sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

PECADOS E PECADO



PECADOS & PECADO – Como regra nas epístolas do Novo Testamento, “pecados” (plural) referem-se às más ações que os homens fazem, e “pecado” (singular) é a natureza caída nos homens (a carne). Assim, “pecados” são ações más, enquanto “pecado” é a natureza má. O primeiro é o que fazemos, e o segundo é o que somos. Assim, “pecados” são manifestações do “pecado”, ou “pecados” são os produtos do “pecado”, ou “pecados” são os frutos de uma árvore má e o “pecado” é a raiz dessa árvore má. O “pecado” é mais do que apenas a velha natureza do pecado; é aquela natureza má com uma vontade determinada a satisfazer suas concupiscências.
                    Outra diferença entre essas duas coisas é que os “pecados” podem ser “perdoados” pela graça de Deus (Rm 4:7), mas o “pecado” não é perdoado, mas sim é “condenado” sob o justo julgamento de Deus (Rm 8:3). É importante prestar atenção a essa distinção ao ler as epístolas; se não o fizermos, iremos chegar a conclusões equivocadas.

HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A



HUMANIDADE SEM PECADO DE CRISTO, A – Isso se refere ao fato de o Senhor Jesus Cristo ter uma natureza humana incapaz de pecar. Não toca precisamente a questão se Ele pecou em Sua vida (o que, sem dúvida, não o fez), mas se Ele tinha uma natureza que fosse capaz de pecar. Enquanto todos os Cristãos concordam unanimemente que Cristo não pecou, ​​muitos pensam que Ele poderia ter pecado, se Ele assim escolhesse. Mas essa falsa ideia ataca a impecabilidade da Pessoa de Cristo e é um grave erro que afeta a doutrina de Cristo.
Quando Cristo veio ao mundo (Sua encarnação), Ele tomou a humanidade (um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano) em união com Sua Pessoa. Essa união das naturezas divina e humana é inescrutável (Mt 11:27). Ao fazê-lo, Ele não tomou a natureza humana inocente que Adão teve antes da queda. Aquela natureza era sem pecado, mas não tinha o conhecimento do bem e do mal, e era capaz de pecar – o que Adão infelizmente demonstrou (Rm 5:12). Cristo não poderia ter tomado essa natureza porque ela já não existia em seu estado inocente no momento da Sua chegada ao mundo. Ela tinha sido corrompida pela desobediência de Adão e estava caída. Nem Cristo poderia ter Se unido a Si mesmo com essa natureza em seu estado caído, pois, ao fazê-lo, teria levado o pecado à Sua Pessoa, e assim Ele teria deixado de ser Santo. Se Ele tivesse feito isso, teria deixado de ser Deus, porque santidade (a ausência do mal) é um dos atributos essenciais da Divindade! (Is 6:3; Ap 4:8). A Bíblia indica que Deus preparou para Ele uma “Santa” humanidade – espírito, alma e corpo (Lc 1:35; Hb 7:26, 10:5). Sendo Santo, o Senhor Jesus teve uma natureza humana que não podia pecar.
Então, desde a queda de Adão, quando falamos de uma pessoa pecar – independentemente de quem possa ser – traz imediatamente à discussão, a pessoa tendo a natureza pecaminosa que produziria esses pecados. Os pecados (os frutos), como sabemos, são o produto do pecado (a natureza). Por isso, dizer que o Senhor Jesus poderia pecar (embora Ele não o tenha feito) implica dizer que Ele teve a natureza caída do pecado! Esta é uma suposição terrivelmente equivocada que a Palavra de Deus certamente não ampara.
As seguintes referências mostram que Cristo não participou da humanidade caída, embora Ele certamente tenha Se tornado um Homem:
1 João 3:5 diz: “n’Ele não há pecado”. Essa declaração única da Palavra de Deus resolve a questão se Cristo poderia pecar. Ela nos diz que Ele não tinha a natureza pecaminosa em Si mesmo e, portanto, Ele não tinha a possibilidade de cometer pecados.
Em Lucas 1:35, em conexão com a encarnação do Senhor, o anjo que veio a Maria disse: “o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”. Isso nos diz que a essência de Sua natureza como homem é “Santa”. Isso não pode ser dito de nenhum outro homem. Não nascemos santos (Sl 51:5).
Em Lucas 3:23 (TB), ao traçar a linhagem do Senhor até Adão, a Escritura diz: “Ora o mesmo Jesus, ao começar o Seu ministério, tinha cerca de trinta anos, sendo filho (como se julgava) de José”. A frase “como se julgava” é inserida no texto pelo Espírito Santo para mostrar que o Senhor não era o filho natural de José; Ele era apenas seu filho legal. Ele foi “concebido” pelo Espírito Santo, e não por José (Mt 1:20). O fato de a Escritura afirmar que José não tinha nada a ver (biologicamente) com a concepção do Senhor, mostra o cuidado que Deus toma em não permitir qualquer pensamento de que Cristo tenha herdado a natureza caída do pecado passada a Ele por intermédio dos descendentes de Adão.
Romanos 8:3 diz: “Deus, enviando a Seu próprio Filho em semelhança de carne de pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne”. Mais uma vez, vemos que a Escritura tem cuidado em proteger a humanidade de Cristo, afirmando que a Sua vinda em humanidade foi “em semelhança de carne de pecado”. Assim, Ele não tinha “carne de pecado”, mas estava apenas em “semelhança” dela. Ou seja, por todas as aparências exteriores, Ele Se parecia com qualquer outro homem (Hb 10:20), mas, interiormente, Ele não tinha a natureza do pecado.
Hebreus 2:6 diz: “Que é o homem, para que dele Te lembres?” Essa é uma citação do Salmo 8. O salmista fica maravilhado com a graça de Deus que se importa com homens. A palavra aqui para “homem” no hebraico é “Enosh”. Ela indica o estado fraco e frágil do homem – implicando uma condição caída e degenerada. O salmo prossegue dizendo: “...ou o filho do homem, para que o visites?”. Isso refere-se à visita de Deus à raça humana na Pessoa de Seu Filho (Lc 1:78). Note que nessa ocasião, o salmista usa uma palavra diferente para “homem” no hebraico daquela que ele havia usado anteriormente. Aqui é “Adão”, que não carrega as conotações de “Enosh”. Isto significa que, quando Cristo visitasse a humanidade, ao Se tornar um Homem, não seria no estado do degenerado “Enosh”.
Hebreus 2:14 diz: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou [tomou parte – JND] das mesmas coisas”. Aqui novamente, a Escritura guarda cuidadosamente a humanidade sem pecado de Cristo. Mais uma vez, a Escritura usa duas palavras diferentes no grego para distinguir entre homens caídos que participam da humanidade e Cristo que tomou parte na humanidade. A primeira palavra (“koinoneo”), traduzida como “participam”, refere-se a uma participação completa em algo. É usada neste versículo para indicar o tipo de participação na humanidade que todos na raça de Adão têm. E como é uma total participação, necessariamente incluirá participar da natureza caída do pecado. A outra palavra (“metecho”) é traduzida como “tomou parte” (JND e KJV), que significa participar de algo sem especificar a profundidade da participação, é usada para indicar a participação que Cristo teve na humanidade. Ele tomou parte na humanidade, mas não ao ponto de participar da natureza caída do pecado, que todos os outros homens têm. (Veja a nota de rodapé na tradução de J. N. Darby sobre Hebreus 2:14)[1]
Em Hebreus 4:15, no que diz respeito às provas e as tentações do Senhor em Sua senda terrenal, o escritor diz: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado [pecado à parte[2] – JND]. Infelizmente, lendo esse versículo como está na tradução King James (e em muitas traduções modernas – e na maioria das em português), parece que está dizendo que o Senhor não cometeu nenhum pecado em Sua vida. Mas este não é o assunto do versículo. A frase, “mas sem pecado” deve ser traduzida “pecado à parte” (JND) que significa que Suas tentações não estavam na classificação das tentações que tinham a ver com a natureza pecaminosa. Existem dois tipos de tentações às quais os homens estão sujeitos: há tentações e provações externas pelas quais a fé e a paciência de alguém são testadas (provas santas), e há tentações internas que resultam de alguém ter uma natureza de pecado (provas pecaminosas). (Veja Tg 1:2-12 e 1:13-16). O escritor de Hebreus está simplesmente afirmando que o Senhor foi tentado de todos os modos que um homem justo poderia ser tentado, mas não na classe de tentações que estão conectadas com a natureza interior do pecado. A razão para isso é óbvia – Ele nunca teve a natureza de pecado. J. N. Darby disse: “Há dois tipos de tentações: uma vem de fora – todas as dificuldades da vida Cristã. Cristo passou por elas duma forma muito mais intensa do que qualquer um de nós. O outro tipo de tentação é quando um homem é levado por sua própria concupiscência e seduzido. Cristo, é claro, nunca teve isso” (Notes and Jottings, pág. 6).
Em João 8:46, o Senhor disse aos Seus acusadores: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” Ninguém poderia provar que Ele tinha aquela natureza caída, porque ninguém poderia apontar para um único pecado que Ele houvesse cometido.
Em João 14:30, o Senhor anunciou aos discípulos: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim”. Ele estava se referindo à vinda de Satanás para molestá-Lo e amedrontá-Lo, mas Ele lhes assegurou que não havia nada “em” Ele (isto é, a natureza do pecado) que respondesse aos seus ataques.
Tiago 1:13 diz que “Deus não pode ser tentado pelo mal”. Assim, a santidade é um atributo intrínseco de Deus (Is 6:3; Ap 4:8). Se quando Deus, na Pessoa de Seu Filho, Se tornou um Homem (1 Tm 3:16), tivesse Se tornado capaz de ser tentado a fazer o mal, então Ele teria renunciado a um dos Seus atributos essenciais da Divindade. Portanto, se a doutrina que afirma que Cristo poderia pecar é verdadeira, então Cristo deixou de ser tudo o que Ele era como Deus ao Se tornar um Homem! Isso é blasfêmia!
1 João 3:9 diz: “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”. Esse versículo está falando sobre o crente tendo uma nova natureza (resultante de um novo nascimento) que não pode pecar. João explica que isso é assim porque, sendo gerados por Deus, temos “Sua semente” em nós. Isso confirma o que todo Cristão já conhece – que a “semente” (ou a vida) de Deus não pode pecar. Portanto, como Cristo é “Deus manifestado em carne” (1 Tm 3:16), então segue-se naturalmente que Ele não poderia pecar – porque Deus não pode pecar! O que poderia ser mais claro do que isso?

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três objeções principais a esta verdade sobre a humanidade de Cristo:

1) Aqueles que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, pensam que é roubar do Senhor a Sua glória de obediência dizer que não poderia pecar. Eles dizem que se isso fosse verdade, então, Cristo não obteria crédito (nenhuma glória) pela Sua vida de perfeita obediência ao Pai, porque Ele não podia fazer nada além do que era certo.
Para a razão humana, pode parecer que estas coisas referentes à humanidade de Cristo estão roubando Sua glória, mas, na verdade, ensinar que Ele poderia pecar ataca a impecabilidade de Sua Pessoa e macula Sua glória. Não somos mais sábios do que a Palavra de Deus. Quando nossa razão humana nos leva a conclusões que estão em conflito com a Escritura – o que faz esta doutrina – devemos abdicar de nossos pensamentos e aceitar o que a Escritura diz como a autoridade final, pois ela é a infalível Palavra de Deus (Sl 12:6; Jo 10:35).

2) Os que sustentam que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, apontam para as tentações do Senhor no deserto, e perguntam: “Qual foi o propósito de ter Cristo passando por essas tentações quando Ele não poderia falhar?” A resposta é que elas não eram para Deus descobrir se Cristo iria ou não pecar. Ele conheceu Sua perfeição sem pecado e pronunciou Sua aprovação sobre Ele – “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” antes de ter sido tentado (Mt 3:17-4:11). Se as tentações fossem com o propósito de descobrir se Cristo pecaria ou não, então o pronunciamento de Deus teria sido depois que Ele passasse pela tentação. Seria, por assim dizer, Seu “selo de aprovação” na perfeita obediência de Cristo. Mas essas tentações não eram para Deus; elas são para nós vermos e sabermos, além de qualquer sombra de dúvida, que Cristo não poderia pecar. Se Ele tivesse qualquer tendência em Si para o pecado, isso teria se manifestado sob tentações tão intensas – mas nada foi manifestado além da perfeição moral.
Muitos estão confusos quanto a isso, por causa do pensamento de que “tentado” (Mt 4:1) perde o seu significado se não envolve a possibilidade de pecar. Mas isso é um erro. Tentar significa testar, e nem todos os testes implicam a possibilidade de falha. Suponha que havia um objeto valioso feito de ouro fino – era ouro 100% puro. Mas a autenticidade foi contestada. Então, para provar o que já sabemos, o testamos por um joalheiro. E com certeza, ele volta certificado como sendo 100% puro. Por que o objeto foi testado? Sabíamos do que era feito o tempo todo. Obviamente, o teste foi para aqueles que tiveram alguma dúvida sobre o objeto. Da mesma forma, com as tentações do Senhor, todos esses testes apenas provaram o que era verdadeiro n’Ele – que Ele não podia pecar. Essas provas que o Senhor sofreu são registradas na Escritura para nós, para que nós possamos conhecer esse fato abençoado sobre o Filho de Deus.

3) Alguns que consideram que Cristo poderia ter pecado, mas não pecou, dizem que não pode haver uma verdadeira humanidade sem que uma pessoa tenha a capacidade de pecar, porque é uma característica essencial do ser humano. Eles dirão que ensinar que Cristo não podia pecar é dizer que Ele não era um verdadeiro homem. Eles acreditam que ensinar isso rouba de Cristo a capacidade de ter empatia conosco em nossas tentações de concupiscência e pecado. No entanto, a verdade é que há muitas coisas que experimentamos na vida, como homens, que o Senhor nunca experimentou. Mas isso não significa que Ele não fosse um verdadeiro Homem. Também isso não O desqualifica de ser um Sumo Sacerdote que Se compadece. Por exemplo, experimentamos enfermidades (doenças), mas o Senhor não. Experimentamos a alegria do perdão, mas o Senhor nunca precisou de perdão. Ele nunca Se casou, nem criou filhos, mas Ele era, e é um verdadeiro Homem. Por que pensamos que Ele teria que ter todas essas experiências antes que pudesse ser considerado como um verdadeiro Homem?
Hebreus 4:15 é frequentemente citado para dar suporte à essa ideia equivocada. Diz que o Senhor foi “como nós, em tudo foi tentado”, o que (na mente deles) incluiria a tentação de pecar. No entanto, aqueles que dizem essas coisas negligenciam o fato de que o escritor inspirado qualifica essas tentações dizendo “pecado à parte3 (JND) – isto é, tais tentações relativas ao pecado eram de uma classe separada. Isso significa que as tentações do Senhor não foram daquela categoria. Se tivessem lido esse versículo com mais cuidado, também teriam visto que o escritor se refere a provações em conexão com nossas “enfermidades”, que são doenças corporais (Mt 8:17; Jo 5:5; Rm 8:26; 2 Co 12:5). Enfermidades não são tentações a pecar. Notemos também que, embora o Senhor não tenha tido enfermidades pessoalmente (Ele nunca esteve doente), o versículo diz que Ele pode ter empatia com nossas enfermidades. Isso mostra que é falsa a suposição de que Cristo não poderia ter sido um homem verdadeiro sem experimentar tudo o que experimentamos.

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       O raciocínio nessas ideias blasfemas é absurdo. Pense nas ramificações de Cristo poder pecar. Se Ele pudesse pecar quando estava na Terra, então poderia pecar agora no céu – pois a Escritura diz que Ele é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8; At 1:11). Longe esteja tal pensamento, mas se Ele fosse pecar agora, Ele certamente seria expulso do céu, como Satanás uma vez foi! E o que aconteceria conosco? Perderíamos tudo – nosso Salvador, nossa salvação e todas as nossas bênçãos – porque tudo o que temos está “em Cristo”! Se essa má doutrina fosse verdadeira, não estaríamos eternamente seguros, como a Escritura ensina (Jo 10:27-28), porque a qualquer momento Cristo poderia pecar e perderíamos nosso Salvador. Além disso, se Cristo pecou, ​​que parte d’Ele iria ao inferno? Porque na Sua encarnação, houve uma união da natureza humana e da natureza divina que nunca pode ser desfeita.




[1] N. do T.: A nota de rodapé “q” em Hebreus 2:14: “Existe uma diferença intencional aqui entre as palavras ‘participar’ (koinoneo) e ‘tomar parte’ (metecho), no versículo 14. A primeira, referindo-se às crianças (filhos), é um compartilhamento comum e igual da natureza. A segunda, referindo-se a Cristo, significa que Ele tomou uma parte nela; e refere-se sempre a algo fora de mim, mas do qual tomo, ou tomo uma parte. A primeira palavra refere-se a uma participação conjunta naquilo que me pertence ou à comunhão conhecida. A segunda é usada no cap. 5:13 como ‘aquele que participa do leite’; em 1 Coríntios 9:10, onde o que lavra recebe uma parte da esperança do semeador e em 1 Coríntios 10:17, 21, 30 como ‘participar’, onde a ‘participação’ (metecho) é prova de participação na comunhão (koinonia), no versículo 16. A palavra não diz até onde foi a participação”

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

SEPARAÇÃO



SEPARAÇÃO – Refere-se à convicção do Cristão em manter-se afastado do mundo – tanto no sentido religioso quanto no secular. Seguem algumas razões pelas quais Deus insiste na separação na vida de um Cristão:
Em primeiro lugar, a separação é necessária porque a associação com o mundo resultará na diminuição do afeto do crente por Cristo e Seu povo. Resumindo, trará frieza à sua alma. Em 2 Coríntios 6:12-18, o apóstolo Paulo explica que nossos “afetos” tornar-se-ão “estreitados” (limitados) se negligenciarmos caminhar em separação do mundo. Esse efeito triste é visto na vida de Efraim, que “com os povos se mistura” (Os 7:8). O resultado foi que ele se tornou “como uma pomba enganada, sem entendimento” (Os 7:11). Sua associação com o mundo levou seu coração para longe do Senhor.
Em segundo lugar, a associação com o mundo estraga o apetite do crente pela Palavra de Deus. Vemos isso ilustrado na história de Israel no deserto. Deus lhes deu o “maná” por alimento (Êx 16). O Novo Testamento nos diz que o maná é uma figura de Cristo – o alimento espiritual para o crente (Jo 6:31-58). No entanto, houve um tempo em sua jornada pelo deserto quando eles se cansaram do maná, e isso era a razão de estarem desejando os alimentos do Egito – uma figura do mundo (Nm 11:4-6). Assim, os crentes que desejam os prazeres mundanos e os entretenimentos acabarão estragando o seu apetite pela Palavra de Deus.
Em terceiro lugar, a associação com o mundo dessensibiliza os padrões morais do crente. O Cristão que se associa com as pessoas mundanas será influenciado por elas. Ele começará a pensar e agir como elas, e os valores mundanos e padrões morais delas se tornarão seus. A Palavra de Deus diz: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). Os padrões morais de Ló caíram ao nível dos homens de Sodoma (Gn 19). Isso é visto no fato alarmante de que ele ofereceu suas filhas aos homens da cidade.
Em quarto lugar, a associação com o mundo impede o crescimento espiritual do crente. Mais uma vez, isso é visto na vida de Efraim que se misturou entre os gentios. O resultado foi que ele era como um “bolo que não foi virado” (Os 7:8). Ou seja, Efraim era como uma panqueca meio-cozida – sendo apenas meio-desenvolvido.
Em quinto lugar, a associação com o mundo faz com que o Cristão perca energia espiritual em sua vida pessoal. Josué advertiu o povo em seu tempo que, se eles se estabelecessem entre os ímpios cananeus, perderiam o poder de resistir a eles (Js 23:12-13). Eles não poderiam mais ficar de pé diante de seus inimigos. Mais uma vez, com Efraim, diz: “Estrangeiros lhe devoraram a força” (Os 7:9). Sansão é outra ilustração disso. Por sua associação com a jovem filisteia mundana (Dalila), “retirou-se dele a sua força” (Jz 16:19).
Em sexto lugar, a associação com o mundo fará com que o crente perca seu discernimento espiritual. Mais uma vez, o exemplo de Efraim ilustra isso. Diz: “Estrangeiros lhe têm devorado a força, e ele não o sabe; cabelos brancos se lhe espalham pela cabeça, e ele não o sabe” (Os 7:9 – TB). Tendo se associado ao mundo, tornou-se insensível ao seu estado pessoal. Havia decadência espiritual, e ele não sabia disso! Aconteceu o mesmo com Sansão. Ele parecia não saber que também havia perdido sua força. “Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele” (Jz 16:20). Os laodicenses também estavam desprovidos de discernimento quanto ao seu verdadeiro estado e imaginavam que estavam certos e bem, mas seu estado era realmente desagradável para o Senhor (Ap 3:14-22).
Em sétimo lugar, a associação com o mundo acabará por afastar completamente o crente de seguir o Senhor! Os filhos de Israel são um exemplo. Eles não deveriam se misturar com as nações na terra de Canaã, as quais não conheciam o Senhor, porque aquelas pessoas iriam afastá-los do Senhor (Dt 7:1-4). Eles não observaram esse aviso e foi exatamente o que aconteceu.
E, finalmente, a associação com o mundo destrói o testemunho pessoal do crente. Ló é um exemplo. Ao viver em Sodoma (um tipo desse mundo em sua corrupção moral) ele perdeu seu poder de testemunho. Quando foi chamar seus genros para saírem daquela cidade que estava sob julgamento, suas palavras lhes pareceram “como quem estava zombando” (Gn 19:14 – TB). Eles não o levaram a sério porque sua vida contava outra história. Os Cristãos no geral não se mantiveram separados do mundo e, como resultado, um testemunho deficiente tem sido dado perante todo o mundo. É uma maravilha que alguém se volte para o Senhor e seja salvo. Gandhi, o ex-presidente da Índia, disse: “Se não fosse pelos Cristãos, eu teria sido um (Cristão)!”

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SELADO COM O ESPÍRITO SANTO



SELADO COM O ESPÍRITO SANTO – Esse termo refere-se ao Espírito Santo habitando em uma pessoa quando esta crê “no evangelho da sua salvação” (Ef 1:13, 4:30; 2 Co 1:22). Ela entende que foi assinalada como sendo de Cristo e, como resultado, tem um entendimento consciente de que a salvação de sua alma está eternamente segura.
O selo do Espírito não tem tanto a ver com os outros saberem que somos de Cristo, mas sim conhecermos nossa segurança n’Ele. H. P. Barker disse: “A ideia principal relacionada com o selo na Escritura é a da segurança. Algo é selado para torná-lo seguro para o seu dono” (The Holy Spirit Here Today, pág. 33). O “penhor do Espírito” (2 Co 1:22, 5:5; Ef 1:14) e a “unção do Santo” (1 Jo 2:20, 27) também se referem à presença permanente do Espírito, mas têm a ver com diferentes funções do Espírito no crente. (Veja: Penhor do Espírito e Unção do Espírito)
Para muitos Cristãos não é claro quando o selo do Espírito acontece na vida de uma alma com Deus. A maioria pensa que uma pessoa recebe o Espírito Santo (como “unção”, “selo” e “penhor” – 2 Co 1:21-22) quando nasce de novo (vivificado). No entanto, não é isso o que a Escritura ensina. Uma pessoa vivificada ou nascida de novo não será ungida, selada ou terá o penhor do Espírito até que ela descanse na obra consumada de Cristo. Vivificação e selo são duas ações distintas do Espírito que não ocorrem ao mesmo tempo na vida de uma pessoa com Deus. Uma pessoa pode ser vivificada (nascida de novo) pelo Espírito e pela Palavra sem que ela tenha conhecimento consciente do evangelho da graça de Deus (Jo 3:3-8). Mas ser selada, ungida e ter o penhor do Espírito exige que ela entenda a verdade do evangelho em relação à obra consumada de Cristo na cruz e que descanse por fé nessa obra para a salvação de sua alma.
Essas duas ações do Espírito Santo não devem ser confundidas. Somos “nascidos do Espírito” (Jo 3:8) e, assim, recebemos uma vida divina, e então nos tornamos crianças na família de Deus. Mas somente depois de sermos selados com o Espírito Santo” (Ef 1:13), ao crermos no Senhor Jesus Cristo e na Sua obra consumada, que nos tornamos filhos de Deus (Rm 8:14-15; Gl. 4:6-7). Filiação refere-se a ter um lugar privilegiado na família de Deus. (Veja: Adoção). Ao receber o Espírito Santo, a consciência do crente é purificada (Hb 9:14) e ele é feito parte do corpo de Cristo (Ef 2:16-18). (Veja: Novo Nascimento, Libertação e Salvação)
Quanto à diferença entre vivificação e selo, J. N. Darby disse: “A habitação do Espírito Santo é uma coisa muito diferente do poder vivificante do Espírito. Os santos do Velho Testamento estavam sujeitos a este poder vivificante do Espírito, mas a habitação do Espírito Santo não poderia existir até que Jesus fosse glorificado... Exemplos dados em Atos onde houve um intervalo de tempo, nos tornam sensíveis quanto à distinção entre os dois” (Collected Writings, vol. 26, pág. 8). A. P. Cecil disse: “Creio que a Escritura claramente ensina não apenas a distinção entre o novo nascimento e o selo do Espírito, mas também um intervalo de tempo entre as duas coisas. Pode ser longo ou curto; mas o intervalo de tempo está lá, da mesma forma que quando um homem constrói sua casa e depois passa a habitar nela” (Helps by the Way, vol. 3, NS, pág. 175). F. G. Patterson disse: “Essas duas ações do Espírito Santo nunca são, até onde eu sei, simultâneas – elas não acontecem no mesmo momento” (Scriptures Queries and Answers, Words of Truth, vol. 3, pág. 184).

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João 6:27 afirma que o Senhor Jesus foi “selado” com o Espírito Santo. Essa é uma referência ao que ocorreu em Seu batismo (Jo 1:29-33). Ele, é claro, não precisava de limpeza antes que o Espírito pudesse repousar sobre Ele, assim como Aarão (um tipo de Cristo) não precisava ser esparzido com sangue – como seus filhos precisavam, que são uma figura da Igreja – antes que ele fosse ungido com o óleo, que é uma figura do Espírito Santo (Lv 8:12).

CISMA


CISMA – Um “cisma” é uma divisão interna ou uma partição entre os Cristãos (1 Co 11:18). Aqueles envolvidos em um cisma ainda se reunirão externamente com aqueles com quem se divergem, mas provavelmente estarão infelizes (Rm 16:17; 1 Co 1:10, 3:3, 11:18). Esse era o caso com os coríntios. O apóstolo Paulo os advertiu que, se os cismas existissem e não fossem tratados e julgados como mal, surgiriam “entre vós heresias”, brotando desses cismas (1 Co 11:18-19). Assim, uma divisão interna deixada sem julgamento evoluirá para uma divisão externa. (Veja: Heresia)
Em Romanos 16:17, Paulo diz: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos [motivos de tropeço] em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles” (ARA). Isso se refere àqueles que causam essas rupturas internas entre os santos. Aqueles que “causam” divisões são os líderes ou instigadores e não aqueles que simplesmente seguem o movimento. Assim, devemos distinguir os líderes dentre aqueles que se desviaram nessas questões. Devemos “nos afastar” dos líderes, mas nos achegar e tentar ajudar aqueles que estão sendo atraídos para um movimento de divisão.
Paulo diz que a maneira pela qual esses promotores de divisão obtêm seguidores é por meio de “suaves palavras e lisonjas (elogios), e as pessoas que são enganadas por eles são os “símplices” e “desavisados” (Rm 16:18). Absalão é um exemplo do homem que divide uma assembleia (2 Sm 15-18). Ele atraiu pessoas após si, que “iam na sua simplicidade”, que “nada sabiam daquele negócio” (2 Sm 15:11). Seu método era concordar com aqueles que tinham alguma queixa e beijá-los. O resultado foi que ele furtou “o coração dos homens de Israel” (2 Sm 15:1-6). A formação do seu partido não aconteceu da noite para o dia; demorou “quatro anos” (2 Sm 15:7 – ARA). Lentamente, mas com certeza, Absalão abalou a muitos em Israel que o seguiram e o resultado foi a divisão em Israel.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

SANTIFICAÇÃO


SANTIFICAÇÃO – Esse termo significa “tornar santo por ser separado”. Pode ser aplicado a:
  • Pessoas (Êx 13:2; Jo 10:36; 1 Co 7:14).
  • Lugares (Êx 19:23, 29:43).
  • Coisas (Gn 2:3; Êx 40:10-11; 1 Tm 4:5).
Em relação às pessoas, existem três aspectos principais no Novo Testamento, que são:

1) Santificação absoluta ou posicional

Esse aspecto é o resultado de uma obra de Deus feita no crente por meio do novo nascimento (1 Co 6:11; 2 Ts 2:13; 1 Pe 1:2) e para o crente por torná-lo justificado por fé em Cristo (At 20:32, 26:18; Rm 1:1; 1 Co 1:2, 30; Hb 10:10, 14, 13:12; Ap 22:11). Como resultado, o crente, que estava entre a massa de pessoas não salvas que se dirigem para uma eternidade perdida, foi separado para uma nova posição diante de Deus. Esse aspecto da santificação é algo feito uma única vez na vida de um crente. Todo Cristão foi santificado nesse sentido posicional, independentemente do estado em que sua vida prática possa estar.

2) Santificação progressiva ou prática

Esse aspecto é resultado de o crente ser exercitado sobre seu estado moral e espiritual e, pela graça de Deus, buscar aperfeiçoar a santidade em sua vida de forma prática (Veja Jo 17:17; Rm 6:19; 2 Co 7:1; 1 Ts 4:4-7, 5:23; Ef 5:26-27; Hb 12:14). Esse aspecto da santificação é um exercício diário contínuo na vida do crente.

3) Santificação relativa ou provisória

Esse aspecto tem a ver com pessoas sendo colocadas em um lugar limpo na Terra por meio da separação, sem necessariamente ter um trabalho interior de fé em sua alma.
No caso de um casamento onde um dos cônjuges é salvo e o outro não, o incrédulo é “santificado” em um sentido relativo pela sua associação com o cônjuge que é santificado (1 Co 7:14). Isso não significa que o incrédulo seja salvo dessa forma, mas que ele está em um lugar de um santo privilégio.
No caso daqueles associados com Abraão, Romanos 11:16 afirma que estão em um lugar de santidade relativa. O ponto que o apóstolo estabelece nesse versículo é que se a “raiz” da nação de Israel (Abraão) tinha sido estabelecida em um lugar santo de privilégio em relação a Deus, então os “ramos” (descendentes de Abraão) estão nesse lugar “santo” também (Dt 7:6, 14:2; 1 Rs 8:53; Am 3:3). Ele não está falando do que é vital por meio do novo nascimento, mas de estar em um lugar de favor e privilégio exteriores.
O apóstolo Paulo também se refere a alguém se purificando da confusão que entrou na casa de Deus (Cristandade), “separando-se” da confusão e, assim, sendo “santificado” nesse sentido relativo (2 Tm 2:19).
A santificação relativa também é vista em Hebreus 10:29. Os judeus que professaram fé em Cristo, naqueles dias, haviam entrado em terreno Cristão e, portanto, tinham sido “santificados”, em um sentido relativo, pelo sangue de Cristo. Falando novamente, estar nesse lugar santificado não significa necessariamente que eles eram salvos. O escritor da epístola os adverte que se eles abandonassem essa posição e voltassem para o judaísmo, eles seriam apóstatas, e haveria julgamento esperando por eles (Hb 10:30-31).
O próprio Senhor também foi “santificado” nesse sentido relativo. Ele foi separado para vir para o mundo com o propósito de cumprir a vontade de Deus (Jo 10:36). Ele também Se separou para deixar este mundo e voltar para o Pai (Jo 17:19).
Uma pessoa também pode se separar para fazer o mal (Is 66:17).

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J. N. Darby advertiu sobre o perigo de enfatizar excessivamente o lado prático da santificação, afirmando que poderia ser entendido por alguns que uma pessoa pode tornar-se aceitável a Deus em seu estado natural, limpando sua vida. Ele disse que, se a separação principal das pessoas diante de Deus, pela santificação absoluta, não for realizada, a santificação torna-se um mero ajuste gradual do homem em seu estado natural para sua aceitação diante de Deus – o que, claro, não pode ser feito (Collected Writings, vol. 10, pág. 78). Não obstante, é exatamente isso que aconteceu na história da Igreja. Muitas almas ignorantes, ao longo dos anos, tentaram melhorar pela observação de leis e do ascetismo[1] na esperança de tornarem-se aceitáveis diante de Deus. Tal ideia não vê a carne como irremediavelmente má e essencialmente ignora a necessidade de um novo nascimento. Portanto, é preciso haver equilíbrio no ministério Cristão ao apresentar a verdade da santificação e, portanto, proteger-se de suposições errôneas, como a que o Sr. Darby mencionou. Na verdade, a Escritura realmente se refere à santificação em seu sentido posicional com mais frequência do que os sentidos prático e relativo.


  [1] N. do T.: O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida que prega certas práticas de mortificação própria, rituais, ou uma severa renúncia aos prazeres mundanos e na austeridade visando o desenvolvimento espiritual, como, por exemplo, a Ioga.

SALVAÇÃO

SALVAÇÃO – Esse é talvez o termo mais abrangente de todos do Novo Testamento, com uma grande variedade de significados e aplicações. Tem a ver com todo tipo de libertação de perigos e dos julgamentos que poderiam haver para o crente, desde sua justificação à sua glorificação. Uma vez que existem muitos aspectos e aplicações diferentes para a salvação, é igualmente verdade para um crente dizer: “Eu fui salvo, estou sendo salvo e eu serei salvo”.
A confusão surgiu de Cristãos que não distinguiram esses aspectos da salvação e das ideias errôneas que daí resultaram. Na mente de muitos, toda a menção à salvação na Escritura faz referência ao aspecto eterno da salvação do castigo que nossos pecados merecem. No entanto, W. Kelly salientou que esse aspecto geralmente não é o que está em vista na maioria das passagens que falam da salvação (Lectures on Philippians, pág. 43). O estudante da Bíblia, portanto, deve discernir a qual aspecto da salvação se refere a passagem que ele está lendo. Geralmente o contexto indicará isso. Existem três categorias principais de salvação:
  • Salvação eterna.
  • Salvação presente.
  • Salvação final.

1) Salvação eterna (Hb 5:9)

É pregada aos pecadores pelo evangelho, pelo qual eles creem no Senhor Jesus Cristo e são salvos do castigo eterno de seus pecados (At 4:12, 16:30-31; Rm 10:1, 9-10, 13; 1 Co 1:18, 7:16, 15:1-2; Ef 1:13; 1 Tm 2:4; 2 Tm 2:10; Tg 1:21; 1 Pe 1:9). Às vezes é referida como a salvação de nossa alma e tem a ver com o crente encontrar a paz no descanso da fé na obra consumada de Cristo, quando então é selado com o Espírito Santo. Esta salvação eterna nunca pode ser perdida. (Veja: A Segurança Eterna do Crente)
Os Cristãos tendem a usar prematuramente o termo “salvo” em conexão com a salvação eterna, quando se referem a pessoas que mostram sinais de vida divina. O Sr. Kelly disse: “Na verdade, eu acho que é uma grande falha da atualidade fazer da ‘salvação’ uma palavra muito comum e usual. Você encontrará muitos evangélicos constantemente dizendo que quando um homem se converte ele é salvo, no entanto provavelmente seria bastante prematuro dizer tal coisa... não é garantido dizer que toda pessoa convertida é salva, porque ela pode ainda estar com dúvidas e temores – isto é, sua consciência pode estar como que sob a lei. ‘Salvo’ liberta a pessoa de toda a sensação de condenação, levando-a a Deus conscientemente livre em Cristo, não apenas diante de Deus com sincero desejo de ser piedoso. Uma pessoa não é convertida até que seja conscientemente trazida diante de Deus, mas então (sendo apenas convertida), pode se sentir a mais miserável de todas nessa situação desesperadora. A Escritura nos permite chamar essa pessoa de ‘salva’? Certamente não” (Lectures Introductory to the Study of the Minor Prophets, págs. 375-376).
Cornélio é um exemplo de uma pessoa nesse estado. Antes de Pedro entrar em contato com ele, era evidentemente nascido de Deus, e, portanto, recebeu vida divina. Ele era um homem temente a Deus e devoto, um homem cujas orações foram ouvidas diante de Deus (At 10:2-4). O Senhor mostrou a Pedro em uma visão que Cornélio tinha sido purificado (At 10:15, 28). Mas nesse momento, ele claramente não era salvo! Sabemos isso porque Pedro foi enviado para lhe dizer “palavras” pelas quais ele e toda a sua casa poderiam ser “salvos” (At 11:14). Essa pessoa está a salvo quanto ao seu destino eterno, porque ela tem vida (pela vivificação), mas ela não está salva, no sentido que Paulo emprega, até que descanse por fé na obra consumada de Cristo.

2) Salvação presente

Esse aspecto da salvação tem a ver com a libertação das circunstâncias adversas da vida pelas quais passamos. Como há muitos perigos no caminho da fé, os crentes precisam desse tipo de salvação prática.
Existem muitas maneiras diferentes pelas quais os crentes são salvos nesse sentido prático:

a) Salvo pelo batismo


O julgamento governamental de Deus está sobre o mundo incrédulo dos judeus e dos gentios por terem abandonado-O, e atualmente está sentindo as consequências disso (Gl 6:7).
Quanto à geração dos judeus que foram responsáveis pela morte de Cristo (At 3:14-15; 1 Ts 2:14-15), nos primórdios da história da Igreja (At 2-7), Deus estava prestes a responder à oração do Senhor na cruz e fazer com que a cegueira governamental envolvesse a nação culpada (Sl 69:22-23; At 28:25-27; Rm 11:25; 2 Co 3:14-15). Esse julgamento não só resultaria em cegueira, mas também na destruição da nação pelos romanos (Sl 69:24-26; Mt 22:7; Lc 21:5-24). Enquanto isso, outra oração do Senhor na cruz, pedindo perdão governamental, foi respondida em relação aos que creram n’Ele (Lc 23:34). Assim, a misericórdia de Deus estava sendo estendida à nação por certo tempo antes do julgamento de Deus cair sobre eles. Aqueles que do povo corressem para Cristo buscando refúgio (Hb 6:18-20) e fossem batizados (At 2:38-40, 22:16), poderiam evitar esse julgamento governamental de cegueira. O batismo formalmente os desassociaria daquele terreno culpado sobre o qual a nação se encontrava e os colocaria no terreno Cristão, onde o visível favor de Deus repousava. Assim, o apóstolo Pedro pôde dizer: “o batismo agora nos salva (1 Pe 3:21 – TB). Pedro qualificou sua observação para que ninguém a entendesse mal, acrescentando: “não a purificação da imundícia da carne, mas a questão a respeito de uma boa consciência para com Deus”. De acordo com isso, no dia de Pentecostes, ele pregou à nação culpada dos judeus: Salvai-vos desta geração perversa” (At 2:40). Ele explicou que eles poderiam receber essa salvação, arrependendo-se e sendo batizados em nome de Jesus Cristo (At 2:38). Isso mostra que a salvação a que ele se referia era algo governamental, bem como eterno, e libertaria aqueles que criam do julgamento que havia sido pronunciado sobre a nação. (Veja: O Governo deDeus)
Quanto aos gentios que também estão sob o julgamento governamental de Deus por viverem longe de Deus moral e espiritualmente (Êx 34:7b), eles também precisam ser batizados e, assim, se desvincularem do terreno pagão sobre o qual estavam vivendo. Em relação aos gentios, o Senhor disse: “Quem crer e for batizado será salvo (Mc 16:15-16). Crer daria à pessoa a salvação da alma e ser batizado lhe daria a salvação governamental. O batismo desassociaria os crentes gentios da posição anterior e os colocaria no terreno Cristão (At 10:47-48).

b) Salvo pelo poder da vida de Cristo no alto (Rm 5:10 – JND)

Isso tem a ver com ser salvo no caminho da fé, em um sentido prático, dos perigos espirituais armados exteriormente contra nós pelo inimigo (Satanás) e interiormente pelas más obras da natureza do pecado. Andar num mundo que se opõe a Deus e a Seus princípios é como andar por um campo minado. Há perigos espirituais em todos os lugares e muito para atrair e excitar nossa natureza pecaminosa (a carne). Deus conhece plenamente isso e está envolvido em nos salvar desses perigos de forma prática.
Para efetuar essa salvação prática, o Senhor subiu às alturas para realizar três coisas para este fim – assim, somos salvos por Sua vida”.
  • Em primeiro lugar, o Senhor subiu ao alto para enviar o Espírito (At 2:33) e assim nos dar o poder da vida em ressurreição, que, quando assim vivida, neutraliza a atividade interior da carne (Rm 8:2).
  • Em segundo lugar, Ele subiu ao alto para ser o Objeto para o coração do crente em uma esfera completamente fora do mundo e da carne (Jo 17:19). Na medida em que nos ocupamos com Ele e Suas coisas onde Ele está, o mundo, a carne e o diabo perdem seu poder de influência em nossa vida (1 Jo 5:4-5).
  • Em terceiro lugar, Ele subiu ao alto para interceder por nós, em nosso caminho no deserto, como nosso Sumo Sacerdote. O efeito da Sua intercessão é que somos salvos completamente” de perigos e armadilhas espirituais que foram colocadas no caminho pelo inimigo de nossa alma. Para obter o benefício da intercessão de Cristo, precisamos “nos achegar a Deus por Ele”, que se refere a expressar nossa dependência de Deus na oração (Hb 7:25 – TB).

c) Salvo pelo cuidado providencial de Deus (Mt 8:25, 14:30, 24:13; 1 Tm 2:15, 4:10, 6:13)

Há também muitos perigos físicos e riscos que todos os homens na Terra enfrentam diariamente. Esses podem ser acidentes, problemas de todos os tipos, doenças, má vontade e ataques de quem se opõe a nós etc. Muitas vezes, nem percebemos os perigos que nos rodeiam, mas as misericórdias de Deus são tais que Ele trabalha nos bastidores (providencialmente) para nos salvar dessas coisas. Em condições normais, esse aspecto da salvação ou preservação diária é experimentado por todas as criaturas de Deus, não apenas pelos Cristãos. A Escritura diz: “temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador [Preservador – JND] de todos os homens, especialmente dos que creem” (1 Tm 4:10 – TB; Sl 145:15-19; At 14:17).
Podemos nos perguntar por que alguns sofrem acidentes e problemas quando Deus está trabalhando para preservar suas criaturas do perigo? Essas coisas acontecem aos pecadores de vez em quando, porque Deus está tentando chamar a atenção deles e fazer com que se tornem para Cristo. Isso também acontece com os crentes por estarem na escola de Deus, e Deus usa esses problemas para lhes ensinar lições morais (Sl 119:65-72). Seus caminhos são perfeitos; Ele não comete erros nas coisas que permite (Sl 18:30; Rm 8:28). Mas em condições normais, Ele preserva misericordiosamente todos os homens e “especialmente os que creem” (TB).
Em 1 Timóteo 2:15, Paulo indica que, se os Cristãos continuarem no caminho da fé em “amor e santidade”, eles podem ter uma confiança adicional ao saber que o cuidado preservador de Deus será experimentado na vida deles. Paulo menciona isso em conexão com Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos”, mas o cuidado providencial de Deus será experimentado por Seu povo em muitos diferentes caminhos e não apenas no momento de dar à luz filhos, se eles continuarem fielmente no caminho.
Mateus 24:13 indica que, na grande tribulação, o fiel remanescente judeu sofrerá dificuldades e tentações terríveis. O Senhor disse que “aquele que perseverar até ao fim será salvo. Isso refere-se à vida deles sendo poupada do martírio, e assim eles serão preservados vivos nesses tempos difíceis “até ao fim” desse período. Todos esses celebrarão sua salvação em louvor ao Cordeiro no reino milenar (Ap 7:9-12). Alguns do remanescente crente serão martirizados e, portanto, não serão salvos nesse sentido. A alma deles irá para o céu (Ap 6:9-11, 15:2-4) para esperar a ressurreição de seu corpo mais tarde (Ap 14:13, 20:4).

d) Salvo pela sã doutrina (1 Tm 4:16; Tg 1:21)

O apóstolo Paulo anunciou a Timóteo que havia uma grande apostasia iminente que aconteceria na profissão Cristã “nos últimos tempos” (1 Tm 4:1). Como resultado, muitas doutrinas errôneas iriam permear a profissão Cristã e afastariam as massas para longe da verdade. Enquanto um verdadeiro crente não pode se apostatar, ele pode ser afetado pela corrente da apostasia, e assim começar a abandonar certos princípios e práticas que já sustentou. Paulo disse a Timóteo como ele poderia ser preservado deste escorregão. Ele disse: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:16). Assim, a verdade doutrinal nos preservará de cair em erro, se ela for mantida em comunhão com Deus (Sl 40:11).

e) Salvo vestindo o capacete da salvação (Ef 6:17; 1 Ts 5:8)

Isso tem a ver com a proteção de nossos pensamentos (v. 17a). Satanás está constantemente tentando afastar os Cristãos de seguirem o Senhor. Uma de suas maneiras mais eficaz é colocar sementes do mal em nossa mente. Ele não conhece nossos pensamentos (ele não é onisciente), mas ele pode trazer certas coisas diante de nós que são calculadas para produzir uma resposta em nosso coração que por fim afastará nossos pensamentos de Cristo. Quando outras coisas, além de Cristo, ocupam nossa mente e quando não estamos desfrutando da nossa porção em Cristo, estaremos num estado onde poderemos facilmente nos afastar do caminho da fé. No entanto, quando mantemos nossos pensamentos fixados em Cristo e em Seus interesses, estamos nesse sentido vestindo “o capacete da salvação, e isso funcionará como uma libertação prática dessa linha de ataque. Mas note que temos que colocar o capacete; Deus não o coloca em nós. Isso mostra que Deus quer que sejamos exercitados de forma responsável sobre essa salvação prática. H. E. Hayhoe costumava dizer: “Cuidado com o que você pensa e que isso possa ser Cristo” (Sl 94:19; Is 26:3; Lc 12:29; Fp 4:7; Cl 3:1).

f) Salvo pelo exercício do julgamento próprio (1 Pe 4:17-18)

O apóstolo Pedro falou dos julgamentos governamentais de Deus em relação aos que estão em Sua casa. Isso inclui crentes verdadeiros e os que simplesmente professam ser crentes. Ele menciona que há muitas dificuldades no caminho das quais um crente precisa ser salvo. Isso se refere aos julgamentos governamentais de Deus com o Seu povo caso não sejam cuidadosos em sua caminhada (1 Pe 1:17, 3:12). Tendo em vista o caráter judaico da epístola em sua aplicação, a nota de rodapé “f” de 1 Pe 1:18 da Tradução de J. N. Darby afirma: “Salvo aqui na Terra pelas provas e julgamentos que especialmente afligem o Cristão judeu”.
O apóstolo Paulo menciona essa mesma necessidade de julgamento próprio em 1 Coríntios 11:28-32. Ele afirma que “se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” por Deus dessa maneira. Ele também menciona que alguns dos coríntios, evidentemente, não estavam praticando o julgamento próprio e estavam sendo “repreendidos [disciplinados – ARA] pelo Senhor” como consequência – ao ponto que alguns deles estavam “doentes” e muitos já “dormiam” na morte (1 Jo 5:16).
Tiago menciona essa mesma ação governamental de Deus (Tg 5:19-20). Ele afirma que, se um crente não for cuidadoso em sua caminhada e se afastar dela de alguma maneira, e persistir nesse curso, Deus poderá tratar com ele de maneira governamental podendo até levá-lo à morte. Isso não significa que perderia sua salvação eterna, mas que ele perderia o privilégio de viver neste mundo como testemunho para Cristo. Como isso não é o que Deus deseja, Tiago nos diz que os irmãos daquele que está andando errado devem buscá-lo para sua restauração antes que as coisas alcancem esse ponto (Gl 6:1). Se um irmão ou uma irmã puder alcançar a pessoa rebelde e ela for restaurada, Tiago diz que aquele que faz esse bom trabalho pode salvar uma alma da morte (prematura)” (Ec 7:17).
Isso também se aplica a uma assembleia local em um sentido coletivo (2 Co 7:10). Se uma assembleia negligencia julgar o mal no meio dela, incorrerá no julgamento governamental de Deus (1 Co 11:30). Paulo diz que “a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação. Assim, a assembleia se salva do julgamento governamental de Deus ao lidar com o mal em seu meio e colocando fora de comunhão os envolvidos no mal. 

g) A assembleia é salva mantendo sua unidade prática (Fp 2:12)

O inimigo de nossa alma deseja destruir a paz na assembleia local, semeando a discórdia no seu meio. Ele provoca “contenda”, fazendo com que certos indivíduos busquem “vanglória” (Fp 2:3). Muitas assembleias foram despedaçadas como resultado.
Paulo ensinou em Filipenses 2 que, se a unidade feliz for mantida na assembleia, o inimigo será frustrado. Ele explica que isso é feito por cada um tendo “humildade” e considerando “os outros superiores a si mesmo” (vs. 2-4). Paulo também ensinou que, para produzir essa humildade, é necessário ter nossa mente fixa em Cristo, que é o modelo da humildade (vs. 5-11). Se cada um adotasse a mente humilde de Cristo e imitasse Sua humildade, a assembleia seria salva dos desígnios de Satanás para destruir a unidade. Assim, eles deveriam coletivamente operar a sua própria salvação, cada um tomando o lugar mais baixo (vs. 12-14). Paulo disse que quando a unidade é mantida em uma assembleia, resulta em um testemunho brilhante na comunidade (vs. 15-16, Jo 13:35). Assim, Paulo estava falando de uma salvação prática e diária em conexão com conflitos internos dentro da assembleia. Sua menção de salvação aqui não tem nada a ver com a salvação eterna da alma.
As notas de uma reunião de leitura sobre Filipenses 2:12 em um periódico mensal nos dizem: “Esse versículo foi muitas vezes mal interpretado como se dissesse, trabalhe para a salvação, enquanto o que ele diz é ‘opere’. Penso que o versículo se refere às dificuldades que estavam presentes na assembleia em Filipos e não algo individual. Foi chamada a atenção que o verbo está no plural, e quando ele diz ‘vossa’, Paulo aparentemente tem em mente as dificuldades na assembleia local... A salvação referida nessa passagem não é a salvação da alma, que é obtida por fé em nosso Senhor Jesus Cristo, mas é a salvação diária em relação às muitas dificuldades que nos assolam em nosso caminho. Isso se torna mais óbvio, à medida que avançamos nessa epístola, que a desunião os marcava, e era disso que precisavam ser salvos. Parece sugerir que o caminho da salvação das dificuldades era o partido que contendia se rebaixar em relação ao seu ego” (Precious Things, vol. 5, págs. 263-264).
A. M. S. Gooding disse: “‘operai a vossa salvação com temor e tremor’. Salvação do quê? Salvação das contendas” (The 13 Judges, pág. 95).
S. Maxwell disse: “Na verdade o apóstolo está dizendo aqui: estou ciente de seus problemas internos e eu lhes dei um exemplo a seguir (2:5-7), agora opere vossa própria salvação como uma assembleia. A palavra claramente indica que eles precisavam ser salvos daquilo que, no final, seria destrutivo para o testemunho, se eles não agissem para acabar com suas contendas” (Philippians, pág. 210).
W. Potter disse: “Operai a vossa salvação... [isto é] em conexão com as dificuldades da assembleia... esse é o claro significado de operai a vossa salvação com temor e tremor”.

h) Israel será salvo temporalmente recebendo Cristo como seu Messias (Hb 2:3-5)

A “grande salvação a que o escritor de Hebreus se refere nesta passagem não é a salvação eterna da alma, como normalmente se pensa, mas a libertação temporal do jugo romano que estava sobre a nação. Naquela época os judeus estavam cativos aos romanos que governavam sobre eles em sua própria terra, e eles precisavam muito desta salvação. O Senhor Jesus foi enviado por Deus para efetuar essa libertação como a salvação poderosa” de Deus para a nação (Lc 1:68-71). Assim, veio anunciando esse aspecto da salvação, pregando “libertação aos cativos” (Lc 4:18-19). À Sua entrada em Jerusalém, o povo clamou “Hosana” (Mt 21:15), que significa: “Salve agora”! Mas os líderes levaram o povo a rejeitá-Lo, e a promessa dessa grande salvação foi, portanto, adiada. Se os judeus tivessem recebido Cristo, Ele os salvaria de seus inimigos e os libertaria da escravidão, e a nação teria evitado sua destruição no ano 70 d.C.
O escritor diz que essa grande salvação foi primeiro “anunciada pelo Senhor”. Ele foi por toda a terra de Israel pregando “o evangelho do reino” que anunciava essa libertação exterior para a nação (Mt 4:23; Mc 4:14). O escritor também diz que a promessa dessa salvação temporal foi “confirmada” ao povo pelos apóstolos (Hb 2:3; At 3:19-21) e também pelo “testemunho” de Deus mesmo nos milagres que acompanharam a pregação desse evangelho (Hb 2:4; At 3:6-10 etc.). Assim, a nação provou “a boa Palavra de Deus e as obras de poder da era vindoura” (Hb 6:5 – JND) e teria tido as bênçãos do reino como prometidas pelos seus profetas, se tivessem recebido a Cristo.
“A grande salvação” em Hebreus 2:3 não poderia estar se referindo à salvação da alma anunciada no “evangelho da graça de Deus” (At 20:24; 1 Pe 1:9), porque diz que esta salvação foi anunciada pela primeira vez pelo Senhor quando Ele estava aqui na Terra. Mas Ele não pregou esse evangelho. Isso não aconteceu até que Israel rejeitou formalmente a Cristo, enviando um homem (Estevão) a Deus com a mensagem: “Não queremos que Este reine sobre nós” (Lc 19:14; At 7:54-60), só então o evangelho da graça de Deus foi estendido ao mundo (At 13:46-48, 15:14, 20:24, 28:28). Como mencionado, o evangelho que o Senhor pregou foi o do reino (Mt 4:23; Mc 4:14). Essa mensagem apresentou-O como o Rei e o Messias de Israel que viria à nação no seu tempo de necessidade para salvá-los dos seus inimigos, e então Ele estabeleceria o reino no poder e glória como prometido nos escritos dos profetas do Velho Testamento (Sl 95-96). (Veja: O Evangelho)
H. Smith disse: “Na sua interpretação estrita (Hebreus 2:3), a salvação da qual o escritor fala não é o evangelho da graça de Deus, como apresentado hoje, nem contempla a indiferença de um pecador quanto ao evangelho. No entanto, uma aplicação nesse sentido certamente pode ser feita, pois é verdade que não pode haver escapatória no final para quem negligencia o evangelho. Aqui está a salvação que foi pregada pelo Senhor aos judeus, pela qual um caminho de escape foi aberto ao remanescente crente, julgamento esse que estava a ponto de cair sobre a nação. Essa salvação foi depois pregada por Pedro e os outros apóstolos nos primeiros capítulos dos Atos, quando eles disseram: ‘Salvai-vos desta geração perversa’. Esse testemunho foi confirmado por Deus ‘por sinais, e milagres, e várias maravilhas’. Esse evangelho do reino será novamente pregado após a Igreja ter sido completada” (The Epistle to the Hebrews, págs. 12-13).
Em relação a Hebreus 2:3, J. N. Darby disse: “É a pregação de uma grande salvação, feita pelo próprio Senhor quando estava na Terra; não o evangelho pregado e a Igreja reunida após a morte de Cristo. Esse testemunho, consequentemente, continua no Milênio sem falar da Igreja, fato a ser notado não apenas nesses versículos, mas em toda a epístola” (Collected Writings, vol. 28, pág. 4).

3) Salvação final (Rm 5:9, 13:11; Fp 3:20-21; Hb 9:28; 1 Pe 1:5)

Esse aspecto da salvação tem a ver com o nosso corpo sendo feito perfeito pelo poder de Deus em glorificação. Isso ocorrerá quando o Senhor vier por nós no Arrebatamento. Os santos falecidos serão ressuscitados em “incorruptibilidade” e os santos vivos terão seu corpo transformado em um estado de “imortalidade” (Rm 8:11; 1 Co 15:53-55).
Esse aspecto final da salvação também inclui ser salvo da “ira vindoura”, por ser tirado deste mundo no Arrebatamento, para que não passemos pela grande tribulação (Rm 5:9; 1 Ts 1:10; Ap 3:10). F. B. Hole disse: “O dia da ira está chegando. Duas vezes antes, na epístola (aos Romanos), isso foi notificado (Rm 1:18, 2:5). Seremos salvos daquele dia por Cristo. Por outras Escrituras, sabemos que Ele nos salvará, tirando-nos da cena de ira antes que ela seja derramada” (Paul’s Epistles, vol. 1, pág. 15).