (Sua encarnação), Ele tomou a humanidade (um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano) em união com Sua Pessoa. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável (Mt 11:27). Ao fazê-lo, Ele não tomou a natureza humana inocente que Adão teve antes da queda. Aquela natureza era sem pecado, mas não tinha o conhecimento do bem e do mal, e era capaz de pecar – o que Adão infelizmente demonstrou (Rm 5:12). Cristo não poderia ter tomado essa natureza porque ela já não existia em seu estado inocente no momento da Sua chegada ao mundo. Ela tinha sido corrompida pela desobediência de Adão e estava caída. Nem Cristo poderia ter Se unido a Si mesmo com essa natureza em seu estado caído, pois, ao fazê-lo, teria levado o pecado à Sua Pessoa, e assim Ele teria deixado de ser Santo. Se Ele tivesse feito isso, teria deixado de ser Deus, porque santidade (a ausência do mal) é um dos atributos essenciais da Divindade! (Is 6:3; Ap 4:8). A Bíblia indica que Deus preparou para Ele uma “Santa” humanidade – espírito, alma e corpo (Lc 1:35; Hb 7:26, 10:5). Sendo Santo, o Senhor Jesus teve uma natureza humana que não podia pecar.
Então, desde a queda de Adão, quando falamos de uma pessoa pecar – independentemente de quem possa ser – traz imediatamente à discussão, a pessoa tendo a natureza pecaminosa que produziria esses pecados. Os pecados (os frutos), como sabemos, são o produto do pecado (a natureza). Por isso, dizer que o Senhor Jesus poderia pecar (embora Ele não o tenha feito) implica dizer que Ele teve a natureza caída do pecado! Esta é uma suposição terrivelmente equivocada que a Palavra de Deus certamente não ampara.
As seguintes referências mostram que Cristo não participou da humanidade caída, embora Ele certamente tenha Se tornado um Homem:
1 João 3:5 diz: “n’Ele não há pecado”. Essa declaração única da Palavra de Deus resolve a questão se Cristo poderia pecar. Ela nos diz que Ele não tinha a natureza pecaminosa em Si mesmo e, portanto, Ele não tinha a possibilidade de cometer pecados.
Em Lucas 1:35, em conexão com a encarnação do Senhor, o anjo que veio a Maria disse: “o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. Isso nos diz que a essência de Sua natureza como homem é “Santa”. Isso não pode ser dito de nenhum outro homem. Não nascemos santos (Sl 51:5).
Em Lucas 3:23 (TB), ao traçar a linhagem do Senhor até Adão, a Escritura diz: “Ora o mesmo Jesus, ao começar o Seu ministério, tinha cerca de trinta anos, sendo filho (como se julgava) de José”. A frase “como se julgava” é inserida no texto pelo Espírito Santo para mostrar que o Senhor não era o filho natural de José; Ele era apenas seu filho legal. Ele foi “concebido” pelo Espírito Santo, e não por José (Mt 1:20). O fato de a Escritura afirmar que José não tinha nada a ver (biologicamente) com a concepção do Senhor, mostra o cuidado que Deus toma em não permitir qualquer pensamento de que Cristo tenha herdado a natureza caída do pecado passada a Ele por intermédio dos descendentes de Adão.
Romanos 8:3 diz: “Deus, enviando a Seu próprio Filho em semelhança de carne de pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne”. Mais uma vez, vemos que a Escritura tem cuidado em proteger a humanidade de Cristo, afirmando que a Sua vinda em humanidade foi “em semelhança de carne de pecado”. Assim, Ele não tinha “carne de pecado”, mas estava apenas em “semelhança” dela. Ou seja, por todas as aparências exteriores, Ele Se parecia com qualquer outro homem (Hb 10:20), mas, interiormente, Ele não tinha a natureza do pecado.
Hebreus 2:6 diz: “Que é o homem, para que dele Te lembres?” Essa é uma citação do Salmo 8. O salmista fica maravilhado com a graça de Deus que se importa com homens. A palavra aqui para “homem” no hebraico é “Enosh”. Ela indica o estado fraco e frágil do homem – implicando uma condição caída e degenerada. O salmo prossegue dizendo: “...ou o filho do homem, para que o visites?”. Isso refere-se à visita de Deus à raça humana na Pessoa de Seu Filho (Lc 1:78). Note que nessa ocasião, o salmista usa uma palavra diferente para “homem” no hebraico daquela que ele havia usado anteriormente. Aqui é “Adão”, que não carrega as conotações de “Enosh”. Isto significa que, quando Cristo visitasse a humanidade, ao Se tornar um Homem, não seria no estado do degenerado “Enosh”.
Hebreus 2:14 diz: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou [tomou parte – JND] das mesmas coisas”. Aqui novamente, a Escritura guarda cuidadosamente a humanidade sem pecado de Cristo. Mais uma vez, a Escritura usa duas palavras diferentes no grego para distinguir entre homens caídos que participam da humanidade e Cristo que tomou parte na humanidade. A primeira palavra (“koinoneo”), traduzida como “participam”, refere-se a uma participação completa em algo. É usada neste versículo para indicar o tipo de participação na humanidade que todos na raça de Adão têm. E como é uma total participação, necessariamente incluirá participar da natureza caída do pecado. A outra palavra (“metecho”) é traduzida como “tomou parte” (JND e KJV), que significa participar de algo sem especificar a profundidade da participação, é usada para indicar a participação que Cristo teve na humanidade. Ele tomou parte na humanidade, mas não ao ponto de participar da natureza caída do pecado, que todos os outros homens têm. (Veja a nota de rodapé na tradução de J. N. Darby sobre Hebreus 2:14)[1]
Em Hebreus 4:15, no que diz respeito às provas e as tentações do Senhor em Sua senda terrenal, o escritor diz: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado [pecado à parte[2] – JND]. Infelizmente, lendo esse versículo como está na tradução King James (e em muitas traduções modernas – e na maioria das em português), parece que está dizendo que o Senhor não cometeu nenhum pecado em Sua vida. Mas este não é o assunto do versículo. A frase, “mas sem pecado” deve ser traduzida “pecado à parte” (JND) que significa que Suas tentações não estavam na classificação das tentações que tinham a ver com a natureza pecaminosa. Existem dois tipos de tentações às quais os homens estão sujeitos: há tentações e provações externas pelas quais a fé e a paciência de alguém são testadas (provas santas), e há tentações internas que resultam de alguém ter uma natureza de pecado (provas pecaminosas). (Veja Tg 1:2-12 e 1:13-16). O escritor de Hebreus está simplesmente afirmando que o Senhor foi tentado de todos os modos que um homem justo poderia ser tentado, mas não na classe de tentações que estão conectadas com a natureza interior do pecado. A razão para isso é óbvia – Ele nunca teve a natureza de pecado. J. N. Darby disse: “Há dois tipos de tentações: uma vem de fora – todas as dificuldades da vida Cristã. Cristo passou por elas duma forma muito mais intensa do que qualquer um de nós. O outro tipo de tentação é quando um homem é levado por sua própria concupiscência e seduzido. Cristo, é claro, nunca teve isso” (Notes and Jottings, pág. 6).
Em João 8:46, o Senhor disse aos Seus acusadores: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” Ninguém poderia provar que Ele tinha aquela natureza caída, porque ninguém poderia apontar para um único pecado que Ele houvesse cometido.
Em João 14:30, o Senhor anunciou aos discípulos: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim”. Ele estava se referindo à vinda de Satanás para molestá-Lo e amedrontá-Lo, mas Ele lhes assegurou que não havia nada “em” Ele (isto é, a natureza do pecado) que respondesse aos seus ataques.
Tiago 1:13 diz que “Deus não pode ser tentado pelo mal”. Assim, a santidade é um atributo intrínseco de Deus (Is 6:3; Ap 4:8). Se quando Deus, na Pessoa de Seu Filho, Se tornou um Homem (1 Tm 3:16), tivesse Se tornado capaz de ser tentado a fazer o mal, então Ele teria renunciado a um dos Seus atributos essenciais da Divindade. Portanto, se a doutrina que afirma que Cristo poderia pecar é verdadeira, então Cristo deixou de ser tudo o que Ele era como Deus ao Se tornar um Homem! Isso é blasfêmia!
1 João 3:9 diz: “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”. Esse versículo está falando sobre o crente tendo uma nova natureza (resultante de um novo nascimento) que não pode pecar. João explica que isso é assim porque, sendo gerados por Deus, temos “Sua semente” em nós. Isso confirma o que todo Cristão já conhece – que a “semente” (ou a vida) de Deus não pode pecar. Portanto, como Cristo é “Deus manifestado em carne” (1 Tm 3:16), então segue-se naturalmente que Ele não poderia pecar – porque Deus não pode pecar! O que poderia ser mais claro do que isso?

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três objeções principais a esta verdade sobre a humanidade de Cristo:

1) Aqueles que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, pensam que é roubar do Senhor a Sua glória de obediência dizer que não poderia pecar. Eles dizem que se isso fosse verdade, então, Cristo não obteria crédito (nenhuma glória) pela Sua vida de perfeita obediência ao Pai, porque Ele não podia fazer nada além do que era certo.
Para a razão humana, pode parecer que estas coisas referentes à humanidade de Cristo estão roubando Sua glória, mas, na verdade, ensinar que Ele poderia pecar ataca a impecabilidade de Sua Pessoa e macula Sua glória. Não somos mais sábios do que a Palavra de Deus. Quando nossa razão humana nos leva a conclusões que estão em conflito com a Escritura – o que faz esta doutrina – devemos abdicar de nossos pensamentos e aceitar o que a Escritura diz como a autoridade final, pois ela é a infalível Palavra de Deus (Sl 12:6; Jo 10:35).

2) Os que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, apontam para as tentações do Senhor no deserto, e perguntam: “Qual foi o propósito de ter Cristo passando por essas tentações quando Ele não poderia falhar?” A resposta é que elas não eram para Deus descobrir se Cristo iria ou não pecar. Ele conheceu Sua perfeição sem pecado e pronunciou Sua aprovação sobre Ele – “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” antes de ter sido tentado (Mt 3:17-4:11). Se as tentações fossem com o propósito de descobrir se Cristo pecaria ou não, então o pronunciamento de Deus teria sido depois que Ele passasse pela tentação. Seria, por assim dizer, Seu “selo de aprovação” na perfeita obediência de Cristo. Mas essas tentações não eram para Deus; elas são para nós vermos e sabermos, além de qualquer sombra de dúvida, que Cristo não poderia pecar. Se Ele tivesse qualquer tendência em Si para o pecado, isso teria se manifestado sob tentações tão intensas – mas nada foi manifestado além da perfeição moral.
Muitos estão confusos quanto a isso, por causa do pensamento de que “tentado” (Mt 4:1) perde o seu significado se não envolve a possibilidade de pecar. Mas isso é um erro. Tentar significa testar, e nem todos os testes implicam a possibilidade de falha. Suponha que havia um objeto valioso feito de ouro fino – era ouro 100% puro. Mas a autenticidade foi contestada. Então, para provar o que já sabemos, o testamos por um joalheiro. E com certeza, ele volta certificado como sendo 100% puro. Por que o objeto foi testado? Sabíamos do que era feito o tempo todo. Obviamente, o teste foi para aqueles que tiveram alguma dúvida sobre o objeto. Da mesma forma, com as tentações do Senhor, todos esses testes apenas provaram o que era verdadeiro n’Ele – que Ele não podia pecar. Essas provas que o Senhor sofreu são registradas na Escritura para nós, para que nós possamos conhecer esse fato abençoado sobre o Filho de Deus.

3) Alguns que consideram que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, dizem que não pode haver uma verdadeira humanidade sem que uma pessoa tenha a capacidade de pecar, porque é uma característica essencial do ser humano. Eles dirão que ensinar que Cristo não podia pecar é dizer que Ele não era um verdadeiro homem. Eles acreditam que ensinar isso rouba de Cristo a capacidade de ter empatia conosco em nossas tentações de concupiscência e pecado. No entanto, a verdade é que há muitas coisas que experimentamos na vida, como homens, que o Senhor nunca experimentou. Mas isso não significa que Ele não fosse um verdadeiro Homem. Também isso não O desqualifica de ser um Sumo Sacerdote que Se compadece. Por exemplo, experimentamos enfermidades (doenças), mas o Senhor não. Experimentamos a alegria do perdão, mas o Senhor nunca precisou de perdão. Ele nunca Se casou, nem criou filhos, mas Ele era, e é um verdadeiro Homem. Por que pensamos que Ele teria que ter todas essas experiências antes que pudesse ser considerado como um verdadeiro Homem?
Hebreus 4:15 é frequentemente citado para dar suporte à essa ideia equivocada. Diz que o Senhor foi “como nós, em tudo foi tentado”, o que (na mente deles) incluiria a tentação de pecar. No entanto, aqueles que dizem essas coisas negligenciam o fato de que o escritor inspirado qualifica essas tentações dizendo “pecado à parte3 (JND) – isto é, tais tentações relativas ao pecado eram de uma classe separada. Isso significa que as tentações do Senhor não foram daquela categoria. Se tivessem lido esse versículo com mais cuidado, também teriam visto que o escritor se refere a provações em conexão com nossas “enfermidades”, que são doenças corporais (Mt 8:17; Jo 5:5; Rm 8:26; 2 Co 12:5). Enfermidades não são tentações a pecar. Notemos também que, embora o Senhor não tenha tido enfermidades pessoalmente (Ele nunca esteve doente), o versículo diz que Ele pode ter empatia com nossas enfermidades. Isso mostra que é falsa a suposição de que Cristo não poderia ter sido um homem verdadeiro sem experimentar tudo o que experimentamos.

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       O raciocínio nessas ideias blasfemas é absurdo. Pense nas ramificações de Cristo poder pecar. Se Ele pudesse pecar quando estava na Terra, então poderia pecar agora no céu – pois a Escritura diz que Ele é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8; At 1:11). Longe esteja tal pensamento, mas se Ele fosse pecar agora, Ele certamente seria expulso do céu, como Satanás uma vez foi! E o que aconteceria conosco? Perderíamos tudo – nosso Salvador, nossa salvação e todas as nossas bênçãos – porque tudo o que temos está “em Cristo”! Se essa má doutrina fosse verdadeira, não estaríamos eternamente seguros, como a Escritura ensina (Jo 10:27-28), porque a qualquer momento Cristo poderia pecar e perderíamos nosso Salvador. Além disso, se Cristo pecou, ​​que parte d’Ele iria ao inferno? Porque na Sua encarnação, houve uma união da natureza humana e da natureza divina que nunca pode ser desfeita.




[1] N. do T.: A nota de rodapé “q” em Hebreus 2:14: “Existe uma diferença intencional aqui entre as palavras ‘participar’ (koinoneo) e ‘tomar parte’ (metecho), no versículo 14. A primeira, referindo-se às crianças (filhos), é um compartilhamento comum e igual da natureza. A segunda, referindo-se a Cristo, significa que Ele tomou uma parte nela; e refere-se sempre a algo fora de mim, mas do qual tomo, ou tomo uma parte. A primeira palavra refere-se a uma participação conjunta naquilo que me pertence ou à comunhão conhecida. A segunda é usada no cap. 5:13 como ‘aquele que participa do leite’; em 1 Coríntios 9:10, onde o que lavra recebe uma parte da esperança do semeador e em 1 Coríntios 10:17, 21, 30 como ‘participar’, onde a ‘participação’ (metecho) é prova de participação na comunhão (koinonia), no versículo 16. A palavra não diz até onde foi a participação”