PAZ – Há pelo menos
sete aspectos da paz na Escritura – alguns relacionados à posição do crente
diante de Deus, alguns relativos ao estado do crente e apenas um em relação ao
futuro estado do mundo sob o reinado público de Cristo. Alguns desses aspectos
são posicionais, outros são práticos e o último é profético (ainda por ser cumprido).
1) Paz em conexão com a
posição do crente
a) Paz com Deus (Rm
5:1)
b) Paz da libertação (Rm
8:6)
c) Paz racial (Ef 2:14-15)
2) Paz em conexão com o
estado do crente
a) A Paz de Deus (Fp 4:7)
b) A Paz de Cristo (Jo
14:27; Cl 3:16)
3) Paz mundial (Sl 72:3, 7, 147:14; Lc 2:14)
1) Paz em conexão com a
posição do crente
A.
P. Cecil indicou que há três partes
para a posição em paz do crente, e que nos pertencem desde o momento em que
cremos no evangelho e fomos selados com o Espírito Santo. Elas são:
a) Paz com Deus (Rm
5:1)
Esta
é uma “paz” exterior que existe
entre Deus e o crente como resultado de ser “justificado pela fé”. É uma condição exterior que prevalece entre
duas partes que antes estavam separadas. Da mesma forma, quando duas nações
estão em guerra, não há paz. Mas se a paz for estabelecida entre elas, a guerra
acaba, cessam as hostilidades e os inimigos são transformados em amigos. Isso
foi exatamente o que aconteceu com o crente por fé na morte e ressurreição do
Senhor Jesus Cristo. Não existe mais uma separação entre nós e Deus; prevalece
agora uma condição de “paz com Deus”.
Algumas
pessoas pensam que o pecador precisa fazer a paz com Deus. Eles dirão: “Faça a
sua paz com Deus”. No entanto, não podemos fazer paz com Deus porque não somos
capazes de atender às reivindicações da justiça divina necessária para a paz.
Graças a Deus, Ele interveio para assegurá-la ao crente. A Bíblia ensina que
esta paz foi feita para os homens pela obra de Cristo na cruz (Cl 1:20). Assim,
tudo o que temos a fazer é crer no testemunho de Deus sobre esse fato, e “sendo, pois, justificados pela fé, temos
paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Esse
aspecto da paz é uma realidade objetiva e não
um sentimento subjetivo ou um estado de espírito. Assim, não é um sentimento de paz interior na alma do crente, como algumas
pessoas pensam. Os sentimentos de paz podem vir e ir, dependendo das
circunstâncias e do estado de alma de uma pessoa, mas não fazem parte da
justificação do crente e de sua “paz com
Deus”. A paz com Deus é uma condição permanente na qual o crente habita com
Deus. É tão segura e inabalável como seu fundamento: a morte e a ressurreição
de Cristo. Romanos 5:1 não está falando do gozo
de nossa paz com Deus, mas sim do fato de que temos paz com Deus. Essa paz não depende do nosso estado de alma,
nem pode ser perdida pelas fraquezas do nosso caráter ou falhas no caminho da
fé, porque é uma coisa eternamente estabelecida e inseparavelmente ligada à
nossa posição diante de Deus. Portanto, não temos mais desta paz caminhando em
comunhão com o Senhor, nem temos menos dela se não caminharmos com Ele.
b) Paz da libertação (Rm
8:6)
Esse
aspecto da paz é algo interior. Tem a ver com o crente ser trazido ao descanso
em sua alma com relação à culpa de seus pecados. É uma paz interna na alma do crente resultante do conhecimento da sua aceitação (Rm 8:1) e da libertação (Rm 8:2-4). Assim, o crente
tem um profundo senso de ter sido libertado do julgamento, e isso faz com que a
paz e o descanso preencham sua alma. Esse aspecto interior da paz é muitas
vezes confundido com a paz exterior com Deus, acima mencionada.
A
aceitação tem a ver com o
entendimento do que foi realizado na obra consumada de Cristo na cruz e do
lugar que Ele tem à direita de Deus. Como consequência da Sua ressurreição e
ascensão, o Senhor agora está em um lugar diante de Deus que está além da
condenação. E, devido à habitação do Espírito de Deus no crente, o crente está “em Cristo” (Rm 8:1 etc.). “Em Cristo” é um termo técnico usado na
doutrina de Paulo para demonstrar o crente estando “no lugar de Cristo perante Deus” (Ef 1:6). Assim, ele é tão aceito
como Cristo é aceito (1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo)
A
libertação tem a ver com o Espírito
efetuando uma libertação do poder do pecado na alma do crente (Rm 8:2-4). Isso
não significa que ele não possa mais pecar, mas que existe um poder nele que
lhe permite viver sem pecar, se ele andar no Espírito. Isto é assim em virtude
da “lei [o princípio] do Espírito de vida, em Cristo Jesus”,
agindo no crente para superar as inclinações da carne. J. N. Darby observou que
quando uma alma obtém essa paz, nunca mais entra em dúvidas a respeito de sua
salvação. (Veja: Libertação)
c) Paz racial (Ef 2:14-15)
Refere-se
à condição de paz existente entre os membros do corpo de Cristo, apesar de suas
posições anteriores como judeus e gentios serem totalmente opostas. A grande
obra de reconciliação a Deus por meio do sangue de Cristo (Ef 2:13), não
somente trouxe o crente para perto de Deus, mas também a uma união com os
outros membros do corpo de Cristo. Assim, as diferenças que existiram durante
séculos entre judeus e gentios foram anuladas; eles estão agora juntos, unidos
ao corpo de Cristo pela habitação interior do Espírito.
Como
mencionado, os três aspectos de nossa posição em paz são nossos no momento em
que cremos no evangelho e somos selados com o Espírito Santo.
2) Paz em conexão com o
estado do crente
Quando
o estado de alma do crente está correto, e ele está caminhando em comunhão com
o Senhor, existem certos aspectos da paz prática que ele irá desfrutar. Tudo
isso tem a ver com o estado do crente. Se, no entanto, ele negligencia andar
com o Senhor, não terá os seguintes aspectos da paz:
a) A Paz de Deus (Fp 4:7)
Essa
se refere ao estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Ele vê e
conhece todos os conflitos e problemas que ocorrem neste mundo, mas nenhuma
dessas coisas perturba a paz em que Ele habita. Não é que Ele seja indiferente
a tudo isso – Ele está muito preocupado com o sofrimento, a tristeza, a
violência etc., e corrigirá tudo um dia – mas isso não perturba a Sua paz.
Paulo ensina em Filipenses 4 que Deus quer que vivamos na própria paz em que
Ele vive, para que nossa mente e coração não sejam turbados pelas
circunstâncias preocupantes pelas quais passamos neste mundo. Paulo diz que
devemos trazer diante de Deus em oração tudo aquilo que nos preocupa e nos
incomoda e fazer com que nossas “petições”
sejam conhecidas por Ele (Fp 4:6). Ele não diz que Deus necessariamente nos
dará tudo o que pedirmos, mas que Ele nos dará a paz nestas situações
inquietantes da vida (Fp 4:7). Paulo continua dizendo que não só teremos “a paz de Deus” em nossa alma, mas
também teremos “o Deus da paz”
conosco em nossas circunstâncias (Fp 4:9). Ou seja, Ele nos concederá um senso
especial de Sua presença. Compare Daniel 3:24-25. W. Scott disse: “Oh, Tê-Lo
como teu Companheiro de viagem, constantemente ao teu lado; teu guia, guardião
e amigo – o Deus da paz!” (Young Christian, vol. 5, pág. 128).
Nunca
podemos perder a nossa “paz com Deus”,
pois está inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus em Cristo. Mas
se não trouxermos nossas preocupações e problemas a Deus em oração, não
poderemos ter a “paz de Deus” em
nossa alma e nos incomodaremos com muitas coisas nas vicissitudes da vida (Lc
10:41).
b) A Paz de Cristo (Jo
14:27; Cl 3:16)
Essa
se refere ao estado de paz em que o próprio Senhor viveu quando Ele andou por
este mundo. Ninguém viu problemas como Ele, nem sofreu como Ele. As dores que
Ele experimentou devido ao ódio e à rejeição dos homens pesavam sobre o coração
de Deus. No entanto, Ele tomou tudo em perfeita calma, sem ser indiferente.
Essa calma veio da aceitação dessas circunstâncias como vindas da mão de Seu
Pai, em perfeita submissão (Mt 11:26). Assim, Ele viveu em paz (Mc 14:61,
15:3-5) e dormiu em paz (Mc 4:37-41), e no final da Sua senda na Terra, deu
essa paz a Seus seguidores (Jo 14:27), pois eles teriam que passar pelo mesmo
mundo hostil.
A
diferença entre a paz de Cristo e a paz de Deus é que a paz de Deus resulta
quando trazemos nossos problemas e dificuldades para Deus em oração, enquanto que a paz de Cristo resulta de
tomarmos nossos problemas e dificuldades como vindos de Deus, em submissão.
c) Paz entre os irmãos (Rm 14:19; 2 Co 13:11; Ef 4:3; 1 Ts 5:13; 2 Ts 3:16; 2 Tm 2:22, Hb 12:14; Tg 3:18; 1 Pe 3:11)
Esse
aspecto da paz tem a ver com condições felizes e pacíficas existentes entre os
irmãos. O salmista disse: “Eis quão bom
e quão agradável é que os irmãos vivam em unidade” (Sl 133:1 – JND).
Enquanto isso realmente está falando sobre as tribos de Israel habitando
pacificamente, o princípio também é aplicável aos irmãos Cristãos. Satanás está
fazendo tudo o que pode para perturbar a paz entre os irmãos. Os santos em cada
assembleia local, portanto, devem “operar”
sua “salvação” dos ataques malignos
entre eles tendo a humildade de Cristo e cada um estimando o outro melhor do
que a si mesmo (Fp 2:12).
3) Paz mundial (Sl 72:3, 7, 147:14; Lc 2:14)
Isso
tem a ver com a paz entre as nações na Terra. É algo que os reis e os
governadores e políticos têm tentado realizar a milhares de anos, mas todos
falharam. A Escritura nos diz que a paz mundial será estabelecida pelos
julgamentos do Senhor em Sua Aparição. Ele diz: “havendo os Teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem
justiça” (Is 26:9). Naquele tempo, o Senhor “faz cessar as guerras até ao fim da Terra” (Sl 46:9).
Muitos
Cristãos acreditam que devem fazer o que podem para trazer a paz ao mundo neste
presente Dia da Graça. Eles veem isso como seu dever Cristão. Por isso, eles se
envolvem na política, apoiam o porte de armas, envolvem-se em protestar contra
atos injustos na sociedade etc. Esse pensamento equivocado tem suas origens na
Teologia Reformada (Pacto), que ensina que o reino de Cristo será estabelecido
por meio da pregação e da influência Cristã. Essas ideias têm influenciado em
quase todos os setores da profissão Cristã hoje. No entanto, enquanto a Bíblia
nos ensina que devemos procurar viver pacificamente entre os povos deste mundo
(Rm 12:18; 1 Tm 2:1-2), ela não nos ensina a nos envolver em seus assuntos
políticos, porque somos meramente peregrinos passando por ele (1 Pe 2:11). A
Bíblia nos assegura que, enquanto este mundo certamente será ordenado
corretamente pela força nos julgamentos do Senhor, o Dia da Graça não é o
momento para isso. O Senhor ensinou que, enquanto Ele fosse rejeitado por este
mundo, seus seguidores não deveriam “lutar”
em questões de justiça na sociedade (Jo 18:36; Ap 13:10; Mt 26:52). É uma causa
perdida porque a Escritura ensina que o mundo continuará piorando, moral e
espiritualmente, até que o Senhor intervenha em julgamento (2 Tm 3:13).
Portanto, devemos aguardar Ele ordenar o mundo por meio do julgamento que fará
na Sua Aparição (At 17:31; 2 Ts 1:7-9; Ap 11:15). Naquele tempo, Ele trará “paz ao povo” de todo este mundo (Sl
72:3).
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